“Plano Alto”, nova minissérie da Record, traz à teledramaturgia os movimentos populares e períodos duros da história do Brasil


Programa acerta no timing e levanta discussão política em meio às eleições presidenciais

*Por Júnior de Paula

No mesmo dia em que Karl Lagerfeld levou para a passarela do desfile da Chanel uma turba de white blocs fashionistas, com direito a Gisele Bundchen de megafone na mão, gritando palavras de ordem e segurando placas de apoio ao feminismo, o tema voltou à tona com a estreia da minissérie Plano Alto”, na rede Record. O tema, no caso, as manifestações, o povo nas ruas e a glamurização do movimento revolucionário que pipoca nos quatro cantos do mundo.

“Plano Alto”, que esteou nesta terça-feira (30/10), mostrou-se um ótimo produto, com uma trama que gira em torno de três gerações da mesma família mergulhada nas questões políticas do país. Guido Flores, interpretado por Grancido Júnior, lutou contra a Ditadura Militar, e, atualmente, ocupa o cargo de governador do Rio; seu filho, João Titino, personagem de Milhem Cortaz, foi cara pintada no início da década de 1990; e o neto, Rico, vivido por Bernardo Falcone, participa das manifestações populares de 2013. Os três, apesar da ligação familiar, não são próximos.

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Fotos: Divulgação

O governador e o deputado só se relacionam politicamente e o neto mora com a avó. Em uma das cenas, aliás, quando Rico e a namorada, interpretada por Mariah Rocha, vão para as manifestações, percebe-se que a relação entre pai e filho não é das melhores. Ele, quando questionado sobre quem seria o pai-deputado, desconversa e prefere não falar, mostrando que pouco se orgulha do cargo. Bernardo Falcone, aliás, fez um bom primeiro capítulo, já que tem em mãos um dos principais personagens do programa e o que vai movimentar toda a trama ao se voltar contra a própria família, se envolvendo com os radicais dos movimentos sociais.

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Fotos: Divulgação

O elenco é uma atração à parte, com nomes, além dos já citados, como Jussara Freire, André Ramiro, Babi Xavier, Paulo Gorgulho, Esther Góes, Daniela Galli, André Mattos, Floriano Peixoto, Giuseppe Oristânio, Flávia Monteiro e Bemvindo Siqueira, entre tantos outros, em um casting que consegue misturar novos e bons atores a outros já consagrados. Com texto de Marcílio de Moraes, os personagens foram muito bem apresentados e os conflitos começaram a ser definidos de forma bastante natural, sem aquele didatismo preguiçoso de alguns primeiros capítulos. A direção de Ivan Zettel também é outro ponto alto da minissérie: segura, coerente, sem invencionices, mas com contemporaneidade, agilidade e belos enquadramentos.

Plano Alto terá 12 capítulos e, se depender deste primeiro, já pode entrar para a história da emissora dos bispos como um dos produtos mais sofisticados e bem produzidos da emissora. Sem contar no timing perfeito, em meio às eleições e quando todos os olhos do país estão voltados para os temas que se discutem dentro e fora dos gabinetes dos políticos. Que siga essa trilha, e que venham mais surpresas boas. inclusive políticas.

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*Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura