*Por Rafael Moura
Empreender é muito mais do que ser o dono do seu próprio negócio. É preciso iniciativa para colocar em prática uma ideia de negócio muita autoconfiança, liderança, perseverança e planejamento de metas. Segundo a Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em 2019, o Brasil atingiu o número de 52 milhões de pessoas com negócio próprio. Um movimento que está crescendo diariamente com novas oportunidades e negócios. Deste total, 9,031 milhões são microempreendedores individuais (MEIs), segundo pesquisa do Sebrae. De acordo com o estudo, no ano passado, o número de MEIs no Brasil aumentou 16,7% em relação a 2018. Com isso, as micro e pequenas empresas espalhadas pelo país já representam 27% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
E como empreendedores do setor de moda estão reinventando seus negócios e se destacando no cenário nacional que enfrenta uma pandemia por conta do novo vírus Covid-19 e uma série de dificuldades econômicas? O site Heloisa Tolipan conversou com os empreendedores Ana Cláudia Silva, sócia da Afra Design, Andrea Villas Boas, da VB Atelier, Bianca Caravelos, da Elo Acessórios, Flávia Rodrigues, da Pari, Gisele Barthar, da Clichêe Acessórios, Ignez Teixeira, da Atitude Negra, Jaciana Melquiades, Era Uma Vez O Mundo, Ligia Parreira, da marca Devassas, Marlon Diniz, da Yolo Love Shop e Vania Soares, do Ateliê Ms. Vee. Por unanimidade, eles pontuam que ser empreendedor significa melhorar o desempenho, o lucro, ter ideias desafiadoras e enxergar além do óbvio. É apresentar soluções criativas e inovadoras. Atitudes empreendedoras produzem soluções para a rotina das pessoas, desenvolve tecnologias e tem um papel extremamente transformador para a economia do país, sobretudo, em tempos difíceis. O movimento empreendedor no Brasil é bem significativo. Aqueles que alcançam o sucesso possuem duas características essenciais: criatividade e persistência. Nossa população tem um dom natural de criar soluções para superar momentos críticos e manter-se firme, persistente em meio aos obstáculos que possam invariavelmente aparecer.
Vem com a gente:
Slow Fashion
A ‘Elo‘, de Bianca Caravelos, é uma marca carioca 100% autoral, maximalista e colorida. As peças são únicas e o design é sempre pensado no sentido do atemporal. “Com muita calma e trabalho acho que iremos superar em breve essa crise causa pela Covid-19. Por ser uma marca muito pequena, em que a produção é lenta e as vendas serem focadas no online, tenho conseguido manter um ritmo satisfatório. Obviamente elas caíram bastante, mas as pessoas têm conhecido e apoiado o trabalho do pequeno produtor e, consequentemente, descoberto a Elo”, explica Bianca. E completa falando sobre esse processo de reinvenção dentro dessa folha em branco que esse novo mundo propõe. “Acho que nada substitui o produto original. Então acho que uma boa dica é: acreditar no potencial do autoral e investir em matérias-primas de qualidade. E claro, construir narrativas verdadeiras e dialogar sempre com a pluralidade e o conforto”.
Para a pós pandemia, a designer frisa que sua marca sempre teve um compromisso em seu DNA com o consumo consciente e com o slow fashion. “Acho que é momento de entender de uma vez por todas que moda não é descartável, que produção e investimentos devem ser bem pensados. Um cliente fidelizado por admirar o seu trabalho vai acompanhar para sempre e é isso que tem mantido a empresa em pé”, afirma.
Power Woman
Lígia Parreira nos conta que a ‘Devassas‘ é uma marca de moda autoral sobre o poder feminino, desenvolvida por meio de suas narrativas como mulher negra. “A Devassas vem de devassar preconceitos, tabus e padrões e é uma etiqueta feita para todas as pessoas que querem lutar por igualdade e liberdade de ser e pensar”, define, acrescentando: “Decidi não arriscar ninguém do processo de produção e estamos apenas queimando o estoque com menores preços. Nesse período, estou me conectando ainda mais com os clientes, com interações sobre como passar esse turbilhão sem deixar de se cuidar, se amar e transmitindo um pouco de positividade. Também estou criando bastante e ajudando a divulgar as campanhas de solidariedade, duas de companheiros do coletivo de moda que faço parte: a Pop Afro”.
