Júlio Rocha: De influencer ao sonho em voltar a ser apresentador, ele investe na olfateria e na literatura


O ator iniciou a carreira na TV na novela “Louca Paixão”, da Record, fazendo uma ponta. Depois de alguns anos, inseriu-se de forma definitiva no meio, em novelas como “Fina Estampa” e “Duas Caras”. Fora do formato há quase 10 anos, reinventou-se através das suas redes sociais depois de passagem relâmpago pelo TV Fama. Júlio revela que “conseguir patrocínio é complicado. Eu mesmo, no teatro, nunca consegui aprovar nada na Rouanet”. Com uma empresa voltada à perfumaria, e lançamentos literários, o ator revela dois dos seus sonhos: Fazer um standup sobre relacionamentos e tornar-se apresentador de um programa de auditório

*por Vítor Antunes

Afastado há quase 10 anos da televisão, e cada vez mais imerso nas redes sociais – da qual não pretende se afastar, Júlio Rocha vê a expansão de seu nome nestas plataformas com índices expressivos que fazem com que ele direcione muita energia neste propósito: “Meu projeto é continuar fazendo as melhorias e desenvolvimento das plataformas. Nelas, eu acompanho tudo de perto, desde o figurino ao texto”, aponta ele. Ainda que sua última experiência como apresentador tenha gerado algum ruído – ficou apenas um mês à frente do TV Fama, da Rede TV -, o ator responde se as pessoas, ávidas por cliques, querem que ele confirme uma suposta saída turbulenta da emissora: “Foi divulgado nos veículos de comunicação que a minha saída deveu-se ao público não estar gostando de mim. Entrei na emissora, fiz amigos, porém o programa não conseguiu entregar a mim o que me foi vendido. Mas, saí de lá muito de boa”, garante. Confidencia-nos ele que seu sonho é apresentar um programa de auditório na TV, no estilo variedades.

Júlio também conta que num teste para modelo no início da carreira foi reprovado de forma inconteste, pois o tiveram como…. feio! “Fui quase escorraçado e disseram que eu não tinha o biotipo necessário, e que por ser feio e baixo não ganharia dinheiro como modelo”, diz. Além disto, diversifica a sua atuação profissional, com o estabelecimento de uma marca de perfumes para casa e lançou-se como autor de livro de autoajuda. “Como Seduzir Sua Esposa”, escrito por ele, é um dos 300 mais vendidos da Amazon e servirá de base para um stand-up comedy em breve.

Júlio Rocha. Ator atinge níveis excelentes na Internet e prefere investir no segmento a fazer novelas (Foto: Divulgação)

LAÇOS DE FAMÍLIA

Ainda que o nome acima tenha se tornado famoso e popular por conta da novela de Manoel Carlos, antes do dramaturgo utilizá-lo para centralizar os conflitos de Vera Fischer e Carolina Dieckmann, o título nomeava uma obra de Clarice Lispector (1920-1977). Tratava-se de um livro de contos sobre relações cotidianas familiares. Sob algum aspecto poderíamos dizer que hoje, Júlio Rocha dedica-se não só à Internet, mas aos seus laços familiares. Seus posts nas redes sociais são croniquetas bem humoradas do cotidiano dele, de sua mulher, Karoline Kleine, e seus filhos, José, Eduardo e Sarah. Dedica-se a isso ele, que opta pela produção de conteúdo digital para poder ficar perto da prole. “Eu peguei muito gosto pelo que faço. Chego nas pessoas através das redes sociais e essa fase que estou vivendo é extremamente gostosa. Talvez se eu estivesse na vida artística para ganhar dinheiro, teria que viver em aeroportos, mas estou tranquilo, conseguindo subsistir, ainda que com menos luxos, mas mantendo o que chamo de produtividade sustentável. Estou em harmonia, em casa, fazendo tudo sem desgastar-me e gerando uma certa receita”.

A pergunta se é possível viver como influencer é voz geral. Júlio afirma que sim e que este é um momento de liberdade para os atores que “nunca tiveram tanta. E é algo que mudou com a chegada do Reels e do TikTok. Antes, os atores voltados para fazer teatro ou TV e muitos deles não teriam condições para fazer projetos pela Lei Rouanet, já que é necessário muito dinheiro para edificar criações por este formato. Conseguir patrocínio é complicado. Eu mesmo, no teatro, nunca consegui aprovar nada na Rouanet. A internet democratizou isso e  possibilitou que aquela pessoa que nunca conseguiu subir um projeto seu, fosse o seu próprio projeto. Hoje tem gente fazendo entrevista no metrô, esquete no ônibus ou usando chromakey e edição com app. Antigamente isso não era permitido. Eu me emociono quando vejo pessoas de longe, do interior, que com 30 mil seguidores já conseguem um respaldo, um apoio, um patrocínio. A chegada da Internet é a possibilidade de todas as pessoas colocarem seu espírito artístico para fora. Eu acho que a minha linguagem está em falar com a família e isso atinge muita gente”.

