“Retrata as dores do terrorismo”, diz María Isabel Díaz Lago sobre ‘Pátria’, primeira série espanhola da HBO


Premiada com o troféu de Melhor Atriz no 29º Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema pela atuação em “A Viagem Extraordinária de Celeste Garcia”, de Arturo Infante, ela, que já trabalhou ao lado de lendas do cinema, como Pedro Almodóvar e Steven Soderbergh, conversou com o Site HT sobre o atual momento da sétima arte em Cuba e o seu próximo papel na televisão

No Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema, María Isabel ganhou o prêmio de Melhor Atriz por “A Viagem Extraordinária de Celeste Garcia” (Foto: Rogério Resende)

 *Com Iron Ferreira

Com mais de 30 anos de carreira, quase 30 filmes em seu currículo e inúmeros espetáculos teatrais, María Isabel Díaz Lago é uma das artistas cubanas de maior prestígio no mundo, tendo alcançado o reconhecimento mundial ao viver Ofelia no filme “Una Novia para David” (1987), de Orlando Rojas, e ao se tornar a primeira atriz do seu país a trabalhar com o diretor espanhol Pedro Almodóvar, no longa “Volver” (2006), onde contracenou com Penélope Cruz. Após rodar a Espanha, onde reside desde 1996, por nove meses com o espetáculo “Casa de Muñecas: Segunda Parte”, escrito pelo americano Lucas Hnath, ela estará no elenco da primeira série originalmente espanhola da HBO, intitulada “Pátria“.

María Isabel irá participar da série espanhola “Pátria”, que será exibida pela HBO (Foto: Divulgação)

Com previsão de estreia para 2020, mas sem data específica divulgada, a trama é baseada na obra do autor basco Fernando Aramburu e retrata os horrores gerados pelos conflitos entre o governo espanhol e o movimento separatista ETA. A produção irá acompanhar a história de duas famílias marcadas pela guerra. “Acabei de filmar essa série. Ela irá estrear na HBO e conta a história de duas famílias que são separadas por consequência do terrorismo. É uma obra que retrata suas consequências, mostrando o cotidiano das pessoas em meio aos confrontos gerados pelo ETA”, revelou.

No cinema, o seu mais recente foi protagonizar “A Viagem Extraordinária de Celeste Garcia”, de Arturo Infante. O longa, que estreou oficialmente no Festival de Toronto, acompanha uma ex-professora que procura, aos 60 anos, uma mudança na sua vida. Quando um grupo de alienígenas aterrissa em Cuba, oferecendo aos terrestres a oportunidade de visitar seu planeta, Celeste se inscreve para a viagem na esperança de uma vida melhor e mais gratificante. A produção, que foi exibida no 29º Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema, semana passada, rendeu à María Isabel o prêmio de Melhor Atriz por sua atuação ficção científica.

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“Ao ter contato com essa história, eu me emocionei bastante com a personagem. Decidi trabalhar em cima do primeiro sentimento que eu tive, que provavelmente é o mesmo que as pessoas irão sentir ao ver o filme. Para criar a Celeste, eu pensei em uma mulher que estivesse esgotada fisicamente. Ela sofre maus-tratos e eu quis evidenciar isso em sua expressão. Eu gostaria muito que as pessoas ficassem comovidas e se divertissem com o filme. Além disso, quero que as pessoas se vejam retratadas e reflitam sobre suas vidas. É muito importante que uma comédia de ficção, como essa, ajude os espectadores a refletirem”, frisou.

Em conversa com o Site Heloisa Tolipan, ela revelou que foi um grande desafio atuar em uma ficção científica: “Nunca assisti e não acompanho muito as produções desse estilo. Porém, o roteiro e a história da Celeste Garcia me comoveram bastante. Por isso, eu decidi participar. Por outro lado, achei muito divertido e foi uma vivência muito boa. Eu estava ansiosa para saber como as cenas com efeitos especiais ficariam. Me surpreendi demais e ficou tudo muito lindo e bem feito”.

María Isabel recebeu o prêmio de Melhor Atriz no 29º Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema (Foto: Rogério Resende)

A atriz ainda nos contou sobre as experiências que viveu ao longo de sua carreira, em especial sobre como foi trabalhar ao lado de cineastas reconhecidos internacionalmente, como Pedro Almodóvar, que já ganhou dois prêmios Oscar, e Steven Soderbergh, vencedor do Oscar de melhor diretor, com quem filmou “Che” (2007).

“Trabalhar com Pedro Almodóvar foi um presente. Eu sempre quis atuar em um longa assinado por ele e esse sonho se realizou. É uma pessoa especial,  detalhista e cuidadoso com o seu trabalho. Foi uma experiência muito bonita. Eu tinha muito medo de decepcioná-lo, pois é um mundo onde as pessoas estão em um nível de reconhecimento muito alto. Estava assustada! Mas, no fim, foi tudo muito bom. Ele gera confiança e tranquilidade para que a gente desenvolva o nosso trabalho. Com Soderbergh também foi uma grande experiência. Ele da bastante liberdade para os atores, sempre aproveitando o que nós possuímos de melhor”, afirmou.

María Isabel e Penélope Cruz em “Volver”, de Pedro Almodóvar (Foto: Divulgação)

A artista também fez questão de ressaltar o trabalho do ator e amigo porto-riquenho Benício del Toro, vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante, com quem contracenou em “Che”. O filme narra a biografia do revolucionário argentino Ernesto “Che” Guevara: “Sempre serei muito grata ao Benício del Toro, um companheiro de trabalho que se tornou um irmão. Na época das gravações, Soderbergh não falava espanhol, e ele me ajudou bastante a criar uma conexão com o diretor”.

Além de possuir uma produção cinematográfica bastante efervescente, Cuba é referência no ensino da sétima arte, possuindo uma das escolas de maior prestígio no mundo, a Escuela Internacional de Cine y TV (EICTV), que é mantida pelo governo e teve o escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez (1927-2014) como um de seus fundadores. María Isabel falou com otimismo sobre o atual momento do cinema cubano e reafirmou a importância de fomentar o apoio à arte.

“Eu estou a todo o momento lendo notícias e tentando ficar bastante informada. O cinema cubano é um trabalho artesanal, pois os realizadores necessitam buscar investimentos para suas produções. São momentos difíceis, mas gratificantes para o cinema cubano. Eu acredito na ideia de que as portas se abrem para quem deseja contar uma boa história. É essencial que as instituições oficiais também apoiem essas ideias e essas pessoas”, disse.