Leandro Hassum estreia comédia em que explora sua versão feminina e revela que vai dirigir um drama para o cinema

*Por Brunna Condini

O cinema é muito a praia de Leandro Hassum para se comunicar com seu público. Considerado um dos maiores nomes do audiovisual nacional no quesito audiência, já são mais de 30 filmes e ele não para. Mesmo morando na Flórida, vem sempre filmar por aqui e lançar as produções que participa, como a comédia ‘Uma Advogada Brilhante’, que chegou aos cinemas. O ator fala com exclusividade ao site sobre o novo trabalho, e também dos desafios ainda presentes na carreira e revela um desejo inédito na trajetória de 37 anos, que está prestes a realizar: “Quero dirigir um filme, de drama. Já tenho o roteiro é uma história linda. Vou atuar e dirigir na produção, que tem o nome provisório de ‘É preciso saber viver‘. Farei irmãos gêmeos. Quero esse desafio da direção para mim, estamos na fase de captação”. Avesso à glamourização da profissão, ele que se diz ‘bagaceiro’ e um operário, “um pedreiro” do ofício, observa:

Se tem uma coisa que me irrita na profissão, é que os comediantes são uma classe super desunida. É raro um torcer pelo outro. Ninguém quer se ultrapassado na bilheteria do cinema…já eu? Eu quero é que as pessoas arrebentem. Quanto mais gente for ao cinema, mais filmes serão feitos, mais filmes eu farei. Conto histórias para o público e desejo que ele compareça cada vez mais ao cinema, como está fazendo com ‘Ainda Estou Aqui’ que parou o Brasil em pleno carnaval. Esse Oscar é muito importante para a gente. Precisávamos desta alegria – Leandro Hassum

Leandro Hassum revela que vai dirigir um drama para o cinema e fala dos desafios na profissão ainda hoje (Divulgação)

Hassum é assim mesmo, fala o que pensa sem muitos melindres, mesmo quando são temas polêmicos e íntimos, mas gosta mesmo é de virar notícia por seu trabalho. Recentemente deu uma entrevista em que falou das dificuldades enfrentadas após descobrir o envolvimento do pai com a criminalidade quando tinha 21 anos, e que após a prisão dele, sua vida mudou drasticamente, precisando se reinventar completamente. Te incomoda esse trecho da entrevista ter se desdobrado em várias manchetes? “Não me incomoda, porque merda na família todo mundo tem. O que me aborrece, é quando me chamam para falar de determinados assuntos numa matéria, do lançamento de um filme, por exemplo, e a chamada é só sobre a minha vida pessoal. Não me incomoda falar, não curto é o sensacionalismo. Amo meu ofício, mas odeio o que gira em torno dele. Tem essa coisa dos artistas se levando muito a sério, sabe? Não me levo a sério e acho chato quem se leva. Tenho zero paciência, por isso estou ficando anti-social (risos)”.

Ao falar do novo filme, em que seu personagem se passa por uma mulher diante de uma situação limite na vida, o ator opina:

Leandro Hassum na sua versão feminina no longa ‘Uma Advogada Brilhante’ (Divulgação)

“Entendo isso. Meu personagem está prestes a ser demitido e por ter um nome que é confundido com o de mulher, acaba se aproveitando disso em um ato de desespero, porque na história, só mulheres ficarão empregadas na empresa em que trabalha. Eu mesmo já passei por vários momentos limites ao longo da minha carreira. Hoje sou um ator privilegiado, que tem trabalhado continuamente. Esse ano devo lançar três filmes e filmar mais três. Mas lá atrás, passei por muitas. Já me vesti de Papai Noel de shopping para poder bancar o Natal da minha família. Nada foi fácil até aqui”, recorda.

Os desafios na carreira continuam. Ainda hoje quando faço shows no mercado corporativo, por exemplo, passo por situações constrangedoras. Claro que não em todas as empresas, mas algumas quando compram seu show, acham que compraram você durante duas horas e que podem pedir qualquer coisa – Leandro Hassum

” No filme colocamos termos como gaslighting, manterrupting, para popularizá-los e não ser só uma lacração como dizem. Mostramos na prática” (Divulgação)

Michelle X Michelle

Em ‘Uma Advogada Brilhante‘, de Ale McHaddo, o ator interpreta um advogado de origem italiana, Michelle (lê-se Mikele), que tem seu nome constantemente associado ao sexo feminino. Quando descobre que será demitido do escritório onde trabalha, pois somente as advogadas mulheres continuarão trabalhando por lá, decide se passar por Dra. Michelle, para não ficar desempregado e poder continuar pagando pensão do filho. Hassum conta que ‘Tootsie‘ (1982) protagonizado por Dustin Hoffman foi uma grande referência para diretora. “Já para mim, a maior inspiração foi mesmo ‘Uma Babá Quase Perfeita‘, com Robin Williams (1951-2014), que tem um universo mais popular. Tal qual o personagem desse filme, o meu não se passa por mulher simplesmente para tirar o lugar de uma, é por necessidade, ele não quer perder a guarda do filho”.

