Samantha Schmütz decola como cantora internacional e revela que Juninho Play, um de seus personagens, vai virar filme

*por Vítor Antunes

Mais que uma artista rebelde, uma alma rebelde – e com toda a autenticidade. Assim é Samantha Schmütz, que tem apostado cada vez mais na sua veia musical. Morando em Los Angeles desde 2022, ela está muito próxima de lançar seu primeiro álbum internacional – com a promessa de sair em vinil, inclusive – além da assinatura do seu bom gosto cantando jazz e música brasileira. E não doura a pílula a quem a crítica. Inclusive, o próprio mergulho à música é, também, uma resposta a quem disse que ela “não era uma cantora por não ter um disco lançado”. Samantha frisa que “a música tem fluido muito”. Ela lançou o single “Nossa Cor”, parceria com o produtor norte-americano Adrian Younge. a faixa integra a coletânea Linear Labs: São Paulo, assinada pelo produtor e disponibilizada nas plataformas. O trabalho conta com nove canções e a colaboração de artistas de todo o mundo, entre eles Snoop Dogg, na faixa “Rule of The World”. “Embora muitos conheçam Schmütz por seus papéis cômicos, poucos estão cientes de sua destreza como cantora.”, comenta o produtor musical.

Samantha e Adrian no estúdio em Los Angeles (Foto: Divulgação)

Neste 2025, Samantha Schmütz completará 10 anos desde sua última participação em uma novela na TV Globo. A atriz integrou o elenco de “Totalmente Demais” (2015-2016), após ter feito parte de “Pé na Jaca” (2006-2007), da qual saiu para se dedicar ao humorístico “Zorra Total“. Atualmente, ela afirma não ter planos de retornar ao formato tradicional das novelas. “Hoje não tem espaço por conta de tempo mesmo e eu não vislumbro ficar oito, dez meses numa mesma produção. Não é a minha prioridade. Eu estou dando possibilidades. Pode ser que apareça um personagem incrível e eu possa ter interesse, mas agora realmente não é o meu foco”.

Samantha Schmütz em “Totalmente Demais” (Foto: Divulgação/Globo)

Dona de uma forte personalidade, Samantha, com recorrência, virava manchete por suas opiniões e posicionamentos na internet. Hoje, ela procura ser mais seletiva: “Eu penso muito sobre quem merece ter a minha opinião. Tenho a certeza que ela é valiosa demais e não é vazia sim. Quando eu falo alguma coisa, nem sempre falo por mim. Eu luto pela minha causa, pela minha classe, pelo meu país. Às vezes, as pessoas me interpretam mal porque é conveniente para elas, mas todo mundo sabe que não falo por recalque”.

Estou num lugar da minha carreira que ninguém vai me tirar porque eu tenho qualidade, e sei que é primoroso. Quem quer ver as minhas opiniões como vazias ou recalcadas é porque lhes é conveniente. Eu estou sempre empregada, eu nunca parei de trabalhar. Eu tenho 25 anos de carreira. A internet quer a mentira mesmo. Ela quer a ilusão. A realidade, para ela, é desinteressante – Samantha Schmütz

Samantha Schmütz projeta um ano com muita música. Além do álbum novo, gravações do “Vai que Cola” e filme de Juninho Play

DÊ UM “PLAY”

Samantha revela que um de seus personagens mais populares, o Juninho Play, vai virar filme. Além disso, destaca que um grande nome da MPB era fã do personagem. “Ninguém esqueceu dele, todo mundo fala comigo sobre o personagem. As pessoas me chamam de Juninho, inclusive. O João Gilberto (1931-2019) era um dos que era fã do personagem. Agora, eu estou escrevendo esse filme para ele. Juninho vai ser vai lutar UFC. As filmagens devem acontecer em outubro”.