Como seus filhos costumam estar presentes nos vídeos, quisemos saber do ator se ele não teme a hiper-exposição das crianças: “Vivemos num país que é violento e o é por décadas. Óbvio que isso implica numa cautela. A minha sobrevivência e a minha vivência em  plenitude não me permite ter medos. A interação com meus filhos, ver a alegria deles pedindo para fazer parte do conteúdo muito me alegra e, naturalmente, quando eu e Karol achamos que vai ser algo legal, deixamos. A socialização, o tempo, a qualidade que temos é definitiva. A necessidade de ser e estar presente superam os receios e o medo da exposição. Além disto queremos mostrar a importância da paternidade em somatório com a maternidade”.

Conseguir patrocínio é complicado. Eu mesmo, no teatro, nunca consegui aprovar nada na Rouanet – Júlio Rocha

Julio Rocha, Karol Kleine os meninos José e Eduardo antes do nascimento de Sarah (Foto: Divulgação)

O acompanhamento que Júlio faz do conteúdo produzido pela família é total – desde os figurinos ao texto. Além desta ferramenta, ele também tem uma linha de perfumes para casa. “Eu queria muito fazer algo que pudesse espalhar amor e carinho para as pessoas e propiciar tranquilidade e paz a elas. Como artista, eu já lidei com vários aspectos da arte e de todas as formas. Acho que a perfumaria é algo que nunca havia investido enquanto arte”. A ideia de trabalhar esse segmento vem do próprio pai do artista que era um apicultor amador. Razão pela qual uma abelha é o símbolo da empresa.

Julio Rocha investe no ramo da olfateria além das redes sociais (Foto: Divulgação)

SONHO, SEDUÇÃO E… BELEZA QUESTIONADA

Um dos poucos programas a estar no ar desde a estreia da emissora em 2000, o TV Fama já passou por inúmeras reformulações na Rede TV!. Atualmente apresentado por Flavia Noronha, Nelson Rubens e Fefito, em 2021 tentaram emplacar outro trio composto por Júlio, Alinne Prado e Lígia Mendes. Mas não deu certo. Um mês depois da estreia, o ator deixou a condução do show, e pouco tempo depois foi a vez de Lígia. Ainda que a imprensa tenha falado sobre alguma animosidade, Júlio nega que isso tenha havido e que tenha motivado sua saída. “O programa não conseguiu cumprir com o que me foi oferecido. Eu achava que se pensassem que eu estava deixando a emissora pudesse parecer um descomprometimento com a  asa, enquanto era publicado por outros veículos que eu estava saindo por conta de o público não estar gostando [de mim]. Fui muito injustiçado. Porém, entrei lá e fiz amigos. Saí muito de boa”, afirma ele, que não descarta a possibilidade de voltar a um programa de televisão. Pelo contrário: “Tenho vontade, tenho esse espírito verdadeiro. Eu me daria bem num programa de auditório, de variedades”. Além do programa de celebs, Julio também esteve à frente de um quadro do “Bem Estar” quando ele era um programa independente nas manhãs da Globo.

Alinne Prado, Julio Rocha e Lígia Mendes. TV Fama com o trio não vingou (Foto: Divulgação/Rede TV)

Além disto, o ator diz  ter interesse em fazer um stand-up inspirado em seu projeto literário, o livro “Como Seduzir Sua Esposa“, publicado pela Editora Ases da Literatura. Ainda que não seja um bestseller, o livro não pontua mal nos rankings de vendagem. Na Amazon, está entre os 300 mais vendidos de toda a plataforma, o que é um número expressivo para um autor iniciante.

Os homens abandonam o romantismo. O livro surge dessa observação e por falar de afetividade. Eu sinto que os homens, por preconceito e criação, deixaram de querer evoluir a sensibilidade, quando ser sensível não é demérito, a contrário. Fui vendo que é preciso que cultivemos a sensibilidade para haver um relacionamento harmônico – Júlio Rocha

Inegavelmente um cara bonito, perguntamos a ele se em algum momento a beleza se interpôs ao seu talento ou houve preconceito em razão disso. Júlio disse que sim e surpreendeu pela resposta. “No começo da carreira, quando não havia Google e internet, eu acabei numa agência de modelos e quase fui escorraçado. Diziam que eu não tinha o biotipo e que por ser feio e baixo, eu não ganharia dinheiro como modelo”, relembra ele, que foi considerado com de baixa estatura apesar de ter mais de 1,80m. Ainda no campo do preconceito, ele nos conta que a classe artística olhou-o de soslaio quando optou por ser influencer.

“Houve um ator famoso que disse que os influencers eram bactérias que destroem o organismo da arte. Ainda que seja uma frase forte esta, eu lamento que pensem assim. Isso denota a falta de grandeza que, em tese, um artista deveria ter. Há aqueles que querem fazer e não sabem como e aqueles outros que têm curiosidade em saber sobre como funciona a rede social. De igual maneira, os que dizem que eu não precisava passar por isso, por ser alguém com faculdade e com várias novelas e que está se submetendo a fazer essas micagens de blogueirinho. Mas, também coloco na balança as coisas incríveis que ouço”, pondera. Ao responder assim, mandando às favas quem questiona seu sonho.