No último episódio desta 4ª temporada, “Homeland” se aprofunda no drama e dá novo gás à trama estrelada por Claire Danes


Vencedor de cinco Globos de Ouro, inclusive ‘Melhor série de drama’, programa vai fundo na psiquê dos personagens e mostra que, no universo da espionagem, quase nada é o que parece!

O canal de TV a cabo Showtime finalmente exibiu neste último domingo (21/12) o episódio final da quarta temporada de “Homeland”, que conseguiu conferir novo gás à série produzida por Katie O’Hara e comandada por Alex Gansa. Após vencer cinco Globos de Ouro e, ano passado, desagradar tanto os fãs quanto os críticos durante a temporada anterior, o programa se reinventa, voltando às suas origens e – melhor! – fugindo do óbvio.

A série continua, claro, seguindo as aventuras da agente espiã da CIA, Carrie Mathison (Claire Danes) – que está mais para uma super-heroína moralmente contestável do que para aquela típica mocinha que deixa o trabalho pronto, como Jessica Chastain em “A Hora Mais Escura” (“Zero Dark Thirty”, Kathryn Bigelow, Columbia Pictures, 2012). Muito andou se especulando sobre o que seria de “Homeland” após a morte de Brody (Damian Lewis), uma vez que grande parte da trama era centrada em seu impossível romance com a protagonista. Mas, ao invés de ficar se detendo episódios a fio no seu luto, a atração começou esta última fornada de episódios indo direto ao ponto e colocando todo o amor que o público sentia por Carrie à prova.

Carrie Mathison (Claire Danes) é obrigada a enfrentar os próprios demônios (Foto: Divulgação)

Neste último ano da atração, Carrie Mathison (Claire Danes) é obrigada a enfrentar os próprios demônios (Foto: Divulgação)

Atenção, a partir daqui o texto inclui spoilers!!!

Foram muitos os momentos em que a espiã se mostrou falha como ser humano: houve a sedução fria e calculista do adolescente Aayan Ibrahim (Suraj Sharma), que acabou resultando em sua morte abrupta; o maltrato com que ela andou tratando Fara (Nazanin Boniadi), uma obediente e esforçada seguidora que acabou se provando mais do que muitos em seu episódio derradeiro; e, claro, logo no primeiro capítulo desta temporada, o público viu e se chocou com a capacidade com que a anti-heróína abandonou Franie, sua filha de menos de um ano, aos cuidados da irmã e do pai.

Mas, agora, no último episódio deste ano, fica claro que dentro de um covil disfarçado de CIA, Carrie ainda consegue ser a única heroína de fato – ao lado de Quinn seu novo par romântico, queridinho de todos e brilhantemente interpretado por Rupert Friend. Mas, calma, que HT já chega lá. Antes, é preciso reconhecer que, apesar de algumas pessoas terem achado a season finale morna e devagar, ela é exatamente aquilo que faltava para abrir uma quinta temporada da maneira certa. Promete.

Rupert Friend brilha na quarta temporada de Homeland como o agente revoltado Peter Quinn  (Foto: Divulgação)

Rupert Friend brilha na quarta temporada de Homeland como o agente revoltado Peter Quinn (Foto: Divulgação)

Ao longo de 2014, não  faltou emoção em “Homeland”. Foram muitas as situações em que o telespectador precisou se segurar à beira da poltrona, agarrando com as unhas as almofadas. Houve a invasão ao Consulado Americano e a cena em que o público voltou a ver Carrie fora de controle por conta de sua bipolaridade (só faltou exigir a caneta verde). Tiveram as tomadas de fuga de Aayan, o sequestro de Saul, a dúvida sobre a honestidade do coronel Aasar Khan (Raza Jaffrey) e até as negociações diplomáticas entre EUA e Paquistão, que pareciam prestes e sucumbir sob tiroteios a qualquer momento. Isso sem falar no tão merecido e aguardado desenvolvimento do personagem de Quinn, que teve a chance de mostrar ao público o talento de Rupert Friend e agregar um pouco mais de profundidade emocional ao programa para que este não se perdesse em mero entredo de suspense e ação.

