Wendell Bendelack e Rodrigo Fagundes criticam o humor ácido: ‘Não devemos rir do oprimido e fora ao opressor’


Os atores que estão juntos há duas décadas brincam com capas de LP’s no Instagram e fazem duras críticas à comédia com insultos: “O ‘humor’ baseado em ofensa e discriminação não é humor. É triste saber que ainda exista quem aplaude isso. Há casos, nitidamente, criminosos e que precisam ser apurados”, diz Wendell. Já Rodrigo enfatiza que as denúncias contribuíram para a mudança na narrativa: “É interessante ver a evolução de uma parte da sociedade que já entendeu que o humor baseado em bullying acabou”

* Com Bell Magalhães

Os atores Rodrigo Fagundes e Wendell Bendelack estão dando o que falar no Instagram. Ao longo dos dias de confinamento, eles vêm recriando fotos de capas de discos famosos de trilhas sonoras de novelas dos anos 80 aos 2000. O que começou como uma brincadeira, virou uma espécie de terapia durante a pandemia do Covid-19. Segundo Wendell, a ideia surgiu da própria reflexão nesse período de isolamento: “Esse momento tem sido de altos e baixos para todos nós. Somos privilegiados de poder trabalhar em casa, o processo criativo nos permite isso, mas, às vezes, nos pegamos ociosos”. Rodrigo pontua que foi durante essas horas do dia que ele e Wendell resolveram arrumar a coleção de vinis e tiveram o insight de reproduzir as imagens: “Somos noveleiros de carteirinha. Tem sido muito gratificante saber que estamos levando um pouquinho de alívio e alegria para quem nos acompanha nas redes sociais”, conta.

Wendell Bendelack, Rodrigo Fagundes, as gatinhas Agatha e Emily e a coleção de vinis do casal (Arquivo Pessoal)

Wendell Bendelack, Rodrigo Fagundes, as gatinhas Agatha e Emily e a coleção de vinis do casal (Arquivo Pessoal)

Apreciadores dos folhetins, eles acreditam que as pessoas estão devorando novelas antigas, principalmente nesse último ano, pelo sentimento de nostalgia — a exemplo do Canal Viva, que exibe títulos antigos da TV Globo e é um dos mais assistidos pelos brasileiros. Rodrigo acredita que a novela tem muito o que oferecer e é ainda um dos únicos produtos que chega ao grande público: “O que talvez possa acontecer, e falo enquanto espectador, é a diminuição de capítulos. Mas novelas ainda ditam moda, tendências e prestam serviços sociais. O público sempre espera uma boa trama, seja ela contada através de série, filme ou novela. Bons personagens são atrativos fundamentais para o sucesso de uma história. Eu sou um que tenho que eleger os meus preferidos para torcer (risos)”, pontua.

"O público sempre espera uma boa trama. Bons personagens são atrativos fundamentais para o sucesso de uma história" (Arquivo Pessoal)

“O público sempre espera uma boa trama. Bons personagens são atrativos fundamentais para o sucesso de uma história” (Arquivo Pessoal)

Para isso, algumas mudanças no enredo devem ser tomadas. Os enredos devem estar alinhados à realidade dos espectadores. “Amamos o melodrama e gostamos de ver as relações e dramas familiares. Claro que a disputa de vilão e mocinho é sempre ótima, mas é melhor quando notamos traços de humanidade no vilão e fraqueza nos mocinhos, pois a vida é assim. As questões sociais são sempre bem vindas, principalmente quando abordadas de forma natural”, conta Wendell. “Gosto muito das histórias de vingança. É uma diversão poder brincar de torcer e odiar personagens fictícios que de repente parecem reais e estão integrados ao nosso cotidiano. Essa é a mágica da TV”, completa Rodrigo.

"É uma diversão poder brincar de torcer e odiar personagens fictícios que parecem reais e estão integrados ao nosso cotidiano" (Arquivo Pessoal)

“É uma diversão poder brincar de torcer e odiar personagens fictícios que parecem reais e estão integrados ao nosso cotidiano” (Arquivo Pessoal)

Outra grande mudança foi na forma de fazer humor — e os artistas têm uma base sólida no gênero. Ambos ganharam projeção ao fazerem parte do espetáculo de comédia ‘Surto’, que ficou em cartaz por 11 anos, e integraram o elenco do ‘Zorra Total’, Wendell com o personagem ‘Xico’, e Rodrigo é lembrado por ‘Patrick’, o qual viveu por 8 anos. Sobre as mudanças e a chegada do que chamam de ‘politicamente correto’, Wendell Bendelack acredita ser ‘subjetivo’: “Evoluímos, aprendemos que não devemos rir do oprimido e fora ao opressor. Nessa atitude é que reside a crítica, e assim podemos tentar melhorar o mundo em que vivemos”.

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Um dos principais exemplos são as páginas humorísticas em redes sociais, principalmente no Instagram e no Facebook, que usam da ofensa na intenção de engajar e gerar likes, comumente chamado de ‘humor ácido’. Wendell é categórico: “O ‘humor’ baseado em ofensa e discriminação não é humor. É triste saber que ainda exista quem aplaude isso. Há casos, nitidamente, criminosos e que precisam ser apurados”. Rodrigo enfatiza que as denúncias e a mudança fizeram o humor ser mais democrático: “É interessante ver a evolução de uma parte da sociedade que já entendeu que o humor baseado em bullying acabou. As pessoas que se sentem ofendidas, que gritam ‘chega’ e mostram a falta de graça nesse tipo de humor e incentivam humoristas mais inteligentes a melhorarem seus conteúdos”, conclui. 

Rodrigo Fagundes: "As pessoas que se sentem ofendidas mostram a falta de graça nesse tipo de humor" (Reprodução Instagram)

Rodrigo Fagundes: “As pessoas que se sentem ofendidas mostram a falta de graça nesse tipo de humor” (Reprodução Instagram)

Então, qual seria o tipo de humor que o público quer encontrar na televisão? “Todos! Do riso escapista até o mais sofisticado. Não podemos virar as costas para o humor de bordão e nem nos fechar para o dito ‘novo humor’”, diz Wendell. Para Rodrigo é preciso haver um acordo entre a nova forma de fazer humor e a antiga: “É preciso haver um equilíbrio e ser extraído o melhor dos dois. Sem esquecer, claro,  os conceitos de empatia e bom senso”. 

“Não podemos virar as costas para o humor de bordão e nem nos fechar para o dito ‘novo humor’”, diz Wendell (Reprodução Instagram)

Fora as capas de vinis, outra novidade  mudou na vida do casal. “Adotamos duas gatinhas lindas: Agatha e Emily! Nosso projeto de aumentar a família deu certo (risos)”, brinca Rodrigo. Atualmente, o ator pode ser visto como um sequestrador na segunda temporada da série ‘Impuros’, na Globoplay, e no longa ‘Tudo bem no Natal que vem’, na Netflix. Wendell segue como colaborador da novela ‘Nos Tempos do Imperador’, de Thereza Falcão e Alessandro Marson, com estreia prevista para agosto. No próximo dia 18 de abril, Dia do Livro Infantil, estreia no canal do projeto ‘Lê Pra Mim?’, no Youtube, uma série de leituras de livros infantis gravadas pelos atores. O projeto foi criado por Marcelo Aouila e Sônia de Paula há 11 anos. “Dessa vez vai ser virtual, já que estamos em uma pandemia. O bacana é que, por ser pela internet, vamos levar a literatura para crianças de todo o país”, aponta a dupla.