Final antecipada: o que a produção do BBB tem a perder com eventual saída de Felipe Prior no paredão de hoje?

*Por Felipe Rebouças

Sem dúvidas, uma edição atípica. A começar pela escolha dos participantes e a divisão entre influencers digitais e anônimos. Eles se misturaram, trocaram afinidades e, antes mesmo da primeira eliminação, mais uma cisão. Um grupo de homens confere nota às mulheres da casa, com base em preconceitos e discriminações, diante das câmeras, sem nenhum pudor, e sugere um teste de fidelidade às participantes comprometidas. O disparo sai pela culatra e os gozadores da própria virilidade caem, um a um, até restar Felipe Prior. O único remanescente.

Felipe Prior, Manu Gavassi e Mari Gonzalez, os emparedados desta terça (Victor Pollak/ TV Globo)

Os rumos da casa pareciam definidos. Um grupo de mulheres consolidado, orgulhoso da inquisição imposta aos homens, chancelada pelo voto do público, era quem dava as cartas. Até mesmo a chegada dos integrantes da casa de vidro Daniel e Ivy, trazendo informações do público para o confinamento, serviu para reforçar esse cenário. Sendo Marcela a principal articuladora das mulheres e quem primeiro desconfiou da ação sórdida dos homens. Crédito que lhe conferiu a condição de favorita ao prêmio de um milhão e meio de reais.

No decorrer das semanas, temas como sororidade, misoginia, empatia e feminismo passaram a ser tratados sem tanta oposição dentro da casa. Nesse momento, Felipe Prior, no posto de remanescente do grupo de homens eliminado, conseguiu romper a linha de fronteira. O participante começou a aparecer mais no jogo, conquistou a confiança de algumas pessoas ao conter posicionamentos inconsequentes e mostrar-se disposto a dialogar com suas adversárias. Postura que o aproximou do ator Babu Santana. Os brothers, na escassez de figuras masculinas, formaram uma dupla.

(Reprodução/ TV Globo)

A intimidade dos dois cresceu e suas personalidades adversas proporcionaram cenas engraçadas, que divertiram o público e contribuíram para criar certa identificação em torno deles. “Eles são como ying-yang. O jeito sereno e consciente do Babu equilibra com a inconsequência e impulsividade do Prior. É justamente assim que funciona nas duplas de comédia”, comenta o professor de Comunicação e especialista em estudos televisivos, Ricardo Rios. O ponto mais alto dessa amizade foi quando Babu e Prior comemoram efusivamente a permanência do ator na casa, em detrimento do ilusionista Pyong Lee, eliminado em decisão acirrada no paredão duplo, com 51% dos votos.

Resultado que sacramentou uma reviravolta na trama do reality. A saída de um dos jogadores considerados mais fortes dentro e fora da casa e integrante do grupo de Marcela, Thelma, Gizelly, Rafa Kalimann, Gabi Martins, Manu Gavassi e Ivy sinalizou a força da dupla Babu e Prior. “A narrativa de que um grupo hegemônico, capaz de exercer força nas indicações ao paredão, contra dois sujeitos aparentemente renegados e isolados, até se unirem, gera empatia com o público. É a narrativa do herói brasileiro, tudo que o espectador quer ver. Uma figura [Prior] bem-sucedida, levando em conta o contexto desta edição, contra tudo e contra todos”, explica Rios.

Prior e Babu comemoram permanência do ator na casa após um paredão (Reprodução/ TV Globo)

Enquanto se consumavam esses acontecimentos, Marcela fez comentários que fugiram da alcunha de fada sensata – atribuída a ela –, iniciou relacionamento com Daniel, e desperdiçou, para muitos, a condição de favorita a vencer o programa. Os descumprimentos constantes de Daniel às regras do confinamento e subsequentes penalizações em forma de estalecas acirraram o clima na casa e causaram a eliminação do brother, ocorrida no último domingo. Sem ele, restaram 11 participantes no BBB 20, sendo Babu e Prior os únicos homens.

