“Estou fazendo terapia pelo confinamento há 5 meses: três pelo BBB e dois pelo Covid-19”, conta Gizelly Bicalho


A advogada e ex-BBB, fala dos projetos sociais, entre eles, a doação de 2.000 mil coletores menstruais para detentas do Espírito Santo. E mais: tem projeto de doação de livros, rifas beneficentes, e o “Sentinela Delas”, criado por Gizelly e outra ex-BBB, a médica Marcela McGowan, junto com a advogada Izabella Borges. E ainda revela: “Não estou namorando e nem conhecendo ninguém. Minha vida está voltada exclusivamente para trabalho, minhas ações sociais e minha família. Quando sai da casa, minha avó que me criou, descobriu um câncer. Então, estou me dedicando a tudo isso”

*Por Brunna Condini

Desde o confinamento no BBB20, Gizelly Bicalho vem mostrando que não estava ali apenas a passeio, e provocou debates na casa sobre temas importantes como feminismo, sororidade e também uma realidade que ela conhece de perto, o sistema carcerário brasileiro, já que é advogada criminalista. Ela saiu da casa “mais vigiada do Brasil” cheia de planos e de gás.

Mas, na reta final do BBB veio a pandemia. E mesmo em novo isolamento, desta vez, obrigatório por conta do novo Coronavírus, a capixaba tem trabalhado sem parar, de forma remota, colhendo os frutos da visibilidade do reality. No entanto, há alguns dias precisou desacelerar, devido a um problema decorrente da extração de três sisos. Ainda assim, concedeu essa entrevista exclusiva ao site, falando das mudanças na rotina, dos projetos sociais que tem desenvolvido, e da seletividade criminal alimentada no país. Como está a vida? “Desde que sai do programa venho trabalhando muito, fazendo publicidade por meio das minhas redes sociais, hoje tenho 4,5 milhões de seguidores, e também em vários projetos”.

“Tenho trabalhado muito fazendo publicidade por meio das minhas redes sociais, hoje tenho 4,5 milhões de seguidores, e também em novos projetos” (Reprodução Instagram)

E, falando nos projetos, esse é um dos assuntos que Gizelly mais gosta de divulgar. Como o de doação de 2.000 mil coletores menstruais para detentas do Espírito Santo: “Eu já tinha planejado realizar alguns projetos dentro da casa, e eles estão sendo concretizados aqui fora. Nesta segunda-feira, anunciei que vou doar esses coletores, em parceria com a empresa Inciclo. Quando voltei para o meu estado, que é o que proporcionalmente mais prende no Brasil, tem a maior população carcerária, comecei a me questionar. Militar é muito fácil, mas pensei na ação, e neste projeto com as detentas. Resolvi levar essa ideia para o Secretário de Estado da Justiça, Luiz Carlos de Carvalho Cruz e ele apreciou. Os coletores são ecologicamente sustentáveis, duram três anos, são mais higiênicos, porque o lixo da cela é precário e fica aberto. O sangue fica 24 horas ali até a limpeza do dia seguinte. Além disso, geraria economia para o estado, fora o conforto. O Governo do Estado faz um aporte de cerca de R$ 45 mil por ano com absorventes. Então, seria uma economia, fora o impacto significativo também com o meio ambiente. Se todas as presas se adaptarem e quiserem usar o coletor, a redução de gastos chegará até 135 mil em três anos que é o prazo de durabilidade. Levarei os coletores pessoalmente em todos os presídios”, anuncia. Gizelly diz que única exigência foi o meio de esterilização: “E chegamos ao denominador comum, que esses coletores serão esterilizados em fornos de microondas específicos para isso”.

Gizelly ao lado do Secretário de Estado da Justiça do estado do Espírito Santo, Luiz Carlos de Carvalho Cruz (Divulgação)

Solidariedade

Gigi Furacão, como foi apelidada no BBB, se anima quando fala de projetos que podem transformar de alguma forma a vida das pessoas. “Hoje temos também o Projeto Sentinela Delas, criado por mim, pela Marcela McGowan e pela advogada criminal Izabella Borges. A ideia é levar informações sobre violência doméstica, sobre os ciclos da violência contra a mulher, empoderamento feminino, saúde, autoconhecimento, querendo dar suporte à mulher inserida no contexto de violência”, detalha. “Também haverá mini-cursos pelo Instagram para levar conteúdo jurídico, informações sobre autocuidado, feminismo, além de formas de geração de renda extra para fortalecer a mulher, tornando-a mais independente para que consiga sair do ciclo de violência. Além de dicas e conteúdo de saúde”, conta, empolgada.

“O Projeto Sentinela Delas, criado por mim, pela Marcela McGowan e pela advogada criminal Izabella Borges. A ideia é levar informações sobre violência doméstica” (Divulgação)

Aliás, não é só Gizelly que se anima em poder ajudar o próximo. Ela tem fãs que criaram o grupo Furacões Solidários, para ajudar instituições pelo Brasil. “O Grupo é formado pela reunião de 12 fãs – Ana Vitória, Bruna, Rachel, Joseanne, Bruna Souza, Millena, Anna Lygia, Joyce, Clara, Jéssica, Daniela, Stefany – e nós arrecadamos doações através de rifas,do  Pic Pay, para contribuir com ações dos lugares escolhidos. Já doamos 12 mil reais para a Instituição Moacyr Alves, que fica em Manaus, Amazonas. E Acabamos de conseguir nossa meta de 10 mil, para doar para a GOLD (Grupo Liberdade e Dignidade). A rifa deste mês foi uma camisa minha usada, com meu cheirinho. Mas sempre digo, que quem não puder doar, que compartilhe, para chegar ao maior número de pessoas”.

