Anderson Vescah: Das aulas no SENAI CETIQT às passarelas internacionais


“Não sou a favor do trabalho de styling conceitual pasteurizado onde se pegam referências de desfiles internacionais, muda alguma coisa e assina o seu nome. Isto é apropriação de imagem e, infelizmente, é muito usual no mercado”, comentou

Ex-aluno do SENAI CETIQT, Anderson Vescah é figurinha carimbada nos principais eventos de moda do Brasil e do mundo. O stylist começou a carreira nos anos 90 quando entrou para Faculdade SENAI CETIQT e descobriu o que queria fazer para o resto da vida graças à qualidade do ensino. Os conhecimentos que adquiriu no início fizeram com que ele se destacasse no mercado e, atualmente, já trabalhou para diversas marcas como Cantão, Redley e Hering e vestiu várias celebridades renomadas. Ganhou, no ano passado, o ‘Prêmio de Jornalismo da Editora Globo’  na categoria Moda e seus trabalhos se destacam devido à qualidade de suas criações artísticas e genialidade das composições. “Não sou a favor do trabalho de styling conceitual pasteurizado onde se pegam referências de revistas e desfiles internacionais, muda alguma coisa e assina o seu nome. Isto, para mim, é apropriação de imagem e, infelizmente, é muito usual no mercado”, comentou. O profissional assinou diversos editoriais para o site HT, sendo o mais recente o da atriz Pâmela Tomé, que está no ar em Orgulho e Paixão. Vem conferir o papo!

Vescah é referência de styling no Brasil (Foto:Guilherme Lima)

Site HT: Você é um ex-aluno do SENAI CETIQT. Qual foi a importância desta instituição para a sua formação como stylist?

Anderson Vescah:  Nos anos 90, quando comecei a trabalhar na área, não existiam faculdades de moda e a nomenclatura stylist não era utilizada pelo mercado, então não sabia ao certo o que queria fazer. Acabei fazendo um curso técnico de moda no SENAI CETIQT o que me deu uma boa base e uma noção de qual caminho podia seguir.

Vescah já fez muitos trabalhos importantes. Nesta imagem, ele participa de um editorial de moda em Búzios (Foto: Divulgação)

Vescah já fez muitos trabalhos importantes. Nesta imagem, ele participa de um editorial de moda em Búzios (Foto: Divulgação)

 HT: Como começou a sua trajetória no mundo da moda?

AV: Além da Faculdade, fiz cursos de extensão de história da arte e design na Escola de Artes Visuais do Parque Lage que acabaram florescendo a minha visão artística e o interesse em trabalhar com imagem. Meu primeiro trabalho foi como booker na Agência Mega, em São Paulo. Já como produtor de moda, comecei estagiando na revista Desfile e, posteriormente, fiz a Domingo do Jornal do Brasil e a Glam, da Heloisa Tolipan. Colaborei para inúmeros veículos, inclusive, na revista da Erika Palomino e para a Folha de São Paulo. Hoje em dia, assino muito material na revista ELA, de O Globo, que possui uma chancela de qualidade para qualquer profissional do meio. Sempre quis participar desta equipe.

HT: Com a experiência de passar pelo SENAI CETIQ como descobriu que queria ser stylist?

AV: Descobri a profissão de produtor de moda quase por um acaso. Um dia, estava saindo do meu curso de história da arte, no Parque Lage, e uma equipe estava sentada na escadaria do palacete fazendo uma reunião para um desfile que iria acontecer. Fiquei por perto escutando tudo e, quando a conversa terminou, uma dos integrantes da equipe, a Kika Gama Lobo, percebeu a minha curiosidade e me convidou para acompanhá-la como assistente em uma semana de moda no Palácio da Cidade, em Botafogo. Foi a primeira vez que vi um desfile e tive contato com o mercado. Naquele momento, percebi onde queria estar.

Making of em Miami com a modelo Annelyse Schonenberg (Foto: Divulgação)

HT: Apesar desta casualidade, enfrentou algum empecilho para se consolidar no meio?

AV: Era um mercado muito mais fechado naquele tempo, mas tive que insistir muito e, até mesmo, ser invasivo em alguns momentos devido às muitas recusas que levei durante o meu caminho. No entanto, dois anos depois de participar deste encontro no Palácio Cidade, eu já estava assinando o styling do meu primeiro desfile na Semana Barra Shopping de Estilo, que mais tarde se tornaria o Fashion Rio.

Vescah participou de uma campanha no Sertão do Cariri (Foto: Divulgação)

HT: Desde então, já participou de vários eventos importantes no mundo da moda. Quais foram os mais simbólicos para você?

AV: Já assisti desfiles da Tommy Hilfiger e Marc Jacobs na Semana de Moda de Nova York e alguns em Paris, quando ainda eram realizados no Carroussel Du Louvre. Também fui a Curaçao, no Caribe, na Swim Fashion Week. Além disso, marquei presença em todas as semanas de moda do Rio de Janeiro e São Paulo juntamente com o DFB Festival, em Fortaleza, um evento que cultivo um carinho especial.

