“Meus Dias de Rock”: Nova série do Canal Brasil mostra a realidade vivida e sofrida pelas bandas iniciantes no país


Para o programa, foi criada o “Coelho Branco”, grupo liderado por Bernardo Barreto e que lançará álbum com composições de Wado e Cícero, com produção de Alexandre Kassin

*Por João Ker

Lidar com arte e cultura no Brasil nunca foi fácil. Profissões como artista plástico, ator, músico, dançarino, etecétera exigem um quê de perseverança a mais, principalmente para quem não nasce no meio e não tem o tão celebrado Q.I. (Quem Indica). E é exatamente essa luta pela sobrevivência no mundo artístico e suas dificuldades do início de uma carreira musical que entram como tema principal da nova série a ser exibida pela Canal Brasil, “Meus Dias de Rock”, com estreia prevista para 12 de dezembro. Idealizada pelo seu ator principal Bernardo Barreto, que também escreve e dirige o projeto, o programa mostra a trajetória da banda fictícia “Coelho Branco”, criada especialmente para o projeto.

TEASER Meus Dias de Rock Temporada 01 

Apesar de o grupo ter sido formado apenas na ficção (por hora), a ideia é que eles transcendam os limites da telinha e ganhem mesmo espaço no mundo real, assim como aconteceu com Stillwater, de “Quase Famosos” (“Almost Famous”, Cameron Crowe, 2000) e The Revolution, de “Purple Rain” (idem, Albert Magnoli, 1984). Para isso, o investimento no som e na identidade da Coelho Branco foi pesado: a produção musical fica por conta de Alexandre Kassin (que já trabalhou com grandes nomes como Caetano Veloso, Vanessa da Mata e Los Hermanos) enquanto Cícero e Waldo trataram de compor as canções (que já podem ser ouvidas no SoundCloud oficial da banda). Nesse ritmo, cada música faixa corresponde a um episódio, enquanto cada temporada prevista ganha seu próprio disco, resultando em um projeto multimídia pronto para atender à futura demanda dos fãs.

Pelo que dá para ver pelo teaser, a série não poupa as polêmicas e apresenta uma cinematografia que casa muito bem com a realidade do roteiro, vivida diariamente por bandas independentes ao  redor do país. Ou seja, ingredientes de sobra para um sucesso sem precedentes, ainda mais se for considerado que o programa já está confirmado para cinco temporadas com 12 episódios cada. Como HT tem o olho afiado e gosta de apoiar novos projetos, batemos um papo com Bernardo e Wado sobre “Meus Dias de Rock”, que você confere abaixo:

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HT: De onde surgiu a ideia para o projeto?

BB: Desde muito cedo, escrevia pensamentos, ideias, histórias, músicas… é uma compulsão. No início de 2007, eu não me identificava com nada que a TV brasileira produzia. Fui a Los Angeles visitar um amigo, e lá só se falava em séries de televisão. Esse brother tinha uma banda… talvez isso tenha me inspirado. “Quem nunca quis ser um astro do Rock?”. Não queria copiar ninguém, então elaborei um formato original, que coubesse ao Rio, um Rio de Janeiro avesso ao cartão postal. E aí começou. “Qual a história por trás de uma música?” Não só aquilo que inspirou, como também tudo o que o artista está passando em torno. Eu quero desmistificar, encontrar o ser humano, as circunstâncias, e a música vira um fruto, marcando um capítulo, o disco, uma temporada. Bom, daí comecei a pirar no resto, buscando outros diferenciais para esse programa. Alguns abandonei por falta de dinheiro, e outros estão lá. Ou seja, é um projeto cheio de ideias originais, mas também de muita simplicidade. Talvez por tê-lo criado em Hollywood, tenha ido pelo caminho diferente. Tem muita influência do cinema dinamarquês.

HT: Qual a sua relação com a música? É um complemento para a profissão de ator ou algo que pretende seguir paralelamente?

BB: Eu escrevia músicas na minha infância. Era muito sensível, sempre fui. Aos 14 anos, fui morar em um internato nos EUA, aprendi a falar inglês e montei uma banda. Eu era o front man, tinha muita energia e uma necessidade estranha de estar ali, mas morria de vergonha. Eu cantava mal para cacete, mas como a maior parte do repertório era punk, passava desapercebido. Aos 17, voltei a morar no Brasil e o lance com a música ficou distante. Não penso nela como um complemento para a profissão de ator, mas uma continuação como artista. Parte do meu treinamento como ator e da preparação para este papel foi aperfeiçoar o lado musical. Mas não queria cantar como os “cantores”. Sempre achei a maioria dos cantores de rock nacional bem americanizados. Encontrei a musicalidade deste personagem de forma simples. O Cícero e o Wado foram fundamentais nesse processo e, com muito carinho, me deram alguns toques. E o Kassin também foi um parceirão. É um desafio. Continuo morrendo de vergonha, mas me esconder atrás do personagem ajuda. Quero muito fazer os shows, vai ser divertido.

HT: A história da série foi baseada em alguma banda real? Alguma história que você tenha ouvido ou vivido?

BB: Tem um pouco de tudo: histórias que ouvi e li, aqui e ali, passagens que presenciei, outras que vivi. E como tem a colaboração do Caio Soh e do José Carvalho no roteiro, tudo fica muito misturado. Como escritor, parto do sensorial. A imaginação vem depois. A vida é a grande experiência.

HT: O que enxerga em comum entre você e o Lucas?

BB: Muitas coisas, e essa é a parte difícil. Mas outras coisas são totalmente diferentes. No fundo, somos todos muito parecidos. Acho que o Lucas representa a necessidade humana de se sentir amado e ele mesmo se sabota, erra o tempo todo. Não quero entregar muito (risos).

HT: Wado, como foi entrar na cabeça da “Coelho Branco” e compor a partir dali?

W: Compor imaginando personagens e enredo é um exercício delicioso. Você trabalha o amadurecimento, tanto de discurso quanto de harmonia das músicas, e aquilo se soma ao trabalho dos atores para arredondar uma veracidade.  É ótimo compor sendo outro. Eu, Cícero e Bernardo acabamos virando um outro cara. E Kassin arranjou e timbrou lindamente.

HT: Qual a música preferida no projeto e por quê?

W: Gosto muito de “16”, ela é um hit em potencial. O disco todo é muito bonito e tenho orgulho dele.

“Meus Dias de Rock” estreia dia 12 de dezembro no Canal Brasil.