‘São de cortar o coração as imagens do incêndio no Pantanal’, diz Ingrid Guimarães que apoia Brigada Alto Pantanal


A atriz participou de live de lançamento de campanha para criar uma brigada contra incêndio na região, em um movimento organizado pela sociedade civil. “Estou aqui por amor àquele lugar. Não existe no mundo uma região igual. Fico impressionada com essa fissura do brasileiro de sempre viajar para o exterior e todos os meus amigos que moram fora do país amam o Pantanal, a Amazônia, e a nossa mata. E estão mais mobilizados com esta situação do que talvez brasileiros. A gente não perceber o nosso país é um sinal de como o brasileiro tem sido tanto na hora de votar quanto na hora de valorizar o que tem. Vi todo mundo se perguntando como leigo: ‘esses incêndios foram uma condição de fatos propositais?’”, indaga

* Por Carlos Lima Costa

Diante dos incêndios que provocam a morte de animais e a devastação da natureza no Pantanal, representantes da sociedade civil se uniram visando angariar recursos financeiros para criar a Brigada Alto Pantanal Haroldo Palo Jr e enfrentar este desastre ambiental de grandes proporções. A iniciativa, inclusive, tem o apresentador Luciano Huck como padrinho. Assim, promoveram uma live para lançar uma campanha de financiamento coletivo. Com mediação da jornalista Cláudia Gaigher participaram de uma live o documentarista Lawrence Wahba, o biólogo Hugo Fernandes, o diretor de Relações Institucionais do Instituto Homem Pantaneiro, Angelo Rabelo, Alexandre Pereira, do Ibama, e a atriz Ingrid Guimarães.

“Não sou uma entendedora, sou só uma apaixonada por esta região. Os entendedores são vocês, mas posso fazer aqui nessa live o papel do público. Muita gente me falou que queria assistir para entender realmente o que está acontecendo. Muita gente acha que os incêndios são propositais, outras acham que é falta de prevenção. São curiosidades e eu gostaria de fazer essas perguntas aqui”, ressaltou Ingrid. Ela lembrou ainda que foi no Mato Grosso do Sul, durante excursão teatral, que conheceu Renê Machado, seu marido há 17 anos, e, que na época, trabalhava com Rabelo. “Uma das nossas primeiras viagens, um dos lugares mais bonitos que eu já conheci foi a Serra do Amolar”, contou ela sobre a área que está em chamas junto com o Parque Nacional do Pantanal e o Parque Estadual Encontro das Águas.

“Agora, quando comecei a ver imagens de animais queimados, foi de cortar o coração. Então, estou aqui por amor àquele lugar. A gente que viaja muito sabe que não existe no mundo um lugar como o Pantanal. Quando o Coronel Rabelo me ligou e disse que nós talvez sejamos a última geração que pode fazer algo por essa região, me comoveu de maneira profunda, porque na verdade é o mundo que vamos deixar para os nossos filhos”, acrescentou a atriz, mãe de Clara.

Personalidades se unem para ajudar o Pantanal (Foto: Reprodução)

Personalidades se unem para ajudar o Pantanal (Foto: Reprodução)

“Precisamos fazer com que os jovens e as pessoas que ainda não tiveram a chance de ver, de sentir como nós sentimos, percebam a importância não só da paisagem linda, mas desse sistema que é o Pantanal. Quando o Lawrence me falou sobre a ideia de criar a brigada, que ele e o Rabelo tiveram, na mesma hora pensei que precisávamos unir forças”, destacou Cláudia, antes de passar a palavra a Lawrence. Este lembrou  que, nos anos 90, a National Geographic o convidou  para  realizar um trabalho junto com o Haroldo Palo Jr. (1953 – 2017) Enquanto ele registrava imagens de baixo d’água no Pantanal, o fotógrafo, documentarista e naturalista, fotografava os animais.