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HT: O mercado da moda é muito amplo. Dessa forma, quais são as suas frentes de trabalho?

AV: A minha prioridade é o styling para campanhas de marcas e editoriais de revistas, trabalhando com a parte de imagem e edição dos looks. No entanto, também faço figurino para campanhas publicitárias, dou consultoria de imagem para empresas e atendo como personal stylist de celebridades. Alguns desses trabalhos não são o meu foco, mas, a partir do momento em que estou no mercado, sou requisitado para outras coisas o que automaticamente abre o leque de oportunidades. Isto é positivo tanto para o meu reconhecimento como profissional quanto pelo retorno financeiro.

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HT: Tem algum trabalho que tenha sido muito simbólico na sua carreira?

AV: Todos os trabalhos são importantes para mim, desde o menor cliente até os mais renomados. O primordial é a pessoa me dar o devido valor e respeito como profissional. Em questão de status, já colaborei para as revistas Vanity Fair da Itália, Glamour da Alemanha, Vogue, Glam e ELA, do Globo. Com relação a marcas, fiz desfiles para inúmeras, como Cantão, Redley, Hering, Agatha, Dress To, Karamello, Totem, Blue Man e Adidas. Como personal, já vesti pontualmente algumas celebridades como Juliana Alves, Suzana Pires, Débora Nascimento, Cauã Reymond, Julia Rabello e Giovanna Antonelli.

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HT: Qual você acredita que é o seu diferencial?

AV: Me mantenho fiel ao meu DNA e ao imaginário que criei dentro da minha cabeça. Apesar de ter alguns stylists que admiro, procuro não influenciar pelo trabalho dos outros. Acredito que cada um deve pensar com a sua cabeça.

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HT: As suas composições são frutos da sua imaginação, mas o que o inspira a criar looks diferentes?

AV: Viajo muito e esta, talvez, essa seja minha principal fonte de inspiração. Gosto de ver a cultura, filmes, arte e até a dança. Tudo do cotidiano pode me inspirar. Prefiro investir numa imagem mais autoral, algo que as pessoas olhem e saibam que fui eu quem fiz. Não importa se as pessoas gostam ou não do meu estilo, o mercado é feito de seleção natural, então não acredito que precisamos agradar a todos.  Durante muito tempo, me culpei por escutar que meu trabalho era pretensioso. No entanto, quando comecei a receber elogios pelas produções que realizava no exterior, percebi que o problema não era minha construção de imagem, mas o fato dos fashionistas brasileiros serem mais adeptos ao pretinho básico e ao minimalismo.  Serei maximalista até o fim!

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HT: Apesar de ser um mercado com muitas opções de trabalho, acaba sendo uma profissão mais flexível e menos burocrática. A falta de regulamentação o afeta de alguma forma?

AV: Nenhuma! Inclusive, tenho uma empresa de produção aberta no meu nome. Acredito em uma ‘auto regulamentação’, por me dar possibilidade de ser patrão e funcionário ao mesmo tempo. Como freelance, aprendi que trabalhando por conta própria é necessário estabelecer metas e, por isso, costumo me planejar como um empresa, projetando quantos trabalhos gostaria e precisaria ter. Mesmo em dias que trabalho de casa, tenho horário para acordar e produzir e os contatos que deverão ser feitos. Só assim funciona, pois, cada vez mais, o mercado exige profissionalismo.

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HT: Como você avalia o mercado da moda com a crise que o Brasil vive?

AV: Há dois ou três anos, senti uma grande diferença, principalmente, no bolso. Muitos  clientes deixando de investir em material para imagem ou fazendo de uma forma mais caseira e amadora. No entanto, este ano percebi uma melhora e estamos mais próximos da normalidade. Mas, obviamente, o mercado mudou depois disso. As redes sociais, por exemplo, ganharam muito espaço e o impresso entrou em declínio o que diminuiu as possibilidades. Enquanto isso, percebo que os formatos estão esgotados e precisam ser repensados nas semanas de moda do Brasil. Não funciona mais este aglomerado de marcas desfilando de uma forma burocrática.

Vescah acredita que já chegou aonde queria (Foto:Guilherme Lima)

HT: Você já tem um nome consolidado no meio e já realizou diversos sonhos, mas onde pretende chegar?

AV: Eu já cheguei. Faz um ano que ganhei o ‘Prêmio de Jornalismo da Editora Globo’  na categoria Moda, o que me levou a repensar sobre a minha profissão. Percebi o quanto me subestimava e, atualmente, tenho uma sensação de dever cumprido. É claro que a gente sempre quer mais, porém, aos 40 anos, a gente percebe o que realmente importa e, por isso, estou desacelerando. Faço trabalhos pelos quais posso me apaixonar. Provavelmente, algo mais comum com uma pegada mais artística pode vir por aí. Quero resgatar esta minha paixão. Pretendo buscar sempre parceiros profissionais com energia leve e positiva. Nenhum dinheiro vale a pena se for tirar a minha felicidade.