Casa de Criadores: Cozonosan transforma e-waste em jardim, Alexei mergulha na literatura e Estúdio Traça, no caos


No #day4 de desfiles da Casa de Criadores, Projeto Lab, Cozonosan, Cynthia Mariah, Alexei, Xyboia, Studio AH, fkawallyspunkculture e Estúdio Traça

O quarto dia de desfiles da Casa de Criadores contou com Projeto Lab, Cozonosan, Cynthia Mariah, Alexei, Xyboia, Studio AH, fkawallyspunkculture e Estúdio Traça

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Cozonosan

Gabriela Martinek Cozono Puras, mais conhecida como Georgia, diz a sua marca é a realização de um sonho de infância, que tomou forma a adolescência, no Japão, mas apenas se materializou 15 anos depois durante a pandemia. A label nipo-brasileira lança luz a temas  contemporâneos relacionados à antropologia, comunicação e tecnologia. “Aprofundando nos temas através dos processos criativos, e transformando roupas em símbolos vestíveis, peças que representem uma ideia ou um conceito. A fim de aproximar práticas sustentáveis à utilidade do dia a dia, a marca busca encontrar soluções criativas, abrindo espaço para reflexão e incentivando novos hábitos”, diz a designer. 

Ela levou à passarela a coleção Cristal Líquido // KOZONOのKOEN, na qual reflete sobre o e-waste gerado pela tecnologia que possibilita que novos aparelhos sejam lançados e que novas tendências surjam rapidamente no mercado, em um processo planejado que leva o consumidor a substituir seus equipamentos eletrônicos sem necessidade.

Cozonosan (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

Cozonosan (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

“E-waste, lixo eletrônico, Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REEE) ou e-lixo, são termos utilizados para se referir a todos os descartes de equipamentos elétricos e eletrônicos. O Brasil está entre os maiores produtores de lixo eletrônico do mundo, e já se destaca com uma quantidade de 1,4 milhão de toneladas por ano. Com as recentes políticas de tratamento de e-lixo, a maioria da população ainda não tem educação ou conhecimento sobre como descartar esse tipo de resíduo de forma correta. Apenas 13% do lixo eletrônico é tratado corretamente, e o descarte indevido de e-waste pode causar sérios impactos ao meio ambiente se forem despejados de forma inadequada”, observa a designer.

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O nome Kozono ou Cozono é de origem japonesa e significa “Pequeno Jardim”. KOZONOのKOEN ( Kozono no Koen ) indica que o pequeno jardim pertence a Kozono,  “Jardim da Kozono”. Cristal Líquido é o nome do tecido utilizado na coleção e também está presente no nosso dia-a-dia no cristal líquido da tela do celular, televisões e displays produzido e descartado em larga escala pela indústria eletrônica. “A coleção cria seu pequeno jardim de flores misturando e-waste, descartes têxteis e resíduos plásticos. As flores criadas a partir dos resíduos se transformarão em acessórios para a nova coleção, sendo elas destacáveis através de imã possibilitando criar uma infinidade de styling para os looks ou acessórios. No upcycling os materiais eletrônicos passam por um novo processo de solda e ligações, trazendo uma nova vida útil para as peças. Além das flores destacáveis, a COZONOSAN desenvolve uma coleção de luminárias de arranjos de ikebana, tornando algo que antes era apenas “lixo” em um objeto de design que embeleza e ilumina interiores”. 

Cynthia Mariah

A marca homônima nasceu em 2004, quando a estilista tinha apenas 17 anos, como uma busca pela despadronização dos acessórios e pela autenticidade. Desde o início, o Ateliê tem como foco a criação de peças únicas voltadas para a história individual de cada consumidor. Equilibra uma pesquisa sobre a moda afrocentrada refletindo produções em trabalhos artesanais como uma forma de expressão corporal, política e identitária, buscando
contemplar a pluralidade das mulheres pretas.

Cynthia Mariah (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

Cynthia Mariah (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

Força Bruta é o nome da nova coleção do Ateliê Cynthia Mariah, que busca ressignificar o feminino e mostrar a pluralidade das mulheres pretas. “As peças e os corpos que as vestem exploram os diversos ângulos da feminilidade, retomando uma posição estética negada há décadas as mulheres pretas , refletindo assim a delicadeza, afeto e a sutil fragilidade empregadas a mulheres brancas”, comenta a estilista.