“Daí começou uma parceria que durou mais de 20 anos até a triste partida precoce dele. Sinto que o Pantanal é um pedaço de mim. Quando ele é destruído, queima um pedaço de cada um de nós brasileiros. Vivemos situação gravíssima. Sabemos a causa, podemos discutir a causa, a polícia está investigando, mas somos um grupo de pessoas que cansou de apontar problemas e decidiu propor soluções. Então, mediante as dificuldades do Estado, eu e o Rabelo criamos essa ideia da Brigada e resolvemos homenagear o nosso grande amigo, Haroldo. Queremos equipar a brigada, treinar os voluntários que ainda não estão treinados e aumentar essa rede de combatentes de incêndio, porque talvez se a gente tivesse sido mais eficiente numa resposta inicial no começo do fogo não chegaria a essa proporção infernal. O que está acontecendo no Pantanal, é um inferno, abriram as porteiras do inferno.  Que a polícia aponte os culpados, mas enquanto sociedade civil, precisamos nos unir para controlar o fogo juntos”, explica Lawrence.

“Não estamos aqui para apontar culpados, mas para buscar união de forças. A punição cabe a polícia que deve investigar. Os responsáveis pelo fogo no ano passado ainda não foram punidos”, acrescenta Cláudia, que pede para Alexandre explicar como a maior planície alagada do planeta, pega fogo até em cima da água. “Acho essa iniciativa fantástica, porque as condições de combate são extremamente difíceis. Costumamos falar que lá no Pantanal estamos com água na  cintura e fogo na cabeça e é assim que acontece”, pontua Alexandre.

Ingrid Guimarães relata sua experiência no Pantanal (Foto: Reprodução)

Ingrid Guimarães relata sua experiência no Pantanal (Foto: Reprodução)

Claudia, então, o interrompe e realça que nos últimos dois anos o regime de chuva que geralmente começa lá em outubro e vai até março, tem tido alterações em função do aquecimento global . “Está chovendo cerca de 30% menos e quando chove, acontece tudo de uma vez, ai não encharca e não ajuda”, frisa ela.

“Exatamente, o combustível do incêndio florestal é a matéria orgânica, a vegetação seca disponível ali para queimar. E essa alteração dos ciclos naturais, a gente conseguiu presenciar bastante no ano passado. Se olharmos os gráficos de chuva, aquelas que estavam distribuídas ao longo do ano, estão caindo de uma vez só. Então, essa modificação de padrões de chuvas, de secas extremas, faz com que a gente chegue numa situação como essa que vivenciamos com chuvas e temperaturas acima da média”, completa Alexandre. Ele conta ainda que dados da Universidade Federal do Rio de Janeiro mostram que estamos com quase três milhões de hectares queimados. “Quando falamos esse número gigante ninguém consegue dimensionar. Ele é maior do que dez vezes as cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro juntas”, acentua Claudia.

Ela, então, indaga a Hugo, o que choca ao ver as imagens exibidas nas reportagens. “O Pantanal é um sonho, por mais que você tenha visto na televisão o quanto diverso e bonito ele é, você sempre vai se surpreender e achar que está em um planeta diferente e isso é Brasil. Vejo os meus amigos de classe média e principalmente os mais abastados financeiramente, cuja viagem dos sonhos é para fora da delimitação do nosso território. Querem fazer um tour na Europa. Isso é um reflexo tão grave quando a gente para e pensa que o Museu do Louvre na França tem mais visitantes por ano do que todo o Brasil. O brasileiro não tem ideia do que é o Pantanal. Ele não coloca no imaginário coletivo visitar, porque a gente está falhando muito enquanto cidadão, enquanto cientistas, enquanto jornalistas, enquanto difusores desse conhecimento”, analisa Hugo.

Ingrid, então, conta que viajou quase todo o Brasil com as excursões teatrais:  “Eu só não fui no Acre, então, conheço realmente o nosso país e fico impressionada com essa fissura do brasileiro de sempre viajar para o exterior e todos os meus amigos que moram fora do país amam o Pantanal, a Amazônia, e a nossa mata. E estão mais mobilizados com esta situação do que talvez brasileiros. A gente não perceber o nosso país é um sinal de como o brasileiro tem sido tanto na hora de votar quanto na hora de valorizar o que tem. Vi todo mundo se perguntando como leigo: ‘esses incêndios foram uma condição de fatos propositais?’”

“A gente está com uma operação da Polícia Federal, porque há informação de que existem pessoas que ateiam fogo para depois fazer alguma atividade naquela área, ou seja, transformar em pastagem. É um modus operandi na Amazônia, eles desmatam, depois ateiam fogo. Vou passar para o Rabelo que tem o lado policial militar ambiental. Por que é tão difícil ver punição e também o que a gente precisa mudar no nosso discurso para que o brasileiro entenda que é um patrimônio de todos. Vejo as pessoas falando que as fazendas são particulares, mas os serviços ambientais que o Pantanal presta são essenciais para todo equilíbrio de um sistema”, frisa Claudia.

Rabelo não tem dúvida em afirmar que a ação humana foi determinante e a inexistência de um planejamento e de uma prevenção culminou em atingirmos essas escalas quase incontroláveis. “Neste momento, precisamos mais do que nunca pedir chuva, a mão divina será determinante”, afirma ele.

A live teve a mediação da jornalista Cláudia Gaigher (Foto: Reprodução)

A live teve a mediação da jornalista Cláudia Gaigher (Foto: Reprodução)

Basicamente, entre 95 e 98% dos incêndios florestais têm uma origem humana, diz Alexandre. “A única causa natural que a gente atribui aos incêndios florestais hoje, do conhecimento que temos, é a descarga elétrica da atmosfera, ou seja, os raios. E o raio só cai quando tem chuva, quando tem nuvens carregadas no céu. Agosto e setembro são os meses que não têm chuva. Então, não tem como acontecer incêndios florestais por causas naturais. Pode ser tanto uma causa negligencial, acidental ou uma pessoa que tem a intenção de provocar um incêndio onde venha a destruição toda. O que sabemos é o que está na imprensa, que a Polícia Federal está investigando esses incêndios. E o modus operandi é muito  parecido com o que aconteceu no Pará, no ano passado. Vamos ter que aguardar o desenrolar das  investigações para saber o que de fato aconteceu”, analisa Alexandre.

Ingrid, então, questionou. “Diante de todas essas histórias de fogo que tem se repetido nos vários estados ecológicos do nosso país, porque não temos um sistema de prevenção, enquanto sociedade, país, governo?” Alexandre assegura que esta pergunta é importante. “Aí essa brigada, essa proposta hoje vem de encontro com esse anseio de termos pessoas o ano todo fazendo prevenção, porque não adianta falar de prevenção de incêndio durante esse momento, onde as pessoas estão preocupadas em combater. Precisamos falar de prevenção de incêndios florestais na época em que a situação está tranquila”, explicou Alexandre.

Lawrence aponta que cabe a sociedade criar uma nova discussão. “É importantíssimo a proliferação de brigadas voluntárias para trabalhar nessas áreas mais remotas. Enquanto sociedade temos que nos unir. Estou querendo ser mais construtivo do que crítico. O momento agora é de unir forças em vários setores da sociedade para combater este incêndio, mas enquanto houver impunidade, nós vamos estar enxugando gelo. Hoje é necessário uma união de esforços da sociedade civil, por isso todos nós agradecemos demais artistas como a Ingrid, que ajudam a ampliar a voz da nossa campanha para que a gente possa equipar esses homens que estão atuando contra o fogo”, frisa Lawrence. E conta que 20% do valor arrecadado na campanha será destinado a  outros heróis anônimos dessa causa: os veterinários. “Os brigadistas arriscam a vida para enfrentar o fogo, nós temos uma legião de veterinários heróis arriscando a vida para salvar animais. Um rapaz que tentou anestesiar uma onça com as patas queimadas correu seríssimo risco de vida. Se ele tivesse errado o dardo do anestésico, ele poderia ter sido morto pela onça”, frisa ainda Lawrence.

Ingrid, então, comentou, que neste caso poderia falar sobre sua classe. “Tenho certeza de que a absoluta maioria dos atores que tem visibilidade está disponível para fazer essa defesa. O que vocês precisarem, contem com a gente”, concluiu ela. O ator e apresentador Otaviano Costa teve um problema pessoal e acabou cancelando sua participação na live.

Foram ativadas plataformas para captação de doações. Um financiamento coletivo (www.catarse.me/brigada_alto_pantanal) e empresas podem doar recursos ou equipamentos enviando mensagem para o site www.brigadaaltopantanal.org.br .