A segunda noite de desfiles da 25ª edição do Minas Trend, semana de moda e maior Salão de Negócios da América Latina, promovida pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), nos fez olhar para o passado e a sinergia com o futuro com a grife Victordzenk. O grupo Trendbijoux by Sindivest MG pegou um telescópio e nos convidou a observar os astros e corpos celestes. Os caminhos da designer Denise Valadares foram trilhados por um review de uma trajetória bonita de sua carreira. E a magia do povoado nordestino da Ilha de Ferro foi a tônica do Coletivo Alagoas, que vê no Minas Trend uma grande parceria como plataforma lançadora de ineditismo ao dar voz a toda cadeia da moda brasileira. Pura democracia. As marcas mostraram coleções pautadas na pluralidade e na força criativa que faz a roda da economia da moda girar nesse país.
Uma viagem pelo espaço seguida de uma chuva de meteoros anunciava a chegada do Trendbijoux by Sindijoias MG à passarela. Com seis marcas associadas: Atelier Chilaze, Carlos Penna, Lázara, Hector Albertazzi, Leguedê e Soraya Campos. Com styling de Mariana Sucupira, roupas da NotEqual e trilha ao vivo de Paige, mostrou com atitude a força do setor. O primeiro ‘Corpo Celeste’ a pisar na passarela foi a neocantora, uma jovem de Belo Horizonte que emprestou sua voz potente e empoderada para a apresentação ao vivo. “É uma emoção grande poder colaborar com o universo da moda, levar a minha voz e a minha mensagem para tanta gente. Eu estou imensamente agradecida pela inigualável oportunidade”, revelou a cantora, de voz marcante tal qual uma diva da era disco 70’s ao site Heloisa Tolipan, no backstage do desfile. O beauty artist Ricardo dos Anjos contou que a beleza para o desfile foi pensada de ‘forma leve’, sem intervenções de cores. “Tivemos apenas uma pele bem feita, hidratada e com máscara acentuando o olhar. O cabelo ora é bem natural ora dá vez a um coque baixo”, pontua.
Para Mariana Sucupira, que deu o tom da coleção, o grande segredo do desfile coletivo foi alinhar a identidade de cada marca com o conceito de seu idealizador. “São seis marcas de todo o Brasil, por isso nós separamos três looks para cada. Então partimos dessa ideia de corpos intergaláticos para mostrar a força do segmento.” Fabio Costa, da marca NotEqual, foi o responsável pelas roupas dessa apresentação e o convite partiu do Carlos Penna, produtor executivo do coletivo e de Mariana Sucupira. “Por conta desse meu olhar para roupas contemporâneas, sem gênero e sem tamanho, os meninos acharam que eu ‘daria conta do recado'”. O estilista Fábio Costa ficou duas vezes em segundo lugar no reality show Project Runaway, apresentado por Heidi Klum. “A mulher que eu crio é enfermeira e aeromoça no mesmo dia. É um exercício diário que os estilistas têm é de antecipar os desejos, sem ficar muito embasados por total a tecidos ou criando shapes que eu já estou acostumado a fazer. Por isso receber um briefing de um outro cliente força a minha criatividade de uma outra forma”, explica.
“Eletrozônia – Amazônia eletro” foi o tema da coleção do Atelier Chilaze. A marca das irmãs Claudia e Sandra Chilaze. “Foi uma coleção que pensamos muito em como transformar o ‘lixo’ em luxo, o que é um processo contante dentro da nossa marca”. O ponto de partida para a coleção foram as culturas das tribos nativas situadas ao longo do Rio Negro, as peças brincam com uma leitura estilizada da arte plumária e da cerâmica amazônicas, em peças que trazem a resina colorida que são carro-chefe dentre as matérias-primas usadas pela brand – mesclada a materiais sustentáveis, como cordas de garrafa pet, sisal, linhas. madeira e tubos de papel kraft provenientes do descarte dos rolos de papel higiênico. “Quero destacar algo inédita na nossa coleção: é uma clutch feita de bambu. A novidade também só produzimos ela com os galhos que caem no chão, não extraímos nada da natureza, o que acaba gerando uma quantidade pequena de matéria-prima”, completa.
