Emicida e coletividade: ‘Se déssemos mais prioridade ao ‘nós’ do que ao ‘eu’, estaríamos em lugar diferente’


Em live, o rapper reflete sobre o poder da criatividade inclusiva e coletiva. A conversa, guiada por Debora Nitta, executiva do Facebook para a América Latina, é uma extensão do quinto episódio do projeto ‘Facebook LATAM Season’, intitulado ‘Criatividade Coletiva, Já’, apresentado pelo músico. Emicida faz um contraponto e diz que, para uma empresa ser inclusiva, é preciso cobrar quem está na política. Conhecido por sempre usar a palavra ‘nós’ em suas músicas, e não teria pessoa melhor para falar de coletividade. “Eu prefiro o ‘nós’ do que o ‘eu’. Não consigo olhar para a minha própria história e pensar que eu fiz tudo sozinho”

*Com Bell Magalhães

“A criatividade só funciona quando ela te encontra no meio do caminho”. Foi assim que o rapper Leandro Roque de Oliveira, o Emicida iniciou a Live Talk com Debora Nitta, diretora de Marketing de Negócios do Facebook para a América Latina. O músico apresentou o quinto episódio do projeto ‘Facebook LATAM Season’, intitulado ‘Criatividade Coletiva, Já’. A série é um registro documental produzido na América Latina pela empresa americana e narra o poder transformador da diversidade e da inclusão nos negócios. 

Na live, o rapper disse que a criatividade é algo que precisa ser trabalhado constantemente e compartilhou algumas formas que usa para se manter ativo no campo das ideias: “Sempre estou cercado por livros, mas também me cerco de muita gente. Mesmo nesse momento de pandemia e isolamento, converso com pessoas de lugares diferentes, porque gosto de ter acesso a várias visões de mundo. Eu aprendo um pouco de cada idioma, porque, cada vez em que você aprende um idioma novo, você é colocado de frente a uma visão de mundo diferente da sua”, conta.

Emicida conversou em live com Debora Nitta, executiva do Facebook para a América Latina, para falar sobre criatividade coletiva (Reprodução Instagram)

Emicida conversou em live com Debora Nitta, executiva do Facebook para a América Latina, para falar sobre criatividade coletiva (Reprodução Instagram)

Emicida afirmou que estar em contato com culturas e pontos de vista é uma das formas de quebrarmos um ideal que coloca a experiência do outro como algo menor ou menos importante e nos torna pouco inclusivos: “O maior exercício que podemos fazer é estar em contato com o mundo. Nós somos orientados pelo mundo a ver beleza somente em algo que se parece com a gente. É uma concepção bem narcisista, mas a experiência humana é muito maior que isso. Então, pratico esse olhar bem antropofágico, de estar interessado no outro para ter diferentes perspectivas e gerar questionamento”. 

"Nós somos orientados pelo mundo a ver beleza somente em algo que se parece com a gente" (Reprodução Instagram)

“Nós somos orientados pelo mundo a ver beleza somente em algo que se parece com a gente” (Reprodução Instagram)

O compositor paulista é dono de uma horta urbana em sua casa na qual ‘planta o que come’, algo que resolveu assimilar um hábito de seu ídolo, Nelson Mandela, após ler a biografia do ex-presidente sul-africano. Quando perguntado se existiam semelhanças com o plantio e o processo criativo, Emicida não tem dúvidas quanto à relação: “A horta me ensina sobre tempo e colaboração, e neste momento precisamos refletir muito sobre o tempo. Quando você coloca uma semente no chão e rega, a natureza diz que é um processo demorado. Faço com as minhas filhas a colheita para que elas vejam que a maçã não nasce no mercado. Quero que elas tenham a percepção do tempo, da paciência e de como tudo funciona na natureza”.

