Influencer Isis Lyon cria ONG e diz que não adianta esperar ação de político: ‘Quem pode precisa ajudar os pobres’


“O mundo ideal seria o que ninguém estivesse passando fome, ainda mais em um país tão rico como o nosso”, frisa Isis, que teve infância difícil e enfrentou o racismo e o machismo para vencer na vida e, hoje, encarar a ação social como missão de vida. “A sociedade nunca aceita ver uma mulher negra em uma posição mais elevada. Nunca acredita que chegamos lá de forma honesta. E precisa provar que é tão boa quanto o homem e duas vezes melhor do que o branco, porque, caso contrário, não é notada”, frisa

* Por Carlos Lima Costa

Em um mundo que desejamos, governantes deveriam prover o bem estar da população, mas, mesmo diante de tragédias, é no cidadão comum que as pessoas necessitadas têm encontrado mais gestos de solidariedade. Empresária e influencer, com 1M de seguidores no Instagram, Isis Lyon procura fazer sua parte lutando contra a desigualdade e fundou sua ONG, a GR Together, através da qual realiza diversas ações. “Não adianta eu falar que é obrigação do presidente, do governador, do prefeito e ficar sentada no sofá gastando o meu dinheiro com bobagens. A ação social é a minha missão de vida, não me vejo sem ajudar o próximo, levando um pouco de alegria. Existe um buraco muito grande dos políticos. Mas não adianta ficar somente apontando o dedo e ficar falando quem tem que fazer. Quem tem condições, deve ajudar. Eu faço a minha parte. Se Deus quiser um dia vai haver menos corrupção no Brasil e vão ajudar os que necessitam. O mundo ideal pra mim seria que ninguém estivesse passando fome, ainda mais em um país tão rico como o nosso”, enfatiza.

Isis também teve infância difícil e enfrentou preconceitos e machismo por ser mulher, negra e viver em uma comunidade. “Ainda é difícil lidar com tudo isso. A sociedade nunca aceita ver uma mulher negra em uma posição mais elevada. Não acredita que chegou lá de forma honesta. E precisa provar que é tão boa quanto o homem”, ressalta ela, que ainda vivencia situações racistas cotidianamente. “Isso acontece em atendimento em lojas, em grupo de Instagram da faculdade sempre colocam figurinhas pejorativas, falando mal de negro. Eu já tomei providência, mas a faculdade não se manifestou. Por eu ser a única negra, não pesa muito para eles. Não procurei a polícia, porque não adianta, crime subjetivo é muito difícil de provar”, conta ela, que está concluindo o curso de Medicina.

"O meu maior sonho sempre foi poder ajudar o próximo. Sei o que é precisar e não ter ninguém para estender a mão", frisa Isis (Foto: Beto Gatti)

“O meu maior sonho sempre foi poder ajudar o próximo. Sei o que é precisar e não ter ninguém para estender a mão”, frisa Isis (Foto: Beto Gatti)

E é enfática a respeito do racismo: “Na verdade, precisamos lutar pela inclusão, pelo nosso lugar na população em geral. Infelizmente, o racismo é até hoje uma praga. Devemos mostrar que somos iguais a todo mundo, que ninguém é diferente de ninguém. Nas redes sociais, eu procuro sempre motivar. Infelizmente, a gente precisa ser sempre duas vezes melhor do que o branco, porque, caso contrário, não somos notados”, enfatiza ela.

O que ela faz hoje, ninguém nunca fez por ela, que nasceu na Cachoeirinha, bairro da Zona Norte de São Paulo, e foi morar na comunidade da Brasilândia com 15 anos. “Vim de uma família humilde, minha mãe, Fátima, trabalhava como manicure, e meu pai, Jorge, foi motorista de caminhão. Minha infância toda foi com dificuldade, passando necessidade, dinheiro contado, vivia de salário mínimo. Saí dessa situação, após passar no Prouni e comecei a cursar a faculdade de enfermagem, aí fui promovida no trabalho, consegui sair da comunidade”, explica ela, citando a primeira faculdade na qual se formou. E já promoveu ajuda aos necessitados através de sua profissão. “Desde que consegui dar a minha primeira cesta básica, o meu maior sonho sempre foi poder ajudar o próximo. Sei o que é precisar e não ter ninguém para estender a mão. Quando fundei a ONG, queria levar esse tipo de conforto às pessoas da comunidade”, ressalta.

Para das essa assistência aos mais necessitados, ela conta com a ajuda do marido, Mateus Davi, que trabalha com investimento na bolsa de valores. “Crescemos juntos e a empresa dele cresceu tanto, que, hoje, ele tem um banco online. Foi a partir daí que eu consegui condições para fundar a ONG. Mas sempre, desde o início, quando tínhamos um dinheiro sobrando, eu já dava cesta básica, doávamos brinquedos no Dia das Crianças. Sempre com a ajuda da renda do meu marido também”, explica ela, cuja ONG, localizada, na cidade de Campinas, ajuda moradores de comunidades, instituições carentes, orfanatos, e, atualmente, mantém parceria com a escola de samba Vila Maria, de São Paulo, onde vão distribuir ovos de Páscoa.

"A sociedade nunca aceita ver uma mulher negra em uma posição mais elevada. Não acredita que chegou lá de forma honesta", aponta Isis (Foto: Beto Gatti)

“A sociedade nunca aceita ver uma mulher negra em uma posição mais elevada. Não acredita que chegou lá de forma honesta”, aponta Isis (Foto: Beto Gatti)

Este ano, ela faz estreia dupla. Pela primeira vez vai desfilar em uma escola de samba e como musa da bateria da Unidos de Vila Maria, do Grupo Especial paulistano, que vem com o enredo O Mundo Precisa de Cada Um de Nós.

Aos 36 anos, ela é mãe de José Vitor, de seis, que nasceu com outra realidade social. Assim, procura ensiná-lo a manter a cabeça centrada e que no futuro, também ajude o próximo. “A gente acha que é fácil para a criança negra, que tem tudo na mão, mas não. Pelo contrário. Ele estuda em um colégio onde tem poucos alunos negros, então, explicamos a ele que não tem diferença a cor da pele, ensinamos que tem que poupar dinheiro, que independentemente do trabalho da mãe e do pai tem que estudar para ser alguém na vida”, enfatiza Isis.