Miguel Falabella: ‘Precisamos criar ilhas de sensibilidade no meio da barbárie para adaptarmos ao que a vida propõe’

“Esse período de isolamento que tem sido muito difícil, fez com que estivesse presente a necessidade de ser filosófico no cotidiano para sobreviver”, pontuou Falabella (Foto: Reprodução Instagram)

* Por Carlos Lima Costa

É fundamental que cada um consiga utilizar suas ferramentas em busca de um bem estar mais consciente no planeta. Foi o que o ator, diretor, autor e apresentador Miguel Falabella pontuou na live gratuita Reinventando o Presente, que ministrou na página do Instagram do Teatro Bradesco. “Vou falar da nossa busca pela felicidade que nos une e nos confere essa qualidade de humanidade. Esse período de isolamento que tem sido muito difícil e fez com que estivesse presente a necessidade de ser filosófico no cotidiano para sobreviver. Sempre me perguntaram como consigo realizar tantas coisas. Nunca soube como responder, simplesmente foram acontecendo e eu fui realizando. Mas nesse período de recolhimento, eu passei a olhar para a minha vida profissional nessa ótica e acabei criando ingredientes da receita. Cada um vai criar a sua. E é fundamental que cada um utilize suas ferramentas em busca de um bem estar mais consciente no planeta. É como uma receita culinária. Ingredientes para um bem estar, um bem viver”, frisou

Nesse tempo de recolhimento, Falabella festejou ter sido imunizado com a primeira dose da vacina contra a Covid-19, doença que, em dezembro, revelou ter enfrentado, por sorte, com sintomas leves, mal-estar e febre durante dois dias. “Muito emocionado! Primeira dose! Parabéns SUS! Viva a ciência! Viva a Civilização! Vacina para todos!”, postou em seu Instagram,  em 16 de abril.

Em sua live, Miguel foi descrevendo seus ingredientes: Poesia, Comunicabilidade, Disciplina, Adaptabilidade, Praticidade, Agendamento, Originalidade, Pertencimento, Persistência e Generosidade. Ao enumerar cada um deles foi revelando histórias e curiosidades. “O primeiro é a Poesia, que anda um pouco esquecida nos dias de hoje. Ela é fundamental, nos obriga a fazer uma ginástica no cérebro. Emily Dickinson (1830-1886) é uma das minhas poetas favoritas. Vivia em Massachusetts, nunca casou, teve vida simples, nunca teve educação formal, era filha de pastor luterano e secretamente foi produzindo obra metafísica profunda que as pessoas se perguntam de onde veio. Com 40 e tantos anos decidiu que não ia mais sair de casa, ficou isolada”, contou e declamou um poema dela.

Miguel relembra passagens da vida pessoal e profissional durante a live (Foto: Reprodução live Teatro Bradesco)

Falabella explicou ainda que a capacidade de nos comunicarmos com o próximo na vida profissional e familiar faz toda diferença. “Quando temos o olhar humanizado e particular para o outro. Então, a Comunicabilidade nos permite nos colocar no lugar do outro. Dirijo muita gente em um musical, tem mais de 100 pessoas sob o meu comando. Se eu não olhar cada um de uma maneira diferenciada, não vai dar certo. Então, meus ingredientes se interligam”, explicou.

Ao citar a Disciplina, o ator ressaltou que “o maior aprendizado da disciplina é aprender a gostar de disciplina: “Eu era um criador que se não estivesse inspirado, não queria escrever. Agora, gosto de ser disciplinado, é fabuloso, devemos nos exercitar. Devo isso muito a Claudia Raia. Por sua formação de bailarina ela é maravilhosa nesse sentido. Hoje, gosto de ser disciplinado, de ter rotina. Gosto da liberdade de criação. Sou matinal, gosto de escrever pela manhã. Acordo cedo, faço ginástica, depois das 9 às 13 horas eu escrevo e paro para almoçar. Mas nem sempre aproveito o que escrevo”, contou.

Em seguida, frisou que a Adaptabilidade é fundamental e nunca esteve tão necessária quanto o tempo de agora. “Fomos obrigados a desaprender. É necessário criarmos ilhas de sensibilidade no meio da barbárie para que possamos aprender. É fundamental essa capacidade de se adaptar ao que a vida propões e não perder a cabeça”, ensina. E lembrou quando montou o espetáculo A Primeira Noite de Um Homem com Vera Fischer, que por conta de um problema no cenário, provocou risos na plateia e virou uma tragicomédia na estreia. Mas que depois se acertou.

“Eu era um criador que se não estivesse inspirado, não queria escrever. Agora, gosto de ser disciplinado, isso é fabuloso”, explicou o ator (Foto: Reprodução Instagram)

E ele prosseguiu revelando o ingrediente Praticidade. “Levei muito tempo para dizer não. Viemos de cultura de que temos de ser bonzinhos. Temos que ser práticos, indecisões são complicadas. Cada vez mais pratico para que a vida, possa seguir bem. Assim, o sexto ingrediente dessa receita é o Agendamento que nada mais é que conhecer-se, conhecer seu limite, como é capaz de fazer. Você se organiza, se agenda. Você divide sua energia ao longo do tempo que você tem”, diz. E lembrou quando assistiu uma apresentação de Bibi Ferreira (1922-2019), quando a diva das artes do Brasil já estava no final da vida. “Ela era uma luz, mas no camarim estava alquebrada, fraquinha, nem parecia ser a mesma pessoa. Ela contou que passava a semana deitada para fazer bem o espetáculo. Não era a toa que era grande, entendia bem seu agendamento interior. Tem muito a ver com disciplina, com essa disposição para o trabalho”, ensinou.

Falabella falou, então sobre a Originalidade: “É imprescindível. Hoje em dia essa busca é tão frenética que todo mundo faz tudo igual. É fundamental a originalidade e o entendimento do outro”, explicou e lembrou como exemplo disso a personagem Copélia de Toma Lá, Dá Cá, criada por ele e interpretada por Arlete Salles.

“Parabéns SUS! Viva a ciência! Viva a Civilização! Vacina para todos!”, postou Miguel, em abril, ao ser imunizado com a primeira dose da vacina contra a Covid-19 (Foto: Reprodução Instagram)

O  Pertencimento, segundo ele, é dar o justo valor as pessoas que estão ao seu lado. “Persistir é cada vez mais difícil. Emily Dickinson morreu sem ter um poema publicado, ela era à frente de seu tempo. Mas nunca deixou de escrever mesmo tendo sido rejeitada por todos os editores”, disse e lembrou a montagem teatral de Veneza, em 1994, e que 24 anos depois teve realizada sua versão cinematográfica com Carmen Maura, musa de Pedro Almodóvar e que será lançada nos cinemas dia 17 de junho. “O mais importante é que eu realizei, eu persisti no meu sonho. Meu avô era marceneiro, tinha pouca educação formal, mas era filósofo a sua maneira. Com 21 anos ele sobreviveu a gripe espanhola e se sou contador de história devo a ele. Morreu em 1994, foi grande aprendizado de vida”, frisa. O último ingrediente é a Generosidade que se adquire com o exercício cotidiano literalmente. “É uma mistura bem homogênea e você vê que essa massa fica brilhante. Quando exercitamos todas essas nossas ferramentas uma parte de nós se ilumina”.

Falabella, aliás, que já não tem contrato fixo de exclusividade com a Globo, teria sido convidado para ser o apresentador da próxima edição do reality A Fazenda, de acordo com o colunista Flávio Ricco, que contou a novidade no Programa de Todos os Programas. Mas como já teria um trabalho agendado para o segundo semestre, ele recusou o convite.