Ano de 2020 cancelado? Atores dividem suas experiências sobre os meses que nos recolhemos


Sabrina Petraglia, Leiloca Neves, Rafael Sardão, Helga Nemetik, Dig Dutra, Klara Castanho, Fernando Rubro, Larissa Nunes, Milton Filho e Amanda Lee dividem suas experiências durante essa pandemia e refletem sobre o ano que se encerra em pouco mais de dois meses. E para você, 2020 foi perdido?

*Por Brunna Condini

O ano de 2020 vai ficar para história. A pandemia do novo coronavírus nos impôs a adaptação de uma nova realidade e nos vemos diante de uma crise global. Nos dias que se seguiram de março a este início de outubro, vivemos um contexto inesperado, incerto e povoado por medo, ansiedade e tristeza, principalmente para quem perdeu alguém que está no somatório das quase 150 mil mortes por Covid-19.

Neste cenário, alguns acreditam que 2020 foi um ano perdido. Como se fala agora “cancelado”. Mas nada se perde, se pensarmos que a vida acontece independente das situações favoráveis ou ideais. E muita gente conseguiu ou pôde usar o momento para exercitar a solidariedade e a empatia, se voltando para o autoconhecimento, e se reinventando por necessidade ou prazer. E convidamos atores para compartilhar impressões até aqui. Será que eles consideraram 2020 um ano perdido? Cancelado?

Sabrina Petraglia acabou de se mudar para São Paulo com a família. Na verdade, retornou para sua casa após encerrar participação em ‘Salve-se quem Puder’. “Mesmo ainda confinada, estou curtindo a volta de ‘Flor do Caribe‘ e ‘Haja Coração‘ (estreia segunda). Com todo o cuidado da TV Globo, eu consegui concluir minha participação na novela”, conta a atriz que descobriu durante a pandemia a gravidez de uma menina que vai se chamar Maya. Sabrina já é mãe de Gael, de 1 ano: “Não foi um ano perdido, porque, por mais que a gente tenha se isolado em casa e com todas as notícias tristes, foi um período de descobertas por causa do Gael. Ramón, meu marido, trabalha com a aviação e estava sempre viajando. E, nesse período, ele ficou em casa. Nós, então, acompanhamos os primeiros passinhos do Gael, ele provando os primeiros alimentos, as primeiras palavras, e a evolução nesse primeiro ano de vida dele. E a gente viu isso de pertinho. E também engravidei do meu segundo filho”.

“Quero acreditar que em 2021 vamos começar com uma vacina e voltar a uma vida mais normal. E mais consciente e transformados com esses dias que passamos” (Foto: Babuska)

Como este ano tem a transformado? “Eu me conectei ainda mais com as pessoas que eu amo, mesmo à distância. Fiquei mais próxima dos meus pais. Acho que a gente nunca tinha se falado tanto. Muito amor, empatia, consciência de que temos que nos ajudar e proteger a nós próprios e os outros. Cuidar dos nossos pais, dos idosos, dos nossos filhos. Eu passo esse ano mais serena e consciente de que os valores são outros. Precisamos desacelerar, voltar mais para dentro de nós e dar mais atenção para quem a gente ama”, opina. “Quero acreditar que em 2021 vamos começar com uma vacina e voltar a uma vida mais normal. E mais consciente e transformados com esses dias que passamos. Acredito que os valores mudaram. E quero continuar trabalhando, ter projetos próprios, fazer séries e novelas. Queria fazer algo nessa vertente infantil também. E quero criar os meus filhos da melhor forma possível. É difícil planejar o futuro, né? Aprendemos isso agora com a pandemia. Eu não esperava engravidar, mas foi uma surpresa muito feliz”.

“Viemos para cá pra aprender, tipo ‘Earth High School’” (Divulgação)

Para a cantora e astróloga Leiloca Neves nenhum ano é perdido: “Viemos para cá pra aprender, tipo ‘Earth High School’”. Ela compartilha como tem aproveitado o período. “Dei uma acalmada, não tenho a pressa exacerbada de um típico ascendente em Áries. Fiz meditação e exercício físico, que são fundamentais para darmos valor à vida, apesar do apocalipse e da pandemia. Continuei convivendo muito bem com a minha solitude, sem problemas, pois gosto muito de ficar na minha casa. O ano de 2020 transformou todo mundo, mas alguns só no inconsciente (risos), pois continuam achando que enganam os outros. Mas para quem é conectado na espiritualidade está sendo um ano (mesmo que difícil) muito enriquecedor. Estamos descobrindo muita coisa que, se não fosse a pandemia, não teríamos percebido, como por exemplo, como é importante cada segundo que estamos na Terra. A correria nos impedia. Particularmente, eu acordo, olho para o céu e agradeço a Deus todos os dias”.

O ator carioca Rafael Sardão, atualmente dá a vida a Miguel Martins, o protagonista, da novela da Record “Amor sem Igual’ (Foto: Renata Spinelli)

O ator carioca Rafael Sardão atualmente dá a vida a Miguel Martins, o protagonista da novela da Record “Amor sem Igual”, que teve suas gravações retomadas recentemente. Ele diz que buscou produzir. “Não me permito perder o ano. Busquei novas inspirações, finalizei meu livro ‘Passional‘, voltei a escrever, pintar, pude cuidar da minha casa, meditar”, conta. “Além de ser o ano do meu primeiro protagonista na TV, eu pude voltar a estudar  e consegui vencer a inércia”.

O ator diz que também voltou seu olhar mais para os outros: “Infelizmente nessa pandemia muitos amigos de profissão ficaram sem trabalho e passando necessidade. Busquei ficar ao lado deles da maneira que eu pude. Ajudando financeiramente em vaquinhas que participei e dando o mínimo de suporte que me foi possível fazer. Foi menos do que gostaria, mas busquei fazer”.

Capacidade de superação e fé

Atualmente, Dig Dutra pode ser vista em quatro reprises: “Zorra Total” (como Abadia, noiva do Patrick) no Canal Viva, “Malhação – Viva a Diferença” e no sucesso “A Força do Querer”, como Rochelle, amiga de Nonato/Elis Miranda (Silvero Pereira), ambas na Globo, e por fim, ela também está em  ‘Floribella’, reexibida na Band. Definitivamente, para a atriz tem sido um ano para rever. “Parei, refleti, olhei pra dentro de mim com muito carinho. Sem pressa e sem cobranças. Revi meus objetivos, expectativas e olhei para o futuro com paz no coração. Não quero atropelar o que realmente importa. Me sinto mais leve  e confiante. Acho que ficou muito claro neste ano a capacidade que temos de superar novos e inesperados desafios. Não tem sido fácil para ninguém, mas acredito que tudo aconteceu dessa forma, justamente, para nos tirar da zona de conforto. Não foi um ano perdido”, diz ela que aproveitou o isolamento para pintar. “Também escrevi uma peça, fiz ilustrações e cursos online. Participei de lives e até como atriz consegui trabalhar com meu grupo de teatro. Migramos para o Instagram e fizemos cenas de ficção ao vivo”.

E apesar da produtividade pessoal, Dig lamenta o contexto: “É muita tristeza e dor pelas vidas que perdemos. Por ser algo irrecuperável. Desejo que todos que perderam familiares e amigos tenham forças para seguir adiante”.

Dig Dutra está no ar em quatro reprises quatro reprises: “Zorra Total”, no Canal Viva, “Malhação – Viva a Diferença” e “A Força do Querer” (Foto: Rodrigo Lopes)

Um cenário como esse pode causar um estado de apreensão constante e a fé pode ser uma importante ferramenta para atravessar o período.  É o que divide conosco Klara Castanho. “Não considero esse ano perdido em hipótese alguma. Obviamente estamos vivendo um momento único, desconhecido, de muito medo, que impôs limites, e nos colocou a todas as provas. No início rolou um certo pânico, mas sou uma pessoa bastante espiritualizada, acreditei que havia um propósito de evolução, percebi que a ausência de escolhas, e o excesso de tempo ocioso poderia me levar a um estado depressivo. Então, eu optei por valorizar o que eu tinha à minha volta”.

“No início rolou um certo pânico, mas sou uma pessoa bastante espiritualizada, acreditei que havia um propósito de evolução” (Divulgação)

Klara conta ainda que praticou o desapego: “Não só nesse momento, e mesmo preferindo não mostrar, sempre busquei retornar ao universo tudo que me é dado. Sou ativa nas doações às instituições focadas em crianças e adolescentes, e, nesse momento, além delas, busquei focar em ações dedicadas ao combate da Covid-19, sendo relacionado à alimentação ou qualquer uma das vertentes disponíveis”.

Fernando Rubro, um dos protagonistas da série ‘3%’ da Netflix, revela o que pretende deixar em 2020, quando este chegar ao fim, daqui há pouco mais de dois meses. “O Fernando pessimista, o Fernando que, de certa forma, vivia numa bolha e que aos poucos foi se transformando em água, para que eu pudesse sair e ter uma visão macro do mundo”, diz. “Acredito que 2020 foi um ano de renovações de ciclos. Em todos os sentidos. Para revermos muitas atitudes, pensamentos, pessoas ao nosso redor e pensar sobre o mundo e, principalmente, o nosso lugar nele”.

Fernando Rubro: “Acredito que 2020 foi um ano de renovações de ciclos. Em todos os sentidos. Foi um ano pra revermos muitas atitudes” (Divulgação)

Também no elenco da série ‘3%’, Larissa Nunes, que brilhou em ‘Coisa mais linda’, no catálogo da Netflix, conta que voltou a se encontrar com a própria fé. “Tenho entendido todas as áreas da minha vida são estruturadas espiritualmente. Eu resgatei minha fé. Me reconectei com Deus e a minha intuição”, divide. “O ano me transformou para ter calma. O tempo das pessoas não necessariamente é o tempo do mundo. As pessoas que não fazem sentido se dispersaram naturalmente e eu também aprendi a dizer “não” e ser permissiva com tudo me fazia muito angustiada. Hoje as pessoas vão respeitar quem eu sou, minha história e meu ritmo”.

“Tive perdas na família esse ano, então aprendi um pouco mais a lidar com o silêncio e a dor de quem amamos” (Divulgação)

Para a atriz, o mundo que conhecíamos não volta e no período ela tentou se conectar com o que mais preza: “Minha família é a base. Não se trata apenas de querer dar um futuro que ela precisa, mas é manter um presente com mais companheirismo e perdão. Meus amigos verdadeiros viveram processos radicais esse ano e eu precisei respeitar. Dei um fim ao relacionamento que não precisou ser só magoa. Se transformou numa amizade tranquila, sem expectativas. Tive perdas na família esse ano, então aprendi um pouco mais a lidar com o silêncio e a dor de quem amamos. E no mundo esse momento é tão único e múltiplo que só consigo vibrar por amor”.

E o que será que eles aprenderam até aqui?

Para atriz e cantora Helga Nemetik, que investiu em seu canal ‘Cozinhando com Helga‘, um dos maiores aprendizados foi sobre a impermanência da vida. “Foi um ano para refletir sobre as circunstâncias que a vida nos coloca que mostra que o planejamento que a gente faz pode ir por água abaixo. Tive mais cuidado com a minha saúde, cuidei da minha vida espiritual e isso me transformou em uma pessoa mais resiliente”.

“Foi um ano para refletir sobre as circunstâncias que a vida nos coloca que mostra que o planejamento que a gente faz, pode ir por água abaixo” (Divulgação)

Milton Filho, que está no elenco de ‘Amo sem Igual‘, conta que decidiu não se cobrar tanto. “Assim consegui manter a sanidade. Matei a saudade dos amigos criando uma live bem despretensiosa chamada ‘Papo de Janela‘. E também divulguei um grande número de campanhas que beneficiam pessoas desatendidas, participei de algumas e pude dar maior atenção à família, pois nesse momento foi importante estreitar ainda mais os laços. Sempre podemos aprender com as adversidades e 2020 provou isso”.

Milton Filho: “Sempre podemos aprender com as adversidades e 2020 provou isso” (Divulgação)

A atriz e triatleta Amanda Lee também descobriu nas lives do Instagram uma forma de trocar experiências e seguir. “Tenho ouvido e percebido mais o outro, ajudando quem está precisando de algo que estava ao meu alcance. Comecei meus bate-papos no meu Instagram sempre trocando com alguém interessante, diferentes meios, pessoas e assuntos”, lembra.

“Esse ano foi um ano de muita reflexão e limpeza. Com todas as adversidades, me recolhi e fiquei fechada com os meus e comigo mesma. Já vinha há algum tempo num caminho de crescimento e aprendizados, e nesse período pude colocar em prática tudo que venho aprendendo!”

“Esse ano foi um ano de muita reflexão e limpeza. Com todas as adversidades, me recolhi e fiquei fechada com os meus e comigo mesma” (Foto: Nana Moraes)