“Tenho feito bolos afetivos com receitas da minha avó, mas é algo sazonal”, diz Bel Kutner


Em meio ao prazer desenvolvido durante a pandemia, a atriz avisa que não planeja agora retomar a função de gestora de órgão público. “Foi um trabalho incrível na Cidade das Artes, mas tão cedo me vejo de novo na parte administrativa”, afirma

*Por Carlos Lima Costa

Em tempos de pandemia, as pessoas têm experimentado diferentes atividades. A atriz Bel Kutner, por exemplo, começou a preparar bolos para o Zazá Bistrô, da amiga Zazá Piereck, no Leblon, e o público tem amado. Mas antes de qualquer especulação, avisa: não está mudando de profissão. “Ir para a cozinha fazer um bolo para o meu filho, Davi, é algo que me deixa muito feliz. Ele me pede toda semana. Nos tempos pré-pandemia, eu e Zazá nos frequentávamos e ela sempre gostou do meu bolinho de goiabada e o de maça. Então, me propôs fazer para o café. Não tem nada de grande chef, não virei boleira, não vou abrir uma fábrica de bolo, não pretendo entrar neste ramo profissionalmente. É uma brincadeira, algo sazonal com uma amiga de uma vida toda”, deixa claro. E prossegue: “Estou fazendo bolos afetivos, receitinhas da minha avó materna, Noêmia, com quem eu adorava aprender a fazer doces. Sou uma atriz com uma carreira bem sólida, cheia de projetos, mas adoro fazer bolos”, reafirma. E torce pela amiga que, após quatro meses, conseguiu reabrir seu café com todos os protocolos de segurança.

 

 

Antes do surgimento da Covid-19, Bel estava gravando a novela global das 18 horas, Nos Tempos do Imperador, de Thereza Falcão e Alessandro Marson. “O cenário é maravilhoso, figurino incrível, história sensacional do Dom Pedro II. Assistindo agora a reprise de Novo Mundo dá mais vontade ainda maior de voltar aos estúdios”, conta ela, acreditando que as gravações sejam retomadas somente em 2021.

Bel tem também projetos de teatro, mas, por enquanto, está tudo parado. Atualmente, assiste muitas peças online, como Passarinho, dirigida pela irmã Ana Kutner. Já Bel apresentou a peça Hilda e Freud – Uma análise no Nazismo, encenada em 2016. “Pretendo fazer outras exibições com debates. O teatro sempre resiste e vai voltar em breve com força total”, aposta. Ela tem ainda o filme Canta Para Subir, mas não sabe quando será lançado.

Quanto a experiência como gestora – no final do ano passado, deixou a Fundação Cidade das Artes, onde durante três anos trabalhou como diretora artística -, não planeja repetir por enquanto. “Foi uma experiência incrível, mas nem tão cedo me vejo de novo na parte administrativa”, garante. Em setembro, no dia 26, ela irá participar do Festival Acessibiliarte, para celebrar o Dia Nacional de Luta da Pessoa Com Deficiência.

Com a pandemia do coronavírus, Bel tem permanecido em casa com o filho, Davi, que completa 15 anos em primeiro de setembro. “Passei mais de três meses sem colocar o pé fora de casa. Meu filho não vai para lugar nenhum. Tenho que cuidar do meu filho que está em um momento complicado de adolescência. O Davi é um menino especial, está me demandando muitas atenções. Eu e as pessoas com as quais convivo estamos nos cuidando. Agora, visitamos o meu pai (o ator Paulo José), no final de semana, mas mantendo aquela distância”, conta esperançosa de que logo uma vacina será fabricada.

“Estamos vivendo um mundo que não tem nada de novo normal. Não sei se estou otimista, mas tenho certeza de que vai ter vacina daqui a pouco. Mas, pode demorar seis meses, um ano, não sabemos. Espero que seja rápido, porque estou louca para voltar a fazer teatro e gravar a minha novela”.

Foi também no meio da pandemia, em 27 de maio, que Bel completou 50 anos. A mesma idade que sua mãe, a atriz Dina Sfat tinha quando morreu em 1989. “Fazer 50 anos foi muito forte exatamente por pensar que foi quando minha mãe faleceu. Ela era muito jovem, eu me acho muito jovem. Não gostaria nem um pouco de morrer agora, então claro que essa reflexão veio muito forte neste momento. Mas idade nunca foi uma coisa que teve muita importância para mim. Não me sinto com idade nenhuma. Tem dias que tenho 90 anos, tem dia que tenho 12. Por isso gosto de ser atriz, posso ser um monte de personagens e ter várias idades”, pontua.

Apesar do momento pelo qual o mundo está passando, Bel não perde o otimismo. “Amo muito a vida, gosto de estar com as pessoas que eu amo, gosto da natureza, do teatro, da televisão, do cinema, sou uma pessoa naturalmente alegre, animada. Isto nunca mudou e espero que não mude nem quando eu tiver 120 anos. Vou ter passado muito mais aprendizados e espero estar animada”, reflete com garra. A mesma com a qual enfrentou todas as adversidades. Além de perder a mãe cedo, o pai, o ator Paulo José enfrenta o Mal de Parkinson desde 1995 e o filho nasceu com uma síndrome rara, a esclerose tuberosa. “Comecei a fazer terapia muito cedo, acho importante a gente buscar auto conhecimento. Mas não para resolver problema. Faço para me entender melhor. Quanto às adversidades da vida quem não tem? Cada um tem a sua história, não acho isto nenhuma excepcionalidade. Enfim tive pai e mãe maravilhosos, a maioria nem tem essa sorte”.

E acrescenta: “Meu filho está lindo, imenso, se desenvolvendo, passando pela fase da adolescência”. E finaliza refletindo sobre a transformadora experiência da maternidade: “A partir do momento que fui mãe comecei a viver pensando  no futuro médio e longo prazo, algo que eu nunca tinha feito. Não pensava nem no dia seguinte”.