“Lutei contra a bulimia e um relacionamento abusivo”, revela a atriz e youtuber Monique Curi


A atriz e apresentadora fala sobre seu canal “Jeito de ser por Monique Curi” e desabafou nas redes sobre a doença neurodegenerativa chamada Pick que sua mãe Herta Curi vem lutando: “”É muito difícil ver a pessoa que você mais ama na vida sofrendo e você não ter o que fazer, mas o médico já disse que ela não retém esses momentos, vêm e vão. Mas no dia do meu post, fiquei a tarde toda grudada nela. Estava angustiada e isso acaba comigo, porque me coloca diante da minha impotência com quem fez tudo por mim”, frisa

*Por Brunna Condini

Rosto conhecido da TV desde a infância, quando começou a carreira como atriz em novelas como “Os Gigantes” (1979) e “Baila Comigo” (1981), Monique Curi tem se reinventado como youtuber e palestrante. Aos 51 anos, a atriz criou o canal “Jeito de ser por Monique Curi”, e tem conversado com anônimos e famosos que ofereçam boas histórias de vida para dividir e inspirar. Satisfeita com a nova empreitada e a versão comunicadora, ela já recebeu nomes como Maitê Proença, Fernanda Rodrigues, Paolla Oliveira, Stenio Garcia e Mônica Martelli, entre outros.

Nos últimos anos, Monique também tem estabelecido uma relação próxima com seu público nas redes sociais, e relata que sempre fez questão de utilizar transparência nesta comunicação. Tanto, que chamou a atenção dos seus seguidores nos últimos dias, ao compartilhar um desabafo, usando sua conta do Instagram. A atriz fez um vídeo falando das dificuldades que enfrenta com a a mãe, Herta Waller Curi, de 80 anos, que está morando com ela há quatro por conta de uma doença neurodegenerativa chamada Pick. “Minha mãe está perdendo a mobilidade com a boca, então ela não consegue mais expressar o que sente, mas sofre, às vezes chora. Gente, para mim é tão difícil! Porque eu aprendi com ela que tudo passa, mas é uma sensação de impotência quando você sabe que nesse momento, quando passar, vai ser só com a morte. É uma doença degenerativa, que não tem cura. É muito difícil ver a pessoa que você mais ama na vida sofrendo e você não ter o que fazer”, lamentou.

Monique com a mãe, Herta: “É muito difícil ver a pessoa que você mais ama na vida sofrendo e você não ter o que fazer” (Arquivo pessoal)

Em nome da mãe

Ela confessa, que ficou na dúvida de abrir uma coisa tão íntima, mas o fez, para que eles vejam que todos tem problemas, até porque ela acredita que nas redes já tem ‘mundos perfeitos” o suficiente. “Apesar das dificuldades, trabalho para fazer dos meus dias o melhor que eles possam ser para mim. Apesar da dor que está no meu coração. E isso, aprendi com minha mãe, que ainda está aqui, comigo, e viveu para os filhos, a família. Ela tem os momentos de sofrimento, mas o médico já disse que ela não os retém, vem e vão. Mas no dia do meu post, fiquei a tarde toda grudada nela. Gosto de ficar assim, cheiro, beijo, até ela mandar eu parar (risos). E ela estava angustiada e isso acaba comigo, porque me coloca diante da minha impotência com quem fez tudo por mim. Minha mãe sempre foi um exemplo de resistência, de mulher que deu a volta por cima. Desde o meu primeiro término de namoro, aos 15 anos, quando chorei no colo dela, ela me ensinou: vai passar, tudo sempre passa. Ela sempre foi minha companheiraça. Desde os 3 anos, quando comecei em propagandas, até os 10, quando fiz a novela “O Gigante”. E continuou assim, pela vida. Quando soube que ela estava doente, fiquei de cama. Mas reagi, ela me ensinou isso. Não me dou ao direito de deixar a peteca cair”.

“Essa situação me coloca diante da minha impotência com quem fez tudo por mim. Minha mãe sempre foi um exemplo de resistência, de mulher que deu a volta por cima” (Acervo pessoal)

Trocando experiências

Monique também é jornalista e sempre sonhou desenvolver sua veia comunicadora, em um espaço seu. “Amo ser atriz, mas a carreira, tem o lado da frustração, porque você depende muito dos convites para trabalhar. Quando fiz 50 anos, pensei: estou no auge da “ladeira”, o que posso fazer por mim para ser mais feliz? E eu percebia, como minha comunicação, já pelo Instagram, fazia diferença na vida de algumas pessoas. Foi assim que surgiu a ideia do canal. Não queria chamar as pessoas para falarem só de suas carreiras, mas queria que se abrissem, topassem expor boas histórias, para agregar na vida de quem assiste”, conta. “Como quando entrevistei a Maitê (Proença), por exemplo. Podia falar da vida profissional, da tragédia que aconteceu na vida dela, mas isso, qualquer um que dê um Google pode saber. Meu papo com ela, foi sobre como ressignificou a sua trajetória, porque isso inspira as pessoas. E também entrevisto pessoas anônimas que façam a diferença na vida de outras”.

“Quando fiz 50 anos, pensei: estou no auge da “ladeira”, o que posso fazer por mim para ser mais feliz?” (Foto: Divulgação)

Uma curiosidade sobre sua comunicação com os seguidores é que o perfil de uma grande parte deles, não é nada óbvio. “Você acredita que tenho 15 fã clubes, que não vieram da minha carreira como atriz? E a maioria, composto por meninas, jovens. Eu pergunto o que elas viram em mim e elas dizem que eu as inspiro. Me redescobri com o canal, a comunicação com quem me segue”, divide. “Tenho recebido muitas mensagens, de meninas dizendo que as ajudei a lidar com a ansiedade, angústia, principalmente neste momento. Muitas já tiveram depressão, síndrome do pânico. Sou verdadeira, exponho minhas experiências, acho que isso aproxima”.

Sem deixar para depois

Monique pretende, tanto no canal, quanto no projeto de palestras – que parou por conta da pandemia do novo Coronavírus – impactar as pessoas através de depoimentos, tanto dela, quanto de seus convidados. A proposta é dividir com o público sua vida, e um pouco de suas experiências, sucessos e fracassos, contando histórias de momentos em que precisou de muita vontade para se transformar, “como na luta contra a bulimia e o relacionamento abusivo que viveu durante oito anos. As pessoas não querem mais deixar a felicidade para depois. Elas querem ser felizes aqui e agora, querem se realizar, então estão se permitindo a uma reinvenção permanente”, avalia. “As mulheres lutaram para terem voz. Portanto, se não está funcionando, procuram outro caminho. Por isso, é muito importante falar das mulheres que se reinventam, porque muita gente tem vontade e não tem coragem”.

“As pessoas não querem mais deixar a felicidade para depois. Elas querem ser felizes aqui e agora, querem se realizar, então estão se permitindo a reinvenção permanente” (Divulgação)

Casada há 20 anos com o empresário Leonardo Mattos e mãe de Victória, 17, e Théo,14, Monique recorda que quando conheceu o marido, havia ficado um ano se redescobrindo, após ter conseguido sair de um relacionamento ruim. “Tinha 31 anos quando conheci o Leo. E é uma história bonita, para acreditar em almas gêmeas. Ele nasceu dia 2 de fevereiro, na clínica São José do Rio de Janeiro. E quatro horas depois, já dia 3 de fevereiro, eu nasci na São José de Belo Horizonte. Nossas mães estavam em trabalho de parto no mesmo horário. A gente veio para se encontrar mesmo. Nos respeitamos, nos aceitamos como somos. Merecia, sofri muito antes”.

Com o filho Theo, o marido Leonardo e a filha Victoria: ““Tinha 31 anos quando conheci o Leo. E é uma história bonita, para acreditar em almas gêmeas. Merecia, sofri muito antes” (Acervo familiar)

Autoamor

A atriz conta que durante a quarentena, tem feito mais exercícios para equilibrar a ansiedade. “No momento, é muito mais pela questão da endorfina, ocitocina do que qualquer coisa. Tentei meditar, mas fico impaciente. Então, tento respirar, fiz o curso da Arte de Viver”, compartilha. “Mas faço exercícios desde os 14 anos. Comecei por indicação do Mário Gomes, com quem eu contracenava em “Sol de Verão”, e nunca mais parei. Hoje os meus cuidados são correr, fazer aeróbico, musculação, e me alimento bem. Adoro comer bem, tenho prazer em tomar um café da manhã saudável”.

Durante a entrevista, a filha Victoria, que criou um Instagram para indicar boas receitas e restaurantes, o @cariocaeating, chamou Monique para comer uma das delícias. “Tenho que controlar, porque toda hora ela faz ou recebe uma coisa gostosa aqui. Victoria começou a cozinhar na quarentena, e nesta página, ela dá dicas de receitas simples, gostosas. Está arrasando”, derrete-se. “E ela é a minha cara”.

Monique em família: “Tenho que controlar, porque toda hora Victoria faz uma coisa gostosa aqui. Ela começou a cozinhar na quarentena, e dá dicas de receitas simples em uma página no Instagram” (Acervo pessoal)

Também achamos, Monique. Mas, e você, como chegou aos 51 anos com o mesmo frescor? “Me sinto melhor hoje que aos 30. Foi uma fase que me sentia feia, insegura, sem autoestima e pensava que não tinha mais jeito. É muito bom ter 51 com essa alegria, com essa vontade de fazer milhões de coisas, me olhando no espelho e gostando do que vejo”, diz.

Na verdade, desde cedo ela precisou superar outras questões sérias e ressignificar a autoestima. “Dos 17 anos aos 23 tive bulimia. Quando revelei isso, muita gente veio falar comigo. Estou bem, mas sei que vou ter que estar atenta a isso o resto da vida. Tanto, que toda vez que eu como demais, me remete a esse momento, sinto necessidade de botar para fora. Então, aprendi a comer, não comer demais. Como de tudo, mas não alimento a gula. Sei que tenho um problema com isso, foi de 1986 a 1991, seis anos. Em 1991, o Maneco me chamou para fazer “Felicidade”, topei e fui resgatando meu amor por mim. Não precisei fazer terapia, fui abençoada na verdade. Mas quem sente que está com transtorno, tem que procurar tratamento, tem casos que levam à morte”.

“No momento meu objetivo é a felicidade que o canal está trazendo. Se tiver que voltar a atuar vai acontecer naturalmente” (Divulgação)

Mesmo satisfeita com sua versão comunicadora, é um desejo voltar a atuar? “Olha, sinceramente, hoje o meu canal me toma tempo e estou muito feliz com isso. Claro que não me fecho para ouvir qualquer convite, mas me chamaram para fazer algumas participações recentes e neguei. Se topar fazer algo hoje, tem que ser algo maior, um puta desafio. Atuar nunca vai ficar para trás na minha vida. Eu sempre serei atriz, mas no momento o meu objetivo é a felicidade que o canal está trazendo, algo que eu fiz. Se tiver que voltar a atuar, vai acontecer naturalmente”.