As peças vão além do espaço delimitado e ultrapassam barreiras incorporando corpos reais e suas diversas tonalidades estéticas, se alinhando com a profundidade proposta na coleção . Composta por tons pastel e terrosos, traz tecidos planos, as famosas aplicação de tule e bordados, repletos de manualidades que projetam um teor romântico às criações.

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Uma das principais inspirações da estilista para essa produção é a abolicionista e ativista dos
direitos das mulheres, Sojourner Truth, em conjunto com os textos da escritora bell hooks.
“A coleção vem mostrando que, diferente do que nos foi imposto no colocando sempre como
a Força Bruta, temos o direito de quebrar o protocolo, nos permitindo esse toque de leveza
entre as lutas traçadas no dia a dia”, pontua a estilista Cynthia Mariah.

Alexei

A segunda coleção da label Alexei na Casa de Criadores foi batizada “Ciúmes e Perdão”, e, segundo o estilista Leonardo Alexei, “vem para transformar sentidos e sentimentos em matéria viva, explorando a poesia de Machado de Assis, os delírios de Dom Quixote, o filme Cantando na chuva, absorvendo um caderno de anotações de Kurt Cobain e tristezas de Sylvia Plath”.

Alexei (Foto: Marcelo Soubhia/ Fotosite)

Alexei (Foto: Marcelo Soubhia/ Fotosite)

“Indo… Perseguindo… Numa espécie de construir, costurar, criar e destruir”, diz Leonardo Alexei, que rabisca e une suas origens caipiras com a cena urbana de São Paulo. É o Caipirismo Punk Grunge & Romântico. É o físico, e o não-físico, é o surreal, o imaterial e o tangível.

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Meus delírios, muitas vezes vagos, muitas vezes voos. Os personagens que esbarro e colo. Minha carta de amor para o meu amor. Meu amor é a passagem secreta, é o sussurro no silêncio do quarto escuro. Todas as roupas em desordem com mundo. Roupa errada, no lugar errado. O perder de todo minha montagem humana. A vida me pede perdão. Eu ainda posso me amar desse jeito? Gatilho criativo disparado: posso fazer um vestido para você? Posso fazer um desfile pra você? Quando soar meia-noite, o encanto se quebrará. Estou compondo para você. Eu quero vomitar. Eu sou a minha mãe. Eu não entendo o que estou escrevendo. E se eu fosse um peixinho e soubesse nadar”…

Xyboia

Sobre o tempo todas as cidades um dia tornam-se entulho. O Brasil sempre foi o Brasil paralelo, inventado pela colonização, torres de entulho sobre outro território. Meu primeiro conhecimento entendido como moda, foi na escola quando descobri que o pau-brasil, matéria de tintura vermelha, foi uma das desculpas para os invasores destruírem e roubarem. Mas a verdade é que eles não conseguiram exterminar esse mundo, e com isso todo lugar se tornou um território de guerra, disputa, poder.

Xyboia (Foto: Marcelo Soubhia/ Fotosite)

Xyboia é uma marca de produções artísticas entre as áreas da moda, designer
gráfico e artes plásticas; tomando perspectivas urbanas em meio aos contextos
ancestrais as história pindoramica.

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A coleção trata-se de uma visagem, material e desta terra pindorama; um espaço de vislumbre da complexidade múltipla de ser; uma perspectiva da construção e deslocamento da identidade pindoramamica nessa ficção chamada brasilidade. Uma proposta de retomada estética a territorialidade do eu, mapeando as conexões dessas diversas identidades – temporalmente transpassadas pela colonização, mas projetadas em um futuro utópico (a criação de uma possibilidade).

Studio AH

A coleção Invicta trabalhada pelas diretoras criativas, Aya Honda e Anna Operman, reflete que o mundo chegou em um momento no qual precisamos pensar sobre o consumo, parar de validar a matéria e começar a reutilizá-la, por isso grande parte da coleção é feita de upcycling. À frente da marca, duas mulheres trans que acreditam no poder da transformação e que afirmam o empoderamento feminino e a construção de uma sociedade onde todes conquistem seus espaços. Adentram, transformam e constroem.

