Casa de Criadores: De Jorge Feitosa e a dualidade imagética/estética da caatinga ao sangue latino de Rafael Caetano


Na passarela do #day2 da Casa de Criadores, os desfiles de Couto Store e Dellum, integrantes do projeto Periferia Inventando Moda (PIM), Jorge Feitosa, Rafael Caetano, UMS 458 – LL, Vivão, AMT Lab (Ateliê TRANsmoras)

O segundo dia de desfiles da Casa de Criadores contou com Couto Store e Dellum, integrantes do projeto Periferia Inventando Moda (PIM), Jorge Feitosa, Rafael Caetano, UMS 458 – LL, Vivão, AMT Lab (Ateliê TRANsmoras)

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Couto Store

A Couto Store, integrante do projeto Periferia Inventando Moda (PIM), apresentou ao público o resultado alinhavado por Matheus Couto a partir de seu olhar para sensações, vibrações e movimentos. “Moda se ressignificou e se pluralizou de diversas formas com o passar do tempo, definitivamente já não é mais o simples ato da indumentária”, pontua.

Couto Store (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

Couto Store (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

Com o objetivo de despertar sensações e ampliar a subjetividade de interpretação sobre as suas peças, ele nos convida a uma imersão neste #Drop não só como algo que represente alguma tendência, “afinal quando falamos de moda não falamos majoritariamente sobre tendências, mas sim sobre quem você é”.

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“Nessa apresentação queremos entender para onde essas peças te transportam… Moda é cíclica, um ato político, o que nos representa, nossa identidade, o que diz de onde viemos, que te faz sentir bem consigo mesmo”.

Dellum

Diretor criativo da marca, Brunn Dellum comenta que a coleção foi batizada Hospedeiro/Host. “Em biologia, hospedeiro é um organismo que abriga outro em seu interior ou carrega sobre si, seja este um parasita, um comensal ou mutualista. É o nome dado a um organismo independente do seu grupo, que atua como “moradia temporária” para outro organismo”, comenta.

Dellum (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

“Nesta coleção apresentamos uma mensagem subliminar com predominância do preto e contraste do branco. Mix de texturas, tiras, camadas, pintura e recortes assimétricos.Todas as peças foram feitas em 100% algodão”.

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Acessórios em metais diversos, mix em correntes, mosquetão e argolas. Peças presentes como saias, mini e longa, top cropped geométricos, calça oversize e flare, blazers curto, vestidos e trench coach. 

Jorge Feitosa

O designer teve como inspiração o bioma característico de sua região natal, o agreste de Pernambuco. “É o ponto de partida imagético para esse ajuntamento. O nome Mata Branca, refere-se à tradução da palavra “caatinga”, de origem tupi-guarani. Essa vegetação, natural em grande parte do Nordeste do Brasil, era assim chamada, porque durante a seca, apresenta uma vegetação clara, esbranquiçada, com pouca folhagem”.

Jorge Feitosa pontua que quem não conhece a caatinga de perto, ao se deparar com aquela paisagem, pode ter a sensação mimética do que vê. Tudo pode parecer uma coisa só, repetitiva, desértica, vazia, sem vida. Mas quem viveu o mínimo de tempo com essa vegetação ao redor, sabe que basta um sereno para essa vegetação se mostrar viva, pulsante. Através da diversidade existente ali entre fauna e flora.

Jorge Feitosa (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

Jorge Feitosa (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

“Usando a dualidade imagética/estética da caatinga que varia entre esbranquiçada na seca (o que a torna aparentemente sem vida, monótona) e multicolorida no inverno (onde folhagens, flores, frutos coloridos e vários animais se tornam destaque na vegetação verde), penso no Ajuntamento Mata Branca como uma possibilidade de questionamentos sobre ideais igualitários, eugenistas promovidos pela branquitude, que negam o diferente. E, também como modo de apresentar o cultivo do diverso como um legado a caminho da verdadeira evolução”.

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As peças apresentadas no desfile são todas em tons esbranquiçados, em tecidos como a sarja acetinada e os flats em tons cru da Santista Jeanswear, ou no moletom, na meia malha, na viscose e no tricoline com estampa exclusiva, em parceria com a Lunelli Têxtil. Tudo isso complementado por artigos como retalhos ou resíduos da própria produção ou ainda selecionados em uma minuciosa curadoria em lojas de saldos têxteis.

