Na 21ª edição do SAG Awards, a TV mostra suas cores enquanto a disputa pelo Oscar de Melhor Filme acelera


Se o Globo de Ouro levantou a bandeira gay, Viola Davis e Uzo Aduba trazem a diversidade racial para o SAG, enquanto “Birdman” e “Boyhood” continuam o páreo duro pela estatueta de ouro

*Por João Ker e Maria Eugênia Gonçalves

Dando continuidade à temporada de premiações destas três últimas semanas, Los Angeles sediou, neste domingo (25/1), a 21ª edição dos Screen Actors Guild Awards, celebração da indústria audiovisual norte-americana, cujo grande diferencial é possuir entre os jurados os próprios astros hollywoodianos elegendo os demais colegas concorrentes como vencedores. A entrega de prêmios do sindicato dos atores, além de empolgante, serve também como um dos principais termômetros para esquentar a temperatura da cada vez mais próxima cerimônia do Oscar. E, este ano, o SAG colaborou ainda mais para aumentar as incertezas a respeito da estatueta de Melhor Filme na noite do próximo dia 22 de fevereiro, enquanto manteve no setor televisivo a notoriedade comentada e reconhecida das produções de qualidade oriundas de sites de streaming.

Nessa última área, o Netflix saiu à frente na disputa com as demais emissoras de televisão paga dos Estados Unidos, encabeçando três dos principais prêmios por duas de suas elogiadas atrações: assim como no Globo de OuroKevin Spacey foi eleito o Melhor Ator Dramático do ano por seu exemplar desempenho na segunda temporada de “House of Cards” e, impedindo a penta-vitória da já cansativa “Modern Family”, “Orange Is the New Black” finalmente levou para a casa o reconhecimento de Melhor Elenco em Série de Comédia e Melhor Atriz coadjuvante, nas mãos da nigeriana-americana Uzo Aduba (mais do que merecido para a “Crazy Eyes”). Entre os demais prestigiados, encontram-se  “Downtown Abbey”, como Melhor Elenco em Série Dramática; a sempre ótima Frances McDormand, ganhando em Melhor Atriz Dramática como a ranzinza Olive Kitteridge na minissérie homônima da HBOViola Davis, Melhor Atriz Coadjuvante em Série Dramática pela nova aposta de Shonda Rimes“How To Get Away With Murder”William H. Macy como Melhor Ator Coadjuvante pela performance de um pai problemático na versão americana da dramédia “Shameless”; Mark Ruffalo (que também concorria como melhor ator de filme por“Foxcatcher”) como o Melhor Ator em Série, por seu papel no emocionante relato sobre o combate ao HIV, “The Normal Heart”.

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No quesito TV, parece que o preconceito de Hollywood em premiar sempre os mesmo atores e atrizes está começando a mudar. Viola Davis foi uma das que tocou no assunto durante seu discurso, agradecendo aos roteiristas e produtores de “How To Get Away With Murder” por terem acreditado que “uma afro-americana de 49 anos e pele escura” poderia interpretar uma “mulher sexualizada, problemática e misteriosa” na série que tem sido um fenômeno televisivo. Até a vitória de Uzo Aduba, a única negra em sua categoria, parece apontar para mudanças, ainda mais se for levado em consideração que todas as suas concorrentes são queridinhas de outros prêmios, incluindo o SAG. Isso apenas minutos depois da mancada que uma repórter da TNT deu ao perguntar por quê Rashida Jones estava “tão bronzeada” no tapete vermelho (a atriz é conhecidamente filha de Quincy Jones).   

O discurso emocionado de Viola Davis no SAG Awards

Expandindo para a sétima arte, três atores veteranos já devem ter percebido que podem começar a comemorar de antemão o favoritismo inabalado para receberem as primeiras estatuetas douradas de suas carreiras: Julianne Moore, eleita Melhor Atriz por mais uma interpretação cheia de nuances como uma professora portadora de Alzheimer em “Para Sempre AlicePatricia Arquette pela sensata mãe solteira do garoto-estudo de“Boyhood – Da Infância à Juventude” como Melhor Atriz Coadjuvante; e J.K. Simmons, Melhor Ator Coadjuvante, ao incorporar o temido instrutor musical do intenso e visceral “Whiplash – Em Busca da Perfeição”. Entretanto, não só de repetições permaneceu a entrega do setor cinematográfico dos SAG Awards, uma vez que as maiores surpresas da noite ficaram por conta da escolha do novato Eddie Redmayne como Melhor Ator por “A Teoria de Tudo”, aumentando seu duelo com Michael Keaton; e pela desbancada do ex-queridinho Boyhood”por Birdman (Ou A Inesperada Virtude da Ignorância).

 

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E a emoção e surpresa não foram apenas para os curiosos espectadores: ao receber no palco o prêmio de Melhor Elenco em um Filme, Naomi Watts esqueceu onde pisava (oi J. Law!) e quase tropeçou no vestido de Emma Stone. A escolha de Birdman, também notavelmente prestigiado nos Producer’s Guild Awards, deu um nó na cabeça dos adivinhadores de plantão por aumentar ainda mais a imprevisibilidade na disputa pela escolha de Melhor Filme no Oscar de 2015. Entretanto, mesmo que as duas recentes vitórias tenham sido merecidas, servindo até mesmo como uma referência metalinguística sobre a indústria cinematográfica – já que Birdman trata essencialmente do estudo de um ator em ruína na busca por reconhecimento e admiração -, é provável que a obra de Richard Linklater saia na frente durante a tão aguardada cerimônia da Academia.

O elenco de "Birdman" segurando o favoritismo ao Oscar durante o SAG Awards (Foto: Divulgação)

O elenco de “Birdman” segurando o favoritismo ao Oscar durante o SAG Awards (Foto: Divulgação)