A Devassas é uma das nove marcas que integram o movimento Pop Afro, que abriu em dezembro, de 2019, uma loja coletiva, no Madureira Shopping, na Zona Norte, do Rio de Janeiro. A Prefeitura do Rio de Janeiro, autorizou no último dia 11, a reabertura de shoppings e centros comerciais, na cidade. “Tudo está sendo novo e incerto. O que todos nós da Pop Afro queremos é que todos estejam seguros e que nossa missão de propagar criatividade negra para que todos continue seguindo o seu curso, mesmo tendo que readaptar hábitos e rever estratégias. Com muita afetividade, empatia, solidariedade e perseverança iremos superar. Até porque somos os mais vulneráveis, mas os mais próximos dos consumidores finais. Seremos nós os primeiros a descobrir o novo ‘analgésico’ para esse trauma, que todos nós teremos. Estar em um coletivo criativo e me conectando a outros produtores é a segurança de que não estaremos sozinhos”, acredita. E completa. “Depois dessa pandemia, o compromisso de criar peças e ações transformadoras e relevantes aumenta. Por esse motivo, estou desenhando tratados ainda mais afetivos, em vestuário e traçando iniciativas afirmativas para a comunidade negra”, explica Lígia.
Black Wear
Depois de nove anos atuando como modelo para campanhas da Empório Armani, Cuecas Mash, Everlast, entre outras, Marlon Diniz se tornou o dono da festa mais cobiçada de cultura negra do Rio de Janeiro, a Yolo Love Party. “Por termos um público jovem muito antenado, que segue e dita tendências, vimos na moda uma oportunidade para ampliar nossa abrangência como marca, lançando nossa própria coleção de roupas, em julho de 2019. Assim nasceu a Yolo Love Shop“, revela. O empresário que, em novembro de 2019, recebeu o convite do coletivo Pop Afro para integrar uma loja colaborativa de empreendedores pretos dentro do Madureira Shopping, acredita que, desde o início da pandemia e o fechamento dos shoppings, “estamos tendo que nos readaptar, fazendo vendas online, o que tem sido um desafio enorme e difícil, visto que fomos pegos de surpresa, sem tempo hábil para criar um catálogo fotográfico de todas as nossas peças e também devido a queda no volume de vendas”. E acrescenta: “Mesmo com a autorização pela Prefeitura para a reabertura dos shoppings, a verdade é que estamos estagnados. A incerteza de quando iremos retomar as atividades normais e de como o público da marca vai se comportar pós esse momento faz com que tenhamos muita cautela em lançar novas coleções. Estamos trabalhando em coleções cápsulas, produzindo apenas os nossos carros chefes”.
A marca apoia o Movimento Black Money e as narrativas de fortalecimento que incentivam cada vez mais que pessoas negras tenham acessos aos produtos da Yolo Love Shop alimentando, economicamente, o ecossistema do empreendedorismo negro.
Criações Ancestrais
A ancestralidade dos orixás no candomblé é o DNA da marca ‘Atitude Negra‘, de Ignez Teixeira, que se pauta na autoralidade para desenvolver narrativas que inspirem novos empreendedores, sendo a criadora uma mulher negra e de axé. A etiqueta conta com um olhar de desconstrução para o combate ao racismo e a perseguição religiosa sofrida pelos povos e comunidades tradicionais de matriz africana, preservando a cultura afro brasileira por meio das cores e identidade, elevando a auto estima com representatividade. “Inicialmente estamos trabalhando com delivery. No entanto, com o aumento dos casos de Covid-19 paramos a entrega e estamos com as vendas que tem sido poucas através dos Correios”, conta a designer, que também faz parte do coletivo Pop Afro. Ignez revela ainda: “Estou com e-commerce da marca em construção e me dedicando a campanha ‘Solidariedade de Axé’ realizada pelo meu terreiro o Ilê Axé D’Ogun-Já, distribuindo cestas básicas e doação de máscaras as famílias de outros terreiros”, enfatiza.