Rafael Caetano

A marca do estilista paulistano completa 10 anos de presença na CDC e traz referências à literatura sedutora do século 20. Dedicado às histórias do romantismo, a marca do estilista e professor de moda, Rafael Caetano apresenta a coleção Sangue Latino, que traz referências a dois personagens sedutores marcantes na literatura – Don Juan e Dorian Gray.

Rafael Caetano (Foto: Marcelo Soubhia/ Fotosite)

Rafael Caetano (Foto: Marcelo Soubhia/ Fotosite)

Inspirado pelos contos “O Burlador de Sevilla”, de Tirso de Molina, e a imagem vitoriana do Hurd Hatfield no filme “O Retrato de Dorian Gray”, do escritor dramaturgo, Oscar Wilde, Caetano comenta que esta coleção remete às origens e sonhos da marca. “É um tema que eu gostaria de retratar desde o meu primeiro desfile, mas só agora poderei realizar, e esse momento faz parte de um encerramento de um ciclo para os futuros caminhos”, relata.

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Conhecido pelos paetês, neste drop, Caetano passa para a alfaiataria masculina mais clássica, focada em camisas e tecidos mais leves. A cartela de cores é formada por tons de pretos e offs, passando pelo pêssego, rosa chiclete e verde oliva. Com toque sedutor, moderno e mais comercial, a coleção conta com 26 modelos e a participação especial no casting de Thiago Pantaleão.

Para compor os looks, Rafael Caetano conta com o apoio da Converse com sneakers, com a produção têxtil, com as estamparias de Kalimo Next Door e Eberle com os arremates de metal das peças.

UMS 458 – LL

Lucas Lyra apostou na estética em alusão a um thrift shop e essa representação ocorre através de elementos característicos da marca que cujas influências são grunge, punk, streetwear, militar, utilitarismo, alfaiataria e tricô.

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Vivão

A nova coleção traz um mergulho nas infinitas possibilidades oferecidas à nossa sociedade moderna, em uma era onde podemos ser co-criadores em diversas camadas num mundo múltiplo que nos possibilita dar vida a nossas ideias no mundo físico artesanal e no mundo digital, materializando espaços de entendimento da individualidade de cada um e florescendo de forma coletiva a criação de narrativas a um futuro de mais respeito às novas manifestações culturais  da diversidade a partir dessas novas perspectivas!

Vivão (Foto: Marcelo Soubhia/ Fotosite)

Vivão (Foto: Marcelo Soubhia/ Fotosite)

Na passarelas estampas digitais, apresentando o surrealismo moderno que vem com a chegada do metaverso e as possibilidades de vestir texturas e formas que antes só existiam nas telas.

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AMT Lab (Ateliê TRANsmoras)

A coleção Confluências Transcontinentais é uma ode à diversidade e um manifesto à moda consciente, com proposta e sustentável.

“Sem agulha, sem linha. Sem máquina, sem tecido. Sem fio, sem cabide. Sem arara, não tinha tesoura, mas tinha navalha. Quantas vezes do sem compra uma passagem? Quantas vezes do cem, sem viagem? Viagem de quem não tinha nada pra mostrar, viagem daqueles e daquelas que os outros falavam que não tinham nada, nem porque criar. Nada e sem, se fundem em uma aliança curta, sem promessa e sem tributa. Desmuda o que é igual. Desmolda a estrutura monárquica e patriarcal. Desmoda, vidas, inicia caminhos, rompe destinos. Blusa vira saia, Calça vira blusa, Calça e blusa viram vestido, veste pessoas de um mundo que parece até hoje ser outro e desconhecido. NOSSA CONFUSÃO? Não! Confusão disfórica da moda, em meio a toda uma alienação histórica, onde se vestir igual é a prova. Quem se adequa ao novo modelo FALA e quem não se adequa escuta”.

ATM LAB (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

Denúncia em forma de poema. Os crimes cometidos na moda não estão nesta cena. Estão naquelas que vocis vestem, naquela que vocis investem. Naquela marca, que marca, que dura mais, porque é norte-americana. E todo mundo sabe que tá aí o argumento, agora tá liberado, investir toda sua grana. As nossas marcas são pedaços das suas relíquias, mas na moda até relíquia tem prazo de validade. Então aceitem: romper com o tempo é o novo investimento. A Casa dy Criaturas anuncia que a partir de agora o pânico cis está liberado. Diretamente donde tudo se veste ao contrário, Sem expectativas do que é real ou imaginário. Tura que já estamos dentro do Jardins dy Criaturas.

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