Nathalia Dill, grávida de 5 meses, escreve carta à filha: ‘Te lembrarei sempre que vale lutar pelo que acreditamos’


Em nossa nova série ‘Carta às Filhas e Filhos’, que pretende abrir um espaço para o compartilhamento de reflexões e bons sentimentos, convidamos a atriz a escrever para a filha, que gera há cinco meses e será batizada Eva. Ela criou a série “Mamãe de primeira live”, no Instagram, e afirma: “Você ainda não está aqui entre nós, não posso te pegar no colo e já quero muito te conhecer. Eu, seu pai, toda família e nossos amigos. Mas talvez o primeiro contato que você tenha com todas essas pessoas que já te amam seja por meio do celular ou do computador. É que 2020 está sendo marcado pela pandemia do coronavírus. Como o modo de transmissão é pelo contato e ainda não temos vacina, estamos impossibilitados de nos aglomerarmos, de nos abraçarmos. É um período muito difícil, que escancarou ainda mais as desigualdades”

*Por Brunna Condini

Quando idealizamos uma série de matérias, sempre pensamos no quanto elas podem trazer boas informações, conhecimento, esclarecer, inspirar, e até carregar nas entrelinhas, um pouco de esperança. Mais do que nunca, precisamos acreditar na vinda de dias melhores para o Brasil e o mundo. Nós acreditamos, e alinhados com esse propósito, lançamos a série ‘Carta às Filhas e Filhos’. Porque quando paramos para pensar que estamos atravessando uma pandemia é comum ficarmos no medo e na apreensão do que vem pela frente. O futuro vai ter qual gosto? Como será? Que dias serão esses que virão?

Desejando contribuir na substituição do medo por fé na vida, abrimos hoje os convites a artistas para que falem aos seus filhos neste momento: para aqueles que ainda estão gerando essas vidas, para aqueles que as têm recém-nascidas. E também para aqueles que estão vendo seus filhos crescerem neste período. A ideia é que se abra um espaço para compartilhar reflexões e declarações e para falar do amor que transborda quando filhos se tornam pais. É um espaço sem limitações, porque eventualmente o artista também pode se tornar o homenageado por aqui, já que filho também é.

Para abrir ‘Carta às Filhas e Filhos’ convidamos Nathalia Dill, grávida de 5 meses da primeira filha, que deverá se chamar Eva, nome sugerido pelo marido, Pedro Curvello. Aos 34 anos, a atriz tem feito lives em seu Instagram intituladas “Mamãe de primeira live”, pretendendo trocar e compartilhar experiências, e cercando-se cada vez mais de uma rede de apoio importante, enquanto se prepara para a chegada da pequena.

Nathalia e o marido Pedro Curvello esperam Eva, a primeira filha (Arquivo pessoal)

Nathalia fala com emoção do amor que se multiplica. E consciente e atuante que é, diante das mazelas do universo ao redor, ela deseja que a filha, assim como ela, acredite e contribua para um mundo melhor. A atriz e a cidadã se misturam e amadurecem juntas, e agora, acompanham a mãe nascendo.

Nathalia Dill está grávida de 5 meses da primeira filha e inaugura nossa série ‘Carta às Filhas e Filhos’ (Arquivo pessoal)

Com a palavra, Nathalia Dill:

“Oi, filha.

Tudo bem?

Você ainda não está aqui entre nós, não posso te pegar no colo e já quero muito te conhecer. Eu, seu pai, toda família e nossos amigos. Mas talvez o primeiro contato que você tenha com todas essas pessoas que já te amam seja por meio do celular ou do computador. É que 2020 está sendo marcado pela pandemia do coronavírus. Como o modo de transmissão é pelo contato e ainda não temos vacina, estamos impossibilitados de nos aglomerarmos, de nos abraçarmos. É um período muito difícil que escancarou ainda mais as desigualdades. Estamos à deriva em relação ao enfrentamento da pandemia. Imagine você que diante da maior crise de saúde que estamos vivendo não temos um Ministro da Saúde. Difícil, né?!

Quando você chegar por aqui, vai descobrir uma coisa que brasileiro adora na internet chamada meme. Será que a sua geração também vai usar memes? Muitos deles se referem a 2020 como o ano perdido, justamente porque passamos grande parte dele dentro de casa e isolados. Enquanto te escrevo, já são seis meses em casa! Para mim e para o seu pai, porém, este é o ano em que nos tornamos uma família. A sua chegada preencheu um momento obscuro e incerto com amor e a melhor das expectativas.

A gente lê tudo que pode, faz cursos, conversa com amigos e profissionais de saúde para tirar dúvidas sobre como nos prepararmos para te receber da melhor maneira. Eu estou até apresentando lives no meu Instagram sobre maternidade. Nossa, fiquei tão nervosa na primeira vez, filha. Porque estava sempre acostumada a dar entrevistas e nunca tinha conduzido uma. Mas estou me divertindo e aprendendo muito.

A verdade é que enquanto você cresce e se transforma dentro de mim, eu cresço e me transformo aqui fora. Gerar uma vida dá uma esperança de dias melhores. Eu torço para que você encontre um mundo melhor. Eu e seu pai sempre estaremos ao seu lado, te ajudando a navegar pelo mundo, te encorajando a ser tudo que quiser, quem você quiser. Estaremos aqui também para te mostrar que a gente é feliz, sofre, sorri, chora, gargalha, às vezes está amuado… A gente acerta e erra, vai mudando e se transformando, e está tudo bem! Faz parte da nossa humanidade. Desejo muito que você experimente tudo isso com leveza, que não sinta que precisa ser apenas uma coisa ou de um jeito. Que você tenha liberdade para mudar sempre!

No momento em que te escrevo, ainda vivemos em uma sociedade machista. É um desafio ser mulher, já que querem nos limitar tanto. Querem ditar quem somos, como devemos nos vestir, nos comportar, como devemos agir em relação ao nosso corpo, querem escolher por nós, nos pagam menos no mercado de trabalho, a violência contra a mulher e o feminicídio são dolorosas realidades.

Vivemos também em uma sociedade racista, embora há quem ainda acredite que racismo não existe. Mulheres pretas se encontram em uma situação de muito vulnerabilidade. A taxa de mortes de mulheres pretas foi maior do que a de outros grupos raciais em 2016, como ficou constatado com base nos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, apresentados no Mapa da Violência de Gênero.

Nossa sociedade ainda é homofóbica e transfóbica, sendo o Brasil o país que mais mata pessoas trans no mundo, de acordo com dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) divulgados em janeiro de 2020. São muitas pessoas que não conseguem viver plenamente, que não encontram acolhimento. Isso é muito triste, querida.

Eu espero que quando você consiga entender todas as questões, muita coisa tenha mudado. Quero muito que vivamos em uma sociedade com igualdade. Nunca acredite que você não pode mudar o mundo. Você pode! Nunca acredite que não vale a pena ser você. Sempre vale! Não estou dizendo que vai ser fácil. Não é! Viver é complicado, é difícil, mas ao mesmo tempo é maravilhoso. Não tenha medo de deixar sua marca no mundo. E o mais importante de tudo: não importa quem você seja, quem você escolha para compartilhar a vida, qual profissão você escolha… O que importa para mim é que você é você! E eu te acolherei sempre, te ajudarei a caminhar e te lembrarei todos os dias que vale a pena lutar pelo que a gente acredita. Existir e seguir lutando pelo que a gente acredita é nosso ato de resistência, é a nossa revolução!

Muitos beijos,

Mamãe”

“Eu te acolherei sempre, te ajudarei a caminhar e te lembrarei todos os dias que vale a pena lutar pelo que a gente acredita” (Arquivo pessoal)