Com essa pandemia, Ignez conta que ainda não sabe ao certo quais serão os novos rumos, pois tudo está muito incerto. “Estou construindo o e-commerce com a esperança que as vendas aumentem. Certamente a pandemia vai nos deixar marcas que teremos que nos reinventar ainda por muito tempo. Eu desejo que os orixás abençoem os nossos negócios e nos conceda muita criatividade para que os novos rumos sejam de muita resistência e novos caminhos com vitórias”, acredita.
Sobre a reabertura dos shoppings, Ignez tem a convicção de que é uma atitude precoce. “Não podemos colocar nossas vidas em risco. O espírito de coletividade é exatamente você pensar no parceiro como se estivesse pensando em você. O movimento Pop Afro tem essa união e tudo nosso é dialogado coletivamente. Embora o incerto, o medo e a insegurança estejam rondando em todo o comércio, nós esperamos que as autoridades e os responsáveis pela reabertura tenham a responsabilidade não só com o giro da economia, mas com a vida de todos nós. Mesmo com todas as dificuldades, a nossa loja vai superar”.
Os pequenos empreendedores estão sendo os mais afetados nesse momento, o que acaba gerando uma grande energia e estudo para replanejar e reinventar seus negócios. “A moda afro brasileira se supera, se reinventa, resiste e persiste ao longo de séculos. O que faremos é exatamente o que sempre fizemos para nos manter vivos. Ter persistência. Só que agora com mais garra e força, pois a luta não será fácil, estaremos usando toda nossa criatividade, união, empatia e contamos com a parceria da administração do shopping que já nos sinalizou que juntos vamos vencer”, frisa.
Desejos para poucos
Bijus afros, em edição limitada, é o mote da ‘Clichêe Acessórios‘. A carioca Gisele Barthar começou vendendo suas criações em feiras e na Pequena África Boutique, uma loja colaborativa de afro empreendedores que fica no Centro do Rio de Janeiro. Como a maioria dos empreendedores, a designer nos conta que está passando por dificuldades em consequência do fechamento do comércio por conta da quarentena instaurada pela Covid-19. “Estamos nos readaptando e, como as nossas vendas eram majoritariamente presenciais, o cancelamento de feiras e fechamento dos estabelecimentos comerciais, foi necessário buscar uma maneira de estudar as oportunidades e se reinventar. Começamos a fazer as vendas por meio de vídeo chamada e entregas por motoboy”, conta, acrescentando: “Estamos ajustando as nossas redes sociais e nos preparando para entrar no mundo digital através de plataformas digitais como market places e expandir as vendas. Entendemos que o novo normal é o digital”.
Para superar a crise, Gisele acredita que entender o mercado, principalmente seus consumidores, é a chave. “Estou buscando novas estratégias e narrativas, afinal, se reinventar é uma característica essencial de quem tem poucos recursos. Estamos sempre observando modelo de sucesso de negócios similares e trocando experiências com outros pequenos empreendedores, uma vez que a nova tendência do mercado (empreendedor) é o coletivo e colaborativo”, diz.
Design afro
Ana Claudia Silva e Tatiane Santos mergulham nas raízes da cultura afrobrasileira desde o nascimento da ‘Afra Design‘, para criar moda e objetos de papelaria que refletem a essência negra. “Mesmo já trabalhando com vendas online desde o início da marca em 2018, tínhamos essa forma de venda como uma fonte de comercialização alternativa. Após avaliar com calma o cenário projetado e contextualizar o cenário da empresa, eu e minha sócia Tatiane Santos, optamos por estratégias de acolhimento ao público para, a partir dele, compor um cenário propício para as vendas. Buscamos ampliar o engajamento nas redes sociais, aumentando o número de postagens e selecionando conteúdos com mais foco no lado humano da marca”, revela Ana Claudia.
