BRIZZA AREZZO: ‘Oh, abre alas que elas sempre vão passar’. Uma ode às mulheres hoje e quando o carnaval voltar


As imagens do editorial que publicamos aqui lançam luz e representam a voz à pluralidade das mulheres do samba, ressaltando a relevância de uma festa eternizada na cultura do nosso país, mas que pelo bem e consciência de todos precisou ser adiada por conta da pandemia. A mente criativa de Giovanni Bianco transformou em realidade visual a sororidade entre essas mulheres. Um paralelo subliminar também entre as clientes da Arezzo, as protagonistas de toda a cadeia produtiva da marca. Com vocês, o brilho e a potência em alta voltagem de Tia Surica da Portela; Belinha Delfim da Viradouro; Geórgia do Paraíso do Tuiuti; Grazzi Brasil da São Clemente; Bianca do Salgueiro; Flaví Gomes da Unidos da Tijuca; Yago Mapoua da Beija-Flor; e Evelyn Bastos da Mangueira

Cada personagem com uma história de vida, mas todas com algo em comum: alinhavadas pelo amor ao carnaval. São pensamentos, reflexões contundentes, exemplos de representatividade e múltiplas ações permeando o dia a dia. Estou falando sobre oito personagens pinçadas com olhos de lince para uma homenagem da BrizZa Arezzo às mulheres neste carnaval atípico por conta da pandemia do novo coronavírus. O ensaio batizado “Oh, abre alas que elas sempre vão passar…” lança luz e representa a voz à pluralidade dessas mulheres, ressaltando a relevância de uma festa eternizada na cultura do nosso país, mas que com a consciência pelo bem de todos precisou ser adiada por conta do Covid-19. Através da imagem, cada uma das mulheres nos proporcionam uma sinergia com suas histórias e estabelecem um vínculo de união mesmo à distância. A conclusão do trabalho é linda, nos mostra que há magia e sonho em todas as circunstâncias da vida e você pode conferir nas redes sociais da BrizZa Arezzo e da Arezzo.

A mente criativa de Giovanni Bianco transformou em realidade visual a sororidade entre essas mulheres. Um paralelo subliminar entre as clientes da Arezzo, as protagonistas de toda a cadeia produtiva da marca. Com vocês, o brilho e a potência em alta voltagem de Tia Surica da Portela; Belinha Delfim da Viradouro; Geórgia do Paraíso do Tuiuti; Grazzi Brasil da São Clemente; Bianca do Salgueiro; Flaví Gomes da Unidos da Tijuca; Yago Mapoua da Beija-Flor; e Evelyn Bastos da Mangueira.

Tia Surica, sinônimo de legado para as novas e futuras gerações (Diretor Criativo: Giovanni Bianco/Foto: Thiago Bruno)

Tia Surica, sinônimo de legado para as novas e futuras gerações (Diretor Criativo: Giovanni Bianco/Foto: Thiago Bruno)

TIA SURICA

Me diz se alguém não bate-cabeça ou beija a mão com tudo de mais lindo que há no sincretismo do nosso país para Tia Surica? Nascida Iranette Ferreira Barcellos, seu nome está cravado no panteão dos grandes da Portela. Ela comemorou seus 80 anos no difícil 2020 com direito à transmissão ao vivo pela internet. Mas, para quem tem a fé e o sorriso no rosto como Tia Surica não perde a esperança de dias melhores mesmo nesse período difícil que a pandemia tem nos imposto e empurrando o nosso carnaval para 2022.

A BrizZa Arezzo convidou com muito respeito e carinho a “matriarca da Portela”. E ressaltou a garra, a história de vida, a energia de Tia Surica. Em suma: a disposição “que muita garota não tem”, como ela ressaltou durante o shooting. Tem como vocês imaginarem que, na década de 60, Tia Surica pisou em território demarcado pelos homens e se aventurou no carnaval carioca como intérprete do samba-enredo “Memórias de um Sargento de Milícias“, de autoria de Paulinho da Viola, ao lado de Maninho e Catoni? Sim. Essa é Tia Surica. E até hoje podemos dizer que é vanguardista, por que não?

