“O sonho da minha geração não é ter seguidores. É ter a trajetória eternizada em biografia”, diz Sidney Magal


“Me Chama que eu Vou”, documentário em que o cantor revisita sua trajetória, vai ser exibido no Canal Brasil como parte da competição do Festival de Gramado na quarta-feira. Magal fala com exclusividade ao site sobre a produção, e também sobre outro filme, “O Meu Sangue Ferve por Você”, da mesma diretora, Joana Mariani, uma ficção inspirada na vida do cantor com sua mulher, Magali West, com quem é casado há 40 anos. O artista vibra com as homenagens pelos 50 anos de carreira e reflete sobre o momento: “Minha música fala mais dos sentimentos, ativa a sensibilidade. E alguns meios de comunicação estão sempre mostrando novidades, o que acho bom, mas muitas vezes fazem isso, independente de qualidade musical. Acho que quem me curte, não é saudosismo, é gostar de uma música que fale mais à emoção. Venho de uma época de personalidade de artista, com prioridade na qualidade musical. Isso não passa, é atemporal. A velocidade no fazer hoje é que não compreendo. A Anitta, por exemplo, tem feito um clipe por mês, é isso? Acho uma loucura. Por quê? As pessoas estão enjoando rápido das músicas? É velocidade é uma necessidade agora? Não tenho nada contra, só não entendo mesmo”

*Por Brunna Condini

São 50 anos de carreira, mas Sidney Magal vem atender o telefone para nossa entrevista, da sua casa em Salvador, na Bahia, com o mesmo entusiasmo de sempre. “Parece que continuo no início da carreira. Gosto de falar, conversar, principalmente sobre o meu trabalho que amo. Eu vibro com tudo. Não canso de fazer música, ser acarinhado pelas pessoas”, diz o cantor, que mesmo em meio à pandemia, tem motivos para celebrar.

E um deles revisita suas cinco (bem vividas) décadas de trabalho: o documentário “Me Chama que Eu Vou”, de Joana Mariani, que tem estreia nacional na Mostra Competitiva do 48o Festival de Gramado, nesta quarta-feira (23), às 20h30, dentro da programação do festival transmitida pelo Canal Brasil. O filme leva para a telona os momentos mais significativos da vida do cantor, dançarino, ator e dublador que se tornou um ícone da música popular brasileira. E também faz um paralelo entre a vida do artista e a sua existência fora dos palcos. Tudo costurado por suas músicas que marcaram gerações, e narração em primeira pessoa. “As mensagens que passo são otimistas em relação à vida. Neste momento, lançar esse documentário, foi assertivo. Ele joga a gente para cima”.

“As mensagens que passo são otimistas em relação à vida. Neste momento, lançar esse documentário, foi assertivo. Ele joga a gente para cima” (Divulgação)

Nascido Sidney Magalhães, ele destaca o recorte da roteirista e diretora Joana Mariani. “Eu sou o Sidney de Magalhães, e o Sidney Magal é a minha persona artística. O Magal não é uma caricatura que criei, ele está dentro de mim, toma conta da minha carreira, não da minha vida. A Joana captou isso muito bem. Me emocionei. Não esperava em vida, ter essa homenagem incrível”, vibra. “Tem também o livro lançado pela Bruna Fonte, o “Sidney Magal: muito que um amante latino” (2017), que ficou maravilhoso, o resultado me deixou bem feliz, e isso vem marcando a celebração dos 50 anos de carreira. O sonho da minha geração não é ter seguidores em redes sociais. É ter a trajetória eternizada em uma biografia. Isso tudo me realiza em vida. Sobre o documentário, o trabalho é carinhoso, não quero conquistar prêmio, mas o coração das pessoas. Embora eu ache que o trabalho da Joana merece muito”, diz sobre o filme que leva no título o nome de uma de suas músicas mais famosas, que foi tema de abertura da novela “Rainha da Sucata” (1990), e também brinca com uma característica de Magal, que é seu ‘ok’ constante para os convites que recebe na vida.

“Eu sou o Sidney de Magalhães, e o Sidney Magal é a minha persona artística. O Magal não é uma caricatura que criei, ele está dentro de mim, toma conta da minha carreira, não da minha vida” (Divulgação)

Emoção à flor da pele

Aos 70 anos, ele relembrou trechos da produção que o comoveram. “Me emocionei em muitos momentos. Como sabem, sou primo de segundo grau de Vinicius de Moraes, e no documentário pediram para que eu cantasse uma música dele e eu me emocionei. Teve também o momento em que cantei uma de Dorival Caymmi, que amo, ‘João Valentão’. Essa é a música da minha vida (risos). Comprei até uma casa em Itaparica para viver aquela vida, aquela parte boa”, conta. “Outra grande emoção foi quando quase no final do documentário me colocaram na praia, ao lado do meu filho Rodrigo West, que é muito responsável por tudo que estou vivendo, pelo DVD que gravei dos 50 anos de carreira, e por tudo que tenho topado fazer. Ele está sempre junto de mim. E isso me deixa feliz. No filme, ele aparece de mãos dadas comigo, agradecendo aos orixás, pela vida que tive até aqui. Tenho filhos saudáveis (Rodrigo, Nathalia e Gabriela), bom caráter, uma mulher que amo há 40 anos, a Magali West. Minha neta Madalena, que acabou de completar 3 meses. Não sei se merecia tanto. Meu público é que sabe”.

