Defensora das mulheres vítimas da violência doméstica desde que há 13 anos, ela própria vivenciou um relacionamento abusivo, a escritora e modelo, que desfilou em passarelas internacionais, Michele Pin considera imprescindível falar sobre o tema. “Somos educadas para encontrar um par romântico e, a partir daí, achar que todas as nossas carências estarão resolvidas. Mas, na realidade, devemos nos educar para o autoconhecimento”, defende ela, que somente conseguiu dar a volta por cima no momento em que decidiu dar um mergulho profundo em seu amor próprio, afinal a mulher que sofre a violência sai minada física e emocionalmente da relação. Assim, Michele está sempre envolvida com a causa pelas mulheres assediadas e vítimas de tentativa de feminicídio. Ela, por exemplo, alinhava o segundo livro, O Poder de Ser Você Mesma, um manual prático para que meninas e mulheres valorizem o fato de serem únicas, e vem colocando em movimento o projeto O amor próprio vai às escolas.
“Com exercícios de empatia e autoestima, necessários para que as crianças, aprendam a cultivar o autorrespeito e a respeitar o seu próximo”, diz. E ainda firmou parcerias com a Secretaria da Mulher do Rio de Janeiro, o que possibilitou a distribuição das cartilhas assinadas por ela, (sobre o combate à violência contra a mulher) nos Centros de Acolhimentos às Mulheres, nas DEAMs e, futuramente, nos postos do Detran-RJ, na Campanha da Lei Seca.
Michele acredita que a forma como a mulher se relaciona com ela mesma diz muito sobre a sua relação amorosa. Segundo ela, o amor próprio age de forma intuitiva e alerta para algo que não está certo. Para isso, é preciso aprender a ouvir a si mesma, porque ninguém está livre de se apaixonar por uma pessoa abusiva. “As mulheres precisam ficar atentas. Uma pessoa que você mal conhece já está te cobrindo de atenção e presentes? Desconfie. Procure saber das suas relações anteriores. Abusadores deixam pistas e o seu passado diz muito sobre eles”, lista a escritora.
Em sua rede social, Michele é bastante engajada na causa. A necessidade de conhecer suas seguidoras mais de perto, aconteceu logo após o lançamento do livro Desafio do Amor Próprio, em 2019. “Eu já trabalhava virtualmente aconselhando mulheres sobre relacionamento amoroso, no meu canal Help in Love, criado em 2014. Era um trabalho leve e divertido, mas aos poucos, comecei a receber muitas mensagens, que tinham a ver com a falta de amor próprio, seguidos de relatos de violência física e psicológica”, recorda a escritora.
Michele entendeu que precisava encaminhar os pedidos de ajuda que recebia diretamente para um órgão responsável do Estado. Nesse momento, entrou em contato com a Subsecretaria de Políticas para a Mulher, sendo acolhida pela subsecretária da SUBPM, Joyce Braga. Inclusive, é dela o prefácio do livro. “Nossa parceria deu tão certo, que ela me convidou para dar palestras em rodas de conversa com mulheres vítimas de violência doméstica, onde eu ressaltava a importância do amor próprio como ferramenta de prevenção, e aplicava exercícios de resgate da autoestima. A partir daí, surgiu também, o convite para amadrinhar a Delegacia de Atendimento à Mulher – DEAM – do Centro, onde ajudei a montar a brinquedoteca, e continuamos a promover ações em prol das nossas mulheres e seus filhos, que tanto precisam de apoio e acolhimento”, conta.
Segundo a ativista, a brinquedoteca é a maior prova de carinho e respeito às crianças que chegam às DEAMs. Afinal, ela abraça os pequeninos que, na maioria das vezes, presenciaram a violência contra a própria mãe. Este espaço representa uma forma de poupá-los de uma nova violência e sofrimento. Mas Michele adianta que são muitos os desafios: “Precisamos de mais mulheres atuantes em cargos legislativos para ajudar nesse combate. O Estado é carente de equipamentos públicos para acolher a mulher que conseguiu romper o ciclo da violência e precisa de um lugar para se proteger de ameaças à sua integridade física e a dos filhos. Ela vai precisar estudar, se profissionalizar e buscar sua autonomia financeira. O Estado não pode dar as costas. Se desejamos uma sociedade mais justa, temos que ajudar essas mulheres”, alerta Michele. E ela complementa que é necessário ter creches em período integral, com mais vagas, e escolas de mais qualidade.
A dificuldade de sair do ciclo da violência prolonga o sofrimento
Michele Pin foi vítima de violência doméstica por um ano. “Eu tomei tapas, socos, chutes, pancadas, fui abandonada, tive fotos de meu passado apagadas e o ápice da violência foi quando tive uma arma apontada para a minha cabeça dentro de um carro. Eu tinha certeza que não sobreviveria, porque naquele momento eu estava tentando fazer a quebra do ciclo da violência e ele não aceitava. Tive muita sorte de sair viva e conseguir recomeçar. Muitas mulheres não conseguem. É um ciclo vicioso e precisa de muita ajuda e apoio antes que seja tarde demais”, relata. Como sobrevivente de uma tentativa de feminicídio, Michele precisou fugir, com a roupa do corpo, da cidade onde morava e trabalhava, foi acolhida e recebeu ajuda de uma grande amiga. Acreditando no seu potencial, ressignificou a própria história para hoje ajudar tantas mulheres.
Mais? Ela acaba de realizar uma parceria com a grife Afghan, que doou roupas para mulheres atendidas pela Patrulha Maria da Penha (PMP). “A maioria das vítimas chega com a roupa do corpo, machucada física e psicologicamente, e precisa reconstruir a vida do zero”, frisa.
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