Caio Blat exibe o longa “BR 716” no Festival do Rio, estreia peça “A Comédia Latino Americana” e fala sobre a crise: “Vai ser bom para renovar a nossa democracia”


De acordo com o artista, o público ter abraçado seu personagem em “Liberdade, Liberdade” foi um grande passo para o futuro. “Eu acho que está se abrindo muito a mentalidade do público brasileiro. A cena que a gente pode fazer foi uma conquista, mostrou que o publico estrava torcendo para aquele quase casal, além de tudo ser sido tratado de uma forma muito adulta”

Caio Blat é de fato um dos atores mais importantes de sua geração. Não é à toa que a todo momento o artista segue envolvido com produções de grande sucesso e repercussão nacional. Depois de recentemente protagonizar uma das cenas mais importantes da televisão brasileira, em “Liberdade, Liberdade” – na trama global, seu personagem André trocou carícias, digamos, pra lá de apimentadas com Coronel Tolentino (Ricardo Pereira), uma novidade ainda para a teledramaturgia brasileira – ele agora segue envolvido com a estreia do longa “BR 716”, já premiado em Gramado e que passou pelo Festival do Rio, e com a peça “A Comédia Latino-Americana”, em excursão por São Paulo. Durante entrevista exclusiva ao HT, o ator falou que mesmo com tudo engatilhado para o cinema, o resto do ano segue todinho reservado para o teatro.

Caio Blat (Foto: Divulgação)

Caio Blat (Foto: Divulgação)

E falando sobre palcos, ele adiantou detalhes da montagem dirigida por Felipe Hirsch. “A peça é uma colagem da vários autores latino-americanos e que também conta com atores argentinos e chilenos. Existem trechos que se passam em espanhol e outros em português. Na verdade, é uma série de cenas curtas, extraídas de textos e ideias de grandes escritores latinos, que, na maioria das vezes, não têm o reconhecimento que merecem”, revelou ele. O elenco ainda conta com a participação dos atores Caco Ciocler, Camila Márdila, Georgette Fadel, Javier Drolas, Julia Lemmertz, Magali Biff, Manuela Martelli e Rodrigo Bolzan.

Assim como a primeira peça da sequência, “A Tragédia Latino-Americana”, a “A Comédia” explora as pequenas e grandes tragédias enfrentadas pela população do continente, como a violência, as condições precárias de vida, o sistema elitista e a falta de consciência histórica. “Alguns desses autores são os argentinos J.P. Zooey e Pablo Katchadjian. Já de brasileiros o Lima Barreto e Sousândrade. É um tema muito atual. Além das questões sociológicas também abordamos questões políticas e a não valorização da própria cultura”, adiantou. Já a trilha sonora da peça, que está em cartaz no SESC Vila Madalena, é feita toda ao vivo por uma orquestra que acompanha os atores durante as apresentações.

O ator com o figurino da peça "A Comédia Latino Americana" (Foto: Divulgação)

O ator com o figurino da peça “A Comédia Latino Americana” (Foto: Divulgação)

E já que o assunto é política, mesmo com as divergências ideológicas que atravessam o nosso país, o ator se disse confiante para que a democracia volte a ser exercida da melhor forma possível. “Eu acho que é muito importante para o país debater e viver isso muito intensamente. Os próximos anos serão de renovação. Daqui a um tempo, as coisa vão melhorar. Porque todo mundo está se tornando mais consciente e mais ativo. Estamos começando a enxergar que existem mais de dois lados. Isso vai ser bom para renovar a nossa democracia”, afirmou ele.

Agora, voltando para telonas, em homenagem aos 80 anos do diretor Domingos Oliveira, no longa “BR 716”, premiado como o Kikito de Melhor Filme, no Festival de Gramado, Caio conta a história de Felipe, engenheiro e aspirante a escritor que leva a vida regada aos prazeres do álcool, em festas alucinantes realizadas num apartamento dado por seu pai (Daniel Dantas), na famosa rua Barata Ribeiro, em Copacabana. Lá, ele e seus amigos desfrutam de tudo que a liberdade pode oferecer, mesmo em meio a um momento político complicado. Baseado nas memórias afetivas do cineasta e dramaturgo, nos anos 1960, o longa põe Caio Blat como uma espécie de seu alter ego de Domingos.

Ao lado de Caio Blat, Domingos de Oliveira ganhou kikito de melhor diretor em Gramado (Foto: Cleiton Thiele/Pressphoto)

Ao lado de Caio Blat, Domingos de Oliveira ganhou kikito de melhor diretor em Gramado (Foto: Cleiton Thiele/Pressphoto)

“É um filme que fala sobre a vida do Domingos, que eu faço a fase da época em que ele tinha vinte e poucos anos. Foi um longa muito divertido de fazer, porque ele teve um apartamento em Copacabana, que ganhou do pai. Mas ele sempre teve o sonho de ser escritor. Mas ele ficava dando festa todos os dias na sua casa, até que abriu uma conta no bar da frente que chegou ao valor do seu apartamento. Ai que começa a confusão toda do filme. Ele e os amigos beberam o apartamento ao longo dos anos. Um boemia tremenda”, adiantou ele. Apesar de estar em exibição no festival, o longa ainda não tem previsão de estreia.

No entanto, seria impossível falar com Caio sem comentar sobre a experiência de abrir um novo capítulo na história da dramaturgia brasileira. Como falamos acima, em “Liberdade. Liberdade”, ele e o ator Ricardo Pereira protagonizaram a primeira cena de sexo entre um casal gay em novelas. De acordo com o artista, é um grande passo o público ter abraçado seu personagem. “Eu acho que está se abrindo muito a mentalidade do público brasileiro. A cena que a gente pode fazer foi uma conquista, mostrou que o público estrava torcendo para aquele quase casal, além de tudo ser sido tratado de uma forma muito adulta. Acho que foi uma conquista. É uma audiência que está cada vez mais aberta para esse tipo de romance, que é tão natural na nossa sociedade. As cenas foram muito lindas e é importantes para trazer para a TV esses assuntos tão urgente de uma maneira aberta”, comemorou ele.

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Ricardo Pereira e Caio Blat em “Liberdade, Liberdade” (Foto: Divulgação)

O trabalho na novela das onze não só deixou o ator orgulhoso como ainda serviu para que ele conversasse sobre homofobia dentro de casa, com o filho, Bento, de 6 anos, e seu enteado, João, de 13 anos, do casamento com a atriz e escritora Maria Ribeiro. “O João já é adolescente. Sempre conversamos sobre homofobia, preconceito e racismo. Ele sabia que ia ter esse tema na novela, que teria a cena, mas não assistiu, porque não era para a faixa etária dele. Sempre converso com ele para prepará-lo, caso ouça algo na escola. Como sempre conversamos, ele tirou de letra”, completou.