O Comendador que todo mundo aprendeu a amar e os altos e baixos de “Império”, a novela que não vai ser esquecida tão cedo


Alexandre Nero se consagra como um dos maiores atores de sua geração e fala sobre o fim da história que lhe deu a oportunidade de brilhar

* Por Junior de Paula

Terminou nesta sexta-feira (13/3) a saga de um dos personagens mais amados dos últimos tempos da televisão brasileira: o comendador José Alfredo, vivido com força, carisma e muita disposição por Alexandre Nero e criado com megalomania por Aguinaldo Silva, o autor de “Império”.

Nero, que já tinha mostrado serviço em outras produções televisivas, mas em papéis pequenos, como o motorista Baltazar, companheiro inseparável de Crô (Marcelo Serrado), em Fina Estampa”  outra novela de Aguinaldo -, desta vez teve mil e uma oportunidades de mostrar o motivo de ser um dos atores mais interessantes de sua geração.

O fim do comendador, o personagem mais amado dos últimos tempos (Foto: Divulgação)

O fim do Comendador, o personagem mais amado dos últimos tempos na teledramaturgia brasileira (Foto: Divulgação)

Sem se deslumbrar ou se render ao politicamente correto fora das telinhas, Nero se consolida como o galã improvável que todo mundo quer ter por perto. Tanto é, que mal acabou de gravar e já vai ter que começar a pensar em seu próximo personagem, o protagonista de Favela Chic”, a nova novela de João Emanuel Carneiro, que estreia assim que Babilônia” acabar.

O comendador tinha uma moral meio torta, uma aura de anti-herói e um caráter cheio de dúvidas, mas não há um espectador que não tenha se apaixonado por ele. Culpa, em grande parte, de Nero que se jogou sem medo no universo alegórico de Aguinaldo Silva o qual, nem sempre, conseguia entregar o que prometia.

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A novela patinou em alguns momentos – principalmente nas reviravoltas repentinas. Como explicar o Alzheimer da noite para o dia de Severo (Tato Gabus Mendes); a crise de consciência de Téo Pereira (Paulo Betti) que, depois de anos em busca de cliques, se transformou em um “jornalista sério”; e mesmo o mordomo Silviano (Othon Bastos) que, sem nenhum indício, deu uma guinada de 180 graus para se revelar o grande vilão da história?

Tudo, claro, é novela, é folhetim, mas as reviravoltas poderiam ter sido desenvolvidas com menos pressa, menos ansiedade e de forma mais extensa. Aguinaldo Silva, entretanto, é um mestre em criar bons personagens e não foi diferente desta vez. O Comendador, como já dito, talvez seja o melhor personagem masculino da década. E a Maria Marta vivida por Lília Cabral fez com que a atriz voltasse a brilhar como nunca no papel da matriarca de uma família complexa e de poucos valores.

O eixo principal da novela, aliás, também merece destaque: Leandra Leal, Daniel Rocha, Marina Ruy BarbosaCaio Blat e Andreia Horta construíram seus personagens com bastante dignidade e seguiram assim até o fim. Destaque também para Dani Barros, a maravilhosa Lorraine; Aílton Graça, com sua irresistível Xana; Zezé Polessa e Tato Gabus, com os hilários Magnólia e Severo; e Rômulo Neto, o filho Robertão do casal atrapalhado, que provou só precisar de mais oportunidades para cuidar direitinho do que lhe é entregue.

Alexandre Nero se despede  de seu personagem emblemático (Foto: Divulgação)

Alexandre Nero se despede de seu personagem emblemático (Foto: Divulgação)

Grandes atuações, como se sabe, não vêm sozinhas. É preciso um bom texto e uma boa direção que, em “Império”, estavam garantidas pelo sempre sofisticado Rogério Gomes e sua equipe. Este, aliás, foi um ótimo acerto na escalação que antes era ocupada por Wolf Maya. Acertos, esses, que vinham até de lugares com muita probabilidade de darem errado, como a necessidade da troca de Drica Moraes por Marjorie Estiano na defesa de Cora, a grande vilã prometida para a novela, mas que morreu sem dizer a que veio. E não por culpa das duas intérpretes, que fizeram maravilhosamente uma personagem detestável. Uma pena.

A morte do Comendador no fim da novela foi corajosa e repercutiu por horas – e segue sábado adentro – nas redes sociais. Até Alexandre Nero usou a internet para dizer suas últimas palavras sobre o personagem que o elevou a status de “o homem do ano”, antes de viajar para a Europa – “para algum lugar”, como ele mesmo disse -, que o faça esquecer até que ele se chama Alexandre. Enquanto esperamos as cenas do próximo capítulo, ficamos com as palavras do ex-Comendador.

A família Medeiros ao fim do último capítulo de Império (Foto: Raphael Dias/ Reprodução)

A família Medeiros ao fim do último capítulo de Império (Foto: Raphael Dias/ Reprodução)

“CHECK OUT COMENDADOR: Aguinaldo Silva, o criador de histórias que já entraram pra história da TV, e o único insano que acreditou que, mesmo eu sendo eu, poderia protagonizar uma novela das 21:00 da Rede Globo. Em um papel onírico me apresentou seu comendador José Alfredo Medeiros, deixou-me metamorfoseá-lo em carne, osso, pele, cabelos e tecido adiposo, assim se tornou nosso Comendador Zé Alfredo.

E quando digo “nosso” não digo meu e dele, e sim de todo um elenco, da equipe, dos espectadores, do carnaval, do boteco, dos salões de beleza, do táxi, ônibus, do futebol (sim, parece que muitos homens voltaram a assistir novela – ou pelo menos agora assumiram-) das feiras e mercados, dos bingos das igrejas, das ruas, enfim, da grande parte dos brasileiros. Papinha, mestre da gentileza, dono da visão, do bom senso e bom companheiro de copo, Pedrinho Vasconcelos, o maestro the flash de coração imenso e sua deliciosa, apetitosa, cheirosa, festiva, xuxuzim, e doce equipe.

Lilia Cabral, que já foi minha gentil colega na recepção de um novato, agora amiga, parceira nessa “comissão de frente” e a nossa grande “dama-líder”, nossa “nave-mãe” neste nosso Star Wars. Drica, nunca te vi, sempre te amei! “Filhos”, Leandra, Caio, Andrea e Daniel, como deve ser bom ser pai de vocês. Amigo eu sei que é! Marina, menina-mulher, guerreira que não deixou se abalar pela maldade e inveja alheia. Você é fada! Joaquim, Suzy, Ju e Zé Mayer: “família” que amei tanto que chego a odiar. Maria Ribeiro, eu te amo de tanto que você odeia. Seu Othon, Bomfim e dona Laura, só de poder chamá-los de colegas já me considero um sucesso! Santos e demônios de Santa Teresa, minha melhor gargalhada e reza.

Outros amados do elenco que não citei nome por falta de espaço ou paciência em escrever: Já sabemos que vamos criar uma comunidade alternativa e viver todos juntos lá, né?! Equipe e produção se desdobrando para tentar fazer nada menos que o melhor. Admiradores (seja meu ou do comendador), a todos que de alguma forma estiveram por perto ou na torcida MUITO OBRIGADO E… Que venham todos os fins, porque eu sei recomeçar.”