Como o Ice Bucket Challenge conquistou o showbizz e por que ele não deve ser impedido


O Desafio do Gelo dominou a timeline nos últimos dias e, claro, já despertou a ira do povo coxinha. Mas o que pesa mais nessa equação: a água desperdiçada ou a atenção para a cura de uma doença?

*Por Junior de Paula

Muito tem se falado nos últimos dias – para o bem e para o mal – do Desafio do Gelo (Ice Bucket Challenge). Se você estava em Marte e não sabe do que se trata, a gente explica: é uma iniciativa que consiste em jogar um balde de gelo na cabeça como forma de chamar a atenção para a Esclerose Lateral Amiotrófica, uma doença degenerativa e sem cura, que atinge uma a cada 100 mil pessoas no mundo. Além do balde, é importante que se doe uma quantia simbólica de US$100, no caso dos EUA, e R$100, no Brasil, para as instituições de pesquisa de combate à doença. Ah sim, há também a parte divertida onde é necessário desafiar outras três pessoas que têm 24 horas para cumprir o feito, criando quase uma Corrente do Bem em versão pop.

Pois bem: tudo estava certo até a história ganhar proporções monumentais, com gente do calibre de Anna Wintour, George W. Bush, Gisele, Lady Gaga, David e Victoria Beckham, Shakira e Piqué, Neymar, e todos os outros nomes importantes que você possa imaginar – exceto Papa Francisco, Dilma e Obama – postando seus vídeos nas redes sociais. Que toda unanimidade é burra, é um fato, mas a necessidade que certas pessoas têm de reclamar de tudo e criar polêmicas onde elas não existem também é uma burrice infinita dos tempos modernos e que só aumenta com o advento do Facebook e da internet.

 

Os haters logo começaram a dizer que era um absurdo o desperdício de água em época de seca, e logo o New York Times fez uma pesquisa dizendo que, se juntássemos todos os baldes despejados, chegaríamos a um valor de quase 5 milhões de litros de água. Outro discurso bastante usado pelos coxinhas é de que as celebs só queriam aparecer e que ser engajado é a nova selfie. Alguns cobraram a comprovação do depósito e outros, que até gostavam, começaram a dizer que não aguentavam mais ver vídeos do desafio e o surgimento de discussões sobre o tema.

Eu adorei, adoro e vou continuar adorando a iniciativa pelo simples fato de que todo mundo está falando sobre uma doença que não é tão rara e que talvez seja a mais dolorosa e triste do mundo. Adorei, porque nos EUA já foram arrecadados mais de US$ 40 milhões para incentivar a busca pela cura e, no Brasil, já nos aproximamos dos R$100 mil. Adorei, porque me diverti em ver as reações, em acreditar que todo mundo junto pode fazer a diferença. No fim das contas, ao meu ver, não importa se está faltando água no mundo, se as pessoas estão jogando o balde na cabeça e não estão doando, se você está cansado do desafio ou se você não tem nada para fazer na vida a não ser reclamar de tudo o que aparece na sua frente. O que importa, quando eu vejo o vídeo do jovem americano Anthony Carbajal, por exemplo, é saber que tem um cara de 26 anos diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica, que viu a sua avó morrer com a doença e cuida diariamente, 24 horas por dia, da sua mãe nos estágios finais da E.L.A., dizendo que está feliz e vendo a enxurrada de baldes de gelo na sua timeline.

“Eu odeio falar sobre essa doença. Talvez seja por isso que quase ninguém a conhecia ou falava sobre, porque é muito difícil ver a situação de quem está enfrentando isso. Ninguém quer ver a imagem depressiva de uma pessoa que está morrendo aos poucos. Ninguém quer falar sobre isso. Ninguém quer arruinar o seu dia. Mas a gente precisa discutir isso e eu nunca estive tão feliz em ver todo mundo em torno do mesmo assunto. Cada vídeo de uma pessoa cumprindo o desafio eleva o meu espírito e de todos os que sofrem com a doença. Vocês estão fazendo a diferença na vida de muita gente”, diz Anthony. Mesmo se você não entende inglês, vale ver o vídeo e perceber como que com muito pouco – um balde de gelo na cabeça, que seja – a gente pode fazer a vida de alguém menos dolorosa. E aí tudo já vai ter valido a pena.

 

* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura