Laura Brito, influenciadora com grande engajamento segundo pesquisa: ‘Ainda sofro xenofobia por ser nordestina’


Influenciadora há quase 10 anos, ela começou na internet customizando roupas, fazendo de uma necessidade o seu ofício, e nesta entrevista fala de como ganhou dinheiro e pôde ajudar a família, da recente separação e de preconceito: “Quando fui eleita a mais bem vestida do Baile da Vogue, em 2019, foi difícil. As matérias começavam assim: “a nordestina foi eleita…”. Tipo: uma grande surpresa. Sofro até hoje com isso. Principalmente com publicidade de marcas que pregam inclusão, diversidade, chamam você e mudam tudo que você fez depois. Quero furar essa ‘bolha’ do digital, mas continuar fazendo o que faço”, pontua

*Por Brunna Condini

Natural do Recife, Laura Brito se mudou para a Paraíba quando tinha 17 anos com a mãe, que buscava uma vida melhor para ela e os dois irmãos. E foi nesta mudança que Laura descobriu uma profissão que ainda surgia: a de influenciadora digital. Quase 10 anos depois, juntando Instagram, YouTube e Tik Tok, ela acumula mais de 13 milhões de seguidores que, inclusive, fizeram ‘campanha’ para que entrasse no BBB22. De acordo com uma análise feita pela publicação Meio&Mensagem, ela está entre as brasileiras com maior engajamento em comentários no Instagram. Laura se diz comprometida com o verdadeiro poder da influência: relevância, compromisso e autenticidade. No entanto, ela revela que mesmo após o sucesso nas redes, ainda enfrenta preconceitos por ser nordestina.

“No início do meu trabalho, o sotaque era o que mais chamava a atenção e cativei muita gente com ele. Mas, quando comecei a crescer nas plataformas, as coisas mudaram. Se transformou do lugar de ‘sotaque fofo’, em uma forma de falar ‘errado’ para algumas pessoas. Comecei a fazer trabalhos para marcas que queriam moldar o que eu estava dizendo, pediam para eu falar diferente. Caíram matando na xenofobia. Principalmente quando comecei a abordar a moda. A nordestina não é associada a uma mulher fashion, e sim, a tal caricata ou folclórica. Pegam nossa cultura e nos colocam em estereótipos. Mas, somos múltiplas e vestimos o que queremos”, frisa Laura.

“Quando fui eleita a mais bem vestida do Baile da Vogue, em 2019, foi difícil. As matérias nos veículos começam o texto com “a nordestina foi eleita”. Tipo uma grande surpresa. Sofro até hoje com isso, menos porque conquistei credibilidade. Sofri inclusive com publicidade de marcas que pregam a diversidade, chamam você e mudam tudo que você fez depois. Não estou aqui só para representar o São João e, sim, para todos os momentos. Meu maior público concentra-se no eixo Rio-São Paulo. Ainda bem que hoje temos ainda mais nordestinos no mercado, com voz, como Juliette, Whindersson Nunes, Gkay“.

"Comecei nas redes falando da minha realidade. Foi a falta que me levou ao meu caminho” (Divulgação)

“Comecei nas redes falando da minha realidade. Foi a falta que me levou ao meu caminho” (Divulgação)

“Sou de uma família com origem super humilde. Meus pais são sertanejos. Minha mãe morou em casa de taipa na infância. Nunca passei fome, mas meus pais enfrentaram muitas dificuldades. Nunca tivemos luxo e comecei a trabalhar cedo. Mas a história da minha família é de muito amor”, comenta.

Ela chegou no digital ‘quando tudo ainda era mato’, e por ter criado conteúdo a partir das próprias vivências, agradou desde o início. “Há quase 10 anos, não se sonhava que o digital tomaria a proporção que tomou. Mas eu sabia que queria aparecer de alguma forma, queria estar lá. Eram poucas as pessoas que estavam na internet fazendo conteúdo, e o que elas faziam, eu não tinha condições de fazer”, recorda, acrescentando: “Foi aí que comecei a prestar atenção na minha história. Tive a ideia de fazer a customização de roupas. Sempre fui muito magrinha, pequena (1,55m), e precisava transformar as roupas para ficarem bem em mim. Porque até então, eu já era adulta e ficava usando peças da seção infantil. Queria dar a minha cara para as peças e não tinha dinheiro para ter várias”.

"Há quase 10 anos, não se sonhava que o digital tomaria a proporção que tomou. Mas eu sabia que queria aparecer de alguma forma, queria estar lá" (Divulgação)

“Quando fui eleita a mais bem vestida do Baile da Vogue, em 2019, foi difícil. As matérias nos veículos começam o texto com “a nordestina foi eleita”. Tipo uma grande surpresa” (Divulgação)

“Minha mãe sempre fez roupas para ela e para os filhos. Sempre vivi nesta atmosfera. Quando eu saía de casa com as roupas que customizava, as pessoas queriam saber de onde eram. Neste momento, uni uma necessidade à vontade de estar na internet, fazendo um conteúdo que as pessoas queriam ver. Comecei nas redes falando da minha realidade. Foi a falta que me levou ao meu caminho”.

Prosperando

Laura se orgulha de ter prosperado e de ajudar os seus. “Quando comecei a ganhar dinheiro, me assustei. Primeiro, porque não sabia que isso poderia acontecer assim, até porque não sabia precificar. As pessoas não trocavam informações sobre isso. Hoje sei porque estou dentro do mercado há quase 10 anos. Sei exatamente o que vale o meu trabalho”, diz.

"Na minha família nunca faltou apoio, parceria, isso me fortaleceu. Mesmo quando eles nem imaginavam que eu podia ganhar dinheiro sendo influenciadora, já me ajudavam” (Foto: Gabriel Gardinni)

“Nunca passei fome, mas meus pais enfrentaram muitas dificuldades. Nunca tivemos luxo e comecei a trabalhar cedo. Mas a história da minha família é de muito amor” (Foto: Gabriel Gardinni)

“Lembro que um dia vi minha conta bancária e pensei: meu Deus! A nossa história vai mudar. Organizei minha vida, da minha família, graças a Deus. Construí uma carreira entendendo o poder do digital, em qualquer mercado, qualquer área, como gera dinheiro para as pessoas. Sou mão aberta com a minha família e o que é meu, é de todos. Recebi e recebo todo apoio para estar onde estou. Invisto em mim e quero furar essa ‘bolha’ do digital, mas continuar fazendo o que faço”.

"Recebi e recebo todo apoio para estar onde estou. Comprei muitas coisas, mas também invisto em mim, porque quero furar essa 'bolha' do digital, mas continuar fazendo o que faço” (Foto: Gabriel Gardinni)

“Recebi e recebo todo apoio para estar onde estou. Invisto em mim e quero furar essa ‘bolha’ do digital, mas continuar fazendo o que faço” (Foto: Gabriel Gardinni)

Sem medo do cancelamento

A influenciadora anunciou o término do relacionamento de dez anos com Michael Silva há dois meses, e afirmou que o casamento chegou ao fim com muito respeito entre eles. Muitos fãs não esconderam a surpresa, mas o que mexeu com Laura foram as manifestações de ódio. “Foi a primeira vez que recebi comentário de haters, e tive momentos de muita tristeza quando li. Até hoje tenho reflexos sobre isso. Levei para a terapia”, confidencia.

Em foto do post em que anunciou o término do relacionamento de dez anos com Michael Silva (Reprodução Instagram)

Em foto do post em que anunciou o término do relacionamento de dez anos com Michael Silva (Reprodução Instagram)

“Recebia comentários em que diziam que eu era uma pessoa ruim, ingrata, que usei meu ex-marido até onde ele me foi útil. Julgaram meu caráter, dizendo que eu não valorizava as pessoas. Foi terrível. Não me respeitaram, não pensaram que eu estava passando por um momento delicado. Fiquei 10 anos com ele. Não tiveram o mínimo de empatia. Até hoje me julgam se estou trabalhando, se estou feliz. Isso gente que antes me amava, falava coisas maravilhosas nas rede. Tirei lições disso”.

Laura salienta ainda que sempre teve a saúde mental como prioridade. “As pessoas vão arrumar motivos para falar. Parece que estão sempre esperando algo que não gostem vindo de você. Então, o cancelamento virá. Algumas pessoas estão predispostas a destilar ódio. E isso é muito mais sobre elas, do que sobre você. O cancelamento é sobre o outro. Temos que preparar a cabeça para lidar com isso”, pondera. “Nunca fui cancelada, mas tenho colegas que foram e sofreram demais, adquiriram transtornos. Não quero deixar de fazer nada por medo. O cancelamento existe porque as pessoas estão doentes, amarguradas. Tento trabalhar o meu emocional para continuar trabalhando numa boa”.

"O cancelamento é sobre o outro. Temos que preparar a cabeça para lidar com isso” (Foto: Gabriel Gardinni)

“O cancelamento é sobre o outro. Temos que preparar a cabeça para lidar com isso” (Foto: Gabriel Gardinni)

E alerta sobre influenciar pessoas na internet: “Muita gente cai matando em cima de você quando veem sua fragilidade. Por outro lado, o que cativou as pessoas? Sua verdade, sua vida. É uma linha tênue. Continuo fiel à minha essência, mas hoje penso mais no que exponho. Nunca fingi ter algo que não tinha ou ser algo que não era. As pessoas se conectaram com essa menina transparente, que tinha sede de vencer, mas não tinha muitos acessos para isso. E respeitei quem eu sou, porque é isso que me faz me destacar. Era a minha realidade e de tantas outras pessoas que desejavam se vestir bacana, com personalidade, e não tinham como”.

Laura Brito também é apresentadora de uma série de seu IGTV, no Instagram, em que conta histórias de pessoas anônimas, com paixões em comum, que compartilham como suas profissões mudaram suas vidas. E aponta: “Não tem mais espaço para acharem que não trabalhamos. Não dá para diminuir quem faz um trabalho digno na internet. Queremos ser respeitados. E para quem deseja ser um influenciador, não dá para fingir ser um. Tem que ter propósito, fundamento. Buscar responsabilidade com o conteúdo. Tenho orgulho de ser influenciadora e cuidado com o que compartilho”.

"Para quem deseja ser um influenciador, não dá para fingir ser sem influenciar em nada. Tem que ter propósito, fundamento. Buscar autoconhecimento e responsabilidade com o conteúdo" (Foto: Gabriel Gardinni)

“Para quem deseja ser um influenciador, não dá para fingir ser sem influenciar em nada. Tem que ter propósito, fundamento. Buscar autoconhecimento e responsabilidade com o conteúdo” (Foto: Gabriel Gardinni)