Morando sempre ao lado da quadra da Portela, no ‘Cafofo da Surita’, palco de festas memoráveis com a nata do samba em Madureira, ela gravou nos anos 50, junto às pastoras Marlene, Conceição, Mocinha e Iramaia, o LP “A vitoriosa Escola de Samba Portela” e não parou mais de brindar a todos com seus lançamentos musicais e sempre reverenciando nomes que entraram para a história do samba, como Candeia, Monarco, Manacéa, Walter Alfaiate, Aniceto da Portela, Argemiro, Chico Santana e por aí vai.

Aos quatro anos, a sambista ganhou o apelido de Surica dado pela avó por usar roupa curta, conta a lenda. E desfilava no carnaval como baiana. Além de ter gravado uma série de discos, foi uma das protagonistas, ao lado de Tia Doca e Tia Eunice, do curta-metragem “Batuque na cozinha“, de Anna Azevedo; fez participação em série de TV e…. é “A” referência das feijoadas inesquecíveis na quadra da escola de samba antecedendo sempre o desfile na Sapucaí.

Tia Surica integra a Velha-Guarda da Portela, sinônimo de legado para as novas e futuras gerações. “Se não tem carnaval de 2021? Eu tenho muita fé em Deus que estarei em 2022. Linda e formosa!”, avisa. Muito axé para Tia Surica, hoje e sempre!

Evelyn Bastos, da Mangueira: "Sonhava com a magia de ser rainha de bateria" (Diretor Criativo: Giovanni Bianco/Foto: Thiago Bruno)

Evelyn Bastos, da Mangueira: “Sonhava com a magia de ser rainha de bateria” (Diretor Criativo: Giovanni Bianco/Foto: Thiago Bruno)

EVELYN BASTOS

A Mangueira mantém a tradição de escolher na própria comunidade as suas rainhas de bateria. Desde 2014, Evelyn Bastos, nascida e criada no Morro da Mangueira, mostra a verdadeira arte de estar à frente dos ritmistas da verde e rosa. “Rainha de Bateria na Mangueira é por merecimento”, sempre pontua. E ela conta que quando era criança “sonhava com a magia de ser rainha de bateria. E, hoje, penso o quanto desperto a vontade em outras meninas da comunidade. É totalmente mágico. Poder contar todo ano uma história vai ser sempre a nossa história”, comenta. E foi justamente o que aconteceu com a menina Evelyn que via sua mãe sambar e dar a alma à verde e rosa.

Por falar em Mangueira… é bonito ver a BrizZa Arezzo fazer uma homenagem à mulher empoderada da Estação Primeira que carrega o DNA da comunidade e do samba, sempre reverenciando os maiores nomes que levaram a Mangueira a ter uma chancela conhecida em todo o mundo. Neste 2021, justamente no mês de fevereiro, Dona Zica (1913-2003) faria 108 anos. A data vai ser lembrada pelo Museu do Samba com uma live em homenagem à viúva do compositor Cartola (1908-1980) e uma das grandes damas da história da Estação Primeira de Mangueira.

Evelyn Bastos sabe riscar a Avenida Sapucaí com um gingado que é de arrepiar, mas mostra toda a sua personalidade também com debates sobre a temática do racismo estrutural no país, o papel da mulher na sociedade e questões sociais. No ensaio para o desfile do carnaval 2020, ela usou no Sambódromo um body com a inscrição: ‘Maria das Dores’, em alusão, segundo ela, tanto ao samba-enredo da escola, ‘A verdade vos fará livre’ – “Eu sou da Estação Primeira de Nazaré/ Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher/ Moleque pelintra no buraco quente/Meu nome é Jesus da Gente” -, quanto às mães das comunidades que têm seus filhos confundidos com bandidos por serem pretos e morarem na favela.

Na noite oficial do desfile da escola do Grupo Especial na Marquês de Sapucaí, Evelyn Bastos, vestida de roxo, com correntes e com a réplica de uma coroa de espinhos, representou uma referência a Jesus também sob a ótica feminina e atravessou a Avenida sem sambar. Um verdadeiro ineditismo das criações que o carnaval oferece a todos nós e respeito pelo tema.

Seu nome, no início do ano, estava entre os escolhidos pelo Museu de Arte Moderna do Rio (MAM) para ministrar aulas de samba no pé, tendo como ponto de partida sua experiência pessoal acumulada através de anos dedicados à prática no evento que contou com a participação de mestres e artistas dos diferentes saberes que constituem a Estação Primeira de Mangueira.

