Gisele Fróes comemora o sucesso da Cândida, de “A Força do Querer”, lamenta situação da arte no Brasil e destaca engajamento coletivo para resistir: “Não permitir que acabem com a gente”


Quem vê Gisele cheia de bordões e trejeitos na telinha pode até pensar que é só atuação na ficção. Mas a atriz garante que não. “Eu acho que o povo brasileiro é muito para fora. Se a gente começar a observar as características das pessoas conseguimos extrair muitas ideias”

A gargalhada e o sotaque para lá de carioca são alguns dos elementos que foram sucesso na Cândida em “A Força do Querer”. Interpretada por Gisele Fróes, a personagem se destacou no núcleo cômico da novela que acaba nesta sexta-feira, 20. Engraçada, exagerada e com um linguajar bem próprio, a atriz contou que sua Cândida caiu no gosto do público e que a repercussão nesta reta final da novela foi ainda mais especial. No entanto, quem vê Gisele cheia de bordões e trejeitos pode até pensar que é só atuação na ficção. Mas a atriz garante que não. “Eu acho que o povo brasileiro é muito para fora. Se a gente começar a observar as características das pessoas conseguimos extrair muitas ideias. Esses dias, por exemplo, eu percebi que a recepcionista da minha academia é muito mais estridente que a Cândida. Ela fala de um jeito muito agudo e que, se eu colocasse desse jeito na novela, ia ter gente achando que não é real. Mas existe”, comentou.

Assim como a personagem de Gisele Fróes, o elenco de “A Força do Querer” também foi unanimidade com o público. Sucesso de audiência, comentários e boa repercussão no horário nobre, a trama de Gloria Perez resgatou a ansiedade pelos próximos capítulos que havia ficado esquecida desde os tempos de “Avenida Brasil”.  “Eu acho que o público desenvolveu uma simpatia pela história e pela personagem. A Cândida sempre foi muito carinhosa e acolhedora. Mas, no geral, a novela toda foi um sucesso e, para mim, isso está diretamente ligado ao fato dos múltiplos assuntos polêmico e bem abordados pela Gloria. Isso ajuda muito”, analisou.

Gisele interpreta a mãe de Paola Oliveira em “A Força do Querer” (Foto: Reprodução/Globo)

Entre essas temáticas abordadas pela autora veterana da Globo estão a transexualidade, o machismo, o vício e a violência. Todas elas costuradas pelas vontades de cada personagem, o que justifica o nome da novela. Assim como na ficção, muitos assuntos sérios fazem parte da rotina e das preocupações de Gisele Fróes. Com mais de 30 anos de carreira, a atriz não escondeu a revolta ao comentar a atual situação da arte no Brasil. “A gente tem levado muitos sustos com a política. Hoje vivemos um cenário de que estão tentando enfraquecer a imagem do artista e deturpar a nossa profissão para que as manobras sejam feitas de um jeito mais fácil, principalmente pela direita”, apontou a atriz que, na contramão, destacou a união engajada da classe artística para reverter isso. “Eu participo de um grupo de mulheres artistas imenso e vejo que estamos todas fortalecidas para conseguir resistir aos ataques. Então, eu acho que a classe de um modo geral está muito engajada em não permitir que acabem com a gente. É uma união que a gente necessitava”, afirmou.

Além da política, Gisele reconheceu que outras diversas mudanças contribuíram para a crise na cultura nacional, principalmente no teatro. De acordo com a atriz, atualmente nós estamos colhendo os frutos de um período de transição, que trouxe novo comportamento e consumo de arte para o público. “Hoje temos o sucesso da televisão, a possibilidade dos canais pagos, filmes e séries interessantes em plataformas como Netflix, a violência na cidade e a propaganda do medo. Isso tudo acaba enfraquecendo o desejo das pessoas de irem ao teatro. Mas nós estamos dando a volta. É bonito ver que precisamos chegar ao fundo do poço para trazer a água pura”, comemorou.

“É bonito ver que precisamos chegar ao fundo do poço para trazer a água pura” (Foto: Reprodução)

E ela faz a sua parte. Depois da novela, com patrocínio do Centro Cultural Banco do Brasil, a atriz retoma o espetáculo “Imortal”. A princípio, como nos contou, a peça irá estrear em Brasília, mas deve viajar o país. “É um conto do Jorge Luis Borges que aborda várias questões. Mas, o resumo, é uma princesa que achou um manuscrito dentro de um livro. A partir daí, ela vai contando o que está escrito e passa por várias gerações. É uma história infinita”, contou Gisele Fróes que, com este projeto, justifica seu engajamento diário com a arte. “O meu compromisso com a minha profissão é sempre questionar como e porque fazer”, completou.