A advogada fala rápido e age veloz também. Afinal, ela sabe que quem está vulnerável, tem pressa. E nem sempre, só de alimentos e outros artigos de necessidades básicas. Pensando nisso, lançou uma campanha de doação de livros, que serão enviados para as detentas de seu estado. “A leitura é uma forma destas mulheres saírem daquela realidade do cárcere. Elas podem ir para o mundo da imaginação, melhora a leitura, a escrita. E dentro dos presídios elas leem com muita velocidade. São sedentas por leitura, pedem novos livros. Acho a leitura fundamental na vida do ser humano. Imagina alguém que está preso há anos, com acesso restrito ou com poucas opções?”. E salienta: “Existem presídios que fazem a remissão pela leitura e isso é muito importante no processo de ressocialização. Já havia feito esse projeto ano passado, quando tinha 20 mil seguidores. Agora, com a visibilidade, isso pode se ampliar. Vamos enviar esses livros para os presídios femininos aqui no estado, que são três”.

“Vamos enviar livros que arrecadarmos para os três presídios do Espírito Santo” (Reprodução Instagram)

Realidade no cárcere

As prisões brasileiras apresentam a quarta maior população carcerária feminina do mundo, com cerca de 42 mil mulheres presas, segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional (INFOPEN, 2018). Pode dar exemplos de como a população feminina é mais vulnerável ao desamparo deste sistema? “Bom, digamos que constroem um novo presídio. Eles encaminham os homens para o novo e as mulheres ficam no velho. Isso é um exemplo”, diz. “Muitas destas mulheres, cometeram o delito para ajudar o marido, o irmão, o filho. Ou assumiram para que eles se livrassem, mas quando são presas, muitas delas são abandonadas. Tanto, que para você ter uma ideia, em um universo de 800 presas, cerca de 15 recebem visita íntima. E, às vezes, a própria família as rejeita também. Além disso, a mulher também engravida, e de acordo com a nossa legislação, com seis meses de nascida, ela tem que entregar a criança. Então, passa muitas vezes toda a gestação dentro do presídio, tem esse filho, fica com ele no berçário e no sexto mês, tem o que chamo de “castração”, o filho é arrancado da mãe e entregue para a família, e ela continua cumprindo sua pena”.

Gizelly completa, abordando um tema, que mencionou em rede nacional, a seletividade penal: “Sou criminalista há quatro anos, essa é minha realidade. Já fiz parte da comissão de direitos Humanos da OAB do estado do Espírito Santo, da Comissão de Política Penitenciária e Carcerária também, participei de inspeções, relatórios. E eu sei a realidade do meu sistema, do meu sistema. Meu estado hoje é o que proporcionalmente mais prende no Brasil, e esse público, infelizmente, tem cor e classe social. Muitos cometem crimes, mas para serem punidos, alguns são escolhidos. Nosso país é o terceiro que mais prende no mundo, não somos o país da impunidade. Mas o estado quer dar uma resposta para a sociedade e escolhe o público mais vulnerável para ser punido”.

Nova rotina

Ela voltou também a advogar esta semana. “Os prazos estavam suspensos durante a quarentena. Tenho conciliado com as publicidades que tenho feito, os projetos e a reforma que estou fazendo no apartamento que aluguei”, revela. E comenta sobre o mal estar com um procedimento, que a fez desacelerar. “Tirei três sisos. Foi muito complicada a retirada de um deles, acabei tendo esse trismo e parestesia na língua. Não voltou 100%, mas já melhorou bastante, consegui voltar a mastigar desde o último sábado. A boca está abrindo um pouco mais. Foi um músculo que travou, por isso eu não consigo abrir a boca”, explica. “E também tem o estresse nisso tudo, tive que desmarcar toda a minha agenda de lives por orientação do meu fisioterapeuta, porque isso pode fazer o tratamento regredir. Não tenho previsão de alta até melhorar com a fisioterapia”.

A capixaba no apartamento que alugou no Espírito Santo e que está reformando no momento (Reprodução Instagram)

Como tem lidado com os sentimentos deste momento de quarentena? “Voltei para minha terapia holística. Também estou fazendo terapia com um psicólogo comportamental, e tendo atendimento com um psiquiatra, afinal foi uma mudança radical na minha vida. Tanto deixar de ser anônima para ser uma pessoa conhecida, quanto por conta desta quarentena. Sai de um confinamento e entrei em outro. O primeiro, voluntário, e este é obrigatório. Estou confinada há 5 meses: três pelo BBB e dois pelo Covid-19”.

E amor, pintou? “Não estou namorando e nem conhecendo ninguém. Minha vida está voltada exclusivamente para trabalho, minhas ações sociais e minha família. Quando sai da casa, minha avó que me criou, descobriu um câncer. Então, estou me dedicando a tudo isso”.