“Educação é o meio pelo qual você pode matar a ideologia do extremismo e da ignorância”, diz Malala Yousafzai


A ativista paquistanesa, mais jovem ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, foi a grande estrela entre os palestrantes da quarta edição do Bilingual Education Summit, evento online realizado pela International School. “Espero que qualquer país, que o Brasil também, tenha um sistema educacional que estimule e encoraje as crianças a serem críticas. Com a educação das mentes nós damos poder, aprendemos o que significa ter um mundo mais igual”, vislumbra

* Por Carlos Lima Costa

Uma heroína, decidiu lutar com a força de suas palavras e ser a voz das mulheres. Deste jeito categórico, Ulisses Cardinot, fundador e CEO da International School, anunciou o momento mais aguardado da quarta edição do Bilingual Education Summit (Best): A palestra O Poder da Educação, com a ativista paquistanesa Malala Yousafzai, pessoa mais jovem a ganhar o Prêmio Nobel da Paz, em 2014, aos 17 anos, justamente por lutar pelos direitos humanos e da educação das mulheres.

“Educação é o meio pelo qual você pode matar a ideologia do extremismo, da ignorância. Com a educação das mentes nós damos poder, aprendemos o que significa ter um mundo mais igual. Espero que qualquer país, que o Brasil também, tenha um sistema educacional que estimule e encoraje as crianças a serem críticas com relação às informações que recebem. O pensamento crítico é um elemento muito importante. Que prepare para um futuro mais igual e que inclua informações sobre discriminação, questões de gênero”, avaliou ela.

E Malala não fez uma avaliação negativa da forma como o sistema educacional em todo o mundo tem sido conduzido por conta da pandemia do Covid-19. “As escolas mudaram a aula presencial para a online. Sala de aula é importante, mas a aprendizagem não está restrita somente a este espaço. A educação pode ser dada por outros meios também. Temos possibilidade de aprender com tutoriais, vídeos e outras fontes como as conversas que temos com os familiares, com os amigos, professores”, observou ela, que este ano se formou pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, onde mora

“Passei os últimos três anos estudando economia, política e filosofia. Às vezes, nem acreditava que estava naquele lugar com tanto prestígio, onde políticos, cientistas, pensadores importantes estudaram em outros séculos. Foi fascinante, curti demais o meu diploma”, contou.

Indagada sobre seus próximos passos, após concluir os estudos, ela assegurou que ainda não sabe. “É um momento difícil para todos nós que terminamos a universidade em 2020. Mas estou lendo livros, passando o tempo com meus amigos, trabalhando no meu Fundo Malala para que todas as meninas tenham acesso à educação, possam ir à escola, assim como eu consegui concluir”, analisou. E ressaltou que o estímulo é primordial na conquista de um resultado positivo. “As pessoas ao seu redor, pais, mentores, familiares, professores, todos têm um papel importante. Lembro quando um professor escreveu ‘excelente’ no meu dever de casa. Isso me deu a sensação de ter cumprido algo, garantindo que eu pudesse aprender cada vez mais. Então, para as crianças este estímulo deve ser mantido. Devemos permitir que elas questionem as coisas. Estimular é um processo muito saudável de aprender e assim nós nos educamos também. Os professores têm um papel tão crucial, tão importante na vida. Eles são mentores, os construtores do futuro”, apontou ela.

Cardinot, então, frisou que o cenário de educação está longe do ideal especialmente quando há muitas vozes ainda silenciadas, meninas sem acesso às escolas. O que Malala poderia compartilhar sobre este cenário? “Há muitos motivos para que isto aconteça. Às vezes, pode ser cultural, tradição daquele país, motivos religiosos mal utilizados pela sociedade. Em algumas culturas também não há professoras do sexo feminino. E vejo que há uma disparidade enorme quando falamos em investimento em educação secundária, primária. Por isso, no Fundo Malala, nos últimos seis anos, queremos atuar junto aos governos. Muitas vezes, faltam recursos para uma educação de qualidade para que as crianças aprendam realmente algo na vida”, explicou.

Mais uma vez reiterou que no mundo há milhões de Malalas que lutam por um ensino mais justo e igualitário. “Creio em cada uma delas. Jovens meninas acreditem em vocês, acreditem na sua voz. Não deixem que nada as impeça de fazer aquilo que defendem. Quando você fala a verdade nada pode te fazer ter medo. Não esperem por ninguém para mudar o mundo. Nós somos os agentes da mudança”, ensinou. E reiterou sua maior vontade. “Meu sonho é ver toda criança na escola”, frisou.

Qual o melhor caminho a ser seguido por educadores e instituições? “Meu pai, meu tio, meu avô, todos eram professores. Agradeço a eles e a todos os professores, aqueles que estão me escutando hoje. Vocês vão construir o futuro ao criar este mundo de pensadores, de pessoas que mudam os rumo da história. Sou agradecida por tudo que vocês fazem, principalmente neste momento tão difícil , quando vocês trabalham de suas casas. Vocês são uns heróis, estão mudando a vida das meninas, dando poder, dando um futuro a elas. Vamos criar uma sociedade mais sustentável, mais justa. Agradeço a todos por tornar este mundo melhor, que vocês continuem com essa paixão. Faz parte do nosso trabalho, do Fundo da Malala e como podemos estimular a todos, porque a educação pode mudar o mundo”, finalizou a ativista.