A Leguedê, de Jane Monerato, apresentou a coleção “Flores para Celebrar”, que mergulhou na beleza, formas e perfume das flores. “Eu estou muito emocionada por conta desse desfile e dessa coleção. É uma linha que é um presente para a natureza, toda florida, que eu amo. Com muitas cores e formas construídas com pedras, resina, metais e pintura manual”, revela.
Soraya Campos levou a passarela a coleção “Vereda Tropical” que olhou para o nordeste brasileiro principalmente para a ícone Maria Bonita.“Acho que essa mulher forte se cruza com os corpos celestes pela liberdade, valorizando o artesanal e o sustentável. Tudo na minha coleção é reaproveitado, perdemos pouquíssimos materiais nesse processo”, conta a designer, orgulhosa.
A Lázara Design, da criadora Lázara Ferreira, propõe um novo olhar por conta dos seus 25 anos de marca. “Foram muitos momentos de percalços e doação total. No mercado, a trajetória é complexa e precisamos nos doar de corpo, alma e mãos para exercermos um ofício nesse país”, desabafou. Para este desfile a marca, em seus três looks cobriu os rostos e os corpos das modelos para fazer um alerta sobre o nosso olhar para a sociedade e o planeta. “O mundo está muito doido, de pernas para o ar. Estamos passando por um momento de mudanças sociais, econômicas quem acabam refletindo em nossas criações, por isso, levei essas máscaras para a passarela com a intenção de ampliar o olhar”.
Hector Albertazzi levou a coleção ‘Persona’. “A ideia dessa coleção é empoderar cada vez mais as mulheres, afinal elas podem ser quem quiserem quando quiserem. Pensamos uma coleção para que elas possam se sentirem confortáveis e a vontade nos diferentes momentos de suas vidas, afinal elas acabam exercendo inúmeros papéis e funções múltiplas ao longo do dia”, ressalta.
O designer Carlos Penna, que agora se aventura no universo do vestuário (iremos falar sobre essa coleção na nossa matéria sobre o salão de negócios do Minas Trend) nos inspirou.corpos celestes para criar essa coleção que serviu como um maxiadorno para o desfile do Trendbijoux. “Ao mesmo tempo que são acessórios carregados por seus tamanhos, eles trazem uma leveza e um certa discrição. Tem uma função alegórica, mas é um efeito de passarela. Nos pontos de venda temos esse conceito traduzido em peças comerciais”.
O presidente do Sindijoias MG, Manuel Bernardes comemora o sucesso do desfile e cometa sobre a força do setor. “Apesar do crescimento moderado estamos otimista com a força do setor de bijuterias, joias e acessórios”, frisou. O executivo pontuou, ainda, que o estado de Minas está perdendo em todo o seguimento da moda e que existe uma necessidade de inovação “temos problemas estruturais e precisamos adotar políticas para que não percamos mercado”, afirmou. “É necessário transformar o Minas Trend em um porta voz setorial, com ações diversas durante todo o ano e não apenas durante a semana do evento”, concluiu.
A noite seguiu ainda com o desfile da marca Denise Valadares, que dá continuidade à parceria de sucesso com o stylist Alberth Franconaid. Para o Inverno 2020, a dupla segue de mãos dadas e revisita a trajetória da grife, com apenas quatro anos, com a coleção ‘Caminhos’, em que passado, presente e futuro dialogam com harmonia e revelam a evolução profissional da label, sem perder o romantismo. “O passado nos remete ao nosso início, marcado pelos moletons bordados. O presente mostra a atualidade, na qual estamos investindo em alfaiataria. O futuro revela o nosso olhar consciente, especialmente em relação ao destino que a moda seguirá”, explica a estilista. Já Alberth destaca os tons monocromáticas, com destaque especial para o preto, o off white, o caramelo e o nude. O azul turquesa é recrutado para se contrapor à sobriedade dos outros tons. Os bordados assumem características orgânicas e abstratas. Pedrarias e cristais criam texturas e são os responsáveis por dar pitadas de cor. Os tradicionais bordados florais seguem como elemento chave.
Os shapes intercalam fluidez e estrutura criando interessantes propostas de calças, casacos e vestidos nos comprimentos midi, longo e curto. Volumes, mangas bufantes e peças arquitetadas com excesso de tecidos arrematam a coleção. Nos acessórios, em parceria com a SD Acessórios por Sheila Morais, atenção especial para brincos e bolsas. As tiaras bordadas, que foram o hit da marca na última temporada e continua.
Denise e Alberth estão cada vez mais empenhados em trazer a sustentabilidade e o consumo consciente para a essência da marca e destaca esse conceito na passarela. “Queremos mostrar que os produtos que as nossas clientes tem no seu armário têm total capacidade de reinvenção. Para isso, recriamos peças com produtos de nossas antigas coleções e as trouxemos de volta com novos acabamentos, mostrando um processo real de upcyle”, conclui a criadora.
Uma ilha mágica invadiu a passarela do Minas Trend, era o Coletivo Alagoas pedindo passagem com a música “Veja bem meu bem”, do grupo Los Hermanos, na voz de Maria Rita. Para o Outono/Onverno 2020, as marcas Alana Tenório, Aquas Beachwear, Ateliê Criar, Caleidoscópio, Endy Mesquita, Estúdio Monteferro, Leila Monteiro Brand, Lucia Bastos, Maneka, Manu Mortari e Sandra Cavalcante redefiniram a ideia de moda e elevaram ao status de arte. Da atmosfera mágica e atemporal do povoado, A Ilha de Ferro, o desfile caminha para a riqueza de bordados, volumes, tecidos e texturas. Tramas, pedras naturais, nervuras e frisos se misturam em meio a transparências e cores vibrantes, com aplicações bordadas à mão.
O povoado às margens do Rio São Francisco do sertão alagoano, localizado a 18 km do município de Pão de Açúcar, a Ilha repleta de história, riqueza e memória reflete no artesanato a força do povoado e sua principal atividade econômica, seja em esculturas talhadas na madeira feitas por mãos talentosas, nos
ateliês de fundo de quintal ou às margens do velho Chico. Mas entre tanta manifestação cultural, é o bordado Boa Noite – trabalho único no Brasil e executado pelas mulheres da região – que mais se destaca. Os frutos de tamanha produção vêm através de aclamação por especialistas e chegam a figurar em revistas especializadas como atração principal em exposições nacionais e internacionais. “Ao mesmo tempo em que o cenário é árido, castigado pela seca, é um lugar riquíssimo de história e poesia. Nossa cartela de cores é bem alegre, porque também quero remeter a esse lugar, de alegria, de exaltação dessa força feminina, cultuar esse modo de viver que é específico da Ilha do Ferro”, conta Davi Leite, que assina o styling do desfile.
O escuro pré-desfile e a trilha sonora clássica nos levaram a flutuar no meio do espaço, afinal a contagrem regressiva anunciava o ‘Lançamento’ do foguete mineiro Victor Dzenk, que apresentou a coleção Odisséia. A grife Victordzenk nos levou para a estratosfera e nos convidou a mergulhar em um cenário de ficção científica que teve como inspiração os clássicos Blade Runner, de 1982, que traz a estrela Sean Young, o longa neo-noir dirigido por Ridley Scott; O Quinto Elemento, de 1997, com Milla Jovovich; e o revolucionário Matrix, 1999, dirigido por Lilly e Lana Wachowski e protagonizado por Carrie-Anne Moss. O estilista, que apresentou uma atmosfera interplanetária, surpreendeu a plateia com looks potentes, futuristas e contemporâneos, além de uma cartela de cores sóbria – preto, marinho, cinza e preto e branco, que mostra o exercício constante desse mineiro de trazer novas ideias para as suas exigentes clientes. Destaque para o lindo monograma criado pelo designer que vem renovando sua identidade visual e virou estampa da coleção. Além do print criado em parceria com o artista plástico Célio Olímpio. “Foi um prazer mergulhar nesse trabalho afinal, a arte tem que subir, alcançar novos níveis e chegar as estrelas e espalhar seu brilho e sua luz para todas as formas de expressão”, com o pintor.
Dzenk que prima por formas esvoaçantes e pela explosão de cores, mostrou um lado quase minimalista, com linhas sóbrias, mas com muito brilho e transparência. “A ideia foi misturar as heroínas desses três filmes, que são guerreiras na ficção e no cinema, com as minhas clientes são amazonas da vida real, afinal elas precisam ser fortes e estarem lindas trabalhando”, revela. Uma coleção que a figurinista Janty Yates com certeza usaria com primor em seus premiados filmes de ficção científica.
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