Studio AH (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

Studio AH (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

O Studio AH traz nessa coleção um mix da desconstrução da alfaiataria, streetwear, clubber e cyber punk. A pegada é a beleza de quem trabalhou muito e, depois, vai festejar, comemorar a vida, a vitória de estar bem consigo, se sentindo sexy, poderose e descontraíde.

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Tem em sua paleta a vibração das cores, neon, bordô, amarelo, roxo e também o classico preto e branco da alfaiataria, brinca com a sensualidade em suas formas, com pele à mostra em lugares estratégicos, sem perder a elegância e tornando os looks divertidos, frescos e confortáveis.

Fkawallys Punk Couture

Fábio Kawallys lança mão do upcycling, reutilização e customização. Marca registrada da Fkawallys. O estilo punk é um dos estilos mais copiados dentro do mundo da moda desde a década de 1980. Passou ser um ícone fashion bastante utilizado por marcas, estilistas e há uma enorme aceitação do público que consome moda em aderir o estilo punk em suas vidas.

fkawallyspunkculture (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

“Sendo parte do DNA da Fkawallys foi desenvolvida uma coleção especialmente voltada para o underwear fetichista, que agora une os conceitos de sexualidade com o estilo punk. Essas cuecas foram confeccionadas especialmente para uma apresentação na semana de moda de São Paulo, A Casa de Criadores”, pontua Fábio Kawallys.

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Com foco em representar um estilo alternativo, essas cuecas possuem cortes mais ousados e sofisticados, e todo um trabalho feito com serigrafia e aplicação de tachas e rebites para enfatizar o conceito de moda underground. Com mais liberdade em criar produtos que fogem ao padrão de moda comercial, essa estética proposta é mais voltada para o desenvolvimento de uma moda mais conceitual.

Estúdio Traça

A pegada desta temporada foi o mood caótico dos últimos anos. Diante das mudanças na ordem social, diante da iminente incerteza da possibilidade de progresso e futuro, diante das camadas de sentimentos e comportamentos que nos atravessam no cotidiano; essa coleção
flerta e questiona os papéis contraditórios que interpretamos.

“Passei por tantas mudanças nos últimos meses. Daquelas mudanças que tiram nosso chão, que colocam tudo em perspectiva. Nessa coleção pretendo explorar a importância de abraçar essas contradições que atravessamos”, confessa o designer Guilherme Amorim. Entre os questionamentos do designer, algumas influências são dignas de nota. Entre elas, Amorim cita a obra “O Morro dos Ventos Uivantes”. “O livro me marcou, porque reflete esse turbilhão de sensações e transformações. Essa ideia de declínio antes do renascimento é algo que me intriga bastante”, diz.

Estúdio Traça (Foto: Marcelo Soubhia/ Fotosite)

Estúdio Traça (Foto: Marcelo Soubhia/ Fotosite)

O mood sombrio do livro ajuda a configurar essa coleção em uma vibe de romantismo austero. Pense em casacos acinturados em denim dark e com recortes em formato de coração. Tamanha dualidade se apresenta por toda a coleção em looks que se decodificam em shapes sensuais, deixando muita pele livre. Além do denim, marca registrada da casa, a coleção se desdobra em malha gaze, sarja e tricoline.

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As estampas desaparecem e no lugar aparecem lavagens em jeans. As peças também se apresentam em crochês confeccionados a partir de fio jeans. Ocre enferrujado e branco são as cores da paleta que dialogam com as lavagens de denim. Da mesma forma que a heroína do livro brinca com as diversas possibilidades do feminino e os papéis de gênero impostos para a mulher, a coleção procura apresentar as nuances dessa mulher que se encontra com os pés em mundos convergentes.

“Tem a ver também com meu momento pessoal. Ainda me vejo como um jovem onde tudo parece possível. Mas então percebo que nada é garantido e que a idade começa a exigir um nível de responsabilidade diferente. É uma fase de tentativa e erro e eu abraço essas contradições”, afirma o designer.