Em sua segunda edição, CriptoFunk lança financiamento colaborativo para contribuir em sua realização


Evento tem como objetivo discutir as questões relacionadas à privacidade na internet, direitos digitais e funk na Favela da Maré

*Por Domênica Soares

Criptofunk é um evento gratuito que reúne oficinas e debates sobre cuidados físicos, digitais e internet. Além disso, acontece também uma festa para comemorar todos as trocas de conhecimento oferecidas pelo encontro. Neste ano, sua segunda edição está prevista para o dia 14 de setembro, na Favela da Maré, no Rio, e conta com um financiamento colaborativo para contribuir na realização do evento. Para ajudar, basta acessar  benfeitoria.com/criptofunk e doar quantias a partir de R$ 15,00. Segundo Gilberto Vieira, co-fundador do Data_Labe, laboratório de dados e narrativas periféricas baseado na Favela da Maré, a internet como ferramenta e pensamento é um bem comum e, portanto, deve ser do conhecimento de todos, por isso, é fundamental financiar coletivamente a CriptoFunk, porque é um nobre ato de democratizar os debates sobre os usos mais saudáveis da rede e ainda fortalecer coletivos de comunicação de favelas. “Os maiores objetivos do CriptoFunk são: Democratizar debates importantes sobre os usos da internet, como segurança digital, autocuidado, tecnologias livres e música, e diversificar os corpos que protagonizam esses debates. A CriptoFunk é realizada na Favela da Maré e preza pela diversidade de gênero, raça, território e sexualidade”.

Evento promove discussão sobre tecnologia (Foto: data_labe/divulgação)

A iniciativa dessa produção é inspirada no movimento global das Criptofestas – Movimento grassroots mundial que tem o objetivo de difundir práticas de segurança e criptografia tais como Tor, festa de assinaturas de chaves, criptografia de discos e redes virtuais privadas para o público geral -. Com o lema “Criptografe dados, descriptografe o corpo”, a CriptoFunk tem o intuito de promover a autonomia e liberdade das pessoas frente à influência das tecnologias em suas vidas. Em um mundo onde a internet está ganhando cada vez mais espaço e centralidade no cotidiano de grande parte da população, as discussões sobre privacidade na internet, algoritmos, direitos humanos e cuidados integrais (físicos, digitais e psicossociais) se tornam urgentes e necessários. De acordo com Gilberto Vieira, é importante levar atividades como essas para as favelas, porque são lugares de produção cultural efervescentes. “Uma das intenções da CriptoFunk é ampliar o repertório de usos da internet para produtores culturais, jornalistas, artistas, ativistas e moradores de favelas para que eles e elas possam conquistar mais autonomia profissional, política e cultural”.

Nesta segunda edição, evento conta com financiamento coletivo (Foto: data_labe/divulgação)

Gilberto adianta que nesta edição uma das novidades é a sonoridade que se torna mais presente, sendo o funk, o protagonista. Para compor esse cenário, terão DJs, MCs e ativistas que acreditam no funk como símbolo cultural e de lutas por direitos. Além disso, as últimas notícias envolvendo vazamentos de aplicativos de mensagens também vão ganhar espaço especial no evento, que ainda contará com uma chamada pública para atividades. “O público pode esperar por oficinas e debates mais focados nos cuidados integrais (do corpo físico e mental), tudo isso passando por dicas de como utilizar aplicativos e gadgets de forma mais segura. Além de palestras e bate papos, estamos esperando exibição de filmes e muito funk. O final do evento vai contar com um baile bem animado”. Visto que a discussão sobre tecnologia está cada vez mais em voga, Gilberto conta que levar esse tema para a sociedade é altamente necessário. Segundo ele, tecnologias são muito mais do que ferramentas, elas têm estabelecido modos de vida, comportamento e cultura, por isso é fundamental que todas as pessoas possam ter autonomia e conhecimento no uso de aplicativos, celulares, computadores, redes sociais, entre outras. “Esse conhecimento parece encastelado nas corporações e nas universidades. É fundamental democratizarmos isso para que as pessoas possam viver de forma mais livre”, pontua.  

Evento fala sobre privacidade na internet, direitos digitais e funk (Foto: data_labe/divulgação)

Em entrevista ao site Heloisa Tolipan, Gilberto ainda fala um pouco sobre o cenário de invisibilidade que muitos moradores da favela ainda vivem. De acordo com ele, o maior problema que envolve essa questão é o racismo da sociedade brasileira que exclui esses sujeitos dos espaços de poder e criminaliza com frequência sua existência. Além disso, ainda há o problema da representação dessas pessoas nos espaços de mídia que seguem estigmatizando suas práticas e territórios. É fato que tudo isso precisa ser melhorado, e Gilberto comenta que “enquanto sociedade nós devemos ser mais críticos e conscientes de nossos privilégios e de nossa história. Reconhecer a potência que vem das favelas e periferias é aceitar que novos lugares sociais são necessários. É urgente promover maior diversidade nas universidades, nos espaços de decisão política, nas empresas de tecnologia, nas redações dos jornais e revistas, no cinema, nas artes visuais. Assim poderemos ser capazes de construir uma sociedade menos desigual onde todos tenham seus direitos garantidos como cidadãos”. Gilberto divide que seu maior sonho é se manter vivo para habitar um Brasil que seja mais democrático, onde todas as pessoas tenham seus direitos civis garantidos: “Eu sonho com um Brasil onde os preconceitos de raça e gênero não existam”, e frisa que ainda busca atingir muitas conquistas em sua jornada, e que uma delas é trabalhar para a diminuição das desigualdades através de ideias inovadoras e coletivas, como a CriptoFunk”.