Após mais de dois meses de programa, os resultados gerados pelo engajamento do público são práticos. No dia 20 de março, sexta-feira, e domingo retrasado, dia 22, o programa obteve médias de 30,5 (recorte desta edição) e 23,4 (formação de paredão mais assistida) pontos respectivamente. Cada ponto equivale, de acordo com o Ibope, 75 mil domicílios em São Paulo e 47 mil no Rio. No primeiro mês, o programa provocou aumento de 70% no consumo semanal da plataforma Globoplay, que oferece serviço de pay-per-view 24 horas. Já nas redes, o impacto é observado tanto no feed de notícias quanto na lista de assuntos mais comentados, principalmente nas noites de paredão, como nesta terça. Nas plataformas oficiais do reality, são mais de um bilhão de impactos, 46% acima da última edição.

Participantes se reúnem enquanto Babu, em segundo plano, os observa (Reprodução/TV Globo)

Apesar de distantes do auge do programa, quanto o Ibope registava 50 pontos nas noites de paredão, os números são consistentes e oferecem margem para atrair patrocinadores, afastados nos últimos anos, em busca de inserções avulsas na programação em noites com pico de audiência. Atualmente, Americanas, Burguer King, Faculdade Anhanguera, Claro, PicPay e Mondelez divulgam suas marcas no BBB 20.

Mas todos esses números dependem do envolvimento do público com o programa. Audiência e participação nas redes são o termômetro de sucesso do reality. Por isso, o Site Heloisa Tolipan pergunta ao especialista em estudos televisivos, Ricardo Rios, como ficaria o cenário de eliminação do pivô dos embates na casa: Felipe Prior. “Realmente seria um cenário curioso, porque o Babu, sozinho, teria que articular novos laços dentro da casa para seguir o convívio social. Caso contrário teríamos um ‘todos contra um’. A pessoa que ele deu mais sinalização de que se aproximaria seria a Thelma, mas não sei se ela deixaria a amiga Marcela”, pondera o especialista.

“Ele julga e permite ser julgado”, afirma o professor de Comunicação e especialistas em estudos televisivos, Ricardo Rios (Foto: Divulgação)

“Sem dúvidas a produção do programa tem muito a perder com uma eventural saída de Felipe Prior. Ele é quem, até aqui tem buscado o jogo a qualquer preço, mesmo que isso custe sua própria permanência no reality”, afirma.

Rios ainda atribui o destaque de Felipe Prior no programa ao comportamento que se espera de um jogador de reality show. “Ele julga e permite ser julgado”, afirma. “Dentro de um contexto orwelliano como o BBB, onde tudo é vigiado, o público inevitavelmente projeta suas expectativas, defeitos e desejos no participante. Sem perceber, Prior age de uma forma que faz com que sejam atendidas as expectativas do brasileiro que acorda 5 horas da manhã para trabalhar e não aguenta mais o chefe. Ele afronta, gera discussão e incita o famigerado ‘fogo no parquinho’”, explica Ricardo Rios.

Sua adversária no paredão de hoje, Manu Gavassi, representa justamente o contrário. De postura contida e equilibrada na maior parte do tempo, a cantora chegou a ser relacionada a uma planta pelos internautas. Na noite dessa segunda, quando os emparedados atribuíram uns aos outros o que mudaria em cada um deles, Manu disse que mudaria agressiva que Prior se posiciona em relação aos outros participantes, enquanto o arquiteto classificou a cantora como alguém que “acha que está na Disney ao invés de um reality show”, se referindo a sua postura mais apaziguável.

O duelo dividiu o paredão em basicamente duas torcidas, deixando a baiana Mari Gonzalez aparentemente de fora do confronto. Entre os famosos, a #Futirão, campanha dos jogadores de futebol em prol da permanência de Prior na casa, e a #FicaManu, em favor da cantora, marcaram a segunda-feira no Twitter. Os jogadores Neymar e Gabriel Barbosa, o Gabigol, se posicionaram à favor de Prior, enquanto Bruna Marquezine, Larissa Manoela e Zélia Duncan publicaram tuites pedindo a saída do arquiteto e a permanência da cantora.

https://twitter.com/oppscausey/status/1244733922703020032