Yris Sampaio: atriz de “Terra e Paixão” estará ao mesmo tempo em projeto na Record e fala de violência contra mulher


Yris Sampaio é uma das atrizes a compor o elenco de “Terra e Paixão”. A novela de Walcyr Carrasco, de audiência estável, é o produto de teledramaturgia mais visto na Globo hoje. Na trama das 21h ela dá vida a Elaine, uma das vendedoras da loja de Graça (Agatha Moreira). Atualmente em exibição, a trama do horário nobre traz a questão da violência contra a mulher em debate, centralizada na figura de Lucinda (Débora Falabella). Este não é o único projeto no qual Yris está e no qual a agenda feminina está presente. Ela também compõe o norte de “Estranho Amor”, da Record, série que ainda está inédita. Para Yris, é importante sempre falar sobre esse assunto, já que, a seu ver “ele costuma ser tratado de uma forma muito superficial, sem profundidade”. Atriz também relembra fase difícil no início da carreira: “Já vendi docinho em curso, panfletei pelas ruas, lavei banheiro para fazer curso de interpretação sem precisar pagar… Passei por inúmeros desafios. Não é fácil ser artista”, aponta

*por Vítor Antunes

Foi nos bailes da vida e num bar em troca de pão, que muita gente boa pôs o pé na profissão“. Assim Milton Nascimento cantava em uma de suas mais famosas músicas, “Nos Bailes da Vida“. Yris Sampaio, a Elaine de “Terra e Paixão“, viveu algo semelhante. Até conseguir sua personagem fixa na trama de Walcyr Carrasco, a atista cortou um dobrado: “Já vendi docinho em curso, panfletei pelas ruas, lavei banheiro para fazer curso de interpretação sem precisar pagar… Passei por inúmeros desafios. Não é fácil ser artista”, aponta. Além do folhetim das 21h, Yris estará vivendo uma experiência incomum. Poderá estar no ar em dois projetos inéditos e em duas emissoras diferentes. Prevista para ir ao ar até o meado de janeiro de 2024, a trama de Walcyr Carasco talvez coincida com a estreia de “Estranho Amor“, série da HBO/Record, cuja data de estreia ainda não foi fechada, mas cogita-se que aconteça ou em janeiro ou em fevereiro do ano vindouro. Para a artista, sua personagem, Daiane, “é o ponto de luz da série. Uma mulher dona de si, casada com um marido muito ciumento, que desconfia muito dela. Ela é o personagem solar da série, é leve, já que os outros são bem densos”. “Estranho Amor” fala sobre casos reais de feminicídio e os debaterá em seus capítulos. A série é escrita por Ingrid Zavarezzi.

Em se tratando da agenda da defesa da mulher, perguntamos à Yris como ela vê o atual debate sobre feminisimo na sociedade. Se as discussões sobre assédio e violência, por exemplo, são discutidas com profundidade ou obedecem a um modismo. “Está havendo, sim, um debate sobre feminismo, sobre assédio, sobre violência contra mulher, e ele tem acontecido cada vez mais na mídia, e na sociedade mesmo”.

Ainda que esse assunto esteja em pauta, ele é tratado de uma forma muito superficial, sem aprofundamento. Isso é algo que deveria ser levado muito a sério – Yris Sampaio

Yris Sampaio está no elenco de “Terra e Paixão”. Ela passou por batalhas para se firmar na carreira de atriz (Foto: Priscila Nicheli)

NOVOS OLHARES

A Elaine de “Terra e Paixão” é o primeiro papel fixo de Yris Sampaio em uma novela da Globo, e, especialmente, às 21h. A sua personagem é uma vendedora da loja de Graça (Agatha Moreira). Via de regra, as mulheres trabalham o dobro dos homens e recebem menos. E sua jornada doméstica costuma ser invisibilizada – tanto que foi este o tema da redação do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), na última semana. Para Yris, essas diferenças salariais são frutos de “um machismo estrutural muito grande. Isso reflete a vida social como um todo, nos salários inclusive. É um problema cultural de muitos e muitos anos. Não creio que esta mudança vá acontecer do dia pra noite, mas acho que estamos no caminho pra reduzir essas diferenças”.

Yris Sampaio: O feminismo vem sendo tratado com superficialidade (Foto: Priscila Nicheli)

Ultimamente, nas redes sociais, muito se falou sobre a distinção entre ser feminina e feminista. Peguntamos à atriz se ela estabelece alguma diferença entre esses conceitos e se essas ideias são opostas ou complementares. Para ela “O feminismo e ser feminina – dentro de um estereótipo que tambem vale o questionamento – não são opostos ou complementares. O feminismo traz o poder de escolha da mulher ser o que quiser. Então, ela escolhe se quer ser feminina ou não. Assim, como também traz o poder de escolher qualquer aspecto em sua vida, partindo do ponto que faz ou não sentido pra ela”.

As falas sobre as questões femininas justificam-se também por outra razão. Ainda que “Terra e Paixão” tenha discutido a questão da violência contra a mulher, Yris também estará em “Estranho Amor“, série da HBO/Record que abordará o assunto. “‘Estranho amor‘ fala sobre casos reais de feminicídio no Brasil. São cenas pesadas e muito importantes para alertar a todos nós. Inclsuive, a violência à mulher não se limita somente a agressão física, mas a danos psicológicos, emocionais e financeiros como revelados na novela “Terra e Paixão“. Nas duas situações, esse assunto de extrema importância está sendo abordado no horário nobre”, frisa. No projeto da Record, com previsão de estreia para o início do ano que vem, haverá casos reais de feminicídio no Brasil. Um produto ousado, frente ao que a Record tem apresentado nos últimos anos, nos quais dedicou-se aos produtos segmentados ao público evangélico.

Yris Sampaio. Questões femininas na centralidade do debate e no horário nobre (Foto: Priscila Nicheli)

A atriz ressalta uma das queixas que são mais comuns entre os profissionais de arte, que é a incerteza da profissão. “Uma hora se está com trabalho, outra não. Viver nessa dúvida é, inequivocamente, uma questão pra mim”. Curiosamente, “Terra e Paixão” não contaria com a atriz, pois que ela fez teste… para “Fuzuê”. Depois de ver o teste de Yris para a trama das 19h, o produtor de elenco Fábio Zambrone, que é de “Terra e Paixão”, acabou chamando-a para fazer a personagem. “Sou eternamente grata a ele”, diz.

Lidar com a projeção que um folhetim de horário nobre implica, para Yris é “uma realização muito grande. Estou em uma fase muito feliz da minha carreira. O elenco, direção, produção da novela são incrivelmente maravilhosos e somos muito unidos. Estamos dando nosso melhor pra entregar algo legal para o público. Fora isso estou amando contracenar com grandes nomes da teledramaturgia, como Gloria PiresTony RamosClaudia Raia, que fez uma participação especial… Descobri uma afinidade muito grande com a Tatá Werneck, que acho uma gênia em todos os aspectos”.

Certa da fé que a levou à TV, ela diz que ainda quer chegar mais longe: “Cuido da minha energia e mentalizo sempre onde quero chegar. A gente faz nossa parte e é preciso ter confiança e paciência que as coisas acontecem”. E a quem tem a emoção como ferramenta de trabalho, Yris diz, além da arte, o que mais a emociona. “Estar em momentos com a minha mãe e minha família e poder proporcionar memórias boas e tempo de qualidade. Isso me acarreta sentimentos inacreditáveis. Sou muito grata por viver da arte e poder ter esse contato diário com tantas emoções”, finaliza.

Créditos:

Samantha Szczerb, stylist