A empreendedora acredita que é um momento importante para fortalecer o DNA, a missão e os valores da marca, não somente pensar na venda. “As nossas redes, sociais e de contato são as nossas grandes estratégias nesse momento. Ativamos nossa agenda de contatos com algumas personalidades negras que se destacam no cenário atual em diferentes áreas (literatura, business, acadêmica, cultural, social, entre outras), e fechamos uma série de lives. Com isso, conseguimos oferecer entretenimento e conteúdo de qualidade ao nosso público e atrair mais seguidores para conhecer a marca”.
Observando como a pandemia tem afetado muitas famílias, a marca está realizando uma campanha social para arrecadação de fundos e compra de mantimentos à famílias carentes de uma comunidade em Guarulhos, São Paulo. “Colocamos nosso estoque de agendas afro para venda imediata com frete grátis, em que 10% do valor da venda é revertido em cestas básicas. Fizemos uma ação de divulgação e solicitação de compartilhamento massiva dessa campanha. Conseguimos com isso, vender parte do estoque e ainda cumprir com um propósito da Afra que é de manter o apoio a quem necessita”, explica. “Temos feito muitos vídeos para divulgação dos itens que temos a venda na loja virtual, mantido o e-commerce atualizado, feito promoções. Estamos estudando bastante, estruturando a empresa administrativamente (uma coisa que não conseguíamos com tanta facilidade antes), e manter o foco em soluções para além dos problemas”.
A marca tinha planos bem ambiciosos para 2020, como a entrada no varejo em duas capitais brasileira e a participação em dois grandes eventos internacionais da área de educação. “A pandemia nos colocar esses projeto em stand by. Estamos aguardando o cenário estabilizar para entender como viabilizar essas ideias novamente. Estudar se tornou parte da rotina diária da empresa. Esse é o momento de organizar, aprender para só então, sobreviver e seguir em frente com os negócios”, comenta. Ana revela que em breve irão começar a investir em um design mais inovador para suas linhas de produtos, como uma linha de bolsas e mochilas.
Os pequenos empreendedores foram os mais afetados nesse momento, então a solução é criar novas estratégias e narrativas para se reinventar diante desse cenário. “Se reinventar abruptamente não é para qualquer um! É exaustivo ver ‘fórmulas mágicas’ que quase nunca se aplicam a sua realidade e fazem parecer que o problema é você. Se reinventar, constituir narrativas diferentes num cenário adverso exige tempo, apoio, descobertas individuais e coletivas, aporte intelectual e muitas vezes financeiro”, enfatiza. “É triste ver o índice de lojas que fecharão e o efeito cascata como desemprego em massa que isso acarretará, por isso temos que ter olhar de vencedor para não se deixar virar estatística (como mulher negra, sei bem o que é ter que se superar a cada dia). Não saberia prescrever com precisão essa ‘injeção de ânimo’ aos empreendedores e empresários como eu. Só peço que não desistam do sucesso que idealizaram! Façam o preciso e o necessário para não perderem tudo… isso inclui não perder os sonhos e não sacrificar vidas”.
Diáspora Criativa
Diáspora é uma palavra-chave dentro da ‘VB Atelier‘. A estilista Andrea Villas Boas fundou a marca em 2012 por não identificar no mercado uma que aliasse produtos de qualidade, com identidade e representatividade para a cultura negra, afinado a conexão entre Brasil e Angola. “A marca investe em uma produção e meios de consumo conscientes e responsáveis, apostando alto na sustentabilidade social por meio da criação de novos pensamentos para que hajam cada vez mais inserções sociais. Vestindo de conhecimento amigos, clientes e o público em geral. Atuando como um canal cultural made in Brasil com a essência africana”, define Andrea.