  • Este slideshow necessita de JavaScript.

Tudo isso leva o público ao episódio final. Após perder 36 companheiros em um massacre na Embaixada e ainda tentar assassinar o líder terrorista Haqqani em vão, Carrie volta para Washington, onde é obrigada a enfrentar seus problemas normais – o que, no seu caso, não se trata alívio algum. Com a morte repentina do pai, os telespectadores vêem um lado maternal pouco conhecido da protagonista e conhecem seu genuíno desejo escondido de abandonar a carreira de espiã e se tornar dona de casa – algo que só fica claro após sua reação ao pedido de Quinn. Mas, indo além, o programa traz ótima reviravolta e apresenta a mãe de Carrie, que abandonou a família há 15 anos e retorna abruptamente à vida de espiã.

É interessante também conferir como o aspecto psicológico da protagonista evoluiu, mas, ao mesmo tempo, ela ainda carrega consigo os mesmos traços paranoicos, obsessivos e determinados da primeira temporada. Ao ir atrás da mãe, ela entra em uma jornada de autoconhecimento, que até então estava em segundo plano na trama, obrigando-a a lidar com sua condição mental e fazendo-a se enxergar como merecedora de uma família e vida normais. Sem nenhuma ação propriamente dita, o episódio gira todo em torno desse momento de aprofundamento na psiquê dos personagens, revelando tanto o melhor de cada um deles quanto o pior. E provavelmente esse será o lado obscuro que chegará com força total na próxima temporada, com foco especial para Saul Berenson (Mandy Patinkin).

Este slideshow necessita de JavaScript.

O antigo instrutor de Carrie Mathison apresenta seu lado mais ambicioso nos últimos minutos do episódio final, selando um acordo com o diabo para poder voltar ao comando da CIA. Traída, Carrie se vê sem rumo ao descobrir que seu ídolo aceitou negociar com Haqqani em troca de poder e, assim como o público, enxerga uma faceta mais perversa e humana do personagem idealizado, ladeado pelo odiável Dar Adal (F. Murray Abraham). E, conhecendo bem a espiã, é fácil portanto concluir que essa questão não sairá barata e que existem grandes chances de ela se rebelar contra ex-mentor e fazer de tudo ao seu alcance para desmoralizá-lo, ou mesmo agir por suas costas.

Em entrevista ao site da Entertainment Weekly, David Nevins, presidente do Showtime, comentou sobre o episódio final e a mudança no tom na narrativa: “Eu achei que eles precisavam fazer um episódio de volta à Washington, e havia a necessidade de lidar com a situação familiar de Carrie, incluindo aí seus problemas com a maternidade. Também foi necessário existir algum tipo de conclusão política, não apenas um fechamento da ação. […] Isso que é tão legal acerca do programa – ele pode acabar tendo diferentes direções. Pode ser contemplativo, irritado ou qualquer outra cosa. Em seu âmago, é uma série chamada “Homeland” (“Pátria”) e eu considerei importante trazer o foco de volta para o lar de Carrie. Se o público voltar e olhar a temporada toda como um movimento contínuo, esse foi um episódio incrivelmente apropriado”, declara o executivo.

Ainda não se sabe exatamente qual direção a quinta temporada irá tomar ou qual será a repercussão desta última na sequência de premiações que está por vir. Mas, com Claire Danes desempenhando o papel de co-produtora além do de protagonista, Carrie provavelmente terá mais desafios variados ainda ao longo da história, o que, para um programa com cinco anos já de estrada, pode significar a exata dose de vigor. Isso sem contar que o núcleo da família de Brody ainda não deu as caras, apesar de ótima (e brasileiríssima) Morena Baccarin já ter declarado que voltaria para participações especiais. Portanto, “Homeland” continua sendo uma das principais atrações dominicais na grade horária norte-americana, para a felicidade geral da plateia.

Carrie Mathison surta com sua bipolaridade pelas ruas do Paquistão: "Minha séri! Ninguém sai!" (Foto: Divulgação)

Carrie Mathison surta com sua bipolaridade pelas ruas do Paquistão: “Minha série! Ninguém sai!” (Foto: Divulgação)