Grazzi Brasil: a potente voz da intérprete de samba-enredo da São Clemente (Diretor Criativo: Giovanni Bianco/Foto: Thiago Bruno)

Grazzi Brasil: a potente voz da intérprete de samba-enredo da São Clemente (Diretor Criativo: Giovanni Bianco/Foto: Thiago Bruno)

GRAZZI BRASIL

E o poder da mulher no desfile de escola de samba foi parar onde? Em mais um território que sempre foi dominado pelos homens. Grazielle Raquel da Silva Santos, a poderosa Grazzi Brasil, tem soltado sua voz como intérprete de samba-enredo, puxadora oficial (como muitos falam) de uma escola de samba do Grupo Especial do carnaval do Rio. E pensa que é de agora? Na-da! Ela já passou pela Vai-Vai, em São Paulo, cidade onde nasceu, Paraíso do Tuiuti, no Rio,  – vice campeão com o enredo “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?“, em 2019, e arrasou, ano passado, na São Clemente, que levou para a Avenida o enredo ‘O conto do vigário’. E lá estava Grazzi assumindo o microfone principal e compondo com Leozinho Nunes e Bruno Ribas o trio de intérpretes do samba enredo no comando do carro de som.

Como vocês podem observar na foto expressiva de Grazzi, ela tem bem à frente um microfone, claro, e ela usa um arranjo na cabeça que nos remete à Clara Nunes (1942-1983). A cantora, compositora e intérprete que levou a música brasileira para os quatro cantos do mundo é uma das inspirações de Grazzi Brasil. A outra? A diva Elis Regina (1945-1982). Grazzi conseguiu quebrar paradigmas de um universo machista e abriu o caminho para mais mulheres serem intérpretes de samba-enredo no carnaval.

Grazzi quer voar alto e mostra que pode. Batalha por sonhos na música desde os 13 anos. Na trajetória que vem escrevendo, ela participou das audições do The Voice Brasil, da Globo, do musical ‘Cartola’ e foi até convidada para gravar um clipe em homenagem e representando Elza Soares.

Neste ensaio fotográfico para a BrizZa Arezzo, ela foi enfática: “Cantar é o melhor que faço nessa vida”.

Bianca Salgueiro: musa da vermelho e branca tem o samba na veia (Diretor Criativo: Giovanni Bianco/Foto: Thiago Bruno)

Bianca Salgueiro: musa da vermelho e branca tem o samba na veia (Diretor Criativo: Giovanni Bianco/Foto: Thiago Bruno)

BIANCA SALGUEIRO

Musa do Salgueiro, Bianca é presença certa na Passarela do Samba defendendo as cores da escola de samba vermelho e branco. E lá se vão oito anos. O corpo? Perfeição e esculpido com muita malhação. Bianca é personal trainer das mais requisitadas e, durante o período de isolamento social por conta dos protocolos adotados para a diminuição da circulação do novo coronavírus, ela teve uma legião de alunas por videoconferência. Adepta também da meditação, ela nos dá palavras de incentivo em suas postagens nas redes sociais, tais como “se você entender que a mente cria tudo, começará a sentir que tudo está nas suas mãos. Nós somos os protagonistas das nossas vidas, portanto, vamos acreditar nos nossos sonhos” e “acorde todos os dias com um motivo para fazer o seu dia incrível”.

O samba corre em suas veias. Bianca é descendente de Domingos Alves Salgueiro, comerciante da Tijuca e um dos primeiros a construir moradias no morro que levou o seu sobrenome e começou a ser habitado por ex-escravos e migrantes nordestinos. E assim também nasceu a Acadêmicos do Salgueiro, a azul e branco, que tem a sua bateria conhecida como a ‘Furiosa’ pela potência. Bianca sempre frisou que nunca passou um carnaval longe da Marquês de Sapucaí.

