Babu Santana: “Hoje não aceito nada fora do sonho artístico. Cargo político? Fora de cogitação a longo prazo”


O ator se surpreende com a fase pós BBB20, fala do trabalho à distância, no meio da pandemia, com direito à canal próprio no Youtube, publicidade e mente criativa a mil. Ele também celebra o contrato com a TV Globo e observa o momento no país: “Somos uma sociedade relativamente nova, com um desequilíbrio social muito grande. E agora, com o esse vírus, aumentou. Como se faz distanciamento social em uma casa de dois cômodos em que moram nove pessoas, por exemplo? O que percebo é que a preocupação com o poder é maior do que com as soluções práticas. Vou tirar um tempo para estudar mais e poder fazer mais críticas construtivas. Agora, vejo a sociedade tentando se organizar para minimizar o impacto para as massas desfavorecidas. Acho que todos os aprendizados de comportamentos sociais que a pandemia está trazendo vão apontar para uma sociedade que vai ter que mudar. Teremos que nos organizar mais”

*Por Brunna Condini

Apesar de uma carreira de 20 anos, no teatro, cinema e TV, Babu Santana tem experimentado uma visibilidade inédita desde que saiu do BBB20 há pouco mais de um mês. Um dos termômetros, é que o ator entrou no confinamento com 23 mil seguidores no Instagram, e hoje já contabiliza 7 milhões. A vida mudou e muito. Em papo exclusivo ao site HT, através de uma plataforma de videoconferência, direto do seu novo lar, na Ilha da Gigóia, na Barra da Tijuca, Babu falou da vida em novo confinamento, por conta da quarentena, das “expectativas versus realidade”, dos trabalhos, do novo canal e dos planos, que só se multiplicam.

Depois de 90 dias dentro do Big Brother Brasil 20, o carioca saiu cheio de expectativas, e nem de longe, imaginou o impacto que a pandemia do novo Coronavírus estava tendo no país. “Já aconteceu tanta coisa desde que sai e só passou um mês. Foi meio complicado me adaptar à essa nova rotina. Saí sem saber o tamanho do perigo desse vírus, então, estava animado para abraçar as pessoas, celebrar os encontros, fazer shows”, recorda. “Mas é isso, temos que fazer nossa parte, manter o isolamento, higienizar tudo, é muito sério. Agora estou conseguindo organizar mais as coisas. Aluguei uma casa grande, parece uma pousada, tem três andares. Estamos em cinco pessoas: minha mulher (Tatiane Melo), amigos que trabalham comigo, e, eventualmente, meus filhos mais velhos. Esse espaço é para podermos dar conta da demanda profissional, gravar o canal, os vídeos, montar a estrutura. Estamos trabalhando em ritmo de produtora mesmo. Demos uma profissionalizada”.

“Já aconteceu tanta coisa desde que saí e só passou um mês. Foi meio complicado me adaptar à essa nova rotina. Sai sem saber o tamanho do perigo desse vírus” (Foto: Christoffer Pixinine)

A satisfação com o momento, apesar do mundo estar muito diferente do que imaginou, é evidente no rosto do ator. Além do próprio canal, no YouTube, dos planos com a banda Babu Santana e Os Cabeças de Água Viva, ao sair do reality ele foi contratado pela TV Globo. “O contrato é como ator. Mas tem esse impasse de quando as produções vão ser retomadas por conta da pandemia. Não tem nada certo ainda, mas tem algumas propostas, mas tudo só será retomado quando tiver segurança”, pontua. “O plano A é trabalhar como ator na emissora, mas vamos ver. Quem me conhece, sabe que eu “jogo nas onze”. Temos que aguardar para ver como tudo será conduzido, depende de tudo que está acontecendo externamente também”.

 Carreira sólida, mais visibilidade e mais tranquilidade financeira

Aos 40 anos, a carreira de Alexandre da Silva Santana, o Babu Santana, tem no currículo 40 filmes, e participou de mais de 30 produções em TV, incluindo novelas e séries. Criado no Vidigal, comunidade que fica na Zona Sul do Rio de Janeiro, ele ficou mais conhecido do grande público guando protagonizou o filme “Tim Maia”, em 2014. Mas o fato é, que antes de entrar no BBB, o ator já tinha construído uma carreira sólida. “Mas sem dúvida, o programa foi uma lente de aumento no meu trabalho. Saí de lá cheio de dívidas, não ganhei R$ 1,5 milhão, mas valeu demais. Agora tenho que fazer dinheiro trabalhando muito. Tem o canal, tem as publicidades, que antes não conseguia fazer muito e agora estão pintando. Tem o contrato com Globo, a banda. E também estou com projetos de autoria minha, quero fazer um show em cada favela, nas maiores comunidades de cada capital do país, assim que passar a necessidade de distanciamento, claro. Também quero fazer shows e novela, estou com muita saudade”, compartilha o “paizão”.