Leandro Hassum na caracterização para as cenas do longa ‘Uma Advogada Brilhante’ (Divulgação)

Para o ator, o filme usa o humor e a leveza para desconstruir falas e comportamentos enraizados. “Colocamos termos como gaslighting, manterrupting, para popularizá-los e não ser só uma lacração como dizem. Mostramos na prática. Abordamos o machismo, a equidade de gênero, que são temas super importantes. É um filme diverso também. A própria Ale, nossa diretora, fez uma transição recente, tem uns quatro anos. Não é um filme sobre transição, mas tem representatividade, têm mulheres trans. Então, fui me cercando de todos esses olhares e isso foi fundamental para minha criação”.

Sobre sua preparação, ele destaca: “Levava em média duas horas para me caracterizar. Fiz muita fono, investi na voz de cabeça, para não ficar aquela voz óbvia de um homem se passando por uma mulher. Não quis fazer uma mulher nos maneirismos, a ‘mulher de esquete’. Nem alterei a minha voz, só dei uma suavizada, tirei o grave, subindo pra cabeça, como dizemos. Sou um homem grande, de 1,80m, então fiquei uma mulher grande. As pessoas estão vendo uma mulher, o que me deixa feliz. Não queria fazer uma caricatura”.

Faço o humor que acredito, aquele para divertir, sem ofender ninguém. É sempre um cuidado identificar até onde posso ir com a piada, mas não ferir- Leandro Hassum

“Abordamos o machismo, a equidade de gênero, que são temas super importantes” (Divulgação)

O filme reúne ainda Claudia Campolina, Bruno Garcia, Marcelo Mansfield, Paulinho Serra e Olivia Lopes. E conta com as participações especiais de Nany People e Danilo Gentili.

Assista o trailer:

Preconceito na pele

O ator diz que não dá para comparar preconceitos, ainda mais os vivenciados pelas mulheres ao longo da história, mas cita o tipo de discriminação que já enfrentou, antes e depois de emagrecer: “Diziam que eu tinha um rosto bonito. E eu pensava: e o resto, é podre? Diziam também: “Você vai emagrecer para quê? É engraçado gordo”. As pessoas precisam entender que isso não é elogio”. Hassum lembra que o momento mais difícil na carreira foi após a sua cirrugia bariátrica, em 2014. “Ali vi meu talento ser questionado. Colocavam em dúvida se eu continuaria sendo um comediante por não ter mais o corpo de uma pessoa obesa. Até que eu mesmo comecei a me questionar. Eu havia emagrecido 65kg e vibrava por dentro. Ao mesmo tempo, não saia de casa porque sabia que ia tomar porrada nesse lugar. Lembro que nos primeiros shows após emagrecer, eu saia muito mais suado do que quando tinha 160 kg. Parecia que estava fazendo mais força para ser engraçado”.

Fui entender na terapia, que as pessoas falavam essas coisas, porque achavam que tinham uma intimidade comigo, que eu não tinha com elas. Afinal me assistiam há anos. Mas no início não reagi bem. Respondia, fui grosseiro algumas vezes e falava: “Então você gostava mais de mim quando eu estava perto de morrer, já que obesidade é doença”. Com o tempo, fui aprendendo a lidar – Leandro Hassum

“Nunca me acomodei em todos esses anos de carreira. Sempre me desafiei e continuo faznedo isso, vou dirigir um drama” (Foto: Divulgação/ Globo)

“Nos útimos anos tive momentos difíceis, mas também felizes, como quando lancei ‘Tudo bem no Natal que Vem‘ (2020), na Netflix, após isso tudo, após a saída da Globo. Esse filme até hoje é o mais assistido na plataforma no mundo. Foi gratificante. Fora, que recentemente, um público novo tem chegado dizendo que é meu fã, com 13, 15 anos. Um barato. Isso tudo foi me abastecendo. Sou um cara que nunca me acomodei, nem quando fiquei 21 anos dentro da Globo. Fui um jovem que tive uma condição muito boa e depois por conta da minha família conheci o fundo do poço. Entendi cedo que o que importa é o seu caráter, a sua trajetória. Muita gente cai nessa cilada de se acomodar, mas sempre me desafiei. Por isso fiz o Silvio Santos (1930- 2024) em ‘Silvio Santos Vem Aí’, que está previsto para chegar aos cinemas em agosto. Fui convidado para este projeto em 2017, antes de todos os outros filmes sobre ele, mas só rolou depois. Posso dizer que estou encantado com esse trabalho e acho que o público vai se surpreender comigo”.

Leandro Hassum na pele do apresentador em ‘Silvio Santos Vem Aí’ (Divulgação)