Gabriel Milane, ator de ‘Garota do Momento’, decidiu trancar curso na USP: ‘O caminho artístico ganhou protagonismo’


O ator é o badboy desajeitado Topete, em “Garota do Momento”. De um rapaz malvado, que zoava a mocinha Eugênia (Klara Castanho), ele vive a fase de transição do personagem, agora par romântico da moça. O trabalho dele está sendo bastante elogiado pela Geração Z, que avalia as trapalhadas de Topete nas redes sociais. “Sinto que fui amadurecendo ao longo da vida. Criei um bom senso mais apurado, coisa que o Topete obviamente não tem. É justamente o contrário. A falta de senso dele implicou em uma série de acontecimentos que magoaram as pessoas e que deram essa característica de ‘vilão’”

Gabriel Milane reflete sobre decisão de ter trancado curso na USP para seguir carreira como ator (Divulgação/Phillip Lavra)

*por Luísa Giraldo

Aos 24 anos, Gabriel Milane é o novo nome da vez. O ator paulista vive o Topete, personagem que levantou debates após ter atitudes misóginas e homofóbicas na novela “Garota do Momento“, que é o novo interesse amoroso da jovem Eugênia (Klara Castanho). Embora esteja colhendo os louros com o papel, o rapaz teve que abandonar o curso de Sistema de Informação, na Universidade de São Paulo (USP) para apostar na carreira nas Artes Cênicas. Em entrevista exclusiva ao site, Milane reflete sobre desafios da escolha, sensibilidade fora das telas e autocobrança exagerada.

Gabriel Milane entende que as semelhanças com Topete eram mais perceptíveis em outra fase da vida. “Quando mais jovem, sempre fui muito espoleta, brincalhão e risonho. Trago muito disso. O Topete é aquela figura que, por si só, já quer chamar a atenção e chegar abafando. E tem um jeito jovem, mais solto e é bom de papo”, analisa.

Atualmente, ele percebe mais diferenças entre os dois. “Sinto que fui amadurecendo ao longo da vida. Criei um bom senso mais apurado, coisa que o Topete obviamente não tem. É justamente o contrário. A falta de senso dele implicou em uma série de acontecimentos que magoaram as pessoas e que deram essa característica de ‘vilão’”.

“Ser sem noção” se tornou uma marca registrada de Topete, que marcou a novela ao protagonizar cenas que expõem preconceitos estruturantes da sociedade, identifica Milane. Ele foi homofóbico com Guto (Pedro Goifman), personagem da comunidade LGBQIA+ que está descobrindo a sexualidade, e zombou dos braços de Eugênia, que tem queimaduras por todo o corpo após ser vítima de um incêndio na infância.

“Naquelas cenas, ele pôde mostrar que havia muitas coisas por trás, muitas camadas a serem exploradas. E isso, de fato, foi acontecendo e desabrochando. No fim, entendemos que o Topete não teve o amor materno, o pai nunca lhe deu atenção e foi criado por uma madrasta que também não estava muito preocupada. Essa transição foi muito bem pensada para justificar um personagem possível e humano, que tem nuances, altos e baixos, muita confiança e momentos contrários, de total insegurança”.

Gabriel Milane desabafa sobre autocobrança excessiva (Divulgação/Phillip Lavra)

Gabriel Milane desabafa sobre autocobrança excessiva (Divulgação/Phillip Lavra)

O ator relata que, aos poucos, o público está descobrindo que o personagem “tinha muitas mágoas e receios de se abrir”. Ele vive um momento de exploração das novas nuances de Topete, que agora é par romântico da inocente Eugênia. “O processo com o Topete foi muito gostoso. Foi repleto de descobertas e de primeiras vezes”.

Tenho uma conversa interna e um diálogo interno muito bons, muito bem desenvolvidos. São anos de terapia para chegar nesse lugar. Mas, claro, ainda tenho muitas questões a melhorar comigo mesmo – Gabriel Milane.

Sensibilidade

Gabriel Milane conversa com muita sensibilidade. Não apenas mergulhou de cabeça no papel, como buscou se conectar profundamente com os sentimentos e questionamentos que ele provoca.

O artista descreve que se permite emocionar pelo personagem. “Claro que me afeta das mais diversas formas. Por mais que a gente sempre separe o ‘pessoal’ do ‘trabalho’, vivemos aquela história. Como intérprete do Topete, sempre me deixo afetar muito trazer cenas cada vez mais críveis, mais possíveis e melhores. Mexe com o nosso emocional, mas temos que estar preparados”, assegura.