Como muitas marcas, a VB Atelier foi afetada pela crise econômica por conta da pandemia instaurada pela Covid-19. Uma alternativa foi ressignificar os tecidos em estoque com a produção de máscaras. “Atualmente estamos sobrevivendo produzindo máscara de tecido africano. Não se trata somente de estilo. Foi dar um novo uso para essa matéria-prima parada e uma alternativa para suprir a falta de máscaras cirúrgicas e poder contribuir com o nosso trabalho no combate ao COVID-19″, diz. E completa.:”Fazer máscara assinada como uma marca de moda não se trata apenas de design, mas estar dentro dos padrões de segurança para que os usuários não se contaminem. Nossas proporções, modelagens e acabamentos foram estudados e pesquisados e estamos obedecendo todas as normas, estipuladas pelos profissionais de saúde”. A marca está integrando o coletivo Afromáscaras, formado por empreendedores de todo o Brasil que estão atuando na produção de máscaras de tecido para doações e vendas. “Os valores praticados por cada empreendedor varia de com a realidade de cada um. Nós temos mascara feitas com estampas africanas a R$ 20,00 e lisas por R$ 15,00. Temos um kit com duas estampadas e uma lisa por R$ 50,00. Uma parte da produção é doada para empreendedores locais, vendedores ambulantes autônomos e agentes comunitários. Com isso, muitas entregas são feitas pessoalmente, aquecendo o afeto entre as pessoas e cumprindo nosso papel social enquanto marca que pensa moda com propósito”, frisa.
A etiqueta é uma das integrantes do coletivo Pop Afro, que tem uma loja colaborativa no Madureira Shopping. “Para o futuro estamos criando coleções que conversem com a nossa atual realidade com a inspiração de proteção e otimismo, com novas silhuetas que nos protejam e incorporando as máscaras que atualmente tem um papel essencial de proteção e auto cuidado, mantendo o DNA da marca e o compromisso em fazer uma moda democrática e acessível a todos. Acreditamos que fazer moda no Brasil é um ato de resistência e acreditamos na potência do povo negro”.
Mundo emponderado
A ‘Era uma vez o mundo‘ é uma grande conhecida do site HT. Somos fãs. A empresa tem um impacto social que utiliza elementos lúdicos para desenvolver potência em crianças, jovens e adultos. “Optamos pela transformação social através dos brinquedos, que são instrumentos fundamentais para a formação das subjetividades, na relação dos indivíduos que brincam, com o mundo em que vivem”, conta Jaciana Melquiades.
Jaciana revela que no início da pandemia teve muitas dificuldades de entender como fazer funcionar online um negócio que sempre foi presencial. “Nossas oficinas foram interrompidas, a venda nas lojas também, e nós chegamos a ter receita zero. Quase quebramos em maio, mas conseguimos movimentar as redes e voltar a vender”, conta otimista. Como solução, a marca resolveu apostar nas plataformas online para continuar suas atividades. “Nesse momento é importante se aproximar dos clientes com o uso das redes sociais. Importante deixar o cliente saber o quanto está sendo um momento difícil e abrir um diálogo. Fundamental também criar uma comunicação que permita o cliente acessar um pouco dos processos de criação da sua marca para que ele se identifique e se conecte! Conexão é tudo!”, frisa.
Roupas Multifuncionais
Um intenso estudo de modelagem. Essa sempre foi a missão da estilista Vania Soares, fundadora do ‘Ateliê Ms. Vee‘, que tem como proposta criar e desenvolver roupas multifuncionais. “Nosso objetivo é criar roupas com versatilidade, beleza, atemporalidade e sustentabilidade. Com isso, atender mulheres modernas e práticas que buscam roupas versáteis. Temos como um dos pilares da marca a inclusão, por isso, uma de nossas preocupações é apresentar criações que tenham sempre um tamanho universal. Aonde uma única peça pode ser usada de até oito formas diferentes, ela também veste corpos de biotipos completamente diferentes. Pois nossa modelagem possuem tamanho universal que veste do manequim 36 até o manequim 48”, explica.
A designer revela ao site HT, que no início da pandemia passou por um misto de sensações e receios. “Pois inevitavelmente veio a pergunta: E agora? Como continuar as atividades e monetização da empresa? Já que 80% das receitas da empresa vinham de suas atividades externas. Mas com o passar dos dias as coisas foram ficando mais claras. Então veio a iniciativa de fazer a roda girar como podíamos”. A marca começou a produzir de máscaras de proteção. “E o processo de resinificação foi iniciado, além de se engajar ainda mais com ações solidárias. Pois com a doação de boa parte de nossos resíduos de coleções foi possível beneficiar mais de 1.000 pessoas com a entrega de máscaras que foram confeccionados por um grupo de costureiras da região Guapimirim. E todas foram doadas para as pessoas de vulnerabilidade social da região”, conta.
