Nizo Neto releva comparações com Chico Anysio e pede atenção do Governo sobre a ayuahasca: “Que tenha fiscalização”


Filho de um dos maiores comediantes diz que o talento ímpar de Chico Anysio é inatingível. Não faz muito tempo, Nizo gravou um vídeo no qual dizia estar procurando emprego e conseguiu seu intento por que apostou no clickbait e, segundo ele, “Notícia boa não vende”. E atua em peça teatral. Nizo também pede um olhar mais cuidadoso do Governo para o que diz respeito ao consumo de ayuahasca, já que seu filho faleceu após um surto psicótico com o consumo do alucinógeno. “Que tenha uma fiscalização”, frisa

*por Vítor Antunes

O nome de Nizo Neto, Francisco Anysio de Oliveira Paula, é o mesmo nome de batismo de seu pai, Chico Anysio (1931-2012). Chico, por sua vez teve oito filhos, muitos deles ligados à arte da comédia. O fato de terem essa ascendência que é um patrimônio, poderia ser algo pesado, difícil. E, sob algum aspecto foi. Mas Nizo decidiu romper com as cobranças quando observou ter o próprio caminho. “Sofri muito. As pessoas são cruéis. Mas entendo a comparação. Eu mesmo já me peguei comparando filhos de artistas com os pais, mas é algo inverossímil. Não dá para pensar assim. Eu desencanei quando me dei conta que não há quem faça o que meu pai fez, em nenhum lugar no mundo, e não vou ser eu quem vai fazer. Herdei um pouco dele na parte vocal, mas hoje não vejo problema em quem nos compara”. Inclusive, em se tratando de patrimônio, Nizo não pode falar sobre o assunto, já que a herança de Chico Anysio é um tema controverso. “Não posso falar sobre questões de herança”.

Recentemente, Nizo publicou um vídeo nas redes sociais no qual “pedia emprego” no Instagram. Segundo ele a estratégia deu certo. “Notícia boa não vende. O clickbait só funciona desse jeito. Se disser ‘Nizo Neto quer largar carreira’ ou ‘Nizo está passando necessidades’ [funciona]… As pessoas são preguiçosas e não leem as matérias, mas fiquei muito tranquilo em relação a isso. Não ligo para o que as pessoas pensam. O que importa é que eu consegui o que queria. O sensacionalismo sempre existiu e sempre vai ser assim. Eu tinha certeza que isso ia acontecer e queria que acontecesse. Não tem como escapar. Por mais sensacionalista que seja a visão, é aquilo mesmo”.

Durante o mês de março, Nizo está em cartaz com a montagem de “Nunca desista dos seus sonhos“, no Rio de Janeiro, no Vanucci. O ator diz que “90 % dos espectadores saem de casa para assistir por causa do Augusto Cury. Esta é uma comédia reflexiva, que faz pensar sobre coisas que a gente vive, mas de uma forma leve, diverte muito, as pessoas saem gratificadas”. A peça terá curtíssima temporada, nos dias 16, 17, 23 e 24 de março, aos sábados e domingos, no Teatro Vanucci.

Além de “Nunca desista dos seus sonhos“, Nizo segue fazendo dublagem, tem um podcast, o ‘Nizologico’ , um curso online de dublagem chamado “Versão Brasileira Você” e uma linha de produtos eróticos, como géis, da linha “Vem Transar“. Anos atrás, ele e a sua esposa, Tatiana Presser, faziam o show “Vem Transar Com a Gente“, que fez muito sucesso. Tatiana, porém, é sexóloga e não atriz. De modo que a rotina de ensaios foi desgastante para ela. “Tatiana fazia bem o projeto, mas não é o universo dela”.

NA VIDA PARTICULAR, A DOR DE UM PAI

Em 2016, Nizo Neto foi abalroado por uma notícia triste. Seu filho, Rian Brito, foi encontrado sem vida na Praia de Quissamã, no estado do Rio de Janeiro. O rapaz teve contato com a ayahuasca. Desde então, Nizo coloca-se favorável a uma grande discussão política a respeito do uso da bebida alucinógena. “Sou a favor de um debate maior em relação a isso. Continuo e não vou parar. Acho que esse é um assunto sério. Não que deva ser proibido, mas que tenha uma fiscalização do Governo. A Ayahuasca faz bem para muita gente. Há pessoas com relatos incríveis de vida, mas também há pessoas que tiveram o contrário, que foi o que eu vivi, de gente que surtou e não voltou à consciência. Meu filho teve um surto psicótico clássico. Mas os militantes radicais não admitem que isso pode fazer mal. Há tráfico disso, inclusive. Há gente ganhando dinheiro com isso. Ouvi pelo menos 100 relatos iguais àquele que aconteceu com meu filho. Acho que o Ministério da Saúde tem que, realmente, ver isso. É algo muito sério, já que trata-se de um alucinógeno e pode trazer coisas irreversíveis, como esta tragédia”.

Nizo Neto é um dos nomes de “Nunca Desista dos Seus Sonhos”, baseado em obra de Augusto Cury (Foto: Divulgação)

SONHOS, CURY E CURA

Nizo é dublador desde muito jovem. Um dos personagens dos quais ele dublou e que fez muito sucesso foi Ferris Bueller, protagonista de “Curtindo a Vida Adoidado“, que reitera a fala do ator. “A vida passa muito rápido”. Nizo, que está às vésperas dos 60 anos, diz ainda se espantar “com a rapidez da vida. Quando somos novos, não cremos que vamos envelhecer, ou que isso vai demorar uma eternidade para acontecer, que vai ser um número, mas não é só isso. Mas, realmente, a maturidade tem vantagens. Uma delas é estar vivo. A outra, o cartão de idoso”, aponta, descontraidamente. O artista aponta que “há muita coisa acontecendo na minha vida. É um movimento que mostra que não paramos de aprender nem de crescer. Eu entrei na TV em 1971 e até hoje tenho acesso a desafios e coisas novas. Isso é muito impactante na nossa profissão”.

Nizo Neto estreou na TV em 1971 e tem 53 anos de careira (Foto: Divulgação)

Um dos ensinamentos que a peça de Augusto Cury trouxe ao ator foi ser disciplinado. “Não adianta ter sonhos sem disciplina. Há de se dedicar para que as coisas aconteçam. Há aqueles sonhos que são lúdicos, mas que para realizá-los há alguma burocracia e as pessoas travam por que isso é chato. Se não pararmos para nos dedicar para o que se quer, é difícil acontecer”.

Viver do meu trabalho é um privilégio e há muitos artistas que fazem outra coisa, do que não gostam. Eu, graças a Deus tenho essa possibilidade. Faço podcast, curso de dublagem, muitos coisas que são sonhos, mas para os quais eu tenho que ralar mesmo – Nizo Neto

Nizo nega que viver numa família de humoristas seja algo como uma sitcom, no qual todos estão fazendo graça a todo tempo. Não. “Os artistas são malucos e que veem na arte uma forma de seguir em frente. Meu pai era irônico, inteligente mas não era engraçado a todo tempo. Na “Escolinha do Professor Raimundo“, o Rony Cócegas (1940-1999) era mais engraçado. Os demais, não. Ainda que tenhamos muitos comediantes em casa, isso não faz dela um show de comédia”, finaliza.