Faz parte do nosso trabalho lidar com essas questões [emocionais e de identificação], principalmente quando faço cenas que o Gabriel não concorda com o Topete. Esse é o mais complicado: fazer o que você não faria naturalmente. É também o mais desafiador. Trabalhar em cima disso é mais rico – Gabriel Milane.

Por outro lado, o ator revela ter bastante autocrítico, o que afeta diretamente seu trabalho. “Me cobro muito. Às vezes, acabo me frustrando. Quando não chego em um nível de perfeccionismo que sinto que posso, penso como se a experiência não tivesse valido. Mas pelo contrário. Todas as cenas que eu sinto que poderia fazer melhor, na verdade, me ensinaram bastante”, observa.

Há mais 100 capítulos. Mais 100 chances de fazer melhor. O que importa, de verdade, é o respaldo do público. E ele tem reagido muito bem. Isso me deixa extremamente feliz e realizado, já que é a minha primeira ‘viagem’ na emissora e em uma novela”.

Me cobro muito. Gosto de fazer cenas cada vez melhores; estudar cada vez mais a obra e entender como posso trazer mais camadas. É um trabalho constante. Não há tranquilidade. É sempre algo a melhorar – Gabriel Milane.

Relação com Klara Castanho

Frequentemente, Gabriel Milane contracena com Klara Castanho, que dá vida ao seu atual par romântico em “Garota do Momento”, Eugênia. A relação é de aprendizado mútuo com um desafio em comum: transformar uma dinâmica de bullying em uma romance no estilo mais amado da Geração Z, “enemies to lovers”.

O ator avalia a atuação da parceira de cena. “A Klara é uma atriz fantástica, muito boa no que faz. Ela conseguiu costurar as dinâmicas e as nuances de como a Eugenia se porta ensinando para um cara que zoou ela na frente de todo mundo. Poder atuar com uma das melhores atrizes [que estão no mercado] é muito fácil. Ela tem muita disponibilidade, muita presença. É muito gostoso”.

O paulista dá continuidade à reflexão: “É muito gostoso construir essa virada. Ele, de fato, não se aproximou dela por interesse genuíno. O interesse foi acontecendo ao longo da proximidade.Foi um processo de muito aprendizado. Queria entender como fazer esse casal ser possível. Ele obviamente não quer ficar com Eugênia. É tudo uma armação do Alfredo [Eduardo Sterblitch, que é pai da moça]”.

Vida profissional

Antes de “Garota do Momento”, Gabriel Milane tomou uma decisão difícil. O rapaz trancou o curso de Sistema de Informação na Universidade de São Paulo (USP), quando estava prestes a se formar. Até então estudante, o ator constatou que não seria feliz seguindo aquele caminho.

“Tranquei o curso. Essa foi a melhor e a maior decisão que já tomei na vida. [Fui] contra tudo e contra todos – até mesmo contra mim. Só tenho orgulho do Gabriel que percebeu que não era aquele caminho, que não era para seguir na faculdade. Foi muito importante para a minha trajetória. O caminho artístico já existia na minha vida, mas nunca havia dado protagonismo a ele. Essa mudança de chave foi muito importante”.

Durante a adolescência e o início da vida adulta, o ator participou de peças publicitárias, isto é, atuar não era uma novidade. Ainda assim, o grande desafio foi contar a decisão aos pais, que demoraram a entendê-la. “Foi difícil para eles. É um tiro no escuro. Há tantos atores bons, [já há] tantos profissionais qualificados no mercado. Nunca dei protagonismo à carreira, mesmo tendo alguns trabalhos na área”.

Gabriel Milane expõe relação com Klara Castanho, parceira de set (Divulgação/Phillip Lavra)

Gabriel Milane expõe relação com Klara Castanho, parceira de set (Divulgação/Phillip Lavra)

Imerso nos projetos como artista, ele também é apaixonado pelo mundo musical. Apesar de sonhar com o futuro na música – e, inclusive, com a oportunidade de se apresentar no Rock In Rio (RIR) –, Gabriel Milane está focado no “agora”. A ideia é se entregar cada vez mais em “Garota do Momento”.

Estou muito focado em fazer a novela, em fazer um Topete cada vez mais interessante, mais divertido e que cative ainda mais o público. Mas, claro, sem esquecer de onde vim, para onde vou e o que quero [conquistar] nessa vida – Gabriel Milane.