A marca que funciona basicamente em feiras e lojas colaborativas já vinha preparando um e-commerce e com a pandemia o direcionamento, o foco e a energia levaram a marca de uma forma mais atuante para plataforma online. “Entendemos que a nossa relação com a moda e com o consumo já vinha se transformando e, agora, de fato vão se solidificar em novos canais de comunicação. Então, eu como ‘EUQUIPE’ venho me dedicando a novos conhecimentos e mentorias para entender a nova linguagem que o mercado vai nos exigir para continuar nossas atividades”, explica.
Os pequenos empreendedores foram os mais afetados nesse momento, tendo que criar novas estratégias e narrativas para se reinventar diante desse cenário. “Essa é uma dura realidade. E essa parcela do comércio vai precisar de fato de muita ajuda e apoio para recomeçar. Pois para os pequenos ficar 90 dias sem ter o seu negócio funcionando significa praticamente começar do zero. Monetariamente não há muito fôlego. Então, a minha dica, que é exatamente o que eu como criadora do Ateliê Ms. Vee também estou fazendo, é: busque informação, se qualifique ainda mais em todas as aéreas possíveis dentro do universo do seu negócio. Aprimore a comunicação com o seu cliente. E se você ainda não tem um canal de comunicação online faça isso urgente. Esse é o momento de lembrar do velho ditado: quem não é visto não é lembrado”, comenta.
Elegância Sustentável
A história da ‘Pari’ começa quando Flávia Rodrigues, depois de 20 anos atuando como advogada, largou tudo e foi trabalhar como vendedora em uma grande marca brasileira. “Em fevereiro de 2017 fiz uma viagem para a Índia e lá descobri a possibilidade de criar e fazer as minhas próprias roupas. Tudo isso porque visitei uma cidade no Rajastão totalmente voltada para produção de roupas e estampas, principalmente o block printing, uma técnica milenar de estampar tecidos”, revela a criadora.
A primeira coleção surgiu em outubro de 2018, toda em seda pura e rayon e foi desse encontro nessa nova carreira que surgiu o nome Pari, que representa borboleta ou rainha trazendo a ideia de transformação para as mulheres. “De lá pra cá fiz algumas mudanças na logística de produção, passei a produzir a maior parte das roupas aqui no Brasil. Tenho modelista e costureira que me acompanham em todo o processo de criação das peças”, conta. As camisas masculinas e femininas, que se tornaram grande hit da marca, ainda são criadas na Índia por conta das estampas que se tornam exclusivas. “Passei também a importar os tecidos estampados de lá e produzir aqui”, conta.
A grife retrata mulheres que gosta de fluidez, leveza e conforto. E com uma inspiração indiana faz uma sinergia com clima tropical do Brasil. “Utilizo muitas cores e estampas. A produção é quase exclusiva, porque produzimos poucas peças de cada modelo. Esse conceito de quase exclusividade tem agradado bastante nossos consumidores”, frisa. “Atualmente, por conta desse momento que estamos vivendo, eu tenho focado em duas coisas: produzir em pouca quantidade e observar as vendas, além de reaproveitar os tecidos de roupas que não venderam. Ou seja, um processo de upcycle. Estou aproveitando esse momento para criar novos modelos para produzir aqui e na Índia”, revela.
Para as próximas coleções, a marca irá introduzir o linho e explorar mais o block printing com estampas exclusivas. “Um outra novidade, além da transformação das peças é o aproveitamento total dos tecidos, usando os retalhos para criar cadernos, blocos e caixas que acabam se tornando exclusivos. Acredito que estamos vivendo uma nova economia e que se adaptar à nova realidade se faz necessário para sobrevivermos e nos mantermos no mercado da moda”, frisa. Por fim, Flávia dá uma dica para os empreendedores da área: “Criatividade e originalidade serão o diferencial para sobrevivermos a esse futuro breve que estar por vir”.
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