“Não precisamos aprender na pele. Temos exemplos do mundo para saber o que fazer”, diz Lorena Comparato sobre Covid-19


A atriz interpreta Celeste do filme Boca de Ouro, inspirado em obra de Nelson Rodrigues, dirigido por Daniel Filho. A estreia marcada para 2 de abril foi adiada. Em quarentena, assim como a maioria das pessoas, ela faz um alerta sobre a importância de seguir as recomendações das autoridades e como o exemplo de outros países pode ser a chave para evitar uma tragédia sem precedentes por aqui. “Depois da tormenta tiraremos lições disso tudo. É importante usarmos esse tempo para refletir o que queremos enquanto sociedade e agir”, afirma 

*Por Felipe Rebouças

A pandemia do novo coronavírus tem afetado a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo. No caso da atriz Lorena Comparato, a paralisação das atividades causou o adiamento de três filmes com participações suas neste ano, entre eles o lançamento do longa ‘Boca de Ouro‘, inspirado na obra de Nelson Rodrigues, dirigido e adaptado por Daniel Filho e protagonizado por Marcos Palmeira. Em que pese as restrições e o clima tenso impostos pelo vírus recém-chegado ao país, Lorena analisa os impactos na sétima arte e prefere, neste momento, usar sua voz e espaço na mídia para alertar às pessoas sobre a importância de seguir as recomendações das autoridades e órgãos internacionais.

“Não precisamos aprender na pele. Já temos os exemplos de outros países [com ênfase atualmente na Itália] para saber o que fazer. O mais importante agora é informar, informar e informar para que as pessoas se resguardem e evitem uma grande onda de mortes no Brasil”, afirma.

Celeste (Lorena Comparato) e Leleco (Thiago Rodrigues) durante cena do ‘Boca de Ouro’ (Foto: Ique Esteves/Divulgação)

Neste sentido, a atriz luso-brasileira, de 30 anos, nascida em Portugal, opina que algo dessa magnitude já era esperado devido ao que ela chama de ‘ritmo acelerado dos nossos tempos’. “José Saramago escreveu cultura da velocidade há décadas atrás. Hoje as pessoas se alimentam mal, trabalham demais, cuidam mal do ambiente ao seu redor e de si mesmas. Era inevitável a vinda de uma peste global como esta. Vivemos o reflexo dos nossos hábitos”, diz.

Em casa, acompanhada da mãe, Lorena ressalta a importância de reconhecer seus privilégios nesse contexto e utilizar o período em quarentena para tocar projetos antigos, arrumar a casa, fazer doações, aprender algo novo e valorizar quem está por perto.

“Eu tenho um teto, na minha geladeira felizmente tem comida, e estou dividindo esse momento com a minha mãe”, relata a atriz. “Depois da tormenta tiraremos lições disso tudo. É importante usarmos esse tempo para refletir o que queremos enquanto sociedade e agir”, completa. Nessa linha, a Cia de 4 Mulheres, formada por Andrezza Abreu, Anita Chaves, Karina Ramil e a própria Lorena Comparato, tem se reunido para produzir conteúdos audiovisuais voltados para o contexto de quarentena. “Voltamos de gravações em São Paulo recentemente e em breve apareceremos entre os blocos dos filmes do Canal E!, um esquete de humor por intervalo”, revela Comparato.

Cia de 4 Mulheres em formação. Da esquerda para a direita: Andrezza Abreu, Lorena Comparato, Karina Ramil, Anita Chaves. (Foto: Camila Maia)

A atriz lembra que esse é o momento de utilizar a internet para o bem coletivo. Ela recorreu ao vídeo de italianos confinados em suas casas fazendo aula de ginástica, que viralizou nas redes, como exemplo. “Agora é a hora de usar a internet para fazer aulas de yoga, exercícios físicos, assistir a filmes, séries, conteúdos diversos. É o momento de investirmos tempo e energia no consumo de cultura”, afima.

Filme ‘Boca de Ouro’

O longa que passa no Rio de Janeiro dos anos 60, mais especificamente no bairro de Madureira, conta a história do bicheiro e magnata Boca de Ouro, figura gananciosa e perspicaz que tinha como um dos objetivo de vida trocar todos os dentes da boca por dentes de ouro, segundo conta a peça teatral escrita por Nelson Rodrigues, em 1959. Clássico do teatro brasileiro, ‘Boca de Ouro’ estreou nos palcos em outubro de 1960, no Teatro Federação (mais tarde Teatro Cacilda Becker), com direção e atuação de Ziembinski no papel-título. A primeira filmagem ocorreu em 1963, com direção de Nelson Pereira dos Santos e, no elenco, Jece Valadão, Odete Lara e Daniel Filho.

Sua ambição, amores e pecados despertam a curiosidade do jornalista Caveirinha, que procura uma ex-amante do contraventor para colher material para uma reportagem sobre a sua vida. Ao iniciar o resgate dos acontecimentos da vida de Boca de Ouro, Caveirinha se depara com versões controversas que montam o decorrer da trama.

“É um compilado de perspectivas de cada personagem que fazem o espectador desenvolver sua própria aposta sobre o desfecho”, atencipa Lorena. A personagem dela, Celeste, casada com Leleco (Thiago Rodrigues), é pivô de um caso amoroso supostamente vivido por Boca de Ouro. A trama põe em cheque a fidelidade de Celeste ao marido enquanto deixa pairar a dúvida sobre quem matou o protagonista.

“É um compilado de perspectivas de cada personagem que fazem o espectador desenvolver sua própria aposta sobre o desfecho”, antecipa Lorena. (Foto: Ique Esteves/Divulgação)

“Sou muito fã de Nelson Rodrigues. Acho que ele retrata um ambiente extremamente machista, por isso suas histórias são realmente machistas. E serve para gente questionar uma época que de fato existiu e ainda tem seus resquícios”, aponta Lorena. “Minha personagem é uma menina jovem, casada com o Leleco, que tem que enterrar a mãe logo cedo e passa a enfrentar situações ao longo do filme que põem em cheque sua índole, seu caráter diante de situações que envolvem ganância, ambição. Acho que o público vai adorar quando for lançado”, conclui.

Compõem o elenco Marcos Palmeira (Boca de Ouro), Malu Mader (Guigui), Lorena Comparato (Celeste), Thiago Rodrigues (Leleco), Silvio Guindane (Caveirinha), Fernanda Vasconcellos (Maria Luisa), entre outros.