Paulo Goulart Filho: ‘Tenha consciência da pandemia. Não sinta o que enfrentei com morte de minha mãe, Nicette Bruno’


O ator, que estará em ‘Gênesis’, da Record, desabafa sobre o sofrimento pela morte da mãe, vítima de Covid-19, e pede a todos que estão se aglomerando em festas, nas ruas, vivendo como se não houvesse amanhã: “Não pensem só em si, mas nos outros também. Não vivemos sozinhos nesse mundão de Deus. Então, a partir do momento que começarmos a pensar no próximo, viveremos em um mundo melhor. Cumpram os protocolos de segurança, se cuidem para não sentirem a dor da morte de pais, avós, amigos, filhos e do semelhante”, afirma

Paulo Goulart Filho: 'Tenha consciência da pandemia. Não sinta o que enfrentei com morte de minha mãe, Nicette Bruno'

*Por Brunna Condini

O ator Paulo Goulart Filho falou com exclusividade ao site HT sobre a perda da mãe, a atriz Nicette Bruno, que morreu em 20 de dezembro, aos 87 anos, em decorrência de complicações da Covid-19. Em conversa, Paulo salientou a gravidade da pandemia e dos danos que ela pode acarretar, falou do legado e dos ensinamentos de Nicette, do casamento e do papel em ‘Gênesis’, nova produção da Record que estreia em 19 de janeiro.

“A perda da minha mãe ainda é muito recente. É difícil explicar o sentimento. Às vezes parece que ela está viajando e vai voltar, leva um tempo para a gente se acostumar. Só o tempo para ajudar a superar, porque a dor é inevitável, apesar de termos um entendimento da espiritualidade. Para quem fica é mais difícil lidar com a saudade, com a perda. Isso também faz parte do nosso processo aqui na Terra. Não é fácil, é dolorido. Mas tenho certeza que ela foi bem encaminhada e está melhor do que a gente aqui”.

“Tenho certeza que minha mãe foi bem encaminhada e está melhor do que a gente aqui” (Reprodução)

O ator aproveita e faz um apelo para que as pessoas evitem a propagação do novo coronavírus. “É muito importante ter consciência do que é essa pandemia que estamos vivendo, para que não passem pelo o que eu passei, a experiência de perder um ente querido. Uma mãe, um pai, um amigo. Para que elas não passem pelo sofrimento da perda da morte, é preciso que se cuidem”, alerta Paulo. E acrescenta: “Não pensem só em si, mas nos outros também. Não vivemos sozinhos nesse mundão de Deus. Então, a partir do momento que começarmos a pensar no próximo, viveremos em um mundo melhor. Acredito que essa seja uma das funções disso tudo que estamos passando. Precisamos ter consciência da necessidade do distanciamento, do uso da máscara, da higienização, de tudo o que for possível para que a gente não transmita esse vírus e nem seja pego por ele”.

“A perda da minha mãe ainda é muito recente. É difícil explicar o sentimento. Às vezes parece que ela está viajando e vai voltar. Leva um tempo para a gente se acostumar” (Arquivo pessoal)

O ator de 55 anos afirma que após a morte de Nicette, os hábitos para prevenção da Covid-19 se intensificaram: “Com certeza eu fiquei mais consciente da necessidade desses protocolos todos. Porque, às vezes, vamos entrando em uma rotina, em um modo automático acabamos esquecendo o rigor que isso tudo pede. Com a perda da minha mãe, eu fiquei ainda mais atento. Quando você sente na pele é diferente e não quero que ninguém sinta o que senti. Quero estar consciente para não transmitir nada de mal para ninguém e nem pegar e isso depende só de mim”.

Laços de ternura

 Filho mais novo de Nicette Bruno e Paulo Goulart (1933-2014), Paulo é parte de uma família de artistas querida por todo o Brasil. Irmão das atrizes Beth Goulart e Bárbara Bruno, pai da atriz e cantora Clarissa Mayoral, 36 anos, da bailarina e atriz Paula Miessa, 32, de Luana Miessa, 33, e João Pedro, 4, ele também já é avô de Clara, 5, e Ivy, 4, filhos, respectivamente, de Clarissa e Paula: “Nossa família sempre foi muito unida e está ainda mais”.