"A horta me ensina sobre tempo e colaboração, e neste momento precisamos refletir muito sobre o tempo" (Reprodução Instagram)

“A horta me ensina sobre tempo e colaboração, e neste momento precisamos refletir muito sobre o tempo” (Reprodução Instagram)

Além da música, o artista é dono da empresa Laboratório Fantasma, fundada com o irmão, Evandro Fióti, em 2009, que se define como um coletivo de amantes de arte urbana e fãs de hip hop’. A empresa é um hub de entretenimento com editora, gravadora, produtora de eventos e marca de roupas, acessórios e cosméticos. E o que começou como uma pequeno negócio que vendia camisetas de produção artesanal de mão em mão, agora firma conta com uma loja virtual que atende vários estados e já fez parceria com outros artistas como os rappers Criolo, Ogi, a banda Mão de Oito e o cantor Caetano Veloso. O ponto principal para o empresário é fazer uma escolha criteriosa de quais as empresas e marcas com propostas de parceria. “Somos muito criteriosos, muito chatos. Fazemos uma escolha muito seletiva de empresas que representamos na Laboratório Fantasma. A maior conquista é a construção de um legado e nós queremos fazer um mapa que possa se estender para várias outras áreas, não só na música”, conta. 

Emicida sobre a Laboratório Fantasma: "A maior conquista da empresa é a construção de um legado" (Reprodução Instagram)

Emicida sobre a Laboratório Fantasma: “A maior conquista da empresa é a construção de um legado” (Reprodução Instagram)

Quando perguntado sobre o que faltava para que empresas conseguissem trazer a inclusão e a diversidade para os negócios, Emicida foi claro em dizer que, antes, os cidadãos precisam se mobilizar para mudar a estrutura da sociedade: “O enfrentamento das desigualdades não pode ser a responsabilidade de um único setor da sociedade, mas de toda ela. Existe uma grande pressão da sociedade civil sobre as empresas, mas ela tem que se estender ao governo também”, disse. Além disso, o rapper disse que o processo de modificação de diretrizes de algumas companhias pode ser demorado e que devemos acompanhar aos poucos os esforços de inclusão das corporações: “Fico feliz que existem várias empresas que levantam a bandeira e se mostram dispostas a construir uma outra realidade de mundo. Internamente, para conseguir fazer uma mudança na estrutura para que ela vire um procedimento dentro de uma organização, é muito difícil. Às vezes, são anos de conversa para ter essa mudança de comportamento que vai alcançar toda uma organização”, ponderou, no que foi endossado por Debora Nitta. 

"O enfrentamento das desigualdades não pode ser a responsabilidade de um único setor da sociedade, mas de toda ela" (Reprodução Instagram)

“O enfrentamento das desigualdades não pode ser a responsabilidade de um único setor da sociedade, mas de toda ela” (Reprodução Instagram)

‘A criatividade nasce de uma inteligência coletiva, e quanto mais diversa, mais rica, mais efetiva e mais construtiva’. É uma frase de Emicida que resume bem o que o músico acredita. Ele é conhecido por sempre usar a palavra ‘nós’ em suas músicas, e não teria pessoa melhor para falar de coletividade. “Eu prefiro o ‘nós’ do que o ‘eu’. Não consigo olhar para a minha própria história e pensar que eu fiz tudo sozinho”, disse, acrescentando: “Para o barco navegar, ele precisa do vento. Para eu estar aqui, muitas pessoas precisaram trabalhar e colocar o suor e o sonho delas em jogo para fazer isso acontecer”. Ainda sobre a importância de olhar, ouvir e perceber o outro, o cantor finaliza: “Se déssemos mais prioridade ao ‘nós’ do que ao ‘eu’, estaríamos em um lugar completamente diferente do que estamos hoje”.

“Eu prefiro o ‘nós’ do que o ‘eu’. Não consigo olhar para a minha própria história e pensar que eu fiz tudo sozinho” (Reprodução Instagram)

“Eu prefiro o ‘nós’ do que o ‘eu’. Não consigo olhar para a minha própria história e pensar que eu fiz tudo sozinho” (Reprodução Instagram)