Mas, afinal de contas, quem é Pippa Middleton? O que de relevante ela já fez nessa vida?


Na aba do chapéu: usuária de arranjos capilares capazes de fazer Walt Disney corar, a irmã da Duquesa de Cambridge ocupa, nos tablóides, espaço no lugar de gente que faz!

Os tablóides e colunas de variedades pipocam hoje a notícia de que Pippa Middleton, a irmã da Duquesa de Cambridge, pretende se casar em breve com o banqueiro Niko Jackson e que o casal pretende passar a lua de mel no Brasil, possivelmente Fernando de Noronha, com direito a esticada no Rio. Mas, quem é Pippa Middleton? O que ela faz de relevante? O que ela pensa? Quais os seus talentos? De que forma pode contribuir com sua excelente pessoa para um mundo melhor?

Naturalmente, a notícia só tem relevância porque ela é irmã de Kate Middleton, que se casou com o Príncipe William, herdeiro ao trono da Grã-Bretanha. Não fosse isso, ninguém se interessaria em saber se a moça vai casar, amigar, noivar ou encalhar e, no caso de confirmação das bodas, pouco faria diferença se os pombinhos fossem comemorar as núpcias em Saint Barth, Itapecerica da Serra ou dando um rolé no circuito artístico de Inhotim. Se Kate não houvesse casado com filho de Lady Di, ninguém conheceria a doce Pippa, que não passaria de uma obscura organizadora de festas, na empresa fundada pelos pais, Party Pieces, sem nenhuma abrangência maior do que aquele círculo local de clientes que lhe contratam para dizer se as forminhas dos bem-casados serão douradas ou rosa-chiclete ou, ainda, qual deve ser a cobertura do bolo em um festejo qualquer.

Pippa Middleton: a notoriedade não veio pelo uso dos chapeuzinhos de clown! (Foto: Reprodução)

Pippa Middleton: a notoriedade não veio pelo uso dos chapeuzinhos de clown! (Foto: Reprodução)

Desde que surgiu a imprensa de celebridades, com publicações como Hola (1944) na Europa, People (1974) nos Estados Unidos e, nos anos noventa, a Caras no Brasil, não é necessário para nenhuma celebridade ter talento – ou alguma peculiaridade que a distingua dos demais. Basta conhecer ou estar próximo de alguém famoso para pegar, por osmose, um pouco dessa aura de notoriedade. Em uma cadeia sem fim, uma pessoa pega carona na imagem pública de outra, que se tornou célebre por convivência com mais outra, e por aí vai.

Antigamente, uma pessoa se transformava em criatura notória porque dispunha de um excepcional talento para algum assunto. “A atriz mais formidável dos palcos”, “o atleta do século”, “o mais brilhante pensador”, “a herdeira de uma fabulosa fortuna”, “o homem que saiu do nada e se tornou um dos mais espetaculares empresários do seu meio” costumavam ser a escada para que alguém, de uma hora para outra, tivesse sua capacidade reconhecida e chegasse ao grande público, nem que fosse post morten, no caso de uma breve existência com habilidades que transcendem a existência carnal, como foi o caso de Vincent Van Gogh. Não é ou foi assim com Pelé, Luiza Brunet, Marilyn Monroe, Bette Davis, Naomi Campbell, Martin Luther King, Fernanda Montenegro, Oscar Wilde ou Pablo Picasso? Bom, também sempre existiu o caso daquelas mulheres que eram mais do que lindas – deslumbrantes! – e que ganharam fama pelos incríveis olhos azuis, um poderoso decote ou irresistível par de cochas. Mas, quem disse que a manutenção da beleza não é um talento? Naturalmente, essa categoria continua acontecendo sem parar, mas com a novidade de que, agora, também temos mulheres-fruta e ex-participantes do BBB. Pois é, Odile Rubirosa e Evita Péron, agora, andam lado a lado com Geisy Arruda e a Mulher-jaca da semana.

O conceito clássico de herói define sua celebridade através de uma qualidade ímpar ou de um feito notável e inigualável. Na “Ilíada” de Homero, Aquiles é um guerreiro famoso porque, além do hábil domínio das técnicas de combate, foi brindado pelos deuses com o dom da invulnerabilidade, que ninguém mais tinha. Mas, depois dos semanários de celebridades e das colunas de fofocas, essa notoriedade pode advir por se enamorar do atleta do século ou por ter tido um affair com um intrépido piloto de corrida. Obviamente, só depende da neo-celebridade aproveitar o berço esplêndido que lhe caiu no colo e saber fazer a cama, mostrando a que veio e desenvolvendo talento, para não desaparecer depois na praia. Senão, como dizia o velho Shakespeare: “Muito barulho por nada”.

No caso de Pippa, o que é possível dizer? Que ela escolhe composições de cobre-mancha com guardanapos como ninguém? Suas festas são eventos bombásticos? Ou que, a despeito de ela ter trabalhado como public relations para algumas marcas, a moça ainda é aquela que melhor enverga na cabeça os mais espalhafatosos fascinators – aqueles arranjos capilares que fazem as vezes de chapéus e que, no caso dela, obrigam a gente a se lembrar da Clarabella da Disney?

Clarabella, ao lado de Pateta: a Disney sempre foi pródiga em decorar as cabeças de seus personagens com acessórios que são a cara de Pippa

Clarabella, ao lado de Pateta: a Disney sempre foi pródiga em decorar as cabeças de seus personagens com acessórios que são a cara de Pippa (Reprodução)