“O programa foi uma lente de aumento no meu trabalho. Sai de lá cheio de dívidas, não ganhei R$ 1,5 milhão, mas valeu demais. Agora tenho que fazer dinheiro trabalhando muito” (Foto: Christoffer Pixinine)

Ele começa a colher os frutos da jornada dentro do reality e diz que a diversão que encontrou lá dentro não fazia parte da sua vida há muito tempo. “Também já estou vivendo financeiramente melhor. Estou começando a ter agora algo que nunca pude ter, que é uma organização financeira, minha mulher coloca as coisas em planilhas”, conta. “Antes do BBB, eu estava sofrendo, e nem falo só de dinheiro, não. Faltava trabalho. A mente vazia, só pensa em coisas ruins. Me sinto mais forte hoje em dia, e isso é melhor que qualquer milhão. Também tenho trabalhos escritos com os parceiros do Nós do Morro, roteiros de séries e um filme, estou pensando em produzir. Estou com muita energia para o que vem por aí. Daqui a pouco vou poder falar melhor”.

E na música, Babu também vibra com a aguardada parceria com o produtor musical Papatinho – conhecido por ter produzido “Onda Diferente”, colaboração de Ludmilla e Anitta. “Vou lançar o single “Morrão” no dia 12 de junho, Dia dos Namorados. Estou ansioso. É uma colaboração minha com o rapper L7NNON”.

Porta voz

O ator está feliz com a experiência recente no canal e acha que, além de entretenimento, o veículo pode ajudá-lo a ampliar diálogos importantes. “Eu era uma negação com tecnologias, estou aprendendo a mexer no YouTube. No início, minha ideia era fazer algo mais musical, mas com a Covid-19, adaptamos”, diz. “Depois da primeira live, que chamei de “Quintal do Paizão”, em que recebi gente virtualmente, teve música, cozinhei, quero também aproveitar o espaço para expandir diálogos que comecei a dividir com o público lá no BBB. Quero falar cada vez mais da pretitude no Brasil, dar visibilidade para artistas maravilhosos, quero contribuir com assuntos que foram levantados e estão na pauta da sociedade. Questões raciais, sociais, políticas, mas não vai ter nada partidário. Quero falar sobre a Covid-19 nas favelas. Quero colocar pessoas no canal para me informar, para informar outras pessoas”.

“Quero falar cada vez mais da pretitude no Brasil, dar visibilidade para artistas maravilhosos, quero contribuir com assuntos que foram levantados e estão na pauta da sociedade” (Foto: Christoffer Pixinine)

Ele fala com entusiasmo do carinho que tem recebido. “As pessoas viram exatamente quem eu sou, o que penso, e se identificaram. Isso é incrível. O programa me projetou para elas, isso é uma responsabilidade também. E a torcida do meu time, do Flamengo? Fizeram essa bandeira para mim (mostra na parede da casa). Essa torcida sempre me emocionou. E o Gabi Gol, gente, fazendo campanha para eu ficar na casa? Eu é que sou fã dele”, diz, contabilizando os afetos ganhos. “Mas fiquei ainda mais surpreso, com o público infantil, que me adora. Isso me dá muita alegria. Meus amigos ficam pedindo para eu enviar vídeos para as crianças. E eu achava que era meio bronco (risos). Acho que elas gostam, e tem a questão sonora do meu nome, Babu, curtem falar também”.

Por um mundo melhor

Pai de Laura, 16 anos, Carlinhos, 14, e de Pinah, 4, o ator se preocupa, não só com as consequências da pandemia, mas também com o momento político, econômico e social que o país atravessa. “Poderia fazer as críticas de praxe, mas prefiro propor reflexão. Nosso país não está gerenciado como deveria, e além disso, estamos vivendo um caso de alta complexidade. Falta conhecimento por parte de governantes, e também da população”, analisa. “Somos uma sociedade relativamente nova, com um desequilíbrio social muito grande. E, agora, com o esse vírus, aumentou. Como se faz distanciamento social em uma casa de dois cômodos, na qual moram nove pessoas, por exemplo? O que percebo, é que a preocupação com o poder é maior do que com as soluções práticas. Vou tirar um tempo para estudar mais e poder fazer mais críticas construtivas. Agora, vejo a sociedade tentando se organizar para minimizar o impacto para as massas desfavorecidas. Acho que todos os aprendizados de comportamentos sociais que a pandemia está trazendo vão apontar para uma sociedade que vai ter que mudar. Teremos que nos organizar mais”.

“Somos uma sociedade relativamente nova, com um desequilíbrio social muito grande. E agora, com o esse vírus, aumentou” (Foto: Christoffer Pixinine)

Dentro e fora do reality, Babu sempre fez questão de pautar seus discursos pela temática social e dividir sua história, de quem nunca se abateu pelo racismo, e sempre procurou combatê-lo com militância, informação, trabalho e resistência. Você fala com firmeza de algumas bandeiras, pensa em se candidatar algum dia para um cargo público? “Neste momento não aceitaria nada fora do sonho artístico. É a primeira vez em 20 anos que estou sendo cotado para vários trabalhos. Quero cantar, atuar, dirigir. Gerenciar esse conhecimento, e também voltar a estudar”, afirma. “Quem sabe com uns 50, 55 anos, posso pensar em um cargo público com o objetivo da canalização deste conhecimento para fazer diferença. Quero poder ajudar a resolver problemas. Hoje fico mesmo na conscientização social das pessoas que estão ao meu lado”, conclui.