Polêmica e violência às 21h: Se existisse, cidade de “Terra e Paixão” seria uma das mais perigosas do mundo


Com índices alarmantes de atentados e mortes, Nova Primavera, cidade fictícia de “Terra e Paixão” constaria entre as mais perigosas do mundo. Quando comparadas a outros municípios equivalentes, ainda em projeção já que, por não existir, a cidade não tem um número populacional assertivo, a cidade se aproximaria dos números de Itaipé (MG), que em um ano teve 14 homicídios. No caso de “Terra”, entre maio do ano passado e janeiro deste ano foram 13 – até agora, fora os atentados e tentativas de homicídio. “Terra e Paixão” chega a ultrapassar os números de uma novela intencionalmente criminal, “A Próxima Vítima”, que matou 11 personagens. O atual cartaz das 21h chega ao fim dia 19 podendo aumentar seu número de personagens mortos.

*por Vítor Antunes

Já encaminhando-se para sua reta final – inclusive alguns atores já finalizaram sua participação na trama – “Terra e Paixão” concluirá sua jornada neste mês. A novela de Walcyr Carrasco será exibida até o dia 19. Ainda que não tenha tido uma audiência arrebatadora como as antecessoras do autor no horário, “Terra” não fez feio e assinalou sempre na casa dos 30 pontos. Quando comparamos com o segundo lugar de audiência, a diferença é abismal. Na última terça-feira, por exemplo, a novela atingiu picos de 32, quando a vice, a Record, marcou 3,5, ou seja, um pouco mais de 10% da audiência da líder. E, em se falando de liderança, se a cidade de Nova Primavera existisse, também lideraria os índices de violência que fariam dela uma das mais perigosas, tanto do Brasil como do mundo. Desde a sua estreia, em 8 de maio, até a segunda semana de janeiro de 2024 foram 7 baleados e 13 mortos. O índice de falecidos é ainda maior que o de “A Próxima Vítima“, novela que tinha um serial killer, e na qual 11 personagens morreram. Na última semana, mais uma personagem a ser alvejada por um tiro foi Lucinda (Débora Falabella) e não é possível afirmar categoricamente se a personagem figurará também entre as falecidas. Dentre as mortas, resta saber quem matou Agatha e Nice (Eliane Giardini e Alexandra Richter, respectivamente).

Estimando de acordo com o que os próprios personagens dizem sobre Nova Primavera, que que se trata de uma “cidadezinha do interior do Mato Grosso do Sul”, é possível crer que ela seja, de fato, uma cidade com uma população pequena, e claro, por ser uma novela, não temos como precisar sua população. Apenas três cidades do MS têm mais de 100 mil habitantes: Campo Grande, Dourados e Três Lagoas. A menor cidade do estado é Figueirão, com um pouco mais de 3.500. Projetando que Nova Primavera tenha 10.000 de população, ela ainda estaria entre as menores do Mato Grosso do Sul. O cálculo em cima de homicídios e criminalidade geralmente se apoia sobre uma população de 100 mil habitantes, sendo esta a referência padrão. Para termos uma ideia da periculosidade do fictício município sul-mato-grossense, um artigo publicado em 2017 pelo pesquisador Jefferson Pereira na Revista Jus Navigandi, apontou que na cidade de Itaipé (MG), entre 2016 inteiro e o início de 2017 foram 14 homicídios, na cidade de 11.000 habitantes. Itaipé possuía na época uma taxa de 116,6 homicídios por grupo de 100 mil pessoas o que a colocou entre as cidades mais perigosas do mundo.

Partindo desse princípio, Nova Primavera também estaria entre as mais inseguras cidades do planeta, já que entre maio de 2023 e janeiro de 2024 foram 13 os mortos, deixando-a num número muito próximo ao de Itaipé. O Índice “aceitável” pela ONU é de 10 a cada 100 mil. A cidade com mais alto índice, segundo esse estudo, é Caracas, na Venezuela, com 120 homicídios para cada 100 mil pessoas. Dados mais atualizados, publicados pelo Anuário do Fórum de Segurança Pública de 2022 sinalizam que a cidade brasileira líder em homicídios e outros crimes violentos letais é São João do Jaguaribe (CE), com média 224 a cada 100 mil habitantes.

Já faz algum tempo que as cidades brasileiras de pequeno porte figuram entre as mais perigosas e são vários os motivos. Desde a questão fundiária a outras relacionadas ao tráfico de drogas. No caso de Nova Primevera, tanto a questão fundiária como a política ordenaram a matança. Inclusive a primeira delas, a do marido de Aline (Bárbara Reis). A morte de Samuel (Ítalo Martins) foi o que desencadeou a novela e a trajetória da protagonista da história – que inclsuive acabou ofuscada por personagens coadjuvantes como Ramiro (Amaury Lorenzo), assassino de Samuel. Ramiro também matou Isabel (Yasmin Gomlewsky) e Breno (Daniel Chagas).

Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), 77% das 403 mortes ocorridas no Brasil eram por causa de disputa de terra – tema central da novela. O único recorte que distancia Nova Primavera dos índices brasileiros é o fato de que a maior parte desses crimes acontece na Amazônia Legal, e não no Centro Oeste. Tanto que, ainda segundo a CPT, o Amapá seria o estado mais violento do Brasil. Entre as 10 cidades com índices elevados, uma é no Mato Grosso, Aripunã, e quatro são no Norte.

Na última semana, Lucinda foi alvo de um atirador de aluguel e está entre a vida e a morte em Terra e Paixão (Foto: Leo Rosario/TV Globo)

NA ROTA DO CRIME

O nome do antigo programa policial exibido pela Rede Manchete ajudaria a explicar a alta periculosidade de Nova Primavera. Conforme citado, o primeiro a morrer foi Samuel. Depois foi a vez de Cândida (Susana Vieira), por causas naturais – ainda que tenha sofrido uma tentativa de assassinato pelas mãos de Irene (Glória Pires). Seguidamente a isso foi a vez de Daniel (Johnny Massaro) morrer num atentado, bem como Nice e Agatha. Ernesto (Eucir de Souza) foi explodido e sua esposa Dalva (Patrícia Pinho), morreu num hospital, em condições suspeitas. Almeidinha (Camillo Borges) faleceu por tiros, Ruan (Tairone Vale), Sidney (Paulo Roque) e Gregório (Felipe Roque) perderam a vida em atentados. O primeiro foi envenenado, o segundo esfaqueado e o terceiro, atropelado.

Porém, não apenas de mortes são feitos os personagens da trama. Outros também foram alvo de atentados. Jonatas (Paulo Lessa) ficou PcD (Pessoa com Deficiência), após ser alvejado por um tiro. Helio (Rafael Vitti), Ademir (Charles Fricks), Vinícius (Paulo Rocha) e Caio (Cauã Reymond), alvos de estilhaços de balas. Ou seja, “Terra e Paixão” sairá do ar com uma estatística elevada no que diz respeito à violência e mortes, além de índices elevados de audiência, um elenco numeroso, sendo uma das tramas mais extensas da faixa nos últimos anos. Também será citada pela turbulência em sua autoria com a doença de Walcyr Carrasco e os atrasos nas gravações. Porém, acima de tudo, será marcada pelos personagens Kelvin e Ramiro que caíram nas graças dos telespectadores, apesar da alta dosagem de brutalidade da trama e de violência do personagem de Amaury Lorenzo.

Nice (Alexandra Richter) e Andrade (Ângelo Antônio). Ela foi morta e ele atropelado (Foto: Léo Rosário/TV Globo)