Festival do Rio realiza segunda edição do Prêmio Félix e homenageia Rogéria: “Temos que passar por cima do preconceito com um rolo compressor”


A premiação celebra os filmes e as personalidade que lutam contra a homofobia, e ainda entregou troféus para os longa-metragens “Beira-mar”, “Tangerina” e “O homem novo”

Desde que foi criado no ano passado, o Prêmio Félix, do Festival do Rio, tem sido uma importante ferramenta na celebração, no reconhecimento e no fomento da temática LGBT no cinema, elegendo os melhores títulos do gênero nas categorias “Documentário”, “Ficção” e “Escolha Especial do Júri”. Agora, em 2015, além de perpetuar esse legado, o evento ainda lança o primeiro prêmio Suzy Capó, uma homenagem à produtora e cineasta que faleceu no início desse ano, e que honra as personalidades brasileiras que fizeram história na luta homoafetiva. Na noite deste domingo (11), quem recebeu o troféu durante a cerimônia realizada no Centro Cultural Banco do Brasil foi Rogéria, que há mais de 50 anos tem ajudado a combater o preconceito no país.

“Represento tudo aquilo que seja contra os homossexuais. É uma briga na qual sempre estarei na linha de frente, como estive por todos esses anos. Estou muito feliz com esse prêmio. É muito importante que isso aconteça. Temos que passar por cima do preconceito como um rolo compressor. Ser bastante homem, e uma mulher de vez em quando”, declarou Rogéria, ao receber o prêmio. Ilda Santiago, diretora do Festival do Rio e que, durante a cerimônia de abertura do evento, já havia feito uma homenagem a Suzy Capó, ainda explicou como decidiu criar o troféu especial. “Pensamos muito em como homenageá-la não só esse ano, mas de forma regular. Então, decidimos fazer um prêmio para homenagear uma personalidade que faça a diferença para a causa LGBTQ. E, de forma unânime, pensamos na Rogéria, que não é só uma mulher conhecida, amada, pública e aberta, mas que faz isso há muito tempo, dizendo quem ela é e como ela é. As pessoas têm que comer muito feijão com arroz para chegar nesse nível”, elogiou.

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A atriz Suzana Pires, que conferiu a cerimônia, também não deixou de elogiar e prestar sua própria homenagem a Rogéria. “Ela abriu muitas portas, e muitas dessas para as mulheres. A figura feminina que ela representa não é só um ícone para as travestis e mulheres transexuais, é para as mulheres cisgênero também. Rogéria representa uma mulher forte, que quebrou paradigmas, que escreveu a própria história e pensou com a própria cabeça”, comentou. Já o deputado federal Jean Wyllys (PSOL) fez questão de mencionar a importância da artista para a discussão sobre transgêneros, em uma época onde o assunto ainda era (mais) tabu. “A presença dela na indústria cultural foi fundamental para abrir espaço para uma discussão sobre a identidade de gênero, que hoje é muito maior. Ela se afirmou mulher quando esse debate não existia, e ganhou o respeito da sociedade e dos artistas. A Rogéria nunca banalizou a sua presença no espaço público”, opinou.

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Em sua primeira edição, que HT mostrou aqui, o Prêmio Félix já havia surpreendido grande parte do público cinéfilo por, além de celebrar a temática LGBT, ter também espalhado os filmes do gênero por outras mostras do Festival do Rio, sem restringi-los a um determinado nicho. Os próprios vencedores dos prêmios já mostram uma maior abrangência na forma de abordagem dos temas, com 30 títulos inscritos e 16 concorrendo: o longa-metragem “Beira-mar”, de Felipe Matzenbacher e Marcio Reolon, que conta a história de dois amigos que se isolam em uma casa de praia e acabam redescobrindo sua relação, venceu o troféu de “Melhor Ficção”.

O documentário “O Homem novo”, de Aldo Garay, também levou o troféu para casa em sua respectiva categoria. O filme mostra a trajetória da mulher transexual Stephania, que luta para ser aceita e respeitada tanto pela sociedade de Nicarágua, onde vive, quanto por sua família. Já na “Escolha Especial do Júri”, composto pelo diretor Daniel Ribeiro (Hoje eu quero voltar sozinho”) e os jornalistas Kathleen Gomes e Gilberto Scofield, quem ganhou o prêmio foi “Tangerina”, de Sean Baker, que já passou por uma elogiada exibição em Sundance e conta a história de uma travesti que, ao sair da cadeia, descobre que seu parceiro a traiu e então inicia uma busca pela verdade nas ruas de Los Angeles.

Ao final da cerimônia, Ilda Santiago não deixou de mostrar sua felicidade e orgulho ao realizar mais uma edição do Prêmio Félix: “É uma emoção muito grande ver o crescimento deste prêmio. Ver essa aceitação e o quanto isso acompanha os nossos desejos de ter direitos civis garantidos, de ter um país mais cidadão e os próprios cidadãos aceitos pelo que eles são e por suas escolhas”. HT aplaude.

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