No ar em “Mister Brau”, Luis Miranda critica o queda do MinC. ” A gente não pode esquecer que a cultura não é um privilégio. A cultura é educação”


Ator comemora o sucesso da segunda temporada da série, e comenta o racismo no país. ” Precisa-se tomar cuidado com essa elitização da cor. A ideia quando a gente fala da comédia é para mostrar a pluralidade. Isso que tem que ser dito. Pluralidade! Somos todos iguais”

Luis Miranda é uma metamorfose ambulante. O cara faz comédia, drama, novela, homem, mulher, transexual… enfim, para ele não tem tempo ruim. No ar como o malandro Lima de “Mister Brau”, o ator se diverte ao falar de suas cenas extravagantes de um personagem que só quer viver de música e diversão. “Ele é o cara que faz o refrão. E que é a única coisa que todo mundo lembra e canta em uma música”, contou, aos risos. “Apesar dele ser um cara desapegado. Ele não tem casa, ele não tem fortuna, ele não tem nada. Porque eu acho que essa é a grande alma do artista. O artista é esse passarinho. Desse cara que vive da ilusão do que cria, do que consome. Está mais preocupado em viver, em se divertir. Ele é um bon vivant dentro daquela mansão. Ali tem tudo o que  ele precisa e não tem necessidade ele ter mais. Acho isso uma riqueza do Lima”, ressaltou o ator, que destaca o segredo do sucesso da série.

Luis Miranda (Foto: Divulgação)

Luis Miranda (Foto: Divulgação)

“Música, alto astral, inversão de valores, no sentido de uma sociedade que está sempre acostumada a ver o negro na figuração, ou como coadjuvante de um modo geral. E estar como destaque em um produto de TV. Negros lindos, bonitos, etc. Eu acho que isso tudo chama a atenção para um Brasil que não vê essa beleza revelada. A dramaturgia também ajuda muito. O texto é uma pérola. Além do elenco que bota para quebrar. Enfim, todos esses fatores contribuem para o sucesso de ‘Mister Brau’”, disse.

Em uma conversa intimista com o HT, o ator de 46 anos ainda relatou o que acha da divisão que está acontecendo no país entre brancos e negros. “A gente sempre foi o país da miscigenação. Aqui não tem ninguém puro. Não vem pra cá, a Grazi Massafera com o bocão me dizer que ela é europeia. Tem negro ali naquele dendê. Esses cabelos são todos alisados. Elas passam escova ali. Precisa-se tomar cuidado com essa elitização da cor. A ideia quando a gente fala da comédia é para mostrar a pluralidade. Isso que tem que ser dito. Pluralidade! Somos todos iguais. #somostodosmaju,#somostodostaísaraújo,#somostodosgrazimassafera. Então é isso! Todo mundo comendo e bebendo e pegando Dengue (risos)”, salientou.

Lázaro Ramos, Taís Araújo e Luis Miranda (Foto: Divulgação)

Lázaro Ramos, Taís Araújo e Luis Miranda (Foto: Divulgação)

Focado em seu trabalho na televisão, Luis se divide entre a série global e o humorístico “Zorra”, que para ele são atividades complementares em sua carreira. “Eu continuo na nova temporada do ‘Zorra’. É um caos, mas é uma delicia. Eu saio daqui com essa energia toda do Brau e vou para o Zorra, que tem um elenco maravilhoso. Uma energia idem. O programa tem crescido muito. Estou muito feliz! Quando eu fui convidado, eu falei que queria fazer um humor arretado. Um humor sem fronteira. E, está sendo assim. A gente está muito violento. A gente preciso um pouco de humor para baixar a bola”, ressaltou ele, que ainda comentou sobre sua vontade de voltar à dramaturgia. “A gente está em busca de oportunidade, de desafio. Eu, agora mesmo, estou construindo a série da minha peça ‘7 Conto’.  Eu consegui um edital. Estou escrevendo roteiros e bem feliz. Não posso falar detalhes, mas está encaminhando. A ideia é mostrar um pouquinho do que a gente sabe fazer, né?”.

Em “Geração Brasil”, sua estreia em novelas, Luis Miranda quebrou preconceitos ao dar vida a transexual Dorothy Benson. No entanto, com o trabalho veio também uma super exposição de sua vida pessoal, que o deixou um tanto incomodado. “Tem uma coisa que nós artistas precisamos aprender. Fala-se apenas e exclusivamente de seu trabalho. Eu não gosto que mostre a minha casa. Isso acontece muito pouco. Não gosto de falar da minha vida pessoal. Não interessa a ninguém. Tem uma invasão, sim. Mas eu sempre dou uma cortada e tal. Eu levanto a bandeira da paz e do bem. E da sociedade em si. Um artista de caráter, dificilmente ele é metralhado. Só é metralhado quem está na corda bamba: gente que gosta de mostrar peito, de mostrar bunda”, apontou ele, que destacou o limite que o humorista hoje precisa viver para não tropeçar na comédia politicamente correta.

O ator como a transexual Dorothy Benson, em "Geração Brasil" (Foto: Divulgação)

O ator como a transexual Dorothy Benson, em “Geração Brasil” (Foto: Divulgação)

“A vertente vai sempre quando você se volta o espelho para você. O politicamente correto no Brasil, passa a ser uma coisa questionável a partir do momento que você perde o direito a também criticar. A crítica precisa ser feita. A partir dela que você melhora e você constrói, mas ela precisa ser fundamentada. Eu não posso simplesmente criticar. A sensação que me dá hoje em dia é de que os olhos abertos para a crítica, devem estar abertos também para a cultura. E cultura é leitura, falar com causa e com juízo. É ler o seu jornal. A rede social também veio para proliferar muitas coisas enganosas. Todo dia matam um. As pessoas precisam ser informadas! O que está gerando esse caos do país é a falta de informação. Hoje em dia a informação vale ouro”, destacou o ator.

Questionado sobre o fim do Ministério da Cultura, o ator se diz desacreditado, mas que também é preciso rever a forma que se conduzia projetos como a Lei Rouanet. “A gente está muito triste, mas eu acho que, de uma certa maneira, a gente precisa passar um pano a limpo na cultura. Isso vem em um momento que a gente vê que precisamos ter uma reforma no país. Quando você faz um reformulação das coisas você investiga onde estavam os problemas. Não é justo que uns tenham patrocínio de 15, 20 milhões, enquanto uma peça de 500 mil não consiga esse incentivo. Esse incentivo precisa ser mais pluralizado”, avaliou. “Mas a queda do Minc é um retrocesso absurdo, no que diz respeito à cultura e educação numa maneira geral. A gente não pode esquecer que a cultura não é um privilégio. A cultura é educação”, finalizou.