Flavi Gomes: “Nasci durante o carnaval, sou tijucana, meu marido também e o nosso filho que vem ao mundo” (Diretor Criativo: Giovanni Bianco/Foto: Thiago Bruno)

FLAVI GOMES

Com essa barriga linda, Flavi Gomes, 33 anos, grávida de nove meses, posou para o ensaio fotográfico em homenagem às mulheres do nosso carnaval. Ela é passista da Unidos da Tijuca. E sabe a importância da resistência de todas que fazem aquela evolução tão incrível com o samba-no-pé no coração da escola de samba. Vou usar um termo que está muito na moda: “raiz”. Sim, as passistas são a síntese do puro samba de raiz encantando os espectadores do nosso carnaval que ganha o mundo. A passista é reverenciada em to-das as festas alusivas ao carnaval: dentro e fora da Passarela do Samba.

Ela conta que nasceu durante o carnaval e, em cada ensaio de escola de samba, os olhos ficavam extasiados: “Eu via tudo aquilo e pensava: será que um dia eu vou poder participar?”. Ela diz que o marido e o filho que vai nascer são como ela: tijucanos e com muito orgulho.

Yago Mapoua: ‘Bem Mapoua, Mapouona fazendo bonito na Beija-Flor (Diretor Criativo: Giovanni Bianco/Foto: Thiago Bruno)

YAGO MAPOUA

Apaixonado pela Beija-Flor, Yago Mapoua – ou simplesmente Mapoua – viralizou na internet quando postou um vídeo em suas redes sociais no qual encarnava a Dona Hermínia (personagem de Paulo Gustavo no filme ‘Minha Mãe é Uma Peça‘), em uma fila de supermercado. Os amigos da Rocinha, onde mora, logo deram a dica de que a sua criação devia ser batizada ‘Samara’. De cara começou a fazer sucesso e também quando postou no Instagram um vídeo no qual conversava com um amigo e brincou com a palavra “mapoua”, uma alusão a uma mulher poderosa. Assim surgiu Mapoua. A mãe de Yago também começou a fazer parte dos vídeos do filho e já é super conhecida dos seus seguidores. Mapoua lançou até música batizada ‘Bem Mapoua Mapouona fazendo a curva do S”. Que bom ver que colhe os louros na web e em grande estilo desfila pela sua escola do coração no carnaval: a Beija-Flor de Nilópolis.

Belinha Delfim: A passista da Unidos da Viradouro que ganhou o mundo com sua arte (Diretor Criativo: Giovanni Bianco/Foto: Thiago Bruno)

BELINHA DELFIM

Belinha Delfim, passista da Unidos do Viradouro, a campeã do carnaval 2020 com o enredo ‘De alma lavada’, mantém acesa a chama da ancestralidade de muitos que compuseram a Ala das Passistas. A maioria eternizada pelo primeiro nome e sempre precedido por ‘tia’. A Viradouro de Tia Dayse, Tia Cléa, entre tantas que mostraram ao mundo a intensidade do sambar e fazer a linda história de uma arte do Brasil que ganhou chancela mundo afora. Belinha, com seus 23 anos, “fez do carnaval uma escola”, como pontua. É bailarina, dançarina e professora de samba. O resultado? É requisitada a dar aulas online de Norte a Sul do país. Achou pouco? Então vai lá: até para alunos de países desse mundão. Confere lá no Instagram dela o que está escrito: “Da favela pro mundo”.

Geórgia: desde criança pegava as sandálias da mãe, que era passista, para sambar na rua (Diretor Criativo: Giovanni Bianco/Foto: Thiago Bruno)

GEÓRGIA DO TUIUTI

A mãe de Geórgia estava grávida e mesmo assim sempre riscava a Passarela do Samba. Dito e feito. Nasceu uma filha apaixonada pelo carnaval tal qual a mãe. Desde muito pequena Geórgia aproveitava que a mãe estava no trabalho e calçava as sandálias de saltos altíssimos para sambar na rua. O sonho de desfilar na Paraíso do Tuiuti, a azul e amarelo de São Cristóvão, no Rio, foi concretizado por Geórgia, que hoje conjuga o trabalho de professora de samba com auxiliar administrativa de uma empresa de elevadores. A história do Paraíso do Tuiuti remonta às antigas agremiações do bairro da Zona Norte do Rio desde a década de 30. A partir de 2014, a agremiação lançou mão do DNA da nossa história, conquistando bons resultados no carnaval do Rio. Em 2018, com enredo questionador sobre os 130 anos da abolição da escravidão brasileiro, o Tuiuti foi vice-campeão no Grupo Especial.