“Foi uma grande emoção quando quase no final do documentário me colocaram na praia, ao lado do meu filho Rodrigo West, que é muito responsável por tudo que estou vivendo” (Divulgação)

Além do documentário, Joana Mariani prepara outro filme sobre o artista, desta vez como produtora, ao lado de Diane Maia. “Meu Sangue Ferve por você”, definido como uma comédia romântica musical, livremente adaptada na vida do cantor, que será dirigida por Paulo Machline, com José Loreto como Sidney Magal e Giovana Cordeiro como Magali. A ficção é um recorte de três meses sobre como ele e Magali se conheceram, há 40 anos, em uma turnê. Como tem sido sua participação neste filme? “Minha única condição foi que a atriz escolhida fosse lindíssima como minha mulher. Quando encontrei Magali, conheci a mulher mais linda da Bahia”, derrete-se. “Sobre Loreto, a Joana sugeriu e o levou no show de gravação do meu DVD. E ele chegou com uma alegria, um entusiasmo muito grande para esse trabalho. Acho que ele tem a altura, um cabelo meio desvairado, tem estudado muito, estamos interagindo, acho que tem tudo para dar certo. Acho que é um ator que vai inteiro, vai fazer das tripas coração para fazer um Magal verdadeiro”, completa sobre o longa que ainda conta com a participação de Matheus Nachtergaele, Luíz Miranda e Emmanuelle Araújo.

Sidney Magal ao lado da mulher Magali, e da filha Gabriela, em imagem de arquivo utilizada no documentário (Divulgação)

Que tipo de amor é o seu com a Magali? “É muito difícil a gente saber o quanto o outro nos ama. Apesar de ela ter demostrado muito nestes anos todos, com grandes provas de amor, muita parceria. Mas o que posso falar é que meu sentimento nestes 40 anos é de um amor desesperador por ela. Me emociono pensando na nossa história. Ela é a mulher da minha vida, será para sempre, peço que Magali esteja comigo até o fim da vida”.

O cantor e a neta Madalena, filha de Nathalia: “Não foi examente uma homenagem à música, mas me senti homenageado” (Reprodução)

A quarentena e o artista

Magal se define um apaixonado pelo contato com o público. E admite, que uma das maiores dificuldades durante o isolamento social na pandemia da Covid-19 tem sido não saber quando vai poder lotar um show novamente. “A presença do público me enlouquece. Sinto muita falta do calor, do carinho direto. E apesar dos privilégios que alguns possam ter, essa pandemia veio dar um baque violento na vida do artista. No primeiro mês de quarentena, já tive de cara, mais de 20 shows adiados. Mas fazer o quê? Não tem jeito”, desabafa.

Sobre as badaladas lives, o artista simpatiza, mas levanta prós e contras. “Acho maravilhoso, é um espaço. A minha, por exemplo, fiz independente, com meu genro, que é maestro, mas banquei para estar ali, em contato com o público”, revela. “Estou querendo fazer a segunda, mas não quero descapitalizar. São muitos meses sem trabalho. Então, sigo elaborando, e aberto a convites interessantes para uma próxima live. Claro que nada substitui a inteiração direta, sou um artista do público. Quando puder juntá-los novamente, vou estar aqui para fazer. Aliás, tenho energia de sobra para trabalhar. Mas gosto de ser atraído pelos projetos, e é maravilhoso porque sempre lembram de mim. Me sinto realizado, feliz e vou continuar cantando. O público e o palco gostam de mim”.

“Tenho energia de sobra para trabalhar. Mas gosto de ser atraído pelos projetos, e é maravilhoso porque sempre lembram de mim” (Divulgação)

Sobre seu estilo, que virou ‘queridinho’ de festas moderninhas nos últimos anos, além de continuar sendo exaltado por seu público cativo, Magal comenta: “Minha música fala mais dos sentimentos, ativa a sensibilidade. E alguns meios de comunicação estão sempre mostrando novidades, o que acho bom, mas muitas vezes fazem isso, independente de qualidade musical. Acho que quem me curte, não é saudosismo, é gostar de uma música que fale mais à emoção. Venho de uma época de personalidade de artista, com prioridade na qualidade musical. Isso não passa, é atemporal. Sempre defini minha música como um gênero latino, dançante, romântico, e ao mesmo tempo pop. E estou sempre aberto as levadas modernas, atuais, a receber novos músicos”.

E completa: “Essa velocidade no fazer é que não compreendo. A Anitta, por exemplo, tem feito um clipe por mês, é isso? Acho uma loucura. Por quê? As pessoas estão enjoando rápido das músicas? É uma necessidade essa velocidade agora? Não tenho nada contra, só não entendo mesmo”.

Magal na década de 1970: “Venho de uma época de personalidade de artista, com prioridade na qualidade musical. Isso não passa, é atemporal” (Divulgação)

O que faz seu sangue ferver, nos dois polos? “Me tira do sério a falta de respeito. O sangue que ferve no outro, ferve em você. Então, se você respeita o outro, não vai agredi-lo, ser preconceituoso. O outro não te agrada? O mundo é grande, se afasta, segue sua vida. A falta de respeito diária, inclusive dos políticos que nos governam, faz meu sangue ferver mesmo”, garante o cantor.

“Agora o que me faz o meu sangue ferver de verdade, do jeito que gosto, de alegria, satisfação, amor, é o seguinte: o sorriso da minha neta, o ronco da minha mulher, por exemplo (risos). Ela vai me matar por dizer isso, mas é verdade, adoro. Se ela ronca é porque está respirando, está viva, então posso ficar tranquilo. Minha família faz meu sangue ferver e sou louco por todos. E o que vivemos de felicidade dentro do nosso núcleo acaba se expandindo para o mundo”.

“Minha família faz meu sangue ferver, sou louco por eles. E o que vivemos de felicidade dentro do nosso núcleo, acaba se expandindo para o mundo” (Reprodução)