O tempo e o vento: polêmica sobre linguagem televisiva levada à sétima arte cai por terra com trabalho magistral


Jayme Monjardim eleva sua habilidade à décima potência, criando algumas das mais belas tomadas vistas na TV brasileira nos últimos tempos

* Por Junior de Paula

Se o primeiro dia de 2014 terminou com a exibição do maravilhoso primeiro capítulo de O Tempo e O Vento, adaptação da obra de Érico Veríssimo para o cinema, dirigida por Jayme Monjardim, que estreou em setembro, mas só agora chega à televisão em forma de minissérie, é sinal de que o ano promete.

A história de amor, combates e superação – que se mistura à formação do povo gaúcho descrita nos livros “O Continente”, “O Retrato” e “O Arquipélago” – recebeu nada menos que 23 tratamentos até chegar ao roteiro final pelas mãos de Letícia Wierzchowski e Tabajara Ruas.

Em cerca de 127 minutos, a duração com a qual a história foi contada nas telonas, desmembrados, agora, em três capítulos, desvendam-se os 150 anos de conflitos de duas famílias, os Terra Cambará e os Amaral,  tendo como fio condutor o amor entre Bibiana (Fernanda Montenegro) e Capitão Rodrigo (Thiago Lacerda). A história, aliás, é toda narrada por Bibiana, a centenária Terra Cambará que relembra a trajetória de sua família, desde sua avó Ana Terra (Cleo Pires) até o final de sua vida.

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O tempo e o vento: Fernanda Montenegro (Bibiana) e Thiago Lacerda (Capitão Rodrigo)

Jayme Monjardim, como todo mundo sabe,  é um mestre em criar belas imagens. É só lembrar da revolução causada por Pantanal, na extinta TV Manchete, com seus planos sequências em meio à natureza, ou mais recentemente em A Casa das Sete Mulheres, O Clone e Terra Nostra. E em O Tempo e o Evento não foi diferente. Aqui, Jayme eleva sua habilidade à décima potência, potencializado, claro, pelas lentes afiadas de Affonso Beato, o diretor de fotografia favorito de Pedro Almodóvar, criando algumas das mais belas tomadas vistas na TV brasileira nos últimos tempos.

Muito se criticou a obra à época de seu lançamento – dizendo que se tratava de uma estética televisiva em detrimento do cinema. Desde Olga, Jayme sofre com essas opiniões, mas em um momento onde até Hollywood se curva frente ao poder da TV, é quase natural essa aproximação entre as duas linguagens.

Os destaques do primeiro capítulo? A linda cena da morte de Henriqueta (Cyria Coentro) mãe de Ana Terra, personagem interpretado por Cleo Pires, que, vale ressaltar, seja, talvez, a melhor atuação da carreira de Cleo. A atriz foi capaz de roubar a cena em todas as tomadas em que participou. Cleo defende sua Ana Terra como se fosse uma questão de vida e morte. E se sai muito bem na defesa dessa personagem, que, como ela bem definiu, é “uma força da natureza”.

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Cleo Pires como Ana Terra no enterro da mãe Henriqueta (Foto: Divulgação)

Vale chamar a atenção para o elenco pouco conhecido do grande público – cerca de 70% de atores gaúchos -, e, claro, na presença sempre arrasadora de Fernanda Montenegro, magistral como sempre, conseguindo emocionar com um simples piscar de olhos, uma mão colocada no peito, ou um suspiro. Que venham os outros capítulos!

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Bibiana e seu eterno Capitão Rodrigo (Foto: Divulgação)

* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura.