Regina Casé estreia a nova temporada do “Esquenta!” e fala sobre a facilidade de transitar por todas as classes sociais: “Eu não tenho nenhuma divisão”


Atriz e apresentadora ainda revelou que já tem planos de rodar mais um filme com a diretora Anna Muylarte, de “Que Horas Ela Vola?” e retomar a peça Nardja Zulpério

Regina Casé está em ótima fase, e não esconde isso de ninguém! Depois do grande sucesso do premiadíssimo “Que Horas Ela Volta?”, da diretora Anna Muylaert, a atriz e apresentadora voltou às tarde de domingo da Rede Globo com um novo formato do “Esquenta!”. No entanto, esqueça tudo o que você sabe sobre o programa. Em sua nova temporada, Regina e sua trupe deixam os estúdios do Projac um pouquinho de lado e invadem a casa dos telespectadores para debater questões pertinentes que estejam em voga na nossa sociedade – sejam elas quais forem. No entanto, com inacreditáveis 42 anos de carreira, ela se arrepende de não ter o tempo que gostaria para se dedicar ao teatro e à dramaturgia, mas tudo sem crise. Em entrevista ao HT, ela falou sobre o novo formato do programa, carreira profissional e família. Vem!

Regina Casé (Foto: Divulgação)

Regina Casé (Foto: Divulgação)

Fazendo um balanço geral de sua trajetória, Regina comentou que gostaria de ter tempo para um carreira mais plural. “A balança está bem desequilibrada (risos). Eu tenho raiva. Eu gostaria de estar muito mais bem distribuída. Durante quatro anos que eu fiz como co-diretora o ‘Cidade dos Homens’, e achei que eu nunca mais seria apresentadora, nem atriz. De tanto que eu gostei de ser diretora. Foi uma experiência tão boa, tão maravilhosa. Eu adorei trabalhar com aquela equipe. Só que a vida nos surpreende e de repente, quando eu olhei, já estava apresentando um programa. Eu gostaria de equilibrar, de dirigir, escrever, apresentar, ser atriz. Isso que eu gostaria. Fazer um pouquinho de cada”, revelou ela.

No entanto, depois de decolar como apresentadora em programas que fizeram história como o “Brasil Legal” (1992), “Muvuca” (1998) e “Central da Periferia” (2006), a artista parece ter revisitado todo seu repertório para construir um novo “Esquenta!”. A atração dominical continua com o mesmo nome, mas o formato, até então inovador, promete surpreender e emocionar os telespectadores. Além do animado e colorido auditório que a apresentadora divide com Arlindo Cruz, Péricles, Mumuzinho, Xandy de Pilares e outros convidados ilustres, o formato ainda traz uma dose extra de emoção. Desta vez, Regina preparou as malas e viajou de norte a sul do país para encontrar famílias que tenham histórias, digamos, peculiares.

Programa agora entra na casa do telespectador (Foto: Divulgação)

Programa agora entra na casa do telespectador (Foto: Divulgação)

“É um orgulho sentir que as pessoas abrem suas casas e me contam histórias tão íntimas de uma forma natural. Vamos mostrar a forma de como cada família, em diferentes lugares do país, param o seu domingo para nos acompanhar na TV. Estamos felizes de fazer isso de uma forma nova e ao mesmo tempo de não termos abandonado uma outra conquista, que foi o auditório. Acho que a gente está só engatinhando porque este formato é muito promissor. Onde ele vai dar, se isso vai continuar no ‘Esquenta!’ ou não, eu não sei. Tem gente que olha e diz que é um outro programa, tem gente que diz que ainda é o ‘Esquenta!’. A única coisa que a gente sabe é que esse formato está muito desafiador e tem dado muita alegria para gente. A cada programa ele aponta para uma nova direção, isso é muito estimulante”, revelou ela.

Depois de ter ficado interruptos 14 meses no ar, houve muita indagação sobre o futuro do programa na grade da Globo. Mas, de acordo com Casé, a pausa foi fundamental para que ela e sua equipe observassem aquilo o que estava faltando para animar a festa. “A gente estava com a língua para fora já, e essa pausa foi boa para pensarmos neste formato. Ninguém gosta que alguém fale mal de você, mas ao mesmo tempo eu compreendia o que estava acontecendo. Eu tinha uma análise clara que a gente emendou um programa que foi idealizado para uma temporada, que virou um produto fixo e para gente também era muito difícil”, relembrou a apresentadora. Com o novo fôlego, a próxima temporada do “Esquenta!” ficará três meses no ar e, segundo a Regina, deixou sua equipe com vontade de inovar cada vez mais. “A grande alegria, que deixou a equipe cheia de tesão, foi que achamos um formato muito original”, completou.

Regina Casé apresenta a nova temporada do "Esquenta!" (Foto: Divulgação)

Regina Casé apresenta a nova temporada do “Esquenta!” (Foto: Divulgação)

De fato, Regina tem pautado seu repertório com atrações que falam diretamente com o público de classes menos favorecidas, financeiramente falando. Mas de acordo com ela, isso foi acontecendo muito naturalmente ao longo do tempo. “Não sei nem se é modéstia. Não sei se é um defeito ou uma qualidade. Eu tenho muita facilidade de me colocar na pele do outro, sabe? Eu não tenho nenhuma divisão”, avaliou. Reflexo disso é o sucesso do “Esquenta!” e o premiado filme “Que Hortas Ela Volta?”, no qual a atriz interpreta a empregada doméstica Val, uma mulher que deixou a filha no interior de Pernambuco e mudou-se para São Paulo onde se tronou babá, atrás de estabilidade financeira. Recentemente o filme foi coroado em diversas premiações, inclusivo no Grande Prêmio de Cinema Brasileiro. “Foi muito mais do que um filme, foi um marco na vida de um monte de gente e principalmente na nossa. Modéstia à parte, esse filme ganhou tanto prêmio em um monte de lugar que foi incrível sermos premiados aqui no Brasil também. Foi maravilhoso voltar a ser atriz. Esse filme fala de maternidade, das mulheres que precisam abrir mão de cuidar dos filhos. Conheci muitas Val pelo mundo e eu precisava contar essa história”, disse a atriz e apresentadora que, apesar do sucesso, não tem recebido muitos convites para atuar.

“Depois desse filme eu não recebi convite nenhum. Mas eu até entendo: é uma produção muito autoral. O roteiro é genial, claro, mas tudo que eu falo em cena, sou eu que estou falando. Teve muita improvisação ali. Acaba que eu viro uma coautora da diretora e do roteirista. E acho que isso é difícil para um diretor. Eu gosto muito de dar meus ‘pitacos’. A pessoa que me convidar para fazer uma peça ou um filme, estará convidando uma parceira, que possa dividir com ela o roteiro e a direção. Mesmo no ‘Esquenta!’, eu assino a criação. Meus trabalhos são muito autorais”, disse ela, que já entregou algumas novidades. “Essa parceria deu tão certo que, inclusive, a Anna Muylaert (diretora) já me chamou para fazer outro filme. Não existe nada ainda, mas já temos ideias”, revelou ela, animada.

Atriz como Val de "Que Horas Ela Volta?" (Foto: Divulgação)

Atriz como Val de “Que Horas Ela Volta?” (Foto: Divulgação)

Também apaixonada pelo teatro, onde estreou como atriz na peça “O Inspetor Geral”, em 1974, Regina tem ensaiado uma volta aos palcos com o grande sucesso de “Nardja Zulpério” (1991), espetáculo que rodou o Brasil por cinco anos. Segundo ela, já existe até um movimento para que ela retorne com o trabalho. “Tenho muita vontade. Já não aguento mais falar isso. Todo ano eu digo que irei equilibrar melhor a minha agenda e fazer alguma coisa no teatro. Tenho saudade da ‘Nardja Zulpério’. Fiz uma leitura desse espetáculo dia desses, e, percebi que muita gente ficou emocionada com o texto. Meu empresário falou que precisamos remontar esse trabalho, porque, o texto continua atualíssimo. Agora tem um movimento para o retorno desse espetáculo. Eu morro de saudade”, completou.

Agora, voltando a falar sobre a nova temporada do “Esquenta!”, por coincidência do destino ou não, no programa de abertura, os três temas abordados – adoção, relação da empregada doméstica com a família e mulheres acima do peso – têm ligação direta com a vida de Casé, mas ela garantiu que tudo aconteceu espontaneamente. “Foi coincidência”, disse. Mãe de Benedita, de 27 anos, do casamento com Luiz Zerbini, e de Roque, de 3 anos, da união com o diretor Estevão Ciavatta, ela não conteve a emoção ao conversar sobre um caso de adoção relatado no programa. “Esse tema me emociona muito por tudo que vivemos, mas agora não é hora de chorar”, afirmou. Roque foi adotado por ela e o marido em 2013. E, em 2011, Regina perdeu 15 quilos após uma reedução alimentar.

Regina Casé com Estêvão Ciavatta e o filho, Roque (Foto: Anderson Borde/AgNews)

Regina Casé com Estêvão Ciavatta e o filho, Roque (Foto: Anderson Borde/AgNews)

Tanta batalha ainda fez Regina Casé virar assunto internacional, depois de agitar a multidão que assistiu à abertura da Olimpíada do Rio. A revista “Time” e o “New York Times” a consideraram como a “rainha da cultura popular”. E quem vai duvidar? “Eu fiquei super feliz. Esse momento da Rio 2016 foi um momento incrível. Eles entenderam que pela minha trajetória e o estilo de programa que eu já fiz e faço eles me colocaram como a rainha da diversidade, aquela que valoriza todas as culturas e não só a oficial. Fiquei honrada e achei bacana que eles tiveram essa percepção”, completou.