Na estreia vip de “Isolados”, Bruno Gagliasso afirma: “Os diretores de Hollywood são mestres do terror, e Kubrick e Polanski me inspiram”


Bem acabada e estrelada pelo ator, a nova produção brasileira estreia nesta quinta-feira e segue a fórmula de sucesso do gênero na meca do cinema

“Acredito que esse filme poderá ser muito bem recebido no mercado nacional. O thriller psicológico faz enorme sucesso no mundo inteiro, sobretudo nos Estados Unidos e, afinal, os norte-americanos são mestres nesse tipo de produção, dominando seu ritmo como ninguém”, conta Bruno Gagliasso com exclusividade ao HT sobre o novo longa-metragem que estrela – “Isolados” (de Tomas Portella, Media Brigde e outros, 2014) – em pré-estreia vip nesta noite passada (16/9) no Cinépolis Lagoon, no Rio. Revelando não haver pudor em copiar aquilo que é tão bem executado lá fora, o ator, que também é produtor associado na empreitada, interpreta um psiquiatra em férias com a mulher (Regiane Alves) em uma casa afastada na Região Serrana fluminense, enquanto uma série de crimes acontece nas redondezas.

Raridade na cinematografia brasileira ao longo das décadas, “lsolados” parece ser mais uma aposta dos realizadores nacionais por uma incursão no terror, que também compareceu em outro longa lançado no início do ano, “Quando eu era vivo”, protagonizado por Antonio Fagundes, Marat Descartes e Sandy Leah. Uma tentativa de abrir o mercado local para este tipo de filme? Sem, dúvida. Após muito tempo sendo preterido no Brasil – à exceção de diretores marginais como José Mojica Marins, o Zé do Caixão – o horror demonstra ter potencial para florescer no país, seguindo o caminho das comédias ligeiras, que explodiram com grande sucesso comercial por aqui nos últimos anos. Tanto um gênero quanto o outro são imensos catalisadores de fortuna nas bilheterias mundiais, com Hollywood faturando alto inclusive em solo brazuca. Assim, tudo parece conspirar a favor, em um momento em que as produções made in Brasil parecem querer, antes de mais nada, seguir o mapa da mina ao invés de investir em experimentações estilísticas.

Foto: Divulgação

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Bruno cita “O Iluminado” (The Shining, de Stanley Kubrick, Warner Bros, 1980, com Jack Nicholson) e “Ilha do Medo” (Shutter Island, de Martin Scorcese, Paramount, 2010, com Leonardo DiCaprio) como duas fortes referências para essa iniciativa, mas também afirma que outra intrigante produção é inspiração para ele: O Inquilino” (The Tenant, Paramount,1976, com Isabelle Adjani e Shelley Winters), do Roman Polanski, tem um protagonista que tem tudo a ver com o Doutor Lauro vivido por mim. Sem dúvida alguma, seu personagem principal, interpretado pelo próprio diretor, tem tudo a ver com o meu”, afirma.

O longa, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (18/9) em circuito nacional, segue o padrão usado em seus equivalentes estadounidenses, e a equipe por trás das câmeras não parece fazer nenhum esforço para evitar a comparação com seus primos acima da linha do Equador. A boa trilha sonora é forte responsável pela inquietação do público e uma fotografia (às vezes por demais soturna até), concebida por Gustavo Hadba, contribui para o clima claustrofóbico que invade as muitas cenas passadas na mata cerrada com igual sensação de desproteção daquelas filmadas dentro da casa de campo sitiada, onde se sucede uma série de situações-clichê, como ambientes na penumbra, janelas indiscretas, rabiscos assustadores colados na parede por uma mocinha com estrutura emocional à beira da loucura e até aquele típico quarto de brinquedo abandonado, repleto de velhas bonecas que parecem observar o casal, com caixinhas de música que, deslocadas de sua função original, atribuem a devida atmosfera de pavor. Nada original, mas eficaz.

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Fica visível, portanto, que o filme procura emular um tipo de produção que fatura horrores ao redor do planeta, sem preocupação em oferecer algo de novo à plateia, a não ser o fato de que, por ser incomum nos catálogos das produtoras nacionais, trata-se de uma novidade pronta a testar o paladar do público local em seu aspecto formal. Sim, essa globalização do cinema brasileiro talvez traga como única peculiaridade a possibilidade de conferir atores que fazem parte da TV brasileira, em novelas e minisséries – ou em comédias açucaradas no cinemão, como “Mato Sem Cachorro” -, neste tipo de papel. Assim, rostos conhecidos como José Wilker (em uma das suas últimas aparições), Juliana Alves, Sílvio Guindane, Débora Olivieri e Orã Figueiredo ganham a responsabilidade extra de abrir este espaço no mercado, e chega a ser curiosa a coincidência de Bruno Gagliasso estrear também nesta semana, na telinha da Globo, um seriado em que dá corpo a um serial killer. Uma casualidade que proporcionará analogias.

O caminho pode até estar correto. Na função de assistente de direção, o diretor Tomas Portella esteve à frente de filmes como “Lisbela e o Prisioneiro”, “O Bem Amado” e “Meu nome não é Johnny” e até “Ensaio sobre a Cegueira”. E dirigiu “Qualquer Gato Vira-Lata” em 2001, maior sucesso da Disney para filme brasileiro, com 1,2 milhão de expectadores. Não é marinheiro de primeira viagem, portanto, e vale primeiro procurar repetir experiências hollywoodianas bem sucedidas para imprimir no futuro, quem sabe, sua própria marca neste tipo de longa. Por enquanto, é melhor exercitar o estilo consagrado no exterior, de preferência enchendo os cofres. Como Regiane Alves disse, na apresentação do filme antes de a projeção começar, “o primeiro final de semana é fundamental para a carreira de um filme, indiquem aos amigos”. Resta por hora torcer para o filme vingar e, talvez, abrir espaço para que se encontre, depois, um caminho próprio para um filme de terror nacional. Até lá, talvez baste simplesmente fazer mais do mesmo, ainda que bem feito.

Trailer Oficial (Divulgação)