Ainda sobre sucessos populares, Samanta está há anos fazendo o “Vai Que Cola“, programa que está sempre em julgamento pela crítica, e muito por ser extremamente popular. Por um lado, apontam que ele estereotipa o subúrbio. Por outro, que o povo se reconhece exatamente por isso. “Eu acho que é um grande erro falar que o popular é menor. O popular é maravilhoso. Acredito que isso é muito mais um julgamento elitista. O programa vai fazer 12 anos no ar. As críticas não me atingem, porque o que me interessa são as pessoas. Eu sei que o que estou fazendo é um trabalho digno, de qualidade, que não tem nada de pequeno ou menor”, analisa.

Cada vez mais se observa a questão do etarismo, especialmente na televisão – o que é muito contraditório, já que o público da TV está envelhecendo enquanto aqueles que aparecem na tela, só rejuvenescem. Samantha confirma que há uma pressão estética e etarista, especialmente para as mulheres: “Há uma pressão realmente muito grande para que a gente não envelheça. Meus personagens sempre tiveram idades variadas que nem sempre eram compatíveis com as minhas, mas creio que deva haver papel para pessoas de todas as idades”.

Acho que teve muito artista que se baseou muito na beleza física. E aí quando a essa beleza física foi embora, esse artista fica sem norte. Então, acho que as pessoas ficam meio desesperadas e acabam se modificando demais, se mutilando por conta de uma pressão estética que cobra barriga negativa, peito grande, boca carnuda e que deixa todo mundo meio igual – Samantha Schmütz

Juninho Play vai virar filme e tem previsão para gravação neste ano (Foto: Reprodução/Multishow)

MUITAS

Samantha tem direcionado sua energia para a carreira musical, destacando como essa faceta sempre esteve presente em sua vida: “Eu estou me sentindo valorizada musicalmente aqui. Eu conheci uma galera que conseguiu entender a minha musicalidade e o que me possibilitou gravar um álbum com os integrantes do projeto chamado Jazz Is Dead. Eles geralmente fazem uma curadoria e trazem artistas internacionais para tocar em uma casa de shows, e também para fazer turnê. Eles já trouxeram Marcos Valle, Hermeto Pascoal, Milton Nascimento, Arthur Verocai, e, ano passado, eles me chamaram para fazer uma turnê com o Verocai. Cantamos em cinco lugares aqui nos Estados Unidos. E um deles, inclusive, foi o Lincoln Center”.

Samantha Schmütz está com a nata da MPB em projeto nos EUA (Foto: Carolina Vianna)

Ao refletir sobre a receptividade da música brasileira no exterior, a atriz comentou como o público estrangeiro, especialmente nos Estados Unidos, abraça essa diversidade musical de forma calorosa e respeitosa: “O estrangeiro recebe a gente musicalmente de maneira mais respeitosa, mais amigável, mais carinhosa do que o brasileiro. Eu acho que a galera aqui nos EUA é muito aberta a todos os tipos de música brasileira, não só as músicas que estão no topo das paradas e que são massificadas no Brasil. Então, assim, aqui eu vejo muitos lugares – em lojas, restaurantes, hotéis, lugares bacanas – sempre tocando uma Bossa Nova”.

A múltipla Samantha compartilha sua perspectiva sobre as transformações do Brasil e o sentimento de saudade que carrega, não apenas pelas memórias afetivas, mas também por um país que, segundo ela, parece estar se perdendo. “O Brasil não conhece o Brasil. São vários os Brasis que estão aparecendo e desaparecendo, que não são vistos. Então acho que o país é muito complexo com desdobramentos e divisões políticas. Mas, além da saudade do Brasil, tenho saudades da Praia de Itacoatiara, das memórias de domingos com a minha família”.

Ela segue como um retrato vivo da arte em transformação, desafiando os limites entre a comédia, o teatro, a música e o cinema. Seu olhar inquieto enxerga além das barreiras do tempo, dos gêneros e das críticas, enquanto constrói com autenticidade uma carreira que transborda paixão e propósito. Com a música, ela reencontra a pureza do som; com Juninho Play e o “Vai que Cola”, revive o humor popular; e com suas opiniões, reafirma seu compromisso com as lutas que a movem. Samantha é mais que artista: é resistência, saudade e criação — um pulsar constante entre o que foi, o que é e o que ainda virá.

Samantha Schmütz durante a gravação de música (Foto: Divulgação)