Relembre humorísticos do passado na TV, que contaram, inclusive, com Fernanda Torres em cenas hilárias sobre o Oscar

*por Vítor Antunes

A cerimônia de entrega do Oscar é um verdadeiro ícone pop. Para alguns, ela serve como um balizador de qualidade e confiabilidade para os filmes, funcionando como um selo de prestígio na indústria cinematográfica. Para outros, no entanto, o Oscar não passa de uma cerimônia antiquada, que consagra como “de qualidade” apenas os filmes que se encaixam em um perfil específico e em expectativas moldadas pela Academia. A televisão brasileira, por sua vez, sempre manteve um relacionamento curioso e divertido com o Oscar, fazendo menções e paródias ao longo dos anos. Em diversas ocasiões, atores que hoje disputaram a estatueta já fizeram referência à premiação na TV. É o caso de Fernanda Torres, indicada como Melhor Atriz, e Selton Mello, co-protagonista de “Ainda Estou Aqui”, longa-metragem que ganhou o Oscar na categoria Melhor Filme Internacional. Curiosamente, Miguel Falabella, que sempre explorou o universo do cinema em seus trabalhos, também fez inúmeras referências ao Oscar, especialmente no humorístico Sai de Baixo.

Em 2025, o Brasil marcou presença novamente no Oscar, desta vez conquistando um prêmio histórico – Melhor Filme Internacional (anteriormente conhecido como Filme em Língua Estrangeira). O país também disputou nas categorias de Melhor Atriz para Fernanda Torres — repetindo o feito de 1999 com Fernanda Montenegro — e Melhor Filme, categoria na qual o Brasil jamais havia sido indicado antes. Essa representatividade crescente reflete a força e a qualidade do cinema brasileiro no cenário mundial, mas independentemente das opiniões divergentes, o fato é que a própria cerimônia do Oscar é sempre aguardada com entusiasmo. Seja pelos looks glamorosos que desfilam no tapete vermelho, pela estética que transita entre o sofisticado e o brega, pelas gafes inesquecíveis ou pelos momentos emocionantes e históricos, o evento continua a fascinar o público. A seguir, um resgate de algumas das menções mais engraçadas do Oscar na TV e no teatro brasileiros.

As Filhas da Mãe (2001)

Em As Filhas da Mãe, novela exibida em 2001 no horário das 19h, Fernanda Montenegro interpretava Lulu de Luxemburgo, uma renomada diretora de cinema premiada oito vezes com o Oscar. Logo no primeiro capítulo, Lulu recebe mais uma estatueta, em uma clara referência ao prestígio internacional de Fernanda, que poucos anos antes havia sido indicada ao Oscar por “Central do Brasil”. Curiosamente, na mesma trama, Fernanda Torres — agora indicada na vida real — interpretava a versão jovem de sua própria mãe (Foto no destaque)

Os Normais (2003)

Há uma interessante cena de Os Normais e a atmosfera da cerimônia do Oscar. No seriado, Fernanda Torres está no palco enquanto Selton Mello aparece na plateia. Porém, Vani – personagem de Torres – faz uma paródia da premiação, brincando ao anunciar um prêmio para Rui (Luiz Fernando Guimarães) com o clássico: “And the winner is… And the Oscar goes to…”. Esse momento ganha ainda mais relevância ao considerar que, em uma das últimas temporadas, Selton Mello entrou para o elenco do programa. Em uma de suas típicas loucuras, Vani sobe ao palco para entregar o prêmio a Rui, em uma cena que ironiza a pompa e o glamour das premiações hollywoodianas, usando o humor característico da série para explorar as situações absurdas do cotidiano.

Fernanda Torres em “Os Normais” (Foto: Reprodução)

Casseta & Planeta (1999)

Em 1999, Fernanda Torres participou de um esquete memorável no Casseta & Planeta, no qual lembrou de forma bem-humorada a indicação de sua mãe, Fernanda Montenegro, ao Oscar por “Central do Brasil”. Coincidentemente, naquela ocasião, Fernanda Montenegro também conquistou o Globo de Ouro como Melhor Atriz Dramática. A cena, vista hoje como politicamente incorreta, brincava com os estereótipos de Hollywood. Fernanda imitava os trejeitos da mãe de maneira caricata, exagerando na afetação ao recusar ser tocada pelos humoristas do programa, referindo-se a eles como “chicanos” – um termo pejorativo para latinos. A cena culmina em um pedido absurdo: os cassetas pedem para Fernanda ir ao banheiro e tirar uma foto da Sharon Stone, enfatizando o desejo pela “proximidade” com a estrela. Essa paródia, apesar de controversa aos olhos contemporâneos, é um reflexo do humor sem filtros da época.

Fernanda Torres no Casseta e Planeta (Foto: Reprodução)

Zorra Total/Zorra

O Oscar também foi tema recorrente em Zorra Total e, posteriormente, no Zorra reformulado, sempre satirizando a grandiosidade e a pompa da cerimônia. No formato antigo, o humor girava em torno de personagens caricatos. A personagem de Katiuscia Canoro, por exemplo, recebeu o Oscar de Pior Assistente Social do Ano, numa paródia que brincava com a lógica dos prêmios exagerados. Já na versão reformulada, o programa assumiu um tom mais político, satirizando a realidade brasileira ao “premiar” políticos com títulos debochados, como uma deputada recebendo o Oscar de Melhor Atriz por fingir emoções em um depoimento na CPI. O humor ácido do Zorra explorou a teatralidade política do Brasil, associando-a à performance e ao glamour das grandes premiações.

Érico Bras e Maria Clara Gueiros no Zorra (Foto: Reprodução)

Sai de Baixo e o Teatro Besteirol

A relação entre o Oscar e o humor brasileiro remonta aos anos 1980, no auge do Teatro Besteirol. Em Finalmente Juntos e Finalmente ao Vivo, espetáculo de Miguel Falabella e Guilherme Karam, a entrega do Oscar de Melhor Atriz era satirizada com humor escrachado, refletindo a irreverência do Besteirol. Essa temática voltou a aparecer na peça A Noite do Oscar, de Vicente Pereira, parceiro de Falabella em diversas produções da época.

Maria Lúcia Dahl [1941-2022] no lançamento da peça “A Noite do Oscar”. Besteirol fazia piada em cima de referências cinematográficas e literatura (Foto: Revista Manchete/Biblioteca Nacional)

No humorístico Sai de Baixo, o tema do Oscar era recorrente e sempre abordado com ironia e bom humor. Miguel Falabella, com seu fascínio pelo universo do cinema, transformava a cerimônia em um palco de sátiras. Em um episódio memorável, Falabella aparece interpretando a si mesmo – não o personagem Caco Antibes – e é anunciado como “um ator que foi 25 vezes indicado ao Oscar”. Em uma paródia hilária das transmissões do evento, Falabella falava em inglês enquanto Cassandra (Aracy Balabanian [1940-2023]) fazia uma tradução simultânea absurda. A cena culmina com Vavá (Luiz Gustavo [1934-2021]) sendo premiado, numa inversão cômica e inesperada. Essa abordagem criativa não apenas fazia piada com o glamour hollywoodiano, mas também evidenciava o humor ácido e sofisticado de Sai de Baixo.

Miguel Falabella em “Sai de Baixo”. Episódio satirizava o Oscar (Foto: Reprodução)