O ator com o pai, Paulo, a mãe Nicette e as irmãs Bárbara e Beth (Reprodução)

Casado com Katia Salomão, o ator acredita que a maior homenagem que pode prestar aos pais é a eternidade através da influência viva deles na própria história. “Meus pais são inspiração para minha relação, para a minha vida, profissionalmente. Foram um grande exemplo, não só na palavra, mas nas atitudes. Em como se relacionavam entre si e com os outros. Pretendo ter no meu casamento sempre o respeito à individualidade, que eles sempre exaltavam. Para uma relação ser boa, dar certo, isso tem que ser respeitado. Cada um é único, uno”.

“Pretendo ter no meu casamento sempre o respeito à individualidade que meus pais sempre exaltavam” (Acervo pessoal)

E compartilha sua história de amor com Katia: “É quase uma história de novela. Nós namoramos há mais de 20 anos e nos separamos. Ficamos mais de duas décadas sem nos vermos e nos reencontramos há três anos. E foi como se nunca tivéssemos nos distanciado. Foi um reencontro para a vida. Acredito que foi no momento certo para que a gente siga nossa trajetória aqui neste plano até o fim. Se Deus quiser. Foi um encontro de almas e estava no nosso destino”.

“Algo que fica é o sorriso com que sempre me recebia. Quando minha mãe me via, tinha um brilho no olhar, um sorriso nos lábios, que transmitia todo o amor de mãe que sentia por mim”  (Acervo pessoal)

O ator fala com emoção do legado deixado pela mãe. “O maior ensinamento dela foi a bondade, a generosidade. Fazer os outros felizes. Minha mãe ficava feliz através do próximo, da caridade, sem esperar nada em troca. Era o puro exemplo do amor fraterno”, traduz. “Tenho muitas lembranças doces dela. Mas algo que fica é o sorriso com que sempre me recebia. Quando ela me via, tinha um brilho no olhar, um sorriso nos lábios, que transmitia todo o amor de mãe que sentia por mim. Toda vez que a gente se encontrava vinha aquela imagem. Inesquecível”.

Evolução e amor

Ele viverá Sharur em ‘Gênesis’, trama da Record que aborda a criação bíblica da humanidade. A novela já é considerada a com o maior elenco da história das novelas brasileiras, uma superprodução. “Faço um pastor de ovelhas que acaba virando dono de uma taberna na cidade de Ur, onde se passa a quarta fase da história. O personagem traz para a novela esse lado da família, de como era naquela época, dentro dos mesmos valores de hoje. Então acho que as pessoas vão se identificar com esse lado dele agregador, mais leve”.

“Não gosto de fazer muitos planos, gosto de ver o que a vida oferece, deixo realmente ela me levar” (Reprodução)

O ator que atualmente se divide entre Brasil e Estados Unidos, conta que já gravou quase toda participação no folhetim. “Falta uma cena ainda. Como estou morando lá e cá, tenho alguns projetos que envolvem dublagem nos Estados Unidos e internet e cinema por aqui. Mas não gosto de fazer muitos planos, gosto de ver o que a vida oferece, deixo realmente ela me levar”.

Paulo lida assim com a profissão, com a vida e com a saudade. “Sou espírita. Em nossa visão da espiritualidade, estamos em um processo evolutivo. Sabemos que nossa vida aqui na Terra é uma passagem, faz parte desse processo de evolução. Sabemos que não termina na morte, ela é mais uma passagem. Quando morremos, voltamos para o nosso lar espiritual que é o nosso verdadeiro plano, onde seguimos para a eternidade. Tenho essa consciência que isso aqui é um processo, então tenho certeza que minha mãe cumpriu sua missão aqui lindamente. Ela está lá em cima seguindo seu caminho de evolução”. E conclui: “Mantemos a memória viva de quem amamos em todas as lembranças boas que temos. Quando lembramos com amor, quem partiu está presente. É assim que lembro da minha mãe, do meu pai, trazendo tudo de bom que vivemos juntos. Nas memórias eles estarão sempre vivos na nossa cabeça e em nosso coração”.