Em bate-papo exclusivo com o HT, Dani Black é enfático: “Tô com Gil, a canção não está morta!”


O artista faz show na Miranda hoje à noite e lança o EP “Dani Black ao vivo”, com participação de Zélia Duncan

* Por Junior de Paula

Filho de Tetê Espíndola, Dani Black quer mostrar – e já mostrou – que é muito mais do que isso. Queridinho de muitos intérpretes da música brasileira, como Ney Matogrosso e Maria Gadú, que já gravaram suas canções, e Milton Nascimento e Djavan, que já o citaram como uma das maiores promessas reais da nova MPB, Dani quer dar um passo adiante e consolidar sua posição como garoto-pródigo. Nesta terça-feira, portanto, é uma boa oportunidade dos cariocas conferirem seu trabalho ao vivo, a cores e em alto e bom som, já que ele é a atração da próxima edição do projeto PatuÁ, na Miranda, Rio. Por lá, ele apresenta as canções de seu mais recente EP, “Dani Black Ao Vivo”, no qual ele coloca todo o seu vigor em canções suas de sucesso e outras inéditas. E mais: com direito a participação de Zélia Duncan. Antes, Dani conseguiu um tempinho entre os ensaios para um papo com o HT, no qual ele revela os segredos por trás de seu nome, seus sonhos, sua visão de dentro do novo cenário da música brasileira e outras tantas coisas. É só seguir com a gente:

Este slideshow necessita de JavaScript.

HT: Primeiro, do começo: como surgiu seu nome artístico Dani Black?

DB: É o meu nome mesmo. Daniel Espindola Black. O engraçado é que por causa dele as pessoas que só me conhecem por som ou por nome acham que sou um negão de dois metros de altura. Ai quando vão ao show se deparam com esse branquelo que sou eu. Adoro isso. Essa surpresa proporcionada pelo meu sobrenome.

HT: De que forma a música entrou na sua vida? Qual sua primeira lembrança da ideia de que queria fazer isso para viver?

DB: A música entrou na minha vida quando entrei a primeira vez na minha casa. Com alguns dias de vida, minha casa é musica e minha família é musica. Sou filho de músicos. Cresci com ela. Quando eu vi eu ja era musica também. Já a primeira lembrança é de encostar a cabeça nos violões e deixar eles ressoarem no meu corpo. Eu era menor que o instrumento.

HT: O mercado musical se pulverizou. O que temos de bom e de ruim nessa nova realidade da indústria musical?

DB: A grande qualidade é a facilidade e a democratização da ação ouvir musica acontecer na vida das pessoas. Hoje você segue quem quer nas redes sociais. Recebe as novidades dos trabalhos de quem te interessa. Consome a musica que te alimenta.

Pra mim, como novo artista que vive ativamente esse novo mercado, acho incrível que as pessoas possam acessar meu trabalho com essa facilidade. O EP “Dani Black ao vivo”, que lancei agora somente na internet, é prova dessa vantagem. Em poucos meses milhares de downloads gratuitos foram feitos espalhando o som pelo país e mundo.

As desvantagem é que acho que isso aumentou tanto a quantidade de conteúdo, independente de sua qualidade. E ficou difícil se aprofundar em um só. Eu que sou fã de ouvir discos inteiros e que faço meus trabalhos pensando dessa forma, o trabalho todo como um discurso só, acho que vale a pena lutar pra melhorar a profundidade  dessa audição contemporânea.

HT: Como é seu método de composição? Caótico ou organizado? 

DB: Caótico, organizado e de todo o jeito como se puder caracterizar. A composição vem pra mim no meio da vida. No dia a dia. Vem de todo jeito. Andando na rua e cantando à capela, passando som pra um show, em casa com meu violão, assistindo um filme, ou mesmo parando e fazendo a canção que fagulhou momentos antes. Estou à disposição das fagulhas. Sempre.

HT: Chico já disse que a canção está morta, Gil disse que ainda não, mas que pode morrer. Como você vê a canção na contemporaneidade?

DB: Concordo mais com Gil. Acho que a canção se apóia nas necessidades mais essenciais da alma humana. É um modo de contar estórias, de se entender, de compartilhar experiências através da musica. É um jeito de falar das relações entre as pessoas e das pessoas com o universo. E isso interessa pro ser humano. O alimenta num lugar bem específico.

Pertenço a uma geração onde se tem feito muita canção boa. E elas tem tido espaço e os ouvidos do público atento e acompanhante dos trabalhos. A canção esta aí. É só saber onde procurá-la.

A maneira de ouvir música pode mudar. O modo de fazer e tratar a canção pode mudar. Mas a canção com o que realmente a caracteriza, ao meu ver, é necessária e tem espaço no mundo moderno.
HT: Que pergunta você ainda não respondeu que adoraria que fosse lhe feita?

DB: A primeira pergunta da entrevista é uma pergunta que me fazem muito no dia a dia, mas nunca haviam feito numa entrevista. Gostei de tirar essa excêntrica dúvida.

HT: Como vai ser o show da Miranda? O que teremos no setlist? Como vai ser o dueto com Zelia e por que Zélia?

DB: O show do Miranda será o espetáculo do meu novo EP “Dani Black ao vivo” que lancei para download gratuito no meu site. É o lançamento desse trabalho. Se trata de um registro ao vivo da tour do meu primeiro álbum. Registro esse que ficou com uma ótima qualidade de gravação e muito emocionante por causa da participação do público e da espontaneidade dos takes . Então resolvi mixar, masterizar e lançar desse jeito especial. No repertório do EP tem as canções do primeiro disco e coisas inéditas. É como se fosse uma ponte entre o primeiro disco e próximo de inéditas que vem vindo ai. Descrever o EP é a melhor maneira de descrever esse show. Com uma diferença: no show teremos Zélia. Porque é minha amiga, uma artista que que admiro demais e que tem estado cada dia mais presente na minha vida. Sinto que ela vibra muito por mim e meu trabalho e isso nos mantém perto. Faremos uma parceria nossa inédita.

* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura