O peito aberto de Rita Cadillac: Onlyfans, Chacrinha, Carandiru e sonho com BBB: “Boninho, a tia tá on”


Uma das personalidades da cultura pop brasileira, a ex-chacrete, atriz, cantora, e acima de tudo uma mulher livre, Cadillac revisita a carreira sem nenhum pudor. Fala sobre os filmes adultos, o investimento nestas plataformas e a sensualidade – e a sexualidade – da mulher madura. Dotada de suas personalidades dentro de si, como o furacão que a fez famosa e a doce Rita de Cássia, restrita para poucos, ela fala de seus sonhos – como o de estar no BBB e de voltar à Fazenda – bem como seus mais novos projetos como atriz: Uma série chamada “Auto Posto” que está em cartaz na Paramount – streaming – e no canal Comedy Central e, outra, em pré-produção “Dengue Alien”

*por Vítor Antunes

“É bom para o moral!”. A frase-refrão-chiclete do sucesso musical de Rita Cadillac é o que a traz a cena em “Carandiru”, filme de 2003 que neste ano completa 20 anos. Musa dos internos da casa de correção paulistana, Rita revisita sua história naquela instituição além de contar histórias impagáveis como a do detento que tentou fugir da prisão vestido de mulher. Além disto, Cadillac fala sobre seus mais novos projetos como atriz: Uma série chamada “Auto Posto” que está em cartaz na Paramount – streaming – e no canal Comedy Central e outra, em pré-produção “Dengue Alien“, na qual vive três personagens relacionados ao mosquito Aedes Aegypti.

Nesta entrevista, Rita comenta sobre seu Onlyfans – plataforma de conteúdo adulto – e como objetiva estimular, com isso, que mulheres da sua idade compreendam a própria sensualidade. Ela já posou nua algumas vezes, além de haver feito filmes adultos. Não problematiza sua história, ainda que reconheça que haver passado pelos filmes x-rated gerou uma excessiva e agressiva exposição a si. Quanto à televisão, elogia Chacrinha (1917-1988), salienta que hoje talvez ele não fosse tão bem recebido por seu humor ante o politicamente correto e sonha entrar pro BBB: “Boninho, a tia tá on”.

Rita Cadillac, seus múltiplos talentos e histórias (Foto: Divulgação/TalentMix)

CADILLAC

Em 1985, a escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz, num desfile que homenageava o colunista social e jornalista Ibrahim Sued (1924-1995) foi punida por trazer junto às suas alegorias, um cadillac. “Não pode!” – disseram, ainda que o veículo estivesse desligado e fosse transportado por outra alegoria. Por muitas vezes a sociedade comportou-se como a Liga das Escolas de Samba de então ao referenciar-se à Rita Cadillac. Com uma sequencia de “não pode” – por ser bela, jovem, sensual e sexual. Às raias dos 70 anos, que completará no ano que vem, Rita, numa conversa franca, fala sobre sua trajetória, temas sensíveis, histórias divertidas… e humanas. A mulher que há para além do mito, do símbolo sexual. No mesmo 2024, Cadillac fará 50 anos de sua entrada na TV. “Rainha do Carandiru”, “Musa do Chacrinha”, “Garota do Onlyfans”… Ultrapassando os epítetos que poderiam efetivamente defini-la, o mais adequado título talvez seja um: Rita do Brasil.

Para o segundo semestre, Rita grava a terceira temporada de “Auto Posto“. A segunda foi recentemente para o streaming, no Paramount e na TV, no Comedy Central. Cadillac orgulha-se do projeto pois é um dos primeiros, talvez o pioneiro, no qual não vive a si própria, mas a uma personagem, Cida. A primeira temporada foi gravada no  meio da pandemia. “Quando me mandou o convite, Marcelo Bottas, o diretor, falou que era uma personagem e não Rita Cadillac, eu adorei. Tanto que ela é totalmente diferente de mim”

Outro seriado do qual Rita fala, também com muito entusiasmo, é “Dengue Alien“, uma proposta mais intencionalmente trash e divertida na qual os irmãos Marcos e André Castro, cineastas do interior paulistano, se propõem em brincar sobre a dengue e seu contágio. “Nesta eu faço três personagens. Uma delas é a Rainha Dengue, que traz o dengue para a Terra. Outro é um cientista maluco e a terceira é uma repórter que entrevista as pessoas que são picadas pelo dengue”, relata. A série ainda não tem previsão de veiculação.

A artista deixou o mês de  junho para dedicar-se para os seus shows e produzir seus conteúdos adultos. Além disto, conta-nos de que um de seus trabalhos previstos para este ano, a série “Salve-se Quem Puder“, protagonizada por Lucélia Santos, aparentemente não sairá do papel. “Ficou algo jogado no ar e não mais foi comentado”. Mesmo com este projeto engavetado, Rita não lamenta. Reitera a máxima do “a tudo dai graças a Deus”: “Agradeço todos os dias por estar trabalhando. Sabemos que é difícil, a nossa careira é instável, e quando começa [o corre-corre das produções] eu agradeço a Deus, aos santos, a Buda, e Iemanjá… a todo mundo!”

Rita Cadillac. Atriz vive três personagens em série inédita e tem um papel importante em “Auto Posto” (Foto: TalentMix/Divulgação)

CARANDIRU

Em 1920 foi inaugurada a penitenciária que em 1938 passou a chamar-se Casa de Detenção de São Paulo. Mais tarde se tornaria uma das maiores cadeias públicas do Brasil. Cenário de muitas hostilidades e com as complexidades inerentes a uma instituição do seu porte, a prisão passou a ser conhecida pelo nome do bairro que o abrigava: Carandiru. Desde os Anos 1980, Rita Cadillac apresentava-se naquele espaço e nele ganhou um dos seus mais conhecidos títulos, o de “madrinha do Carandiru“. Ela conta: “Comecei a me apresentar lá em 1984. Inicialmente o Raul Gil fazia shows por conta de um acordo com as gravadoras e o seu cast era chamado a abrilhantar os shows. Fui camada pela RGE, minha gravadora de então. Depois a comissão de internos me chamou para permanecer no complexo e amadrinhar os detentos. Fiquei de 1985 até o fim do presídio. Ia almoçar, ia às palestras, às festas. Havia quem pensasse que tudo aquilo era remunerado, mas não. Eu fazia exatamente por saber que todo mundo merece um pouco de carinho e atenção”.

Acho que todo ser humano deve ter uma chance de ter esperança, alegria. Fiz os shows com o intuito de dar alegria a essas pessoas. – Rita Cadillac

Rita Cadillac em uma das suas apresentações no Carandiru: “Sentia-me muito respeitada. Ninguém foi abusivo” (Foto: Arquivo Pessoal)

Mesmo com o grande volume de pessoas acusadas por crimes, Rita afirma não temer estar naquele local. Em outra entrevista, inclusive, relatou que em seu primeiro show no Carandiru deparou-se com o cantor Lindomar Castilho, acusado de matar a própria esposa, em 1981 “Havia [no presídio] uma energia negativa, ainda que houvesse segurança. E quando eles querem, a coisa acontece mesmo. Era uma clima pesado. Quando estava para ter rebelião nós sentíamos”. Rita conta, inclusive, que após a grande rebelião do Carandiru em 1992, a segurança pública começou a proibir shows lá “para garantir uma melhor segurança aos artistas. Acabaram  temendo por mim, mas nunca tive esse medo. Sempre fui respeitada por eles, exatamente por trata-los de igual para igual. Nunca houve uma reserva de minha parte. Nunca, em nenhum momento, vivi problemas com eles”.

Com vários anos acompanhando a rotina de uma casa de detenção, Rita fala-nos que a história mais insólita que viveu foi com uma tentativa de fuga: “Um interno recebeu uma vista e essa pessoa levou-lhe roupas femininas. Ele se vestiu de mulher – com salto e tudo – quase conseguiu fugir. Já às vias de deixar o presídio, no último portão, foi reconhecido e teve de voltar à cela”. Mas, quanto a experiência insólita mesmo, talvez a maior delas tenha sido na Serra Pelada, garimpo de ouro existente no Pará, quando foi “apedrejada”. Ela explica: “Eram mais de 60 mil homens no meio da selva. Por mais que fossem 5 mil seguranças da Companhia Vale do Rio Doce, eu sentia que se um dissesse “pega”, já era. Na tal apresentação, eu achei que não estivesse agradando, pois acreditava estarem arremessando pedras em mim. Reclamei com meu assessor da época e ele me disse. “Não, Rita, isso é pepita de ouro, na realidade”, diverte-se. Mas considera que, mesmo em meio a tanta gente, não passou por maiores problemas. “As pessoas não ultrapassaram o limite que eu dei. A única situação crítica que vivenciei foi quando o avião caiu com nosso staff dentro, na selva amazônica, mas graças a Deus não aconteceu nada”.

Anúncio da apresentação de Rita Cadillac na Serra Pelada em 1982: “Arremessavam ouro em mim” (Foto: Reprodução)

Tantas histórias renderiam um livro. O segundo. Afinal o primeiro foi escrito em 2021. Conta-nos a biografada que naquele exemplar “Faltou muita coisa. Estamos começando a escrever um novo, contando o outro lado da fama. “Há coisas que as pessoas não imaginam. Há quem limite a vida artística pelos palcos e que só vê as coisas bonitas, mas não sabe o que passamos para chegar lá ou o quanto é duro fazer um show, uma apresentação num barraco de madeira coberto de lona”, compara.

RODA E AVISA

Cadillac estreou na TV em 1974. Vai fazer 50 anos de TV. A contrário dos comentários maldosos que os cercavam, não tinha um relacionamento com Chacrinha (1917-1988). A contrário. “Tínhamos uma relação fraterna. Era a autoridade do patrão com a delicadeza de um pai. Ele sempre me cuidou, tenho muito o que agradecer. Escutei-o muito. Ele sempre me falava, me recomendava e me deixava as portas abertas e por mais que eu aprontasse.

Não sou santa, nunca fui e assumo tudo o que faço. Eu sempre fui muito transparente. Eu ia fazer o filme “Asa Branca” protagonizado por Edson Celulari e o Chacrinha não queria que eu fizesse e eu fiz. Eu não podia namorar ninguém da produção e eu tive um relacionamento com um diretor de imagem, mas nos tratávamos nos estúdios como desconhecidos. Quando descobriram eu confirmei. Sempre fui muito às claras – Rita Cadillac

“Por vezes”, diz ela, “me pego pensando sobre como seria o Chacrinha hoje, diante do politicamente correto e, também, frente à sua característica personalíssima. A forma era única: Perdeu, acabou. Não tem como haver outro Chacrinha. Especialmente por conta do politicamente correto. Ele estaria preso. Não poderia haver o programa. Ele brincava muito, mas não era algo agressivo, ele sempre fazia no tom de brincadeira, de uma forma descontraída. Todo mundo entendia o que ele queria dizer mas era algo que não soaria agressivo como hoje”.

Se Chacrinha dissesse algo hoje da mesma forma que fazia no passado ele seria execrado e cancelado. É o cara que mais fez pela comunicação – Rita Cadillac

Rita Cadillac no programa de Chacrinha: “Ele tinha a doçura do pai e a autoridade do patrão” (Foto: Reprodução/Colorização: Site HT)

Desde sempre bela, Rita diz nunca ter precisado lidar com problemas decorrentes da beleza, mesmo agora, na maturidade. “Nunca tive nenhum problema. Faço o que quero. Se estou com vontade de colocar um shortinho, ponho. Não é um problema das pessoas, mas algo que só me diz respeito. No meu Instagram tem mais fotos sensuais. Faço para mostrar às mulheres que é possível ser bonita aos 70. Afinal, eu não faço nada, não frequento academia, por exemplo. E não, não tenho um corpo perfeito. Não importa a idade. Você pode ser bonita e  gostosa a qualquer momento. Hoje, uma pessoa como eu, aos 69, está a ponto de bala. Antigamente, com 50, a pessoa já estava caquética. Hoje em dia as mulheres maduras estão aí, vivendo felizes”, aponta. E nega haver sofrido assédio ou questões desta seara durante a vida. “Já recebi cantadas, mas é algo gozado. As pessoas não me chegavam diretamente, usavam intermediários, usavam pessoas que trabalhavam comigo para chegar a mim. Houve quem me oferecesse um cheque em branco para sair comigo”.

Rita diz não fazer grandes procedimentos estéticos. Fez apenas botox e de maneira pontual. Recentemente fez um tratamento em Paris cujo resultado foi desagradável. “A princípio não era invasivo. Quando voltei para o Brasil, não me reconhecia no espelho. Procurei um médico para desfazer tudo o que foi realizado na França”.

Sempre sensual, Rita faz seu Onlyfans como forma de exaltar a beleza na maturidade (Foto: Divulgacao/TalentMix)

Quando fiz o OnlyFans e o Privacy, fiz para mostrar que é possível ser bonita e sexy mesmo na maturidade. A mulher precisa empoderar-se, independente da idade que tiver – Rita Cadillac

Sobre o Onlyfans, Rita Cadillac diz ser “bem legal. É necessário um investimento, mas tá dando um dinheiro legal, estou satisfeita. Na época da pandemia, a Aritana Maroni, filha do empresário Oscar Maroni, estimulou a fazer umas fotos. Fiz vestida inicialmente, mas os assinantes reclamaram por eu estar vestida. ‘Para ver você vestida eu vejo no Instagram’. Daí passei a pensar como se fosse uma Playboy de antigamente. Imagino estar posando para a Playboy. E eu mesma invisto em fotografia, produção, maquiagem, locação. Quem vai me ver depara-se com um produto de qualidade”.

Na época da ascensão dos filmes adultos, no início dos Anos 2000, Rita foi convidada e aceitou fazer alguns projetos x-rated. Sobre eles diz que “A exposição foi ruim. Os filmes eram mais agressivos. As pessoas entenderam que não os fiz para aparecer mas pelo dinheiro mesmo e era um dinheiro muito bom. Na minha plataforma tem muita mulher e muitos jovens”. Sobre seus seguidores, ela diz que eles pedem as coisas mais bárbaras “Quando posso faço, se não, recuso. Já me pediram para fazer um ensaio num caixão e eu falei que nem quando morrer queria estar num”, disse ela, que quer ser cremada.

Não admito que me enterrem nem que, em meu velório venham me dizer que fui boazinha que eu me levanto – Rita Cadillac

RITAS 

Rita Cadillac, a persona, se mistura à Rita de Cássia, a pessoa física. Perguntamos a ela se os homens apaixonavam-se ou procuravam mais pela Rita Cadllac ou pela Rita de Cássia. E a artista foi taxativa: “Os homens se apaixonavam mais pela Rita Cadillac que pela Rita de Cássia. A minha pessoa física é mãezona que chora, que xinga, mas a Cadillac se impõe. Às vezes eu mesmo, como Cadillac aconselho à Cássia: “Minha filha, seja como a Rita Cadillac, a que manda todo mundo às favas, levanta a cabeça e segue em frente. A Rita de Cássia é uma boba, do bem, mas boba”, compara. Porém, Rita afirma que “houve quem conheceu a Cássia sim. E que inclusive tinha raiva da Cadillac”.

Qualquer um que viva como um personagem extremamente sexy deve ter esses mesmos problemas. A Marilyn Monroe, por exemplo, queria que conhecessem-na enquanto mulher, não como a sex-symbol gostosa, poderosa. Não há ninguém assim o tempo todo. Dentre as contemporâneas, admiro a Anitta, mas tenho a certeza que, em seu íntimo, há momentos em que ela quer ser a Larissa e não a Anitta – Rita Cadillac

Outra Rita que esteve junto à Cadillac é a recém falecida, a cantora Rita Lee. “Eu gostava muito da Rita. Tenho um carinho grande por ela e o Guilherme Samora – seu biógrafo e amigo – nos apresentou. Passamos o dia juntas e ela me deu uma seleção de musicas dela para eu gravar e assim fiz. Nesta última semana apareceu memórias nossas, de 2016. Eu senti muito a partida dela e mesmo não sendo chegada a velórios eu fiz questão”. A ex-chacrete, inclusive ressalta, carinhosamente: “Tenho muita gratidão por ela ter esse carinho por mim. Eu mesma recebi uma caixa com o livro da Rita e eu abri, olhei, fechei e guardei. Lee só fazia o que queria e com quem queria.

A contrário do que se imaginou na época em que isso foi veiculado, de que Cadillac estava com problemas financeiros e por isso foi entregar quentinhas, ela nega com bom humor. “Eu não fui contratada. Fiz para ajudar os restaurantes que estavam sem serviços por conta do delivery. Sugeri que eu mesma faria as entregas e houve quem não acreditasse que era eu”, relembra.

Lee, Cadillac e Cássia. As Ritas que compõem a Rita (Foto: Divulgacao/Talentmix)

Participante de duas edições d’A Fazenda, Rita diz que encararia mais uma e se diverte com os memes. Mas sonha entrar no BBB: “Boninho, ajuda a tia! Nas duas vezes que participei de reality melhorei a minha posição. Numa saí no primeiro mês, depois fiquei na quinta posição”. E reitera ao diretor geral do Big Brother: “A titia tá on”! Para finalizar, Rita responde a mística que envolve a sua mais famosa música: “O que é bom para o moral é estar de bem consigo, não pisar nas pessoas